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Exibição de Aquarius lotou Teatro de Arena
Texto: Elisa Monteiro e Isadora Vilardo
Fotos: Ivan de Angelis e Claudia Ferreira
A exibição do filme "Aquarius", de Kleber Mendonça Filho, alterou a rotina do campus da Praia Vermelha e encerrou o dia de mobilização contra a Proposta de Emenda à Constituição 241. Mais de 300 pessoas foram atraídas para a sessão no Teatro de Arena do Palácio Universitário, na noite de quinta (29), no Teatro de Arena da UFRJ.
O evento começou com a apresentação da campanha Brasil 2036 em defesa da educação pública, gratuita e democrática. O objetivo é derrubar a PEC, que congelaria os gastos públicos por 20 anos: “Se isso acontecer, em 20 anos o Estado será 40% do que ele é hoje”, explicou o 1º vice-presidente da Adufrj, Carlos Frederico Leão Rocha.
Diretor da Adufrj, Carlos Frederico Leão Rocha apresentou campanha contra a PEC 241 ao público, antes do filme
O público começou a se reunir e logo o burburinho na noite agradável foi substituído pelo silêncio atento de uma sala de cinema a céu aberto. O Centro Acadêmico Stuart Angel, do Instituto de Economia, que apoiou a exibição do filme, distribuiu saquinhos de pipoca para a plateia. A projeção começou pontualmente às 19h30.
Mais cedo, a Adufrj havia lançado o portal brasil2036.org.br, com ferramentas virtuais de pressão sobre os deputados — a PEC 241 deverá ser avaliada pelo plenário da Câmara, nos próximos dias. O site reúne, ainda, material de análise, notícias e depoimentos em vídeo sobre a proposta do governo.
Atividade elogiada
O diretor da Adufrj celebrou o sucesso do encontro. “Estou aqui (na UFRJ) desde 1983. Vai ser a primeira vez que vejo um cinema no Teatro de Arena”. Aclamado pela crítica e alvo de polêmicas em função de manifestações da equipe do filme contra o governo interino de Michel Temer em festivais internacionais, "Aquarius" atraiu até um público externo à universidade. 
A pesquisadora da Fiocruz, Elizabeth Artmann, elogiou a iniciativa: “Achei a proposta fantástica! É filme que merece discussão porque traz muito da realidade brasileira e faz a gente tomar posição”. Ela e a colega Sonia Marinho contaram já ter visto a película e compareceram ao evento para fazer o debate. Mesmo sem vínculo com a universidade, Sonia disse que é vizinha do campus da Praia Vermelha e tem o hábito de comparecer às atividades culturais no Teatro de Arena.
Professora da Faculdade de Educação, Priscila Rodrigues foi trazida pelos alunos. “Apenas um dos estudantes da turma tinha visto o filme. O cinema está caro demais para a maioria deles. Quando eles propuseram de assistirmos a Aquarius juntos, eu topei”, afirmou. A docente liberou o horário para a turma e vai discutir o conteúdo em sala, na próxima aula. “Ocupar este espaço desta forma foi incrível”.
Marina Szapiro, professora do Instituto de Economia, também aprovou a experiência. E disse que a iniciativa deve ser repetida outras vezes: “Os filmes que podemos trazer para a universidade podem contribuir muito para a discussão e o conhecimento que produzimos aqui”.

Horto do Fundão também é campo de pesquisa
Celeiro de mudas e insumos alimenta ainda os projetos paisagísticos do Polo Xerém, Campus Macaé e em Santa Cruz da Serra
Texto e foto: Elisa Monteiro
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É possível que muitos não saibam, mas a UFRJ mantém um horto de 26 mil metros quadrados no Fundão. O local é responsável pela produção de mudas para diversos campi da universidade, além de ser um espaço de pesquisa.
Para se ter uma ideia do volume de trabalho, cerca de 20 mil árvores foram plantadas apenas entre 2012 e 2014, segundo a Prefeitura Universitária. O principal investimento deste período foi na área do Catalão — na extremidade norte do conjunto de ilhas que formou a Cidade Universitária.
As árvores plantadas, frequentemente como medidas compensatórias, são nativas de Mata Atlântica e não frutíferas. “Até por uma questão de segurança não são frutíferas. Já imaginou as pessoas vindo de toda parte e subindo nas árvores para catar fruta?”, argumenta Márcia Ehmann, relações públicas da prefeitura.
