facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2022 07 22 at 19.20.39Sob fortes críticas de boa parte dos delegados, 65º Conad decide que sindicato nacional não vai endossar a candidatura do PT na eleição, assumindo uma neutralidade que Anitta já superou

Lucas Abreu

O 65º Conad, realizado entre os dias 15 e 17, em Vitória da Conquista (BA), decidiu que o Andes não vai apoiar nenhuma candidatura presidencial no pleito de outubro. O Renova, principal grupo de oposição à atual diretoria, propôs que o sindicato nacional escrevesse uma carta com um programa de governo para a Educação e para a carreira docente, e entregasse ao ex-presidente Lula. A proposta perdeu. Os delegados optaram por entregar um documento para todos os candidatos, exceto o presidente Bolsonaro.
“Essa posição do Andes precisa ficar registrada nos anais. No futuro, as pessoas vão estudar uma eleição que aconteceu antes de um golpe ou de um episódio de violência política, e saber que o sindicato nacional dos professores não discutiu isso, não marcou posição para a eleição, não apoiou o candidato com maior viabilidade eleitoral contra o autoritário que vai perseguir e silenciar todos nós”, reiterou a vice-presidente da AdUFRJ, Mayra Goulart.
“Estamos diante da eleição mais importante da nossa história recente, diante de uma possibilidade de recrudescimento real do regime, silenciamento das universidades e perseguições às pessoas”, disse Mayra. “O que vai se fazer com professores como eu, que têm a sua produção com uma marcação ideológica antigoverno, se houver recrudescimento do regime? Eu me sinto ameaçada. Tenho medo, e não ouvi, até agora, nada do meu sindicato para proteger professores que estão na mesma situação que eu”, completou.WhatsApp Image 2022 07 22 at 19.26.56 1MAYRA GOULART defendeu uma posição mais firme do Andes de combate à candidatura Bolsonaro - Foto: Lucas Abreu
O debate sobre o apoio a Lula nas eleições ocupou 25 minutos dos três dias de Conad, e só aconteceu nas horas finais do encontro, no começo da noite de domingo. Mayra também criticou a maneira como as posições minoritárias são silenciadas no Andes.
“Todas as propostas que divergem da atual diretoria são alteradas e não reverberam as ideias originais. Somos silenciados pelo majoritarismo”, criticou a professora, que lembrou a responsabilidade do sindicato diante do grave momento que o país atravessa.
Elisa Guaraná, presidente da ADUR (Associação de Docentes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), também criticou duramente a diretoria do Andes. Ela citou o aumento da violência de parte dos eleitores de Bolsonaro e alertou para uma provável piora no caso de um segundo turno entre o atual presidente e Lula. “Autonomamente, como sindicato nacional, precisamos entender a gravidade do momento. O sindicato não se expressa comumente em situações eleitorais, mas nesse caso excepcional nós temos que nos manifestar dizendo que o sindicato compreende este momento grave da cena política nacional”, disse Elisa.
Ela ponderou que a disputa ainda está em aberto, e um segundo turno pode acontecer por uma diferença percentual pequena de votos, e uma sinalização do Andes para a sua base pode fazer diferença. “Alguém aqui quer um segundo turno com Bolsonaro? Ninguém quer. E pode acontecer por 1 ou 2%”, observou.

ISOLAMENTO
Não foi só no debate sobre as eleições que a posição de distanciamento do Andes foi criticada. Já no primeiro dia de reunião, o Renova Andes distribuiu uma carta de repúdio ao boicote promovido pelo sindicato nacional à Conferência Nacional Popular de Educação (Conape), que acontecia na mesma data que o Conad, em Natal, reunindo cerca de três mil pessoas.
A carta criticava duramente a direção do Andes, por “desrespeitar a pluralidade de concepções políticas de dezenas de milhares de filiados, manter o isolamento com outras entidades sindicais e setores do campo educacional e negar a busca de pontos que permitam a ação comum de resistência e enfrentamento ao governo Bolsonaro”.
A professora Nicole Pontes, presidente da Aduferpe (Rural de Pernambuco), lamentou a ausência no Conape. “O Conape está reunido neste momento discutindo os cortes na Educação e a proposta de cobrança de mensalidade nas universidades públicas. Vai ser preciso se aliar a todos os setores da Educação”, disse Nicole.
“Não é um ato isolado. Nos últimos anos, o Andes vem acentuando um isolamento das lutas sociais no campo da Educação. Uma ausência de participação em fóruns importantes, não só articulados com entidades da área de Educação, mas principalmente no ambiente da produção científica”, apontou a professora Eleonora Ziller, ex-presidente da AdUFRJ e também do Renova. “O lugar histórico do Andes é de protagonista da organização das lutas democráticas, da defesa do campo da Ciência, da produção da cultura”.

OUTRO LADO
A professora Maria Regina de Avila Moreira, secretária-geral do Andes, invocou a autonomia do sindicato, o contexto de pós-pandemia com todos os desafios impostos pelo cenário e o respeito às decisões da base. “Estamos numa categoria que está realizando ensino híbrido de maneira informal. Essa categoria não está apassivada porque não quer lutar, mas porque condições concretas estão nos impondo inúmeros desafios”, disse Regina. A docente encerrou sua fala dizendo que a direção do sindicato não descumpriu nenhuma resolução aprovada pelos congressos e conselhos do sindicato.

DELEGAÇÂO
O 65º Conad reuniu 55 delegados e 109 observadores de 58 seções sindicais, e 26 diretores do Andes. A AdUFRJ enviou três professores.
Ao longo dos três dias, os docentes debateram a conjuntura atual, o plano de lutas dos setores e o plano geral de lutas e questões organizativas e financeiras.Em novembro deste ano, está previsto um Conad extraordinário, que vai decidir se o Andes permanecerá filiado à CSP-Conlutas, central sindical radical muito criticada por uma parte considerável da base dos professores.

Topo