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WhatsApp Image 2021 12 10 at 20.20.24Um dos pilares condenados pela Defesa Civil, no bloco C do prédio da reitoria. Trecho está interditado - Fotos: Alessandro Costa

A universidade vem se desdobrando para atender à determinação judicial de retorno das aulas presenciais. Mas não é fácil voltar. Quem percorre os corredores dos edifícios do Fundão percebe que faltou ao desembargador Marcelo Pereira da Silva, do Tribunal Federal da 2ª Região, conhecer a realidade. A precária infraestrutura e o subfinanciamento da instituição não foram considerados na sentença e ajudam a explicar os ainda tímidos números de disciplinas presenciais oferecidas neste semestre.
A pró-reitoria de Graduação informa que 42,7 mil alunos se inscreveram para 2021.2, mas 41,5% das disciplinas continuam sendo remotas. Apenas 2,6% são integralmente presenciais e a maioria, 55,9%, é composta por disciplinas híbridas, que conjugam aulas remotas e aulas presenciais.
Passados 24 dias do início do semestre letivo, ainda há espaços da universidade sem condições mínimas para receber um grande volume de pessoas. É o caso, por exemplo, do edifício Jorge Machado Moreira (JMM), que abriga o gabinete da reitoria. O prédio era a casa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Escola de Belas Artes e do Instituto de Pesquisas em Planejamento Urbano e Regional. Era. Desde 2016, quando o oitavo andar foi destruído por um incêndio, a situação do prédio – tombado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, da prefeitura carioca – só se deteriorou. As unidades precisaram buscar abrigo em outros locais para suprir a falta de salas de aula.
De transitória, a situação se tornou permanente. Há cinco anos, esses cursos necessitam de instalações cedidas para exercerem suas atividades. “Nós alocamos mais de 600 horários para aulas por semestre sem termos uma sala de aula para chamar de nossa”, reclama a diretora da Escola de Belas Artes, professora Madalena Grimaldi. Antes do incêndio, a EBA ocupava as salas do sexto e sétimo andares do JMM, além dos ateliês e oficinas do térreo e segundo andar. “Desde 2016 dependemos da acolhida da Faculdade de Letras, do CT, do CCMN e da Educação Física para conseguirmos atender aos nossos alunos”, conta a docente.WhatsApp Image 2021 12 10 at 20.31.57Sala no sexto andar do JMM não pode ser utilizada
A EBA voltou presencialmente com disciplinas práticas, nos ateliês localizados no Bloco D do edifício. “É uma volta parcial e as turmas estão divididas em pequenos grupos. As disciplinas teóricas, por enquanto, seguem remotas”, diz. Mesmo com os empréstimos de salas em outras unidades, a diretora afirma que não há condições de retomar as aulas integralmente presenciais, caso o distanciamento social permaneça necessário no ano que vem. “Sem o JMM, não tenho como alocar 15 cursos nas atuais condições de biossegurança. Não há espaço para isso”. Além das salas, a diretora reforça a necessidade de impermeabilização do bloco D, por conta das graves infiltrações que atingem os ateliês. “Quando chove, molha tudo”.

IMPOTÊNCIA E ABANDONO
“O Jorge Machado Moreira é o edifício que concentra o maior número de problemas estruturais, resultado do abandono de décadas”, reconhece o vice-reitor da UFRJ, professor Carlos Frederico Leão Rocha. “Vamos gastar R$ 11 milhões com as obras prioritárias, mas eu precisaria de R$ 50 milhões para deixar o prédio adequado para o uso. Eu não vejo de onde tirar esse volume de recursos. A sensação que tenho é de impotência”, lamenta o dirigente.
As obras avançam na lentidão em que os recursos chegam até a universidade. Em abril deste ano, um novo incêndio, desta vez no segundo andar, tornou ainda mais dramática a crise de infraestrutura do local. O custo para a reforma do Núcleo de Pesquisa e Documentação da FAU, atingido no incidente, foi de R$ 562 mil. A obra deve ser encerrada até o final deste mês. Nos andares mais altos, há salas de aula prontas para receber alunos, mas falta energia elétrica.
Ainda há obras em andamento no sexto, sétimo e oitavo andares, que começaram em 2020 e serão concluídas em abril de 2022. Em paralelo, acontece a reforma das instalações elétricas desses andares e da subestação de energia. O prazo para a recuperação da rede, que era outubro deste ano, está ultrapassado e em revisão. Só essas frentes já custaram cerca de R$ 3 milhões, segundo informações fornecidas pela assessoria de imprensa da reitoria. Outros R$ 3 milhões foram utilizados no reforço estrutural do oitavo andar, reforma da rede hidráulica e impermeabilização da biblioteca. Essas obras foram concluídas entre 2018 e 2021.
Mas os problemas não param por aí. Alguns pilares de sustentação do prédio, no bloco C, foram condenados pela Defesa Civil e precisam de recuperação urgente para permitir a ocupação ampla do edifício. O projeto está pronto, mas ainda aguarda dinheiro para a licitação. A reitoria estima um custo inicial de R$ 309 mil. Outro projeto também urgente busca recuperar as instalações elétricas do terceiro, quarto e quinto andares. O custo estimado é de R$ 1,2 milhão.
A administração central pretende entregar as salas de aula do sexto e sétimo andares em abril. Os demais andares ainda precisam de licitações, que ela pretende escalonar para liberar gradativamente cada pavimento, na medida em que as obras ficarem prontas. “Precisamos mexer na fachada, precisamos resolver o problema grave dos pilares, precisamos de brigada de incêndio, mas sem energia, não tem como as aulas voltarem. Então, eu diria que a prioridade é religar toda a energia do prédio para devolver as aulas para os blocos A e D, enquanto as outras obras acontecem em paralelo”.

