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bandeira adufrjA cada semana, a cada nota, a cada editorial, ressaltamos a gravidade e a complexidade do quadro que vivemos. Nos artigos, reportagens e diversos textos que circulam pela internet, podemos identificar a semana em que eles foram publicados pelo número de mortos que contabilizam. O que caracteriza os dos últimos dias é a ultrapassagem dos 20.000 mortos confirmados. Uma contagem que não para de crescer, numa marcha tenebrosa, acompanhada de sucessivas ações desastradas do governo federal. Estamos atravessando essa gravíssima pandemia sem uma autoridade sanitária nacional que centralize e organize os esforços de toda a sociedade. As condições de vida nas favelas e bairros periféricos, a ausência de leitos hospitalares de alta complexidade em inúmeros municípios, a precarização acelerada do SUS nos últimos anos, além dos graves problemas estruturais que enfrentamos, principalmente a ausência de saneamento público. Tudo isso já seria grave demais, e seu resultado trágico, na ausência de um governo com capacidade de dar respostas adequadas. Mas tudo isso se agrava e acirra quando o governo, mais do que ser ausente, conspira e combate as ações básicas de enfrentamento da Covid-19 aceitas em todo o mundo. E, como se tudo isso junto já não nos bastasse, somos acossados com constantes ameaças à democracia e à vida institucional brasileira.
Foi nesse contexto de adversidades que a universidade atravessou a semana discutindo a regulamentação do trabalho remoto e concluiu a segunda sessão remota do Conselho Universitário. Nada foi fácil, a começar pela transmissão várias vezes interrompida. Estávamos colocando em cena pela primeira vez em nosso colegiado máximo os temas que têm mobilizado intensamente a comunidade universitária: a regulação do trabalho remoto e o ensino remoto emergencial. Temas que, por si sós já suscitariam um debate apaixonado, mas que alcançam um grau máximo de tensionamento porque são também cercados de ameaças de cortes arbitrários em nossos vencimentos, como no caso da insalubridade, e de total ausência de sensibilidade ou compromisso do governo com a população de estudantes excluída do acesso dos meios digitais.
O resultado final de toda essa discussão foi a criação de Grupos de Trabalho que incluem a participação de todas as entidades representativas da UFRJ. Garantimos assim um processo que poderá debater esses procedimentos e indicar qual a melhor forma para a instituição se posicionar. A AdUFRJ acompanhou cada passo, e esteve em diversas reuniões, buscando ouvir e compreender as principais argumentações e posicionamentos. O cenário político nacional se tornou ainda mais instável, mas fechamos esta edição com a notícia de que já temos um primeiro resultado favorável da Justiça à manutenção do pagamento da insalubridade, numa ação movida pelo Sintufepe, da UFPE. Pode ainda ser pouco, diante de tudo que estamos enfrentando, mas não deixa de ser um indício de que não estamos numa batalha perdida, ao contrário, ela mal começou. Esperamos que a próxima semana seja de reconhecimento dessas conquistas e de retorno a um ambiente de confiabilidade e construção coletiva. O que menos precisamos nesse momento é de interesses circunstanciais ou eleitorais atravessando o samba na avenida. Cantemos juntos, ainda que alguns estejam fora do tom! Só não podemos apostar na divisão e no enfraquecimento da força de representação das nossas entidades. Seria como dar um tiro no próprio peito. Voltemos ao bom combate!

Diretoria da AdUFRJ

O 15 de Maio de 2019 ficou marcado como o primeiro evento de massas contra as medidas do governo Bolsonaro. Os ataques à educação, às universidades e à ciência levaram quase 2 milhões de pessoas às ruas em 200 cidades do Brasil. A AdUFRJ, professores, técnicos-administrativos e estudantes da UFRJ participaram desse momento histórico. Relembre.

 

 

