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FSOU1912 01Foto: Fernando Souza/Arquivo AdUFRJNum raro insucesso em sua série histórica de conquistas de verbas de fomento, a UFRJ passou em branco em um dos mais aguardados e prestigiosos editais públicos de financiamento a infraestrutura de pesquisa do país, o Pró-Infra Expansão 2023, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Embora pudesse submeter até cinco subprojetos ao edital, a universidade optou por apresentar apenas um, denominado UFRJ Digital — Convergir o Físico e o Digital para Expandir a Pesquisa, Ensino e Extensão na UFRJ —, pleiteando recursos de R$ 25 milhões para revitalizar a combalida rede digital da instituição.
Na análise de mérito, o parecerista da Finep, cujo nome é mantido em sigilo, deu nota média de 3,18 ao projeto (em um máximo de 5,00) e qualificou-o como “não recomendado”. A análise (veja o parecer conclusivo na página 5) lista várias inconformidades ao edital Pró-Infra Expansão 2023. “O subprojeto não apresenta adequação aos objetivos do edital quanto ao fortalecimento de infraestrutura de pesquisa, mas sim da necessidade de atualização/modernização da inadequada e obsoleta infraestrutura de TI da instituição, carecendo de um eixo temático de pesquisa”, diz uma delas.
Em outros trechos da análise, o parecerista destaca problemas como falta de foco, dificuldades de mensuração de resultados e até prazos de execução. “A aquisição de diversos equipamentos necessita ser alinhada ao eixo temático investigativo. Os resultados são genéricos, e de difícil mensuração, dada a proposta generalista do projeto”, diz o documento. “A previsão no cronograma de execução é de 23 meses, em que pese o edital prever 36 meses. Pela complexidade da proposta, esta previsão é temerária”, acrescenta.

EDITAL DE R$ 500 MILHÕES
Lançado em dezembro de 2023, o edital Pró-Infra Expansão avaliou 159 projetos habilitados, somando 305 subprojetos, oferecendo R$ 500 milhões de recursos não reembolsáveis do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) para a compra de equipamentos. Cada instituição teve a possibilidade de apresentar uma proposta com até cinco subprojetos. Os valores e o número de subprojetos dependem da quantidade de doutores de cada instituição. Até 300 doutores, R$ 5 milhões e um subprojeto. Mais de três mil doutores, até R$ 25 milhões e cinco subprojetos — caso da UFRJ.WhatsApp Image 2024 07 08 at 15.11.03 9
As análises ficaram a cargo de dez analistas da Finep e 60 consultores externos. O resultado preliminar — ainda cabem recursos — contemplou tanto universidades públicas quanto privadas.
A Universidade Federal da Paraíba emplacou quatro subprojetos, todos com notas superiores a 4,80. Dois deles receberam a nota máxima e figuram no topo da lista: o de ampliação e consolidação da infraestrutura de pesquisa em microbioma, nutrição e saúde, com recursos de R$ 4,7 milhões; e o dos Laboratórios Associados de Ciências Moleculares, que receberá R$ 4,9 milhões. Com seus quatro subprojetos aprovados, a Federal da Paraíba conseguirá R$ 19,7 milhões.
O valor é similar ao conquistado pela Universidade Federal de Minas Gerais, que também teve quatro subprojetos recomendados, no montante de R$ 19,9 milhões. Só para a aquisição de um novo microscópio com detector multimodal para pesquisas avançadas, a universidade receberá R$ 4,7 milhões.
O pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da UFRJ, professor João Torres, defende o projeto submetido ao edital. Segundo ele, entre os três eixos previstos no Pró-Infra Expansão 2023 está o desenvolvimento de infraestrutura de pesquisa. “A nossa opção nesse edital foi fazer um projeto verdadeiramente institucional, ou seja, que tivesse impacto em toda a UFRJ, e não apenas em um grupo de pesquisa específico, ou um laboratório de determinado centro, como foi feito anteriormente. Temos clareza que a estrutura de TI da UFRJ está muito sucateada, precisamos investir pesadamente para modernizá-la, com máquinas novas e confiáveis”, argumenta o pró-reitor.
João Torres adianta que a UFRJ vai recorrer. “O árbitro da Finep fez um parecer muito negativo, basicamente dizendo que não fizemos um projeto voltado a laboratórios ou pesquisas de ponta. E, nesse aspecto, ele realmente tem razão. Nós claramente não fizemos isso, e foi nossa opção. Nós achamos que, neste momento, a infraestrutura de TI da UFRJ precisa urgentemente melhorar, e ela é algo transversal para toda a UFRJ, com impactos em todos os laboratórios. É nessa linha que vamos apresentar um recurso à Finep”, afirma o professor.
A equipe que está preparando o recurso inclui o professor Guilherme Horta Travassos, da Coppe, Felipe Rosa e Fernanda Mello, da PR-2, além do próprio João Torres, com apoio de técnicos da TIC. Superintendente geral de Pós-Gradação e Pesquisa, o professor Felipe Rosa também defendeu a opção da UFRJ.
“Decidimos fazer um projeto único e mais robusto que contemplasse essa nossa deficiência de infraestrutura da TIC. Deve ser a proposta mais institucional de todas as que foram enviadas para este edital da Finep. Acho que não fomos contemplados pela cultura de que esse edital se dedica a pesquisas de ponta, com equipamentos especializados e caros, o que não era o nosso caso”, avalia o professor Felipe Rosa.
As dificuldades estruturais da TIC são o tema de nossa matéria da página 6.

