“Não existe uma infraestrutura dessa natureza na UFRJ. A ideia é montar esse laboratório para que ele receba pesquisadores de diferentes áreas. Estamos no Instituto de Física, mas ele pode servir à Engenharia de Materiais, à Engenharia Elétrica, à Química, entre outros campos. O fato de todos se reunirem numa mesma infraestrutura vai gerar uma sinergia de colaboração muito rica. Será um impulso para todas as linhas de pesquisa, um terreno fértil para a inovação”, acredita a professora Patricia Lustoza (IF), uma das autoras do projeto.
OUTRO PATAMAR
Inicialmente concebido como um centro temático na área de Defesa, o novo laboratório terá como objetivo primordial a fabricação de diversos dispositivos como fotodetectores de infravermelho e células solares usadas em satélites. Já há trabalhos nessa área em parceria do IF com o Instituto de Estudos Avançados da Aeronáutica, por exemplo. E o objetivo é avançar mais. “Essa fabricação caminha no sentido de ajudar o Brasil a reduzir sua dependência de conhecimento nessa área. Muitos desses dispositivos nem podem ser comprados no mercado internacional por conta de uma série de barreiras”, explica Patricia Lustoza.
O laboratório já tem uma sala reservada no prédio do Instituto de Física, no campus do Fundão, mas só deverá entrar em operação daqui a dois anos. Esse é o tempo necessário para as obras civis e para a compra, instalação e testes dos equipamentos. A maior parte dos recursos — em torno de R$ 12 milhões — deverá ser investida em equipamentos como perfilômetros, metalizadoras e microscópios em escala micro e nano.
De acordo com Patricia Lustoza, há laboratórios no Rio que possuem alguns desses equipamentos, como na PUC-Rio, no CBPF e no IME. “Mas concentrar todos eles numa sala limpa é nosso objetivo. São equipamentos importados e de uso intensivo. Peças sobressalentes e técnicos de reparos nessas máquinas não se encontram aqui, às vezes tem que vir um especialista do exterior para consertar. É fundamental ter mais de um equipamento como esse na mesma cidade, de forma a não interromper pesquisas por conta da quebra de um deles”.
Segundo o professor Mauricio Pamplona (IF), também autor do projeto, o laboratório pode levar a UFRJ a outro patamar em pesquisas. “Muitos equipamentos da área de Defesa são de uso dual, ou seja, podem ter também utilização civil. Isso dá uma grande amplitude ao projeto. Nós temos no IF um laboratório multiusuário, com equipamentos de grande porte, com uma gestão coletiva e usuários externos. A gestão da sala limpa vai seguir esse mesmo molde. Será integrada a esse laboratório multiusuário que já existe, vamos ter um sistema de agendamento e oferecer treinamento”, diz o professor.
Pamplona prevê novos tempos para a pesquisa na universidade. “A UFRJ era muito carente nisso, assim como o próprio Rio de Janeiro. Essa estrutura que vai ser criada, com essa integração de equipamentos que teremos, será a única de nosso estado. Vai ser uma mudança grande, um impulso para atrair alunos e projetos. Eu estou muito animado”.
FONTE DE CRESCIMENTO
A mesma animação é compartilhada por outro autor do projeto, o professor Benjamin Salles, também do IF. “A sala limpa é um espaço onde tudo que é instalado ou que entre lá dentro é preparado de tal forma que não espalhe partículas no ar. Porque se cair uma sujeirinha durante qualquer processo dentro do laboratório ela pode comprometer a qualidade do dispositivo. Então o espaço e o ar têm que estar muito limpos. Para entrar nessa sala, por exemplo, nós temos que usar um traje especial que cubra todo o nosso corpo, e utensílios que cubram nosso cabelo, nosso rosto. Os equipamentos mais sensíveis vão ficar sob um fluxo laminar de ar ultralimpo”, explica Salles.
O professor enxerga um horizonte promissor a partir da operação da sala limpa. “É um laboratório de pesquisa que nos permite estar na interface com o setor produtivo. Poderemos testar novos tipos de estruturas, novos dispositivos, mostrar suas habilidades, seus rendimentos. Se a gente conseguir atingir bons resultados, todo esse trabalho pode ser transferido para a indústria. O nosso papel é fazer a pesquisa para desenvolver novos dispositivos, mais eficientes dos que os que existem atualmente, ou nacionalizar tecnologias que não são comercializadas”, vislumbra.
Salles acredita que o novo laboratório poderá contribuir para a reversão de um processo de perda de talentos observado nos últimos anos: “Nesse período em que tivemos escassez de recursos, a UFRJ como um todo e o IF, em particular, sofreram muito com a perda de jovens professores que foram para outros países. É importante termos boas condições de trabalho para reter esses jovens professores e atrair alunos. Tomara que precisemos abrir concurso para trazer gente que tenha expertise em litografia, em processamento de amostras. É uma fonte de crescimento para o instituto e para a UFRJ”.
Para o diretor do IF, professor Nelson Braga, a classificação do projeto é uma grande conquista. “E não só para o Instituto de Física ou para a UFRJ, mas para o país. Fico muito feliz. A pesquisa experimental de ponta é fundamental para o desenvolvimento da Ciência, e ela depende muito de recursos para a modernização de laboratórios, para a compra de equipamentos. Há profissionais de outras unidades da UFRJ envolvidas nesse projeto, que vai resultar em um laboratório multiusuário. A Finep e o CNPq têm investido nesse tipo de projeto que pode atender a várias áreas”.