WEB P5 1128Ventilador pulmonar desenvolvido por pesquisadores da Coppe será testado em pacientes do Hospital Universitário - Foto: DivulgaçãoAs universidades públicas brasileiras estão dando um show de competência e comprometimento social no combate ao coronavírus. A Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) realizou uma pesquisa para medir o impacto das ações da comunidade acadêmica em relação ao surto de Covid-19. Os números impressionam e mostram que os pesquisadores não estão parados. Ao contrário, a suspensão das atividades presenciais de ensino e extensão abriu espaço para a realização de ações voltadas à pandemia. Foram produzidos 992,8 mil litros de álcool em gel; 912 mil litros de álcool líquido; 162,9 mil protetores faciais; 85 mil máscaras; 692 campanhas educativas; 341 ações solidárias junto a favelas e periferias.
Há, ainda, 823 pesquisas em andamento com diferentes focos de atuação: estudo do genoma do vírus; estudo de medicamentos já existentes para o tratamento da Covid-19; desenvolvimento de vacina; elaboração de testes mais baratos e rápidos; criação de modelos de respiradores mais baratos; realização de testes moleculares, entre outros. Participaram deste primeiro levantamento 46 universidades federais, dentre as quais a UFRJ.
Os hospitais universitários também colaboram para desafogar o SUS. Até o momento, foram disponibilizados 489 leitos de UTI e 2.228 leitos de enfermaria para o tratamento da doença. “É fundamental a integração dos hospitais universitários ao SUS, porque somos um sistema de alta complexidade, que trata de doenças importantes que não deixam de existir na pandemia. Além de atuar com leitos específicos, há este público que não pode deixar de ser atendido”, pontuou o reitor Antonio Claudio da Nóbrega, da UFF.
Os dados foram apresentados durante coletiva de imprensa virtual da Andifes, dia 11. A reitora da federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Lucia Pellanda, afirmou que as informações são uma mostra de como os pesquisadores brasileiros estão organizados. “As ações destacam o protagonismo das universidades federais e mostram a importância do investimento em pesquisa a longo prazo”.
Algumas das iniciativas contaram com apoio da Secretaria de Ensino Superior do MEC, por meio de chamada pública que destinou R$ 180 milhões para pesquisas sobre a Covid-19. Apesar do incentivo pontual, a realidade das instituições é de descaso e corte de verbas. “Teríamos um conjunto de medidas muito mais robusto, se não houvesse um déficit de investimentos”, afirmou João Carlos Salles, presidente da Andifes e reitor da UFBA.
Diante da falta de testes, também tem sido papel da academia conhecer a real curva de contágio do coronavírus no Brasil. “As informações epidemiológicas são dependentes de testagens. Por isso, muitas universidades estão mobilizadas para entendermos o real impacto da pandemia para pensarmos em cenários futuros”, explicou o reitor Antonio Claudio da Nóbrega.
Entre esses cenários, estaria o retorno às atividades presenciais. “Todos os indicadores mostram que ainda estamos longe disso, mas a Andifes precisa se antecipar para propor condições de retorno à normalidade com segurança, considerando todas as particularidades regionais e com base na ciência”, afirmou o dirigente.

UFRJ em múltiplas frentes
A UFRJ é um dos espelhos mais fiéis do levantamento feito pela Andifes. A universidade se dividiu em ações em todas as frentes apresentadas pela associação de reitores. Uma verdadeira linha de produção foi montada em laboratórios da Coppe, da Escola Politécnica e do CCS para produção de equipamentos de proteção individual, álcool 70° e respiradores.
“Os primeiros respiradores já estão sendo testados com sucesso e aguardam autorização da Anvisa para testes em humanos”, revelou a reitora Denise Pires de Carvalho. Os equipamentos foram desenvolvidos por pesquisadores do Programa de Engenharia Biomédica da Coppe e serão testados em pacientes do Hospital Clementino Fraga Filho. Na semana passada, deputados estaduais aprovaram a destinação de R$ 5 milhões para a UFRJ aplicar na fabricação de mil respiradores.
Também saiu da Coppe um modelo para prever o pico da doença no Brasil. O trabalho introduz casos não confirmados e avalia os impactos de diferentes intervenções de saúde pública. O estudo foi publicado no site MedRxiv, no final de março, e será publicado em número especial da revista Biology, neste mês de maio.
Outros laboratórios atuam desenvolvendo tipos de testes sorológicos rápidos de baixo custo para diagnóstico da Covid-19. Os testes moleculares – aqueles que utilizam amostras das vias aéreas do indivíduo – são realizados pelo Laboratório de Virologia Molecular, do Instituto de Biologia. “Desde o dia 16 de março, nós realizamos mais de 3 mil exames em profissionais da área de saúde. E nosso hospital está dividido em duas áreas: Covid e não-Covid. Nosso gargalo no momento ainda é a contratação de novos profissionais, mas acredito que em até duas semanas teremos todos os leitos abertos”, esclareceu Denise.