CRÍTICAS
WhatsApp Image 2024 07 08 at 15.11.03 10Quanto ao recurso, não há otimismo em se tratando da Finep. Profissionais acostumados aos processos de seleção de projetos da empresa acham improvável uma reviravolta “É muito difícil uma reavaliação, pois se trata de um problema de inadequação do projeto. O que se tentou foi remodelar a estrutura de rede da UFRJ com os recursos desse edital, mas ele é centrado em laboratórios, esse é um ponto relevante. Há também uma ideia que prolifera em muitos círculos, o que considero academicamente falho, de que basta colocar o nome da UFRJ para ter o seu projeto aprovado. Isso não é verdade”, analisa um professor com vasta experiência acadêmica e administrativa na UFRJ, que pediu para não ser identificado.
Professor titular do Instituto de Bioquímica Médica, Pedro Lagerblad recorda que muitos pesquisadores demonstraram insatisfação quando a reitoria divulgou sua opção em apresentar o projeto de recuperação da rede digital ao edital. “Houve uma reunião com coordenadores de pesquisa e pesquisadores para discutir os editais da Finep, logo que eles foram lançados, e a reitoria colocou a necessidade de modernização da infraestrutura de TI. A reitoria foi alertada de que o espírito do edital do Pró-Infra batia de frente com um pedido que contemplasse infraestrutura básica da universidade, porque o edital era voltado para estrutura de projetos de pesquisa de ponta”.
O pesquisador acredita que a intenção da reitoria é louvável, mas esbarra nas especificações do edital. “A reitoria tomou a opção de risco. Movida, e eu acho compreensível, pelo tamanho do problema e do impacto que a fragilidade de nossa estrutura de rede tem hoje, e que pode causar em função dos riscos iminentes de colapso do sistema. Eu discordei naquele momento dessa opção, mas entendo a lógica da decisão, que visava ao bem da universidade. Infelizmente, o cenário de inconformidade com o edital foi o que se configurou no resultado. O importante agora é olhar para os próximos editais, por um lado, e de outro construir outras estratégias para resolver o problema da rede de computadores da UFRJ, que se mantém como um problema agudo”.

OUTRAS UNIVERSIDADES
A Universidade Federal do ABC se junta à UFPB e à UFMG no ‘top 5’ dos projetos aprovados. Ela teve dois projetos com média 4,95: Desenvolvimento e Fortalecimento de Infraestrutura para Imageamento e Análise da Atividade Neural (R$ 3,7 milhões) e Novas e Avançadas Tecnologias de Imageamento para Materiais (R$ 4,9 milhões).
Instituições privadas também foram contempladas. A PUC-Rio, uma das mais caras do país, teve dois projetos aprovados, com um total de 9,4 milhões: Rede Multiusuário em Química Ambiental e Forense, com média de 4,67, que receberá R$ 4,5 milhões; e Carbono neutro — soluções integradas por captura direta de CO2 do ar e armazenamento geológico, com média de 4,30 e financiamento de R$ 4,9 milhões. Também privada, a Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, vai receber R$ 4.5 milhões para expansão e modernização dos Laboratórios Integrados de Caracterização e Processamento de Materiais. O projeto teve média de 4,30.
Entre os 106 subprojetos recomendados dentro do limite orçamentário da chamada, o que obteve mais recursos foi o do Centro Nordestino de Aplicação e Uso da Ressonância Magnética Nuclear, da Universidade Federal do Ceará. A ele serão destinados R$ 11,8 milhões.
Algumas instituições não ligadas diretamente ao ensino superior também conseguiram ter projetos aprovados no Pró-Infra Expansão 2023. É o caso do Instituto de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), que receberá R$ 4,5 milhões para compra de equipamentos de Quantificação e Identificação Celular; do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, com R$ 4,9 milhões para modernização de seu Parque Analítico do para Conhecimento, Conservação e Restauração da Biodiversidade; e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com R$ 1,7 milhão para seu Laboratório Multiusuário de Bioinsumos para a Agropecuária. A Fiocruz conseguiu R$ 5,2 milhões para a expansão de sua rede de plataformas tecnológicas em Nanotecnologia.
As verbas do FNDCT foram recompostas pelo governo Lula, depois de um período de vacas magras na gestão Bolsonaro. No edital Pró-Infra 2021, a UFRJ teve dois projetos aprovados: o do Laboratório Avançado de Diagnóstico e Genômica de Patógenos Emergentes e Reemergentes, com média de 4,52, que obteve R$ 2,4 milhões; e a consolidação da Plataforma de Equipamentos Multiusuário do Campus Duque de Caxias como ferramenta de Integração Tecnológica em Nanobiotecnologia, com média de 3,92 e verba de R$ 2,5 milhões.

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