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WhatsApp Image 2022 11 16 at 21.29.01 13Frente pichada, teto esburacado, mobiliário quebrado, fiação exposta e chão tomado pela sujeira. Doze anos após ser reintegrado à UFRJ, o Canecão — ou o que sobrou dele — ainda não tem um futuro definido. O Conselho Universitário retoma a polêmica do que fazer com a antiga casa de espetáculos e seu entorno nesta quinta (17). Será a terceira sessão seguida sobre o tema.

A última reunião, na semana passada, teve pouco espírito universitário, com muito bate-boca e gritaria. Depois da leitura de sete pareceres alternativos sobre o projeto apresentado pela reitoria e constantes interrupções causadas pelo protesto dos estudantes, a sessão foi encerrada pelo esgotamento do prazo regimental.

Ninguém se manifesta contra a construção de um novo equipamento cultural naquela área, mas há profunda discordância sobre o modelo de gestão. Quase sem recursos para manter o funcionamento básico da UFRJ, a reitoria defende um projeto de concessão do terreno à iniciativa privada. Em troca, a empresa vencedora da futura licitação pública construiria um “novo Canecão”, com capacidade para quase quatro mil espectadores, que seria explorado por 30 anos. A firma também entregaria um bandejão e um prédio com 80 salas, no campus da Praia Vermelha.

A AdUFRJ defende a ideia. “O projeto do equipamento cultural tem potencial para atuar duplamente em favor da nossa imagem perante a população carioca: eliminaremos um prédio degradado, pichado, em ruínas, e devolveremos um espaço cultural importante para a população”, disse o presidente da entidade, professor João Torres, ao Consuni do dia 10.

O dirigente afirmou que a UFRJ não pode adiar esta decisão por mais tempo. Mesmo que a saída de Bolsonaro represente novos ares para a educação, o orçamento federal do ano que vem já desafia Lula e sua equipe. “É necessário, sim, brigar pela recomposição (do orçamento), mas é preciso avançar, ter responsabilidade com a coisa pública, sair do imobilismo”.

PRIVATIZAÇÃO?
Nem todos pensam da mesma maneira. Para as bancadas estudantil e dos técnicos-administrativos, é preciso discutir mais. De acordo com o parecer elaborado pela representante discente Júlia Vilhena, “não será o mercado que resolverá o problema do desfinanciamento por que passam as nossas IFEs. A luta passa pela contínua luta pelo fundo público e da revogação da Emenda Constitucional Nº 95”, escreveu, em referência ao teto de gastos.

Também há críticas a uma eventual privatização do espaço universitário. “Em essência, o projeto, que é apresentado como a saída para os sucessivos cortes de verbas da educação, entrega irrestritamente o patrimônio público nas mãos do mercado financeiro”, diz Mariana Frucht, também representante estudantil.

Já o professor Ricardo Medronho, representante dos eméritos no Consuni e diretor da AdUFRJ, afasta qualquer hipótese de privatização dentro do projeto. “É importante frisar que qualquer prédio construído em terrenos da UFRJ é de propriedade da UFRJ. Isto é, com o Novo Canecão, a UFRJ não estará alienando nem um metro quadrado de seu território”, escreveu em seu parecer. “Um bom exemplo disso é o prédio ocupado atualmente pela Reitoria no Parque Tecnológico. Este prédio foi construído pela DELL, que decidiu sair do Parque antes do prazo de concessão terminar. Com isso, a construção voltou às mãos de seu legítimo dono, a UFRJ”.

No projeto da reitoria, a construção do equipamento cultural avança pelo espaço onde hoje se localiza o campinho de futebol do campus da Praia Vermelha. Alguns conselheiros argumentaram que a proposta prejudicaria diversas ações de extensão que utilizam o local.

Mas não é bem assim, de acordo com os registros oficiais. “Apenas uma acontece no campo”, informou a reitora Denise Pires de Carvalho, citando ações cadastradas no Sistema de Gerenciamento Acadêmico (SIGA). A dirigente disse que o técnico-administrativo responsável pela atividade será contatado para que seja discutida uma alternativa, em caso de aprovação do projeto.

Durante a semana passada, o Jornal da AdUFRJ monitorou o campinho e comprovou a baixa utilização do espaço. Só houve um treino, na terça (8), do projeto “Nova Geração Carioca: Futebol como veículo de transformação social”. E o mais surpreendente não é nem isso: a reportagem encontrou grave vínculo do projeto com um clube da zona oeste da cidade. A matéria completa está na página 4 desta edição.

CONCESSÃO DE TRÊS DÉCADAS
O prazo de concessão por 30 anos e o tamanho da obra foram questionados pelo decano do CFCH, professor Vantuil Pereira. Ele lembrou que, em apresentações anteriores, o período era de 25 anos e a mudança apareceu sem qualquer justificativa. O decano também se preocupa com os valores da futura manutenção de um novo equipamento para a universidade, considerando os casos de concessão pouco exitosos no Rio, como a Linha Amarela e Barcas S.A. “A Linha Amarela está em litígio hoje com a Prefeitura do Rio de Janeiro e a Barcas quis devolver a concessão”.

Integrante da Comissão de Desenvolvimento do Consuni e relator da matéria, o decano do CT, professor Walter Suemitsu, esclareceu que o prazo de concessão e o tamanho do equipamento cultural são justificados pelos estudos contratados pelo BNDES. “Foi resultado de uma pesquisa que eles fizeram em todos os equipamentos culturais que existem aqui do Rio de Janeiro até os equipamentos culturais de São Paulo para saber qual a viabilidade”, disse.

Walter informou que as contrapartidas à universidade deverão ser entregues antes do funcionamento do equipamento cultural. “O ano zero do funcionamento do equipamento é quando entregarem o restaurante universitário e a sala de aula”.

ENTRADA RESTRITA
A reitoria decidiu restringir o acesso do público na sessão do Consuni deste dia 17 que pode definir o destino do Canecão. A justificativa é o crescimento de casos confirmados de covid-19 pelo Centro de Triagem Diagnóstica da universidade: de 2,6% em setembro para 18,3% em outubro. Como há conselheiros que fazem parte dos grupos de maior risco em relação à doença, só poderão entrar no auditório os membros efetivos ou suplentes do colegiado. As exceções serão representantes das entidades acadêmicas que poderão se manifestar no expediente.
A sessão será híbrida, mas as participações remotas são definidas em regimento: representantes lotados no Campus UFRJ-Duque de Caxias Prof. Geraldo Cidade, ou no Centro Multidisciplinar UFRJ-Macaé, ou que estejam cumprindo missão de trabalho (ou institucional) fora do município do Rio. O secretário do Consuni, que faz parte do grupo de risco, também irá trabalhar remotamente. Para o público em geral, o acompanhamento poderá ser feito pelo canal da UFRJ no Youtube.

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