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WhatsApp Image 2022 04 05 at 15.56.43ALEXANDRE MEDEIROS E ANA BEATRIZ MAGNO
ENVIADOS ESPECIAIS

Porto Alegre – “Fora Bolsonaro” foi o grito mais ouvido nos cinco dias do 40º Congresso do Andes, realizado de 27/3 a 1º/4, em Porto Alegre. Com o segundo maior quórum de seus 40 encontros, o evento reuniu 642 docentes de universidades federais, estaduais e Cefets de todo o Brasil. A delegação da AdUFRJ contou com 19 professores, sendo 13 delegados e seis observadores.
Com posições políticas tão diversas quanto os sotaques que se revezaram nos microfones de auditórios e salas, os professores debateram temas da conjuntura política, da carreira docente, dos cortes orçamentários, dos desafios sindicais e de Ciência e Tecnologia. As discussões foram intensas, quase todas respeitosas e marcadas pela alegria de reencontrar colegas após dois anos de pandemia.
“Foi um congresso intenso e diferente dos outros dois de que participei, o de Salvador e de Belém, quando as disputas internas atrapalharam o debate de qualidade”, avalia o professor Ricardo Medronho, diretor da AdUFRJ e delegado do sindicato ao encontro.
Ex-presidente da AdUFRJ, a professora Eleonora Ziller, também assídua nas plenárias e reuniões do Andes, concorda com Medronho e avalia positivamente a experiência na capital gaúcha. “Para ser absolutamente justa, tenho que identificar uma mudança significativa na forma das disputas políticas. O ambiente sindical sempre foi de muita tensão, com embates verbais severos. Isso afasta muito as pessoas. Agora foi diferente”, avalia Nora. “A condução da diretoria do Andes fez diferença, com alta participação de mulheres nas mesas, conduzindo com muita delicadeza e firmeza. As mulheres impõem uma nova linguagem. A gente está caminhando, a gente está melhor”.

CUSTO E TRANSPARÊNCIA
Realizar o Congresso do Andes é um desafio caro que inclui passagens aéreas, diárias, hospedagens, materiais impressos, aluguéis de salas e auditório. Segundo documento divulgado pela diretoria do Andes, o evento de 2022 custou mais de R$ 687 mil, incluindo as passagens aéreas, mas sem contar os gastos das seções sindicais com as diárias e hospedagens.
Todos os anos o custo do Congresso é rateado entre as seções sindicais, e cada uma delas paga um valor proporcional ao total de sindicalizados e de sua delegação. A AdUFRJ, por exemplo, pagou R$ 40.270 porque tem a maior representação do país, com 3.437 filiados.

BUROCRACIA E DEMOCRACIAWhatsApp Image 2022 04 05 at 15.59.41
A metodologia do Congresso do Andes não é trivial, parece uma colcha de retalhos e está baseada numa peculiar costura de artigos. O trabalho começa pelos chamados TRs, textos de resolução que englobam assuntos relacionados desde a carreira docente até a filiação a centrais sindicais. Os textos são escritos pelos sindicalizados e pela diretoria do Andes.
Os debates partem de pequenos grupos com cerca de 25 pessoas e chegam até as plenárias gerais com todos os congressistas. Os grupos debatem os mesmos assuntos e votam os textos dos TRs. Todos as resoluções com mais de 30% de aprovação vão para as plenárias e lá são debatidas novamente, em demoradas e desgastantes sessões.
“Isso é exaustivo, repetitivo e burocrático”, reclama a vice-presidente da AdUFRJ, professora Mayra Goulart, pela segunda vez num Congresso do Andes. “Não faz sentido refazermos a discussão toda nas plenárias. A discussão nos grupos é muito mais interessante e eficaz do que as longas plenárias. Há uma questão de metodologia que reflete uma diretoria que quer se blindar para a manutenção do status quo”.
Até professores alinhados com a atual diretoria do Andes reconhecem o problema da falta de objetividade dos debates. “Temos uma forma muito trabalhosa aqui que é ir emendando os textos de cada TR. E é verdade que não fica muito claro o que é muito essencial e o que é menos importante”, pondera o professor Luís Eduardo Acosta, ex-vice-presidente do Andes, e docente da Escola de Serviço Social da UFRJ. “Temos problemas e é muito difícil mudar uma forma de trabalho que já tem 40 anos”.
A direção do Andes discorda. Markos Klemz Guerrero, professor de Filosofia da UFRJ e vice-presidente regional do Andes, concorda que as discussões são, muitas vezes, exaustivas, mas considera que a repetição dos debates no plenário é a única forma de garantir que posições minoritárias também sejam debatidas. “Não vejo outra solução. Todo o nosso esforço é para garantir a representação da base”, defende.

