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WhatsApp Image 2022 08 22 at 12.27.07Associações docentes das universidades federais filiadas ao Andes deverão realizar assembleias até o final de agosto para discutir as eleições de 2022. Os professores vão avaliar, por exemplo, se o Sindicato Nacional deve ou não apoiar a candidatura de Lula à presidência. A decisão aconteceu na reunião do setor das federais, nos dias 6 e 7 de agosto, a contragosto do grupo que dirige o Andes. A AdUFRJ realizará sua assembleia no dia 31 e foi uma das principais articuladoras da reação contra a diretoria nacional. A capa do Jornal, de 22 de julho - que denunciou a dificuldade de o Andes enfrentar o debate eleitoral – ajudou a agregar os críticos contra a isenção do Andes. “Aquela capa rompeu a bolha sindicalista”, resume a professora Elisa Guaraná, presidente da Adur-RJ, a associação dos docentes da Rural do Rio.

A tese defendida pela oposição à direção nacional é que os docentes têm autonomia para indicar ao sindicato as ações necessárias à derrota de Bolsonaro já no primeiro turno. “Não se trata de uma postura político-partidária. É uma posição em defesa da democracia”, esclarece a professora Elisa Guaraná.

A professora Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ, também participou da reunião e foi uma das defensoras de que as assembleias debatessem as eleições. Para ela, a direção nacional não contribui para a derrota de Bolsonaro. O Andes defende a máxima “Fora, Bolsonaro”, mas mantém isenção sobre qual candidatura fortalecer. “O ‘Fora, Bolsonaro’ é etéreo, porque não existe essa opção na urna”, explica Mayra. “A ação ‘Fora, Bolsonaro’ deve ser apoiar o candidato com maior viabilidade política, que é Lula”, afirma. “É fulcral para quem defende a universidade e o Estado Democrático de Direito”.

O placar foi apertado: 11x10, mas se traduziu num marco importante. Foi a primeira vez que o setor conseguiu aprovar uma posição contrária à da direção nacional. “Não é fácil vencer uma eleição sobre a qual a diretoria tem uma posição contra, porque ela tem a mesa que conduz a discussão e a máquina burocrática nas mãos. Então, ela se utiliza de subterfúgios regimentais para obstruir, esvaziar o debate”, analisa o professor Paulo Vieira Neto, presidente da Associação da Universidade Federal do Paraná (Apufpr).

O tema só foi levado à votação no segundo dia de encontro, à tarde. “A reunião já estava esvaziada, muitas pessoas tinham ido embora”, conta o professor Vieira Neto. Para ele, uma forma de a diretoria ganhar tempo e equilibrar o número de votos para a decisão. “Se a diretoria tivesse segurança sobre o apoio dos colegas que lá estavam, teria feito o debate já no primeiro dia”, considera.

A discussão foi apresentada pelo grupo que organiza o Renova Andes, principal núcleo de oposição à diretoria, mas teve apoio de associações que não se organizam pelo Renova. “O momento marca uma mobilização importante de oposição à diretoria nacional”, sublinha a professora Elisa Guaraná. “É uma oposição a essa linha sistemática e persistente de fragmentação”, continua.

Para os críticos, falta comando na atuação do Andes. “Precisamos envidar esforços para derrotar Bolsonaro nas ruas e nas urnas. Mas nós perguntamos: como?”, questiona Elisa. “Acreditamos que este é o momento de o sindicato apresentar uma posição clara sobre o pleito. O único candidato com condições de derrotar Bolsonaro é Lula”, afirma. “Quando houve o ‘fora todos’ (durante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016), a posição do Andes estava muito clara. Agora, o discurso é de isenção, mas esta é uma postura despolitizante”, critica.

BONDE DA HISTÓRIA
O professor Sidiney Ruocco Junior, presidente da Adufu, seção sindical da Federal de Uberlândia, também votou a favor da consulta. Ele é um dos que não se organizam pelo Renova Andes. “A diretoria e outras instâncias não podem ter luz própria. Elas devem ser reflexo do que dizem os professores nas assembleias pelo país”, acredita.

Para ele, as ações de 11 de agosto explicitaram uma mensagem importante para a sociedade, principalmente para o Andes: de que é necessária uma frente verdadeiramente ampla para rechaçar qualquer tentativa de golpe. “Na hora de operacionalizar essa frente ampla, muitas pessoas não abrem mão de certas posições político-partidárias. Precisamos ter coerência entre discurso e prática”, critica. “O Congresso do Andes já tinha aprovado ações para derrotar Bolsonaro e isso envolve estratégia eleitoral”, argumenta.

O bonde da história não esperará pelo Andes, segundo o professor Fernando Cunha, diretor da Adufpb, Associação da Federal da Paraíba. “Para além das deliberações de assembleia, várias seções sindicais e docentes estão assinando manifestos de apoio a Lula. Esse movimento está acontecendo, não há como barrar”, constata o dirigente. “O Andes tem uma grande responsabilidade. Não pode ficar aguardando o que vai acontecer. Deve ter protagonismo político”, defende.

OUTRO LADO: A VERSÃO DA DIRETORIA DO ANDES

A professora Regina Moreira, secretária-geral do Andes, afirma que, mesmo que as assembleias de professores das universidades federais decidam pelo apoio a Lula, não há perspectiva de a diretoria do Andes seguir a decisão. “Não há deliberação congressual para isso”. De acordo com ela, o setor das federais não pode aprovar ações que dependam do aval das universidades estaduais, municipais e particulares “que também compõem o Andes”, diz a secretária-geral.

“As federais vão ter o mês de agosto para pautar isso nas assembleias e a autonomia de cada local vai indicar a estratégia a ser adotada. Não há previsão formal para que um setor delibere sobre todo o conjunto de professores representados”, completa.

A professora Regina também afirma que não há prazo para convocar um Conselho extraordinário do Andes para debater amplamente o assunto. “Já temos um Conad extraordinário agendado, não temos tempo para convocar outro, antes desse, pra debater apoio a qualquer candidatura. Regimentalmente precisamos de tempo para organizar um cronograma, abrir período para inscrições de textos que serão base para o debate”, explica.

Sobre ter uma estratégia eleitoral para combater Bolsonaro nas urnas, a diretora diz que o comando do Andes não tem aprovação para atuar eleitoralmente, mesmo em pleitos ocorridos em momentos delicados como o atual, em que a democracia está sob risco.

“Estratégico é ocupar as ruas, fazendo trabalho de base. Precisamos ir para a rua dizer para a população que passa fome que o auxílio emergencial vai até dezembro, que o auxílio gás no valor do botijão é eleitoreiro, que essas ações são uma enganação”, defende. “Se as ruas não estiverem fortes, as urnas não estarão garantidas. O bolsonarismo não está vencido”.

DERROTA
A docente não reconhece o resultado da reunião do setor das federais, dos dias 6 e 7 de agosto, como uma derrota política da diretoria nacional do Andes. Ao contrário, acredita que é salutar que se ouça a base. “O que ficou decidido foi que o setor das IFES pautasse as eleições deste ano nas suas assembleias. Só isso foi aprovado, nada além”, afirma.

A dirigente argumenta que nenhuma seção sindical ou corrente política apresentou proposta de apoio a Lula ou a qualquer outro candidato à presidência nas instâncias de decisão do sindicato. “A posição da diretoria é aquela definida nas instâncias, de que não haverá apoio formal a nenhum candidato, porque não houve deliberação nessa direção nem no Congresso deste ano, nem no Conad (realizado em julho)”, diz.

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