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No último dia 8, data desta entrevista, a primeira reitora da UFRJ completou exatos dois anos de mandato. No dia 8 de julho de 2019, num lotado auditório do Centro de Tecnologia, quase mil pessoas acompanharam a cerimônia de posse da professora Denise Pires de Carvalho. Eleita com o slogan “A UFRJ vai ser diferente”, a equipe da reitoria foi obrigada a fazer uma gestão completamente diferente do que imaginava.

Dos 24 meses de trabalho, 16 ocorreram em plena pandemia de covid-19. “Queríamos uma UFRJ diferente, mas não imaginávamos que ela seria remota. Não era isso o que queríamos”, afirma a professora. Confira, a seguir, o balanço que a reitora faz sobre a primeira metade de sua gestão, o que conseguiu realizar, o que prometeu, mas ainda não conseguiu cumprir e os planos para o futuro, incluindo temas polêmicos como a Ebserh.

ENTREVISTA I DENISE PIRES DE CARVALHO, REITORA DA UFRJ

Jornal da Adufrj – O que a reitoria prometeu e não cumpriu?
WhatsApp Image 2021 07 09 at 21.57.40Denise Pires de Carvalho – Estava olhando a nossa carta-programa e, de tudo o que a gente pensou em fazer, o item número um da plataforma era criar unidades psicopedagógicas em todos os Centros. Acabamos criando esses espaços virtuais. Nós queríamos uma UFRJ diferente, mas não imaginávamos que ela seria remota. Não era isso o que queríamos. Também não houve avanço na questão da infraestrutura de salas de aula. Nesses dois anos eu queria ter encaminhado projetos que fortalecessem o Fórum Ambiental. Eu queria muito caminhar para o carbono neutro e não consegui. Outra questão é o Conselho de Administração ligado à PR-4. Há muito o que modernizar na gestão de pessoas. Nosso plano de desenvolvimento de pessoas é muito tímido.
 
Quais suas maiores conquistas à frente da reitoria?
A maior conquista foi a UFRJ ter um Plano de Desenvolvimento Institucional finalmente à sua altura. Em segundo lugar, termos um planejamento de futuro. Éramos a única universidade federal que não tinha um plano aprovado. Melhoramos a estrutura de trabalho da CPST. A equipe foi modificada e queremos realmente fortalecer a política de saúde do trabalhador. Fizemos o preenchimento correto do censo do Inep, que é importantíssimo porque compara as universidades de todo o país. A UFRJ vinha sendo subdimensionada. Criamos o GT Parentalidade e Equidade de Gênero. Essa semana estamos formando um novo grupo de combate às violências e defesa dos direitos humanos. Criamos resolução de combate a fraudes nas cotas, fortalecemos a comissão de heteroidentificação. Nesse momento, eu diria que estou muito satisfeita com o que fizemos até aqui, mas muito foi impedido principalmente pela pandemia.

Quais as maiores dificuldades e desafios agora?
Temos vários, mas o principal deles é o administrativo. Academicamente, a UFRJ é um orgulho. Temos excelência em todas as áreas. Eu estou livre para pensar, projetar e encontrar pesquisadores em todas as áreas. Mas sob o ponto de vista administrativo, temos que avançar muito. Precisamos ter mais inteligência para busca de dados, o Conecta é um pequeno avanço, é preciso mais.

Como avalia esses dois anos de gestão?
Tivemos muito trabalho e muito avanço. Não tenho dúvidas de que a UFRJ avançou em muitas coisas que estavam paradas há uma década. A UFRJ é excelente, mas faltava esse olhar mais organizativo da estrutura institucional. Avançamos com o que pudemos avançar. Já está aprovada a Política de Inovação da UFRJ, aprovamos hoje a criação do Centro Multidisciplinar de Macaé, o que institucionaliza o campus e o adequa ao nosso Estatuto. Era algo que a comunidade acadêmica aguardava há 13 anos. Estamos desenvolvendo meios para facilitar buscas de fomento em agências nacionais e internacionais. Um passo para isso é o Conecta UFRJ, que em breve vamos lançar. É uma espécie de portfólio de toda a produção em cada uma das áreas.