BOLSONARO E LULA
Se o “Fora Bolsonaro” foi uma unanimidade, a candidatura Lula passou longe disso. Foi assim nos cinco dias de congresso. Ainda que todos os congressistas fossem uníssonos sobre a importância de impedir a reeleição do atual presidente da República, muitos discursos rechaçaram a hipótese de que o Andes sinalize o voto no ex-presidente Lula.
“Não podemos indicar um voto. Seja ele do PT, do PSOL ou de qualquer partido. Qualquer um que ganhar as eleições será nosso patrão”, avalia Markos Klemz. Essa posição, no entanto, foi rebatida veementemente pelo grupo mais forte de oposição à atual diretoria, o Renova Andes, corrente que nasceu sob a hegemonia do PT, mas que se ampliou e hoje abraça várias correntes políticas.
“Essa ideia de que todo patrão é igual é ridícula e parece que a pessoa nunca teve um patrão. Há patrões e patrões”, analisa Luis Antonio Pasquetti, um dos coordenadores nacionais do Renova Andes, e professor da Universidade de Brasília. “Há patrões que escravizam, que não pagam salários, que demitem quem discorda. Há outros que não. Defendemos Lula porque ele foi ótimo para as universidades. Criou as cotas, democratizou o acesso, ampliou as universidades. Isso não é ser igual ao Bolsonaro”.
Rodrigo Pereira, professor da Federal da Bahia, tem a mesma avaliação do colega de Brasília e acha que o Andes deveria indicar o voto em Lula. “Vivo num país diferente daquele da diretoria do Andes. No meu país, meu povo está morrendo de fome, de bala e de covid. Quero caminhar ao lada da minha classe, construindo a principal candidatura que pode derrotar o Bolsonaro. É disso que se trata, sem ilusão, a única candidatura é a de Lula”.

OBSERVATÓRIO
DO CONHECIMENTO
Por 199 a 130 votos, com sete abstenções, a plenária do congresso negou menção explícita ao Observatório do Conhecimento (leia matéria na página 4) ao discutir a Política de Ciência e Tecnologia. Coletivo onde a AdUFRJ tem papel preponderante, o Observatório havia sido incluído como exemplo de entidade científica que deveria receceber apoio do Andes em suas iniciativas em defesa da Ciência e das instituições científicas, mas teve seu nome suprimido após a votação final.
O professor Ricardo Medronho lamentou a decisão. “Muitos só entendem Ciência e Tecnologia se voltados única e exclusivamente ao desenvolvimento social e nunca, por exemplo, ao desenvolvimento industrial do país”, lamenta o professor Medronho. “Outra posição sectária do congresso é que foi aprovada a intensificação da luta contra as iniciativas de regulamentação do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação (MLCTI), além de muitas críticas à SBPC e à Academia Brasileira de Ciências (ABC)”.

CONLUTAS E
CENTRAIS SINDICAIS
Última polêmica do Congresso, a filiação à desconhecida e ultra radical CSP-Conlutas mobilizou intensa discussão. O Andes é filiado à Conlutas, mas muitas associações docentes questionam a representatividade da central sindical, particularmente depois de 2016, quando a instituição defendeu o impeachment da ex-presidente Dilma e a prisão do ex-presidente Lula.
“Essa central nos coloca de costas para os professores. Ela é uma bola de chumbo nos pés do Andes”, resumiu a professora Erika Suruagy, presidente da Associação de Docentes da Universidade Federal Rural de Pernambuco (Aduferpe) e uma das principais lideranças do Congresso. “Não dá mais para o nosso sindicato se manter isolado”.
Na mesma linha, o professor Felipe Rosa, ex-vice-presidente e integrante da delegação da AdUFRJ, é um veemente crítico da Conlutas. “Duvido que a maioria dos professores universitários saibam o que é Conlutas e defendam que o dinheiro dos sindicalizados siga investido nesse gueto”, criticou.
As muitas críticas não resultaram em mudanças. O Congresso manteve a filiação e a diretoria se comprometeu a rediscutir o assunto no próximo encontro, em 2023, em Rio Branco, no Acre. “Que a Amazônia nos inspire e amadureça o Andes”, resumiu a vice-presidente da AdUFRJ, Mayra Goulart.

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