Ela observa, ainda, que a produção do horto é dinâmica. Um dos exemplos está na redução drástica de cultivo de plantas como as bromélias, que acumulam água. O objetivo é evitar a proliferação do mosquito Aedes Aegypti, transmissor de doenças. “As poucas que mantivemos concentramos no centro dos canteiros, onde a evaporação é mais rápida”, diz.
Outras faces do trabalho
O Horto abriga ainda trabalhos de campo e projetos de extensão da universidade. É o caso do borboletário do professor Ricardo Monteiro (Instituto de Biologia) para professores e estudantes da rede básica de educação: “É um borboletário em fase de construção para ser espaço de criação, observação, experimentos e visitação do público, da universidade e escolas do entorno do Fundão. Tenho esse projeto cadastrado no Sistema de Informação e Gestao de Projetos (SIGProj), que recebeu apoio da Faperj e da UFRJ”, afirma.
Expansão
A Prefeitura Universitária aproveitou a 5ª Semana da Árvore, entre os dias 19 e 23 para apresentar à comunidade o resultado de obras de expansão do horto do Fundão. A reforma ocorreu em parceria com a Petrobras. Foram oferecidas visitas guiadas, oficinas e doações de mudas.
Com o investimento de aproximadamente R$ 1 milhão, a prefeitura pretende aumentar em 40% a atual produção.
PEC 241 representa “maior retrocesso da história republicana”
Economista e vice-diretora da Faculdade de Educação avaliam consequências da Proposta de Emenda à Constituição que congela gastos públicos
Texto: Kelvin Melo
Fotos: Claudia Ferreira
“No pós-guerra, nunca se reduziu o gasto per capita em educação. O que está se propondo, com a PEC 241, é a possibilidade de redução. É o maior retrocesso da história do Brasil. Nem os militares fizeram isso”. As declarações do economista Carlos Frederico Leão Rocha, 1º vice-presidente da Adufrj, foram dadas durante o ato de lançamento do portal brasil2036.org.br.
O professor apresentou um gráfico — disponível no site recém-inaugurado — que compara o gasto público por aluno na educação fundamental com o percentual do Produto Interno Bruto destinado à Educação, em vários países, em 2012. O Brasil investia 4,8% do PIB na área e gastava US$ 3,2 mil, aproximadamente, por aluno. A França e Espanha gastavam entre US$ 6 mil e US$ 7 mil – ou seja, o dobro.
Para fazer o país alcançar este patamar, existem duas possibilidades: uma é dobrar o esforço do PIB (para 9,6%) imediatamente, tarefa mais difícil; outra é deixar o PIB crescer e, mantendo o esforço atual, chegar lá. A PEC 241, explicou o professor, vai na direção contrária.

Tamanho do Estado em questão
Ele destacou ainda que a PEC também não possui qualquer chancela eleitoral. Nenhum candidato ganharia voto com a proposta de congelar os gastos com Educação e Saúde. “Não conseguiriam colocar um tema como esse em campanha eleitoral. Pode-se discutir se tirar Dilma foi golpe ou não, mas essa PEC, sim, é um golpe”, argumentou.
Segundo Carlos Frederico, desde a Constituição de 1988, o gasto público cresce, em média, 6,5% ao ano. Percentual que não é acompanhado pelo Produto Interno Bruto (PIB). Isso representou o crescimento do Estado, no período. “Mesmo no governo de Fernando Henrique Cardoso, ao universalizar a Educação, ao consolidar o Sistema Único de Saúde. Ou seja, não se trata de uma questão partidária”, disse.
“Não podemos perder essa. Ou, daqui a 20 anos, nossos filhos viverão num país muito pior do que o de hoje”.
Graves retrocessos
Vice-diretora da Faculdade de Educação, Rosana Heringer observou que o congelamento de recursos previsto na PEC 241 causará graves retrocessos à área, que já enfrenta dificuldades nos dias atuais. Observou, por exemplo, que estão em risco todas as estratégias previstas no Plano Nacional de Educação (PNE), de 2014.

Especificamente em relação ao ensino superior, a professora elencou a política de permanência dos estudantes, a criação de novas instituições federais, além da interiorização de atividades universitárias.
