CARLOS CHAGAS FILHO em ação num dos laboratórios da Faculdade de Medicina, que funcionava ainda na Praia VermelhaNa década de 80, a UFRJ ainda era chamada de “a Nacional”. Ser aluno da Nacional era um sonho para muitos dos que tentavam ingressar no ensino superior. Comigo não foi diferente e mesmo sem saber qual carreira seguir, a meta para esta carioca do subúrbio era ser aluna da “Nacional”. Ingressei na Universidade Federal do Rio de Janeiro ao completar 17 anos, o que acontece com muitos estudantes até os dias de hoje. Ainda em formação, ingressamos em instituições capazes de modificar as nossas vidas para sempre. Nossos anseios mudam e ao longo dos anos, nos bancos da universidade, amadurecemos e a nossa personalidade vai sendo moldada, adquirindo os contornos que levaremos para o resto da nossa existência. A universidade passou a ocupar a maior parte do meu tempo durante os últimos 38 anos. Afinal, sempre fiquei mais tempo nas instalações da UFRJ do que na minha própria casa, o que é uma prática comum entre muitos servidores e estudantes.
A UFRJ nos envolve e fascina porque nela encontramos liberdade de pensamento e possibilidade de discussões acaloradas e de altíssimo nível nas diferentes áreas do conhecimento sobre temas do passado e do presente, sem perder de vista a perspectiva do futuro. Basta estarmos abertos ao diálogo, à troca de ideias e à possibilidade de nos reinventarmos. Esse é um ambiente salutar que nos acolhe e propicia a renovação, base para a modernidade e o progresso. Como estudante, pude assistir shows e palestras de professores e cientistas renomados, inclusive conviver com prêmios Nobel que visitam a UFRJ. O que mais os seres humanos gostam de fazer do que ter a possibilidade de interagir com esta riqueza de ideias e possibilidades?
Desde os primeiros anos da faculdade, ingressei em diferentes atividades de monitoria e de iniciação científica, que pavimentaram a minha trajetória até os dias de hoje. As oportunidades que encontrei permitiram que eu pudesse escolher os caminhos a seguir. Me sinto muito grata por ter encontrado na UFRJ o alimento completo para o meu desenvolvimento como profissional médica qualificada e o solo fértil para me tornar cientista e professora engajada nas atividades de graduação, pós-graduação e extensão. Durante a trajetória acadêmica, desde muito cedo escolhi ser professora em tempo integral da UFRJ e assim continuo até hoje, exercendo esta profissão por opção. Muitos questionam a nossa dedicação ao trabalho, porque talvez não tenham a perspectiva de que a atividade laboral pode ser muito prazerosa. As atividades de produção do conhecimento e de ensino se aproximam bastante de manifestações artísticas, porque dependem de muita inspiração e são capazes de gerar emoção. Poder ensinar, pesquisar e interagir com a sociedade são tarefas extremamente recompensadoras.
Nesta centenária instituição, me tornei médica, mãe biológica de duas profissionais formadas pela UFRJ e mãe científica de vários doutores que hoje são profissionais reconhecidos. Tendo sido a primeira pessoa da minha família a obter diploma na educação superior, sou mais um dos exemplos da capacidade transformadora da nossa universidade e das oportunidades que esta instituição nos propicia.
Desde aluna de graduação pude atuar em eventos científicos dentro e fora do país, com o principal intuito de divulgar o nosso trabalho, o nome da UFRJ e do nosso Brasil. Agora, me sinto muito honrada em dirigi-la no ano do seu centenário, quando, por obra do destino, a gigante UFRJ pôde se aproximar ainda mais da sociedade neste difícil momento de enfrentamento à pandemia pelo coronavírus. Devemos seguir adiante, atendendo sempre às demandas da sociedade do conhecimento. Que esta fábrica de realizar sonhos, a UFRJ, possa continuar de forma perene a transformar as nossas vidas para melhor.
Denise Pires de Carvalho
A professora é a primeira mulher a ocupar o cargo máximo da universidade em 100 anos




