Um absurdo que não é de hoje. “Desde que a gestão é da SGTIC, esta universidade nunca fez contrato de manutenção continuada desses equipamentos”, afirmou a superintendente geral da área, Ana Maria Ribeiro, à reportagem. A superintendência foi criada em 2011.
Ainda no ano passado, quando identificou a situação — a atual gestão da reitoria assumiu em julho de 2023 —, Ana Maria solicitou a abertura de processos para a contratação dos três serviços de manutenção. A tramitação, no entanto, estava lenta. “Não tinha dinheiro. Não estava na prioridade”. Uma percepção que mudou nos últimos tempos. “Agora todo mundo entende por que é importante ter o contrato. Todos os nossos processos estão sendo encaminhados”, completou. Mas ainda não há previsão para a contratação.
A fonte do levantamento das vezes que a internet da UFRJ deu problema é o próprio Instagram da SGTIC. Falta de energia no campus, parada por manutenção, instabilidade da rede elétrica e até mesmo um ataque à segurança são as causas apontadas.
Quando há um contratempo mais grave, a solução é buscar socorro fora. “Quando o problema é predial, buscamos apoio da Prefeitura e do ETU (Escritório Técnico da Universidade)”, disse a superintendente. A ajuda de unidades que têm contrato com empresas de manutenção de equipamentos também tem sido bem-vinda.
No último incidente, o Sistema Eletrônico de Informações (SEI) e o Sistema de Gerenciamento Acadêmico (Siga) não funcionaram de quinta (27 de junho) até segunda (1º de julho). Houve uma falha no equipamento que liga a máquina onde ficam armazenados todos os dados da universidade (storage) e os servidores, que processam essas informações. A SGTIC ainda investiga o que houve, mas suspeita de um problema elétrico.
Não por acaso, desde o fim do ano passado, a superintendência também solicitou um laudo da parte elétrica do prédio ao Escritório Técnico da Universidade. “A gente comprou oito aparelhos de ar-condicionado e descobriu que só podia instalar seis, porque o eletricista nos disse que não havia carga suficiente para colocar mais dois”, afirmou Ana Maria.
Com a informatização crescente da universidade, qualquer queda do sistema prejudica professores, técnicos e alunos. Até mesmo no dia a dia das aulas. “O SIGA permite o contato com a turma, para envio de avisos ou de materiais de estudo”, afirma a vice-presidenta da AdUFRJ, professora Nedir do Espirito Santo.
Além disso, o SIGA funciona como um instrumento de recorrente consulta de dados dos cursos e dos alunos para os docentes se planejarem. “É muito importante ter um sistema estável que ajude as atividades acadêmicas”, completa Nedir.
A reitoria tenta todas as alternativas para melhorar a infraestrutura da internet, incluindo a recente proposta para o edital Proinfra, da Finep. “A ideia é poder atualizar os equipamentos que estão obsoletos, atualização do cabeamento de fibra óptica e instalação de mais pontos de rede wi-fi para expandir a rede Eduroam (serviço mundial de internet), uma rede mais segura para os alunos e docentes. Também tem uma parte para melhoria em equipamentos de Data Center”, disse Tiago Miranda, substituto eventual da superintendente. A Finep rejeitou a proposição da UFRJ, mas haverá recurso (leia mais nas páginas 4 e 5).
SEM ESPAÇO
A SGTIC não possui espaço próprio desde o incêndio no antigo prédio da reitoria, em 2016. Conforme o Jornal da AdUFRJ noticiou, em janeiro deste ano, a superintendência ocupa de forma improvisada três salas no Instituto Tércio Pacitti de Aplicações e Pesquisas Computacionais (antigo Núcleo de Computação Eletrônica) e contêineres — que acumulam mofo e têm parte do piso afundado — na entrada do edifício Jorge Machado Moreira. Sem espaço, a maior parte dos funcionários atua em teletrabalho parcial ou integral.
A longo prazo, o projeto é ter uma sede própria no Fundão e em Macaé. “Estamos com toda a base de dados em um espaço sobre o qual não temos gestão”, justifica a superintendente. Hoje, o datacenter fica dentro do Instituto Tércio Pacitti, embrião da SGTIC.
Foram oferecidas duas opções para acomodar todo o maquinário e pessoal: um espaço na antiga BioRio e uma parte do prédio que hoje abriga a reitoria, no Parque Tecnológico. Porém, a superintendência avaliou que as instalações não seriam adequadas ao trabalho das equipes.
O projeto da chamada Arena Digital, que ficaria localizada próxima ao Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (Ladetec), é o sonho de longo prazo da SGTIC. No primeiro pavimento, seriam instalados o datacenter e laboratórios que, com agendamento, poderiam ser utilizados por professores e alunos. O segundo pavimento seria a área de trabalho das equipes.
MAIS DIÁLOGO
Para além do investimento — que é necessário —, uma estrutura como a SGTIC deve ampliar o diálogo com as unidades, avaliam os “vizinhos” do Instituto Tércio Pacitti. “É essencial para a TIC ter comunicação com os entes que formam a universidade”, afirma Henrique Serdeira, que dirigiu a unidade de 2016 a 2021. “É a vontade de comunicar e perceber quais são os seus problemas, quais são os meus e como que a gente vai resolver o problema geral”.
A diretora atual, Angélica Dias, concorda. “A gente precisa ouvir as partes, todas as unidades, suas demandas. Isso facilita muito a criação da governança da informação dentro da universidade, que é gigante. É preciso enxergar as particularidades de cada unidade”, diz. “Noto que a superintendência tem um olhar voltado para isso. A gente vê que há um desejo muito grande, mas o orçamento inviabiliza”, completa.
A própria SGTIC, no relatório dos cem dias de gestão, apontou a necessidade de aumentar esse diálogo. O trabalho já começou. “Nós mandamos e-mail para todos os decanos, nos colocando à disposição para explicar o que está acontecendo com a TI da UFRJ”. Já houve apresentações no CFCH, CCJE, CCS e em Macaé.