Contou que o número de matrículas na educação superior aumentou 100%, entre 2003 e 2014: “De 600 mil para 1,2 milhão. Insuficiente? Sim, mas muita coisa em relação à história do Brasil”, disse. Observou que 14 novas universidades foram criadas, no período: “Muitas delas fora dos grandes centros”. Ela questionou: “Se nós, aqui na UFRJ, já vivemos restrição de recursos em relação à continuidade de obras, por exemplo, imaginem instituições novas como essas, que precisam se consolidar?”.
“Essa nossa mobilização precisa ser prioridade. Precisamos atuar em todas as frentes possíveis. Temos de nos aproximar dos nossos alunos. Eles não estão nem acompanhando (a PEC 241)”, disse.
Leia mais: PEC 241 é “maior retrocesso da história republicana”
Secretária do MEC dá pistas sobre universidades
Em evento no Rio, Maria Helena Guimarães diz que gastos com instituições dificultam outros programas do ministério
Elisa Monteiro
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A participação da secretária executiva do Ministério da Educação (MEC), Maria Helena Guimarães de Castro, no Encontro Internacional Educação 360, no último dia 23, trouxe alguns elementos sobre o que pensa o governo Temer para as universidades federais. A dirigente falou sobre financiamento, prioridade de obras e formação de professores.
Maria Helena afirmou que a Educação não sofrerá cortes no próximo ano. Ela destacou a evolução do orçamento da pasta de R$ 42,6 bilhões em 1995 até os R$ 131 bilhões aplicados em 2014, “o segundo maior orçamento da União”. Mais adiante, a secretária construiu uma relação direta entre o enxugamento em programas da rede básica à folha de pagamento dos servidores. “As universidades e institutos federais representam um acréscimo de R$ 5 bilhões no orçamento do MEC. Esses R$ 5 bilhões têm que sair de algum lugar. E vão sair do orçamento discricionário que teríamos para fazer alguns programas na educação básica, como alfabetização e algo do tipo”, disse, em referência ao impacto do reajuste aprovado este ano para 2017, das carreiras ligadas à área de Educação.
Outro tema de interesse para as universidades foram os planos do ministério para a formação de professores. O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) foi citado como um bom exemplo. Mas, segundo a secretária, a avaliação atual do MEC é que “a maioria desses projetos está desconectada (dos demais)”. Oficialmente, não há proposta fechada. Um grupo de trabalho com Capes, Secretaria de Educação Básica e Secretaria de Educação Superior foi formado para estudar a questão.
Docente da UFRJ critica propostas
Para o coordenador de licenciaturas da Faculdade de Educação, William dos Santos, o confronto de orçamento da educação básica versus ensino superior não faz sentido. William defende um equilíbrio, pois “se as lacunas da educação básica têm rebatimento direto na sala de aula da universidade, a formação docente realizada em grande medida pelas universidades também têm impacto nas escolas”.
Como exemplo positivo, ele cita a expansão da universidade: “Um dos elementos mais interessantes do Reuni foi o investimento na formação de professores, inclusive com ampliação da participação de público que estava fora da universidade. E o comprometimento de estar mais aberta às necessidades das pessoas, como a educação básica”.
O docente discorda do argumento de que os programas de formação de professores estão desconectados. Segundo ele, são programas distintos essencialmente porque atendem a públicos diferenciados. “Colocar no mesmo balaio o licenciando e o professor que já está na rede básica e que precisa de uma formação continuada é um equívoco”, argumenta.
Obras
Sobre investimentos em reformas e obras paralisadas, a representante do MEC informou que o governo elegeu duas frentes prioritárias: creches e hospitais universitários. Mas não deu detalhes.
Procurada, a assessoria da reitoria disse não ter recebido qualquer comunicado do ministério sobre o assunto. A administração elenca projetos importantes que demandam recursos: no HUCFF, o fechamento da empena está em curso e, posteriormente, o hospital terá obras no entorno, com foco em acessibilidade; no IPPMG, reforma do centro cirúrgico; no Hesfa, continuação da restauração do edifício.
Brasil2036.org.br está no ar
Adufrj lança portal eletrônico contra a Proposta de Emenda à Constituição que congela os gastos públicos por 20 anos
Texto: Kelvin Melo
Fotos: Claudia Ferreira
Mais uma ferramenta de mobilização contra a Proposta de Emenda à Constituição 241. Assim a presidente da Adufrj, Tatiana Roque, classificou o portal brasil2036.org.br, lançado pela entidade nesta quinta-feira (29), em sala do Centro de Tecnologia: “Não é nada que substitua as outras formas de luta. Todas são bem vindas. Precisamos da força de todo mundo”, disse.
