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‘ESPERO PODER CONTRIBUIR COM A RECONSTRUÇÃO DO PAÍS E DO ENSINO SUPERIOR’

WhatsApp Image 2023 01 13 at 20.12.15 1Foto: Fernando SouzaPrimeira reitora da UFRJ em cem anos, a médica Denise Pires de Carvalho conseguiu outra marca importante: é a primeira professora da universidade a assumir o cargo de secretária de Ensino Superior do Ministério da Educação. A UFRJ já havia ocupado o posto outras duas vezes, com dois professores da Coppe: Antonio MacDowell de Figueiredo, entre 2000 e 2001, e Nelson Maculan, de 2004 a 2006. “Isso mostra o quanto a UFRJ é forte”, resume a docente. A UFRJ tem outros dois nomes de suas fileiras em cargos importantes do governo Lula: a professora Esther Dweck, do Instituto de Economia, assumiu o Ministério da Gestão, e o professor Marco Lucchesi, da Faculdade de Letras, vai dirigir a Biblioteca Nacional. Nesta entrevista, Denise conta os bastidores de sua escolha, detalha planos para o futuro e afirma que pretende replicar na secretaria boas experiências de sua gestão na UFRJ e inspirar outras instituições de ensino. A garantia de orçamento justo para as universidades federais e a autonomia das instituições estão entre suas prioridades.

Jornal da Adufrj – A senhora esperava pelo convite para a SESu? Havia conversas prévias?
Denise Pires de Carvalho
– Foi uma surpresa completa. Na terça-feira (3) à tarde, um interlocutor me ligou do gabinete do ministro pedindo indicações de nomes que pudessem ocupar o posto. Passei nomes de ex-reitores de universidades, incluindo ex-presidentes da Andifes e reitores eleitos, mas não empossados no último governo. Minha preocupação era que a pessoa escolhida tivesse força política em sua universidade, representatividade e reconhecimento da comunidade acadêmica. No dia seguinte, recebi uma nova ligação dizendo que o ministro agradecia pelas indicações, mas queria que fosse eu a secretária e que ele próprio me ligaria. O telefonema do ministro, confirmando o convite, só aconteceu na quinta à tarde (5).

E como foi sua reação?
Eu quase caí da cadeira! Fiquei lisonjeada, mas disse que precisaria falar com o Fred (Carlos Frederico Leão Rocha, vice-reitor da UFRJ) e com meu marido, antes de aceitar o convite. Ambos me disseram que apoiariam qualquer decisão.

O que pesou para o sim?
Eu estava em final de mandato, em processo de transição para um possível segundo mandato. Então, que seja uma transição para uma próxima reitoria. Outro ponto é que este é um governo ao qual eu sou completamente afinada, e o ministro Camilo Santana é alguém em quem tenho confiança porque conheço seu trabalho.

Como se sente para comandar as políticas para as universidades brasileiras?
Ainda não caiu a ficha. É, sem dúvidas, um desafio enorme, mas acho que a UFRJ me ensinou muito nesses três anos e meio. Espero poder contribuir com a reconstrução do país e do ensino superior com o presidente Lula e com o ministro Camilo.

E os principais desafios?
O ensino superior tem muitos gargalos. A questão orçamentária é o mais óbvio deles mas, além disso, a SESu precisa liderar conversas sobre a autonomia das instituições. Preciso que parlamentares me ajudem a encaminhar projetos de lei para acabar com a lista tríplice para reitor que, a meu ver, enfraquece a autonomia universitária. Em relação ainda a este tema, é preciso ter mecanismos que garantam a autonomia da gestão financeira. Um orçamento, por exemplo, que não possa ser cortado depois de aprovado. Vamos ter que trabalhar na construção de mecanismos para que essa autonomia de gestão seja, de fato, executada. Para isso, é preciso fortalecer a interlocução com as universidades, com a Andifes (associação de reitores). Precisamos ampliar a assistência estudantil, ter programas voltados para reduzir a retenção e a evasão no ensino superior. São muitos desafios.

O ministro Camilo Santana falou em algumas ocasiões que a educação básica é a prioridade. Como ficará o ensino superior nesse cenário?
Acho que este é um encaminhamento correto. O Brasil não pode mais ter analfabetos. A alfabetização na idade certa é fundamental e repercute, inclusive, no ensino superior. Eu concordo completamente com essa política. Não há conflito entre as áreas. O que há é muita colaboração para fortalecermos todo o sistema educacional brasileiro.

A senhora pensa em desenvolver novos projetos na secretaria?
Penso em algumas coisas. Um deles seria um programa de transição energética nas universidades com o objetivo de reduzir a conta de luz nas instituições. Gostaria de ter dinheiro para liderar esse programa. A ideia seria construir fazendas de energia solar, por exemplo. Outro projeto é integrar os parques tecnológicos das universidades por todo o país. A área de inovação da SESu dialoga com esses parques? Não vemos esse trabalho ser feito. Pretendo discutir, também, um novo Plano Nacional de Educação, um novo Plano Nacional de Extensão. A gente não tem um ranking no MEC para medir as universidades. Será que somos o que dizem os rankings internacionais?

Pretende criar esse ranking nacional?
Por que não? Ele poderia ser até mesmo um ranking da América Latina. Só não criarei se o ministro não concordar. São projetos, pensamentos, ideias que ainda serão levados ao ministro. Eu sou um quadro para tocar um projeto de educação que é essencialmente deles.

Há experiências da sua gestão que deseja replicar no MEC?
Na minha gestão fizemos o PDI, os relatórios de gestão, conseguimos obter o selo ODS (que reconhece alinhamento da instituição aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). Só três universidades no país têm este selo, criado pela Universidade de Brasília. Precisamos criar políticas para que as universidades estejam mais integradas em ações bem-sucedidas nas instituições.

O orçamento é um problema real e o teto de gastos impõe limitações para todas as áreas, inclusive para a educação. A senhora acredita que haverá espaço para esses projetos?
Estou contando com isso, que há espaço não só para reconstruir, mas para criar novas possibilidades

 

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