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WhatsApp Image 2022 06 15 at 20.39.07Foto: Fernando SouzaA Escola de Serviço Social foi o cenário do último debate sobre meio ambiente organizado pelo Fórum de Ciência e Cultura. Entre os dias 5 e 14 de junho, especialistas de diferentes áreas discutiam temas relevantes como biodiversidade, mudanças climáticas, reforma agrária, agroecologia e o papel da ciência no processo de preservação dos biomas. No dia 14, foi a vez de ouvir o teólogo Leonoardo Boff, o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, João Pedro Stédile; e a assistente social Marina dos Santos, também liderança nacional do MST. A pró-reitora de Extensão, professora Ivana Bentes, foi a mediadora do encontro e a professora Tatiana Roque, coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura, a anfitriã. A atividade aconteceu em conjunto com a Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA).
Para Boff, a pandemia de covid-19 é o primeiro grande sinal da natureza, que reage a formas predatórias de os seres humanos lidarem com o meio ambiente. “Não podemos voltar à antiga normalidade, porque ela nos trouxe o coronavírus”, disse o teólogo. “Este é um tema extremamente grave. Estamos diante de duas grandes ameaças: o aquecimento global e uma guerra nuclear. Ambas podem acabar com a humanidade”, pontuou. “Temos apenas oito anos para impedir que o clima do planeta suba 1,5°C. Milhares de vidas podem desaparecer”.
A professora Tatiana Roque questionou o que leva bilionários a investir em turismo espacial enquanto a fome e as epidemias assolam o nosso planeta. “O negacionismo é um fenômeno do nosso tempo que tem muito mais a ver com fechar os olhos para essa realidade emergencial que a gente está enfrentando, principalmente com as mudanças climáticas”, analisa. “E essa aposta é que a ciência e a tecnologia vão trazer alternativas mágicas. Isso nos ajuda a entender um pouco a razão desse turismo espacial. É uma atitude ostentatória, mas também há por trás a tentativa de buscar recursos em outros planetas, uma solução que seria, por definição, para poucos”.
Para rejeitar essa visão, é preciso buscar maneiras, segundo a professora, de solucionar as questões agora. “As enchentes, secas, tudo isso nos indica que já estamos vivendo essas mudanças climáticas. É preciso mudar a forma de produção de alimentos, para que a gente garanta a alimentação da população e o uso consciente da terra. A reforma agrária, portanto, é uma pré-condição para que a gente consiga um novo modelo de desenvolvimento sintonizado à urgência que as mudanças climáticas nos trazem”.
Marina dos Santos, assistente social formada pela UFRJ, destacou a importância de a universidade atuar em cojunto com os movimentos sociais para solucionar problemas como a fome. “Mais de 30 milhões de pessoas ingressaram no mapa da fome no Brasil. E no estado do Rio de Janeiro, 1,3 milhão de pessoas estão passando fome todos os dias. Não são apenas números. São vidas. Pessoas que estão sofrendo com algo que é invisível para nós, que é a fome”.
Para Stédile, a crise enfrentada hoje, pelo capitalismo, é estrutural, porque não se manifesta apenas no sistema econômico. “O famoso 1% da população continua acumulando, mas já não consegue mais resolver os problemas básicos da humanidade”, disse. “Antes, a burguesia era produtora de bens de consumo. Hoje, atua no capital especulativo, que nada produz”, afirmou. “O capitalismo senil prega a individualidade. Ideologicamente, a burguesia não tem projeto para a humanidade. Ela não apresenta um futuro para a próxima geração”, analisou.
Stédile defendeu que a crise ambiental está profundamente relacionada à crise do capital. “Os capitalistas correm para a natureza para salvar seu capital fictício e transformá-lo em bens. E, quando o capital avança para as fronteiras produtivas, produz violência e morte no campo”.

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