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WhatsApp Image 2025 02 07 at 19.17.12 4Foto: Renan FernandesRenan Fernandes

Cento e sessenta e três funcionários da limpeza do Centro de Ciências da Saúde vivem um drama. Já sem vale-transporte e vale-alimentação, eles não receberão o salário que deveria ser pago nesta sexta (7). O adicional de insalubridade dos que fazem a higienização de banheiros e a coleta de lixo também está atrasado há mais de um mês. A situação pode causar a paralisação de atividades administrativas e acadêmicas do prédio na próxima semana.
A empresa Ágil, que assumiu a prestação do serviço em dezembro, notificou a UFRJ no dia 30 de janeiro sobre a incapacidade de cumprir o contrato. Justificou que está sem receber repasses financeiros de diversos órgãos públicos contratantes, incluindo pendências do ano anterior (total de R$ 30 milhões), o que impactou o fluxo de caixa.
Na universidade, o resultado é que, aos poucos, sem dinheiro, os funcionários não estão conseguindo ir ao trabalho. Nesta sexta-feira, apenas 30% deles compareceram ao CCS.
A decania corre contra o tempo para resolver o problema. Com o início do calendário letivo da Faculdade de Medicina marcado para segunda-feira, 10, existe a preocupação de que o prédio sofra com a falta de limpeza nos próximos dias. A professora Lina Zingali, vice-decana do CCS, estuda junto à reitoria a possibilidade de deslocar trabalhadores de outras unidades para manter o funcionamento das atividades. “Vamos aguardar até segunda-feira e, dependendo da situação, convocar a PR-1 (pró-reitoria de Graduação) e a Faculdade de Medicina para debater a viabilidade de manter as aulas nessa situação”.
Algumas medidas já estão em vigor. “Pedimos aos diretores que orientem as pessoas para evitar o acúmulo de lixo nos laboratórios e corredores. Temos um coletor central no Bloco K para onde o lixo deve ser levado”. A docente sabe, no entanto, que o esforço não resolve a situação. “Estamos sem pessoas para limpar os banheiros de alta circulação que são higienizados duas vezes por dia”, alertou Lina.
A Ágil também não entregou em janeiro os insumos previstos no contrato para a conservação da unidade, como água sanitária, cera, panos de chão e sacos de lixo. O CCS ainda tinha um pequeno estoque de materiais, mas acabou. “Criamos uma reserva com o que sobrou do último contrato. Racionamos o uso durante o último mês, mas agora nosso estoque zerou”, disse Rafael Martins, administrador do prédio.
Nesta sexta, a reitoria enviou à unidade os materiais para evitar o colapso na limpeza do prédio. “Estamos tomando providências para que o CCS seja abastecido com material de outras fontes, para que não precise haver paralisação do serviço”, explicou a pró-reitora de Governança, professora Claudia Cruz.
Já ficou definido também que a UFRJ vai se responsabilizar pelo pagamento dos funcionários até que outra empresa que participou da licitação assuma o contrato. “O recurso para pagamento dos trabalhadores será o mesmo que seria pago à empresa, caso tivesse executado o contrato de forma correta. A empresa vai emitir nota fiscal normalmente e o crédito será repassado aos trabalhadores” garantiu a pró-reitora.
Não há, contudo, previsão de quando o dinheiro vai cair na conta dos profissionais. A PR-6 já recebeu da decania do CCS os dados bancários de todos os funcionários da empresa, mas a Ágil ainda não respondeu à requisição da universidade corretamente sobre os valores da folha de pagamento.
A professora Claudia Cruz prometeu celeridade na contratação de uma nova empresa para o local. “A PR-6 está tomando as providências necessárias para formalizar novo contrato, com outra empresa participante do pregão”, afirmou.
A Ágil LTDA venceu a licitação ao oferecer o menor preço entre as empresas que cumpriram os requisitos propostos no edital. O contrato firmado em dezembro de 2024, com a validade de um ano, previa o pagamento mensal de R$ 704.906, 57. A UFRJ ainda não efetuou nenhum repasse para a empresa, mas garante estar dentro do prazo previsto nos termos contratuais para o pagamento.
A reportagem tentou contato com a firma por meio do telefone informado no portal da transparência do governo federal, mas o número é reportado como inexistente.

SEM DINHEIRO
Os funcionários que ainda batem ponto estão tirando dinheiro do próprio bolso para trabalhar. Uma servidora alocada na limpeza de banheiros, que preferiu não se identificar, trabalhou durante a semana, mas teme pelos próximos dias. “Já tinha colocado carga no meu cartão de passagem, então tenho como vir trabalhar e voltar para casa. Se o pagamento não cair até esta sexta, não sei como será na semana que vem”, lamentou.
Dilmar Rodrigues, responsável pela limpeza da área externa do Centro, vai continuar trabalhando enquanto for viável financeiramente. “Não fujo de trabalho, faço outros serviços, enquanto der pra vir, eu venho. Mas não dá para ficar pagando para trabalhar”, contou. Sem o dinheiro do auxílio-alimentação, o funcionário complementa a renda como ambulante. “Uso o cartão de alimentação no mercado para comprar comida para minhas filhas. Quando falta, vou para a rua e trabalho vendendo amendoim nos ônibus”.
Já Marcos Aurélio Rodrigues, da equipe de coleta de lixo, trocou o ônibus por uma caminhada de quase uma hora entre sua casa, no Complexo da Maré, e o CCS. “Vou continuar vindo porque não quero sofrer represálias depois, mas isso é uma falta de respeito”. Além do atraso nos benefícios, Marcos não recebeu o adicional de insalubridade de 40% em janeiro. “Quando assinamos o contrato, o adicional estava lá. Me programei para ter aquele dinheiro e não recebi. Agora, estou dependendo da ajuda de amigos e familiares para comprar comida”, lamentou.

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