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Eles não têm dúvidas sobre a importância de liquidar a eleição no primeiro turno para garantir a democracia no Brasil. “Essa não é um disputa normal entre candidatos que respeitam as regras democráticas. Bolsonaro é um candidato fascista que prefere dar um golpe a ganhar a eleição. Derrotá-lo no primeiro turno é reduzir ao máximo a ameaça golpista”, resume Pedro Lima, professor da Ciência Politica.
Mayra Goulart, também da Ciência Política e vice-presidente da AdUFRJ, defende que a missão dos próximos 15 dias é a conquista do voto útil em Lula. “Ganhar no primeiro turno é reduzir o risco de golpe”, diz. A seguir, os dois professores analisam as pesquisas e cena eleitoral do país.

ENTREVISTA I MAYRA GOULART
Professora da Ciência Política e vice-presidente da AdUFRJ

WhatsApp Image 2022 09 19 at 10.11.44 1Jornal da AdUFRJ -O que os movimentos sociais e os eleitores de Lula devem fazer nos próximos 15 dias para ajudar a uma vitória no primeiro turno?
Mayra Goulart –
É preciso deixar claro que há risco de contestação do resultado eleitoral e que isso torna importante o voto em primeiro turno. No primeiro turno, são eleitos os legisladores, que serão os principais obstáculos para essa contestação.

E como a comunidade universitária, hoje ainda muito desmobilizada, pode se engajar nesse processo e convencer colegas da própria universidade?
Acho que a estratégia é estimular o voto útil no candidato democrático com maior chance de vitória. E, claro, vale rememorar os feitos do Reuni. Foi a maior política para a educação superior de todos os tempos e foi feita durante os mandatos do PT.

Ipec e Datafolha coincidem na tendência de certa estabilidade com leve ascensão de Lula e leve queda de Bolsonaro. Isso significa que Bolsonaro chegou ao topo?
Bolsonaro ainda irá mobilizar o antipetismo através de fake news, o que pode, eventualmente, permitir elevações moleculares nas intenções de voto. O antipetismo é a bala de prata de Bolsonaro. Ele já tentou outros elementos, como por exemplo, a transferência de renda direta para as camadas populares, mas isso não surtiu o resultado esperado. O antipetismo é o que lhe resta, é sua bala de prata na reta final da campanha. Isso já começou. O último programa de televisão, por exemplo, já foi todo voltado para falar mal do Lula.

Isso já era esperado?
Sim, já era esperado. O que não era esperado é que as estratégias de elevação do auxílio Brasil e de outros programas de transferência de renda e de desoneração tributária surtissem tão pouco efeito.

Lula cresceu um pouquinho entre evangélicos. Ainda dá para crescer mais?
Sim, ainda dá para Lula crescer. Principalmente com essa movimentação de desembarque, ou de relativa neutralidade da Igreja Universal com relação às candidaturas de Lula e de Bolsonaro. Se eles se mantiverem assim, acho que dá para crescer. É preciso lembrar que há uma memória de bem estar econômico, e mesmo de protagonismo político que os evangélicos tiveram ao longo dos governos do PT.

Como deve ser essa abordagem com os evangélicos?
É preciso lembrar que Lula tem um perfil relativamente conservador. É um homem que sempre esteve casado, heterossexual, com uma imagem de protetor que flerta com o machismo. Lula está investindo muito nessa ideia de protetor/provedor, de alguém que vem trazer a concórdia, a harmonia. Essa ideia é importante para atingir, sobretudo, as mulheres evangélicas, mostrando que Lula vai recuperar a harmonia nas famílias, reduzindo a beligerância das disputas políticas.

Por que há mulheres e gays que votam em Bolsonaro?
Há o empoderamento que o discurso conservador fornece para determinadas pessoas dentro de suas realidades materiais. Para quem está lidando com a marginalização, com eventual risco de muita violência, o discurso conservador protege. Protege de violência sexual, protege de abuso de drogas. É um discurso que empodera a mulher diante da sua família, por exemplo. Então há uma racionalidade nesse discurso conservador, assim como no voto em Bolsonaro.