Na avaliação da Adufrj, a campanha contra a PEC 241 deve ser um dos principais alvos da ação dos trabalhadores e estudantes, no momento: “São tantas ameaças que, às vezes, não sabemos nem por onde começar. Mas a PEC parece ser o objetivo maior deste governo”, afirmou, em referência à reforma estrutural do Estado contida na proposta que congela os gastos públicos por 20 anos. Não à toa, informou, as lideranças do governo buscam antecipar a votação da proposta em plenário para os dias 10 e 11 de outubro.
Como funciona o portal?
O principal recurso do portal é a capacidade de disparar mensagens para um ou vários parlamentares, ao mesmo tempo, contra a PEC. Basta o visitante clicar no botão “Bota pressão!” e selecionar os deputados para quem deseja enviar um texto-padrão, gerado automaticamente. Há filtros — por partido ou por estado, por exemplo — que facilitam a escolha dos políticos. Também é possível fazer pressão pelas redes sociais (twitter e facebook). Atenção: é preciso estar logado na conta pessoal.
A recomendação da Adufrj é que os interessados na campanha assinem e mexam um pouco no texto original, para tornar a mensagem mais convincente. “Isso aumenta a pressão”, afirmou Tatiana.
A professora chamou atenção para a alça “participe”, do portal, na qual existe um formulário: além do envio de sugestões ou críticas, é importante preenchê-lo para que a entidade consiga criar um grupo de e-mails e possa informar as novidades da campanha. Tatiana solicitou a divulgação do site para todos os contatos possíveis: “É importante nacionalizar a campanha, com força total, chegando a outras universidades”.
Além dos mecanismos de pressão nos parlamentares, o site também apresenta material de análise, notícias e depoimentos em vídeo. A presidente da Adufrj destacou que, mesmo algumas pessoas conhecidas como liberais, a exemplo da ex-secretária municipal de Educação Cláudia Costin, manifestaram-se contra a proposta do governo: “Essas alianças contra a PEC 241, neste momento, são fundamentais”, disse Tatiana. Os prefeitáveis do Rio também foram convidados a falar sobre a proposta. Nem todos responderam.
Uma linha do tempo mostra, ainda, a tramitação da Proposta de Emenda à Constituição.
O portal foi encomendado à Rede Livre, grupo de militantes que ficou bastante conhecido ao montar o Mapa da Democracia, na época de discussão do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Tatiana Roque destacou a versatilidade do portal. Se a discussão da PEC avançar ao Senado, ele poderá ser adaptado para incluir os senadores. Também poderá ser utilizado para outras campanhas, depois.
Entidades representativas da UFRJ prestigiam lançamento
Terezinha da Costa (Attufrj), Chiquinho (Sintufrj), Tatiana Roque (Adufrj) e Brenner Oliveira (DCE)
A iniciativa de lançamento do portal brasil2036 foi abraçada pelas demais entidades representativas da UFRJ.
Francisco de Assis, o Chiquinho, do Sintufrj, considerou muito relevante a ferramenta online, na atual conjuntura, de acirramento contra os direitos dos trabalhadores: “Nós vivemos no mundo da informação, da tecnologia”, disse. Diante da movimentação do governo para antecipar a votação da PEC, Chiquinho observou que “precisamos estar muito organizados e com muita unidade”. Informou, ainda, que os técnicos-administrativos paralisaram as atividades, nesta quinta (29), para reforçar o Dia Nacional de Luta contra as propostas da gestão de Michel Temer.
Pelo DCE, Brenner Oliveira destacou a importância de unificar todos os segmentos da comunidade acadêmica contra a PEC com o objetivo de preservar o caráter público da universidade. “Para nós, é uma luta pela permanência dos estudantes, pela Saúde e pela Educação públicas”, disse.
Terezinha da Costa, pela Associação dos Trabalhadores Terceirizados (Attufrj), também confirmou que a entidade fará frente ao governo “que, cada dia que passa, só pensa em retirar nossos direitos”.
A representante da APG justificou que não poderia comparecer por conta de outro compromisso.
Plenária comunitária
Ainda no sentido de manter a universidade mobilizada, uma plenária comunitária está sendo organizada para a próxima semana, provavelmente no Centro de Ciências da Saúde. Assim que confirmada, será divulgada nos canais de comunicação da Adufrj.