CCS TAMBÉM SOFRE
O edifício principal do Centro de Ciências da Saúde também enfrenta problemas. As instalações do subsolo, sobretudo as salas de aula, não são adequadas para serem utilizadas durante a pandemia. “As aulas presenciais da pós-graduação e as aulas práticas da graduação retornaram. Mas as aulas teóricas, ainda não”, relata a professora Julia Clarke, da Faculdade de Farmácia. “Precisaríamos utilizar as salas de aula do subsolo, que não têm ventilação alguma. Temos 160 novos alunos a cada semestre, não temos espaço”.WhatsApp Image 2021 12 10 at 20.31.57 1Sala do subsolo do CCS não pode ser utilizada
Vice-decana do CCS, a professora Lina Zingali reconhece as dificuldades. “As salas não estão sendo usadas no subsolo e o nosso aulário, o bloco N, está ocupado pelo Centro de Triagem e Diagnóstico para covid-19. Por isso, estamos com uma grande limitação de salas de aula”, explica. O planejamento do CCS é devolver o bloco N para aulas teóricas no início do ano que vem. “O CTD será transferido para outro espaço e as salas serão reformadas para receber os alunos até o meados de janeiro”, afirma.

IFCS SEM AULAS PRESENCIAIS
WhatsApp Image 2021 12 10 at 20.31.57 2ARTE para recepcionar a comunidade acadêmica, no IFCSOs problemas também atingem unidades isoladas da universidade. No Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, não haverá aulas presenciais no período atual. “Temos um calendário acadêmico da graduação e pós-graduação com aulas e turmas previstas ainda no modo remoto. Os professores e estudantes se prepararam para isso. Você não pode alterar no meio do caminho uma disciplina que foi prevista no modo remoto”, explicou o diretor, professor Fernando Santoro.
A unidade ainda estuda a adaptação dos espaços. “Não podemos retornar a um espaço sem tomar cuidados com os protocolos de biossegurança. É preciso ter muito cuidado nessa transição”, afirmou Santoro. “É preciso saber qual é a ocupação segura das salas, garantir que todos os espaços tenham dispositivos de higiene e ventilação adequada”, completou.
As dificuldades orçamentárias são o principal entrave para finalizar a adaptação. “Nós não temos orçamento. Quando assumimos a direção, em outubro, já não tínhamos mais orçamento”, alertou. O professor destaca que o IFCS tem a peculiaridade de ser um prédio antigo e tombado, o que dificulta reformas. “O prédio é muito antigo, e precisa de uma conservação que independe da própria pandemia”.
No último dia 3, Santoro dirigiu a performance “Desembarque das Bacantes”, que misturou música, dança e filosofia, e contou com a participação do Teatro das Ideias Vivas. Os participantes realizaram uma lavagem das escadarias do prédio histórico para fazer uma abertura simbólica do IFCS. “A universidade está aberta de novo, não apenas para que os seus estudantes, professores e técnicos retornem, mas para que a cidade também entre na universidade”, explicou o professor. Mas, por enquanto, apenas para atividades acadêmicas como reuniões de orientação e de grupos de pesquisa, eventos e atividades de extensão. (colaborou Lucas Abreu)

DESEMBARGADOR
AINDA NÃO
AVALIOU RECURSOS

Enquanto organiza o retorno presencial possível nas atuais condições de pandemia e infraestrutura, a comunidade da UFRJ monitora o processo em tramitação no Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Em 25 de outubro, o desembargador Marcelo Pereira da Silva determinou a volta das aulas aos campi da universidade — e de outras seis instituições de ensino no estado — UniRio, Pedro II, UFRRJ, Instituto Nacional de Educação de Surdos, Cefet e IFRJ. Mas, até o fechamento desta edição, o magistrado não se manifestou sobre os recursos apresentados pela defesa das instituições ou pela AdUFRJ.

 

 

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