Então como chegar nesse eleitor?
O mais importante é a gente nunca desqualificar o eleitor. Ele é racional no seu voto, mesmo quando não concordamos com ele.

ENTREVISTA I PEDRO LIMA
Professor de Ciência Política da UFRJ

WhatsApp Image 2022 09 19 at 10.11.45Jornal da Adufrj - Há uma resiliência do eleitor de Ciro Gomes. É possível que os ciristas desembarquem e ainda apoiem Lula no primeiro turno?
Pedro Lima -
Acho difícil essa mudança nos setores de classe média, incluindo aí os servidores públicos e os professores. Quem a essa altura não está convencido do risco demorático em jogo tem, no mínimo, um antipetismo arraigado que dificilmente se dissolverá nessa reta final.

Por que os eleitores de Lula insistem tanto na importância da vitória do primeiro turno?
Veja, não é um capricho petista. Não estamos tratando de uma eleição normal, entre dois projetos políticos divergentes, como já ocorreu no passado diversas vezes entre o PT e o PSDB. Antes tratávamos, por exemplo, de dois projetos antagônicos de universidade, um mais elitista e outro inclusivo. Agora, temos um candidato que quer a destruição da universidade. Veja, Bolsonaro é o candidato que defende a tortura, que defende o golpe, que prefere ser presidente por meio de um golpe do que pela eleição. Defender a vitória no primeiro turno nesse contexto não é, portanto, algo que pretende engolir a minoria, mas sim um gesto que defende o futuro das oposições.

O Bolsonarismo sobreviverá à derrota de Lula?
Bolsonaro é bizarro e ainda me assusto com ele todos os dias. Mas precisamos lembrar como ele virou presidente, como chegamos até aqui. Chegamos com o golpe de 2016, executado com forte protagonismo do Legislativo, do Judiciário, do empresariado e da imprensa comercial. Esse consórco preferiu um defensor da tortura ao invés de um professor.

JANONES ALERTA PARA ‘PONTO CEGO’ NA RETA FINAL

O 1º Encontro de Comunicadores e Comunicadoras com Lula reuniu na terça-feira (13) mais de 6.300 profissionais de todo o país, de forma virtual, para discutir estratégias de comunicação na reta final da campanha. Um dos destaques do encontro foi o alerta do deputado federal André Janones (Avante-MG), que abriu mão de sua candidatura à Presidência em favor de Lula, em relação ao que chamou de “ponto cego” nas redes sociais nos últimos dias de campanha.
“São os últimos três dias: quinta, sexta e sábado. Não tem mais televisão, não tem comunicação oficial, não adianta ingressar com ação na Justiça que não dá tempo de fazer nada. Esses três últimos dias são um ponto cego que você não consegue mensurar. Por isso há algumas viradas de última hora, como a que aconteceu em Minas Gerais em 2018 com o (Romeu) Zema, que ninguém entendia. Vem no momento desse ponto cego, os institutos de pesquisa não conseguem pegar esse movimento final de redes, que vem e varre, elege candidatos. Precisamos ficar atentos a isso”, alertou Janones.
Janones destacou três pontos que devem ser prioritários nas redes nos últimos dias de campanha. “Primeiro, cada rede social tem uma linguagem. Não adianta falar de preço do arroz no Twitter. O cara do Twitter não está preocupado com o preço do arroz. Temos que personalizar a comunicação. Segundo ponto: resposta rápida. Às vezes a gente quer uma resposta melhor, com mais conteúdo, mas não tem jeito, a gente está lutando contra o fascismo, não dá tempo de dialogar muito profundamente. Não podemos deixar boato viralizar sem resposta. Terceiro: sinto que o eleitor do Lula está oprimido, nas redes e nas ruas. A gente tem que fazer emergir nesse eleitorado que está oprimido o orgulho de ser Lula, colocar isso para fora, sem medo. O bolsonarismo é essa coisa ruim, que prega ódio e desamor. Vamos levar um tom sereno, de amor, de verdade”.

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