Cerca de seis meses depois de ter tomado posse, a pandemia caiu no seu colo. Quais as lições dessa fase?
O que eu aprendi é que a gente pode reunir esforços internamente para atender às demandas da sociedade de forma articulada. E isso fez com que a UFRJ despontasse como protagonista na realização dos testes moleculares, na produção de álcool e na busca por soluções de enfrentamento da pandemia. Essa é a ideia sempre: reunir especialistas que pensam e elaboram projetos e políticas dentro de suas áreas de conhecimento e que impactem a sociedade.

Ser a primeira reitora da UFRJ foi um desafio a mais ou deu mais visibilidade às demandas da universidade?
Sem dúvida, a UFRJ ter uma mulher como reitora pela primeira vez projetou a universidade. Fui muito procurada, muito entrevistada e por isso a UFRJ também foi mais vista. Pelo lado bom e pelo lado ruim, já que só agora foi eleita, tardiamente, uma mulher na universidade mais antiga do país. Mas há também algumas barreiras. Os reitores do sexo masculino são mais respeitados de forma geral. O machismo é estrutural. Muitas vezes procuram o Fred (Carlos Frederico Leão Rocha, vice-reitor) e não a mim e isso é um ato de machismo. Eu ouvi outro dia de uma reitora que quando o assunto é muito complicado, ela manda o vice porque ele é mais respeitado. Eu não faço isso. Não deixo de encarar os desafios, não me intimido. Eu sou mulher e vão ter que me engolir, sim.

O que acha do recente debate iniciado na Medicina sobre a Ebserh? No contexto deste governo, que vem cortando recursos e privatizando grandes estatais, é uma boa ideia firmar parceria com uma empresa estatal?
Essa movimentação é do Centro de Ciências da Saúde que aprovou por ampla maioria que a reitoria volte a discutir a possibilidade da Ebserh. Isto foi em novembro do ano passado. Até agora não foi dada sequência porque quero entender melhor como estão hoje os hospitais ligados à empresa. A Ebserh é a quarta maior estatal do país, é uma empresa de capital exclusivamente público e tem uma legislação específica para contratação. Inclusive é a única que tem conseguido realizar concursos, o que demonstra sua força política. Todos os diretores das nove unidades hospitalares querem que a reitoria discuta. O Complexo Hospitalar vai elaborar um relatório sobre o assunto, que será apresentado ao Consuni e o colegiado vai discutir e deliberar. Qualquer que seja o contrato, precisa haver uma cláusula de rescisão. Inclusive, aproveito o espaço para desmentir uma fake news, de que um contrato já estaria sendo gestado. Não há contrato algum. Eu jamais assinaria algo que não passasse pelas instâncias da universidade, sem conhecimento da Procuradoria ou dos gestores dos nossos hospitais.

A UFRJ voltará às aulas presenciais ainda este ano ou em 2022?
O primeiro semestre de 2022 começa em abril do ano que vem. Espero que em abril já possamos voltar completamente ao presencial, mas vai depender das novas variantes e dos rumos da pandemia. Não dá para prever isso.

O MEC entrou em contato para oferecer recursos para equipamentos de proteção individual? Quanto ofereceram? Chegaram a fechar um acordo?
Sim, essa semana enviamos a proposta. São cerca de R$ 40 milhões para EPI. O MEC pediu para encaminharmos uma proposta, nós encaminhamos uma maior, então eles pediram para reduzir para cerca de R$ 40 milhões. Readequamos o pedido e reenviamos. Estamos aguardando a resposta, que deve acontecer na próxima semana.

Do ponto de vista pessoal, o que mais a orgulha e marca enquanto reitora?
Pessoalmente, o que me marcou foi ter sido selecionada para diversos cargos internacionais. Entre eles, ser representante da América Latina no comitê da Talloires (Steering Committee do Talloires Network of Engaged Universities). Eu não imaginava que a UFRJ tivesse tanto peso internacional. Participei do Fórum de Hamburgo há um mês, a convite. É uma honra participar de tantos espaços internacionais, mas também uma responsabilidade. A UFRJ estava apequenada. Projetar a universidade deve ser uma das missões da reitoria. Nós passamos, mas as instituições ficam.

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