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WEBHADDAD2Foto: Alessandro CostaO Future-se vai desmontar a carreira docente, que garante um espaço na jornada de trabalho para o professor se dedicar à pesquisa”, criticou o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, durante visita à UFRJ no dia 4 de outubro, quanto participou de um ato público organizado pelos estudantes. Em entrevista ao Jornal da AdUFRJ, o professor e ex-ministro por sete anos falou sobre o momento político, as alianças progressistas e os ataques às universidades promovidos pelo governo Bolsonaro. “O Future-se é um desmonte-se”, afirmou o candidato à presidência nas últimas eleições. Sobre a intervenção do governo federal em reitorias país afora, Haddad considera que as comunidades acadêmicas têm prerrogativa para escolher seus dirigentes máximos. “Estamos falando de uma elite intelectual”.  O ex-ministro desafia o atual titular do MEC, Abraham Weintraub, para um debate. “Já que o chefe dele não quis debater durante a campanha, eu topo debater com ele”.

 

Este encontro na universidade foi o ensaio de uma frente progressista de oposição ao atual governo?
Fernando Haddad – Quem realmente está fazendo uma oposição consistente e propositiva são os partidos progressistas que estavam representados aqui [PT, PCdoB e PSOL] e outros que mantêm diálogo permanente conosco. Temos que estar muito afinados para o ano que vem e mais afinados ainda para 2022, colocando as vaidades e pretensões pessoais de lado e o interesse do país e das cidades na frente de todo o resto. Se depender de mim, cidadão Fernando Haddad, eu vou estar na luta para que a gente esteja o mais unido possível em 2020.

Como o senhor define o Future-se?
O Future-se é um “desmonte-se”. É um programa para desmontar a universidade pública. Não tem nada a ver você contratar uma organização social para gerir recursos públicos. Quem é essa OS? De onde saiu esta ideia? Não tem nada a ver acabar com a carreira docente. Sabemos que 90% de toda a pesquisa no Brasil são feitas pela universidade pública. O projeto desmonta a carreira docente, que é o que garante um espaço na jornada de trabalho para o professor se dedicar à pesquisa. Se não, vai virar escolão de ensino. E isso já tem quem faça. O que não tem quem faça no Brasil é pesquisa e extensão na qualidade que a universidade pública faz. Precisamos ter muito cuidado, até porque isto impacta o ensino. Uma coisa é você ter aula com um pesquisador, que está na fronteira do conhecimento. Outra coisa é ter aula com quem conhece e dissemina conhecimento. Pesquisador não dissemina conhecimento. Ele produz conhecimento. Toda uma geração vai se perder com o Future-se. Por isso, as grandes universidades já rechaçaram o modelo, que é inapropriado para a gestão de recursos públicos das universidades. O modelo que deu certo no Brasil é o das universidades estaduais paulistas, que implementamos durante o governo Lula por decreto, porque o Congresso não aprovou a reforma universitária. É um modelo em que a universidade tem o fundo público à sua disposição e o que ela conseguir ampliar [de recursos próprios] é dela, mas sem afetar o orçamento público.

O atual ministro da pasta não fez nenhuma visita até hoje a nenhuma universidade pública e chegou a dar declarações de que as universidades têm “cracolândias”. Como o senhor avalia esta postura?
Ele não é uma pessoa da área. Ele é uma pessoa que entrou recentemente num concurso (da Unifesp) em condições bastante inusuais. Era um edital para doutor, ele não é doutor, aí não apareceu ninguém, republicaram o edital para mestre. Em São Paulo não tem doutor? É muito estranha esta história, mas eu não quero aqui ficar discutindo o currículo dele. Em vez de querer proibir o debate dentro da universidade, ele deveria promover. Ele deveria estar aqui comigo discutindo o Future-se. Isto seria interessante. De todos os ministros da Educação vivos, eu fui o que mais tempo fiquei no ministério. Por que ele não debate comigo em um lugar público? Já que o chefe dele não quis debater durante a campanha, eu topo debater com ele.

Como o senhor avalia a postura do governo federal de não respeitar as listas tríplices? A UFRJ foi uma das poucas que teve seu processo eleitoral respeitado.
Eu sou de um tempo – e não faz tanto tempo assim – em que a gente achava que as melhores pessoas para escolher o reitor de uma universidade eram os membros de uma comunidade acadêmica. Nós estamos falando aqui de uma elite intelectual. Quem é que tem uma prerrogativa maior do que uma comunidade tão bem preparada para escolher sua liderança maior? Não faz o menor sentido imaginar que o Bolsonaro saiba mais do que a comunidade acadêmica da UFRJ. Nenhum presidente saberia, em minha opinião, mas este, em particular, não tem a menor condição de escolher quem quer que seja. Já está falando em reforma ministerial. Em seis meses, desandaram Educação, Meio Ambiente, Economia, Relações Exteriores, Direitos Humanos. Para onde olha, você vê caos, falta de rumo, falta de consistência nas propostas. É um governo muito ruim.

Neste arco de alianças que envolve PT, PSOL e até lideranças de centro, cabe o Lula Livre?
O Lula Livre não é uma questão de forças progressistas ou não. É de Estado de Direito. Uma pessoa de direita, que tem acompanhado o processo, não pode se negar a gritar Lula Livre. O Reinaldo Azevedo, que é um jornalista que se tornou famoso pelo seu viés antipetista, leu o processo. Só isso que ele fez. Ele não deixou de ser conservador por causa disso. Ele continua uma pessoa que se vê no espectro da direita liberal. Apesar de sua posição ideológica – e até por ela, porque os liberais são a favor do Estado de Direito – ele leu o processo. Quem quer que leia este processo não pode concordar com esta prisão. Ela não tem amparo em fatos, em acontecimentos, em nada. Uma pessoa está presa há um ano e meio. Você tem um massacre midiático de cinco anos contra esta pessoa. Esta pessoa bota em três semanas o seu candidato no segundo turno e é visitado por chefes de Estado do mundo inteiro. É agraciado com prêmios ininterruptamente – de doutor honoris causa a cidadão honorário de uma das maiores cidades do mundo. O que está acontecendo? O Sergio Moro está certo e o mundo está errado? Isto não vai ter fim enquanto não fizerem justiça.

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