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A teatralidade é essencialmente humana. Todo mundo tem dentro de si o ator e o espectador. Representar num ‘espaço estético’, seja na rua ou no palco, dá maior capacidade de auto-observação. Por isso é político e terapêutico.
Augusto Boal
(1931-2009)

WhatsApp Image 2021 12 17 at 14.18.52A reinvenção do teatro brasileiro começou na mente de um aluno de Engenharia Química da UFRJ. Era Augusto Boal, rapaz tímido que passou no vestibular em 1949. Chegou a se formar, mas nunca exerceu a profissão. “Seu interesse, desde muito pequeno, sempre foi o teatro, mas ele precisou ‘pagar um pedágio’ ao pai. Era preciso ter um ‘canudo’ na mão. Então, ele conquistou seu diploma superior e o direito de ir atrás de seu sonho”, conta a psicanalista Cecília Boal, viúva do artista, nascido em 1931 e morto em 2009. “Boal continua sendo atual. Sua proposta não foi superada”.
Criador do Teatro do Oprimido, Boal foi um ícone da arte política, engajada, questionadora, revolucionária. “Seu método oferece um formato que pode ser utilizado em qualquer lugar: na escola, numa fábrica, no campo. É uma ferramenta de luta contra a opressão”, completa Cecília, que preside o instituto que leva o nome do marido.
Cultuado, estudado e reverenciado no mundo todo, o gênio do teatro será homenageado no próximo final de semana pelo Colégio de Aplicação da UFRJ. Alunos do segundo ano vão encenar dois textos de Boal. O espetáculo, uma livre adaptação de “Torquemada” e “Revolução na América do Sul”, foi todo produzido a distância e será exibido no dia 19 de dezembro. A montagem encerra o ano de trabalho do projeto EncenaAção.
Para preparar a apresentação, os alunos recuperam a impressionante biografia do artista que escreveu, traduziu e adaptou 72 peças, dirigiu mais de 50 espetáculos e escreveu 20 livros. O acervo começou a ser criado ainda nos anos 1950, logo que Boal finalizou seu curso na então Escola Nacional de Química. Até o golpe de 1964, escreveu ou dirigiu 29 peças.WhatsApp Image 2021 12 17 at 14.16.42 1
Dali em diante, a crítica à ditadura passou a integrar o contexto de suas obras. O espetáculo ‘Opinião’ foi o primeiro criado após o início da repressão e é um dos mais importantes musicais políticos do teatro nacional. Em 1971, o dramaturgo foi preso, torturado e enviado para o exílio. No mesmo ano, escreveu ‘Torquemada’, na Argentina. “Só retornamos ao Brasil em 1986, por iniciativa minha, e viemos para o Rio de Janeiro”, relembra Cecília. “Desde então, houve uma reaproximação com a UFRJ. Boal passou a ser convidado para várias oficinas, palestras. Fez encontro no Teatro de Arena, também na área externa da Faculdade de Letras com o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra)”, conta.

ACERVO
Após sua morte, os herdeiros enfrentaram um dilema: o que fazer com seu vasto acervo? “Eu pensei que o lugar natural para a documentação que ele deixou era a UFRJ”, afirma Cecília. “Levamos tudo para a Faculdade de Letras. Devo muito à UFRJ pela digitalização de boa parte do material”, agradece Cecília. “Hoje, 90% do acervo digitalizado está disponível para consulta na internet graças à UFRJ”.
A professora Priscila Matsunaga, da Faculdade de Letras, fez parte da articulação que trouxe o material de Augusto Boal para a UFRJ, em 2011. “Foi um acontecimento. Durante o breve período em que o acervo esteve na unidade, entre 2011 e 2019, inúmeras atividades de formação e divulgação foram possíveis”, lembra. “Entre as atividades, foi concedido o título de Doutor Honoris Causa a Augusto Boal, pela Faculdade de Educação”, lembra a professora Priscila.
WhatsApp Image 2021 12 17 at 14.16.42Em dezembro de 2019, o acervo começou a ser transferido para o Museu Lasar Segall, em São Paulo, cuja biblioteca é especializada em artes do espetáculo. “Terminamos a transferência em fevereiro de 2020, imediatamente antes de estourar a pandemia. Por isso, ele não está ainda acessível fisicamente no Museu. Mas estará em breve”, explica dona Cecília Boal.

HOMENAGEM DO CAP

Celi Palacios, professora de Artes Cênicas do CAp e estudiosa de Augusto Boal, explica como surgiu a ideia de trazer textos do dramaturgo para a escola. “O setor curricular de Artes Cênicas sempre foi muito engajado nas questões contemporâneas, político-sociais. E Boal tem como princípio que o teatro é político, assim como todas as nossas ações são políticas”, analisa. “Esse ano nos vimos mais uma vez presos pela pandemia, isolados, em ensino remoto e com todos os problemas que vêm piorando por conta da pandemia, como a fome, a miséria, a ascensão de pensamentos protofascistas. Apesar de os textos serem um da década de 1970 e outro da década de 1950, Boal é contemporâneo, urgente e necessário”.
A professora Andréa Pinheiro divide a coordenação do EncenaAção e conta que o projeto foi criado em 1997. “O projeto surgiu do desejo dos alunos montarem peças de teatro. Ao longo dos anos se tornou um programa curricular do segundo ano”. Bolsistas dos cursos de Dança, Indumentária e Direção Teatral participam do projeto. “Há uma qualificação dos estudantes do ensino superior dessas áreas, bem como também dos estudantes do Ensino Médio, como atores”, afirma. Nos dois últimos anos, as professoras e os alunos precisaram aprender a fazer teatro remoto. “Fez parte de uma luta para salvar vidas”.
O espetáculo “2x Boal” será transmitido às 18h do dia 19 pelo canal do Youtube CAp na Quarentena. Dele fazem parte 25 alunos do Ensino Médio e oito bolsistas dos cursos de Indumentária, Dança e Direção Teatral.

 

FICHA TÉCNICA DO ESPETÁCULO

TURMA 22 A
Direção
de Cena:
Aureo Müller
Direção de
Movimento:
Allessandro Ribeiro
Orientação:
Celi Palacios

ELENCO 22 A
l Arthur Vale
l Bia Gonzales
l Carol Moraes
l Fellipe Frascino
l João Gabriel Moniz
l Madu Durso
l Nina Dantas
l Vinicius Gomes
l Yanni Torquato

TURMAS 22 B e C
Direção de Cena:
Kamilla Ferreira
e Diego Santos
Orientação:
Andréa Pinheiro

ELENCO 22 B
l Camille Ximenes
l Daniel Pericin
l Davi Oliveira
l Leonardo Gabriel
de Amorim
lLorenzo Kaulino
l Luana Diniz
l Luiza Laviola
l Mari Falcão
l Renan Correia

ELENCO 22 C
l Alice Marinho
l Arthur Costa
l Beatriz Saronne
l Davi do Rosário
Sombra
l Guilherme
Esquerdo Pereira
l Júlia Cantuario
l Tatah Souza

Figurino:
Viviane Dutra
Edição:
Yasmin Viana,
Allessandro Ribeiro
e Ryan Santos
Arte de
Divulgação:
Lígia Monteiro
Produção:
Ryan Santos
Direção Artística:
Andréa Pinheiro
e Celi Palacios

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