WEB P4 1128Uma triste unanimidade. Abraham Weintraub é o pior ministro da história do MEC, segundo especialistas em Educação. E não são poucas as razões para o título: currículo acadêmico fraco, incapacidade política e administrativa, desrespeito com educadores e estudantes e o ímpeto para destruir avanços no setor marcam a gestão de forma decisiva.
Professor Titular da Faculdade de Educação da UFMG, Luciano Mendes diz não haver dúvidas sobre a classificação do ministro quanto à formação acadêmica: “Do ponto de vista do preparo, é o mais incompetente que já tivemos”, afirma. O docente observa que o ministério já foi comandado por pessoas que não eram consideradas grandes intelectuais. “Mas tinham alguma visão, mesmo que por uma perspectiva regressiva da presença do Estado, como o Paulo Renato (ministro na gestão de Fernando Henrique Cardoso)”.
O MEC de Bolsonaro não quer construir nada. Pelo contrário, a proposta é destruir. Luciano faz questão de mencionar o antecessor de Weintraub na pasta, o nada saudoso Ricardo Vélez, que ficou pouco mais de três meses no cargo. “Vélez investiu contra educação no campo, contra educação de indígenas e de quilombolas, mas preservava a universidade. Weintraub tem dirigido seu arsenal contra a universidade”, explica.  
O professor deixa claro que a dupla Vélez e Weintraub choca pelo ímpeto destrutivo, pois agora há conquistas que podem ser eliminadas. E que não existiam em tempos autoritários, como a expansão do ensino superior, políticas de reconhecimento da diversidade, tentativas de construir escolas sem racismo e sexismo. “Talvez seja a primeira vez que temos políticas de Estado que visam à destruição; não à construção”, afirma.
Outro ponto abordado pelo Titular da UFMG é a ação política do ministro. “Lembra dele com o guarda-chuva (quando falou que choviam fake news no MEC)? Aquilo é claramente encenado para obter um determinado resultado midiático. A espetacularização da política não é algo ingênuo”, avalia Luciano. “Diz coisas que motivam seus adeptos. É uma necropolítica, baseada na violência e no ódio”.  

MINISTRO TUITEIRO
Essa estratégia de  “governar pelo ódio” , destruindo políticas e apresentando poucas alternativas, fica evidente na presença do ministro do Twitter. Levantamento exclusivo realizado pelo Jornal da Adufrj mostra que, em nove meses, de 24 de abril de 2019 a 24 de janeiro de 2020, o ministro da Educação postou 3.149 tuítes. Em média, foram mais de 11 tuítes por dia,  sendo 80% deles em dias úteis, quando o titular da Educação deveria estar se dedicando às complexas tarefas da pasta. Há mais citações à oposição política do que à ciência e à pesquisa. A palavra cientista não aparece uma única vez. Já as menções ao chefe Bolsonaro e a seus herdeiros são frequentes. Mais de 80 vezes.
Maria Luiza Süssekind, 1ª secretária da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (Anped), destaca que Weintraub surpreende pela “própria incompetência de não realizar aquilo a que se propõe”. E cita iniciativas frustradas como homeschooling (ensino domiciliar), educação fonética e o Future-se, programa lançado para apoiar as universidades federais. “O Future-se é um imenso fracasso. Não saiu do papel, não gerou um real de financiamento para nenhuma universidade”
O Enem do governo Bolsonaro não podia ficar de fora da lista de desastres. “Ele anunciou o melhor Enem de todos os tempos e fez o pior. Caso cometa o absurdo de manter o Enem para as datas atuais, fará os dois piores Enem da história”, avalia Maria Luiza. “Será o Enem da desigualdade”, completa.
O desrespeito de Weintraub com ícones da Educação, como Paulo Freire, além de professores e alunos foi lembrado pela professora , que leciona no Departamento de Didática da UniRio. “Estamos sob um governo que entende a Educação como campo de batalha. É muito grave que o ministro perca tempo fazendo propaganda no Twitter, batendo boca com estudantes, acusando indevidamente as universidades”, alerta.
Maria Luiza também chama atenção para a falta de diálogo da pasta. A Anped, com mais de 40 anos de conhecimento acumulado no campo da Educação, era regularmente convidada ao MEC para opinar sobre mudanças nas políticas educacionais. “Agora, sequer nossos ofícios são respondidos”, diz.
Diretor da AdUFRJ, o professor Felipe Rosa recorda que o Observatório do Conhecimento — rede de 11 associações e sindicatos de docentes em defesa da universidade pública — concedeu o título de pior ministro da História para Abraham Weintraub quando o titular do MEC completou um ano na pasta, em 9 de abril. A hashtag #PiorMinistroDaHistória  chegou a ficar em segundo lugar entre os assuntos mais comentados do país no Twitter.
O título de pior ministro da história  está  fortemente conectado com o 15 de maio do ano passado. “O 15M de 2019 pegou fogo quando o ministro começou a acusar as universidades de fazer ‘balbúrdia’. Ele tinha acabado de subir ao poder. E sabia que as universidades não fazem balbúrdia. Estamos vendo isso claramente na pandemia”, critica. “Ele promove  uma ideologização da Educação absolutamente maluca. E isso compromete muito o trabalho”, avalia Felipe. “Além disso, ele é muito ruim na parte técnica. A articulação dele com o Congresso é péssima. O destino do malfadado Future-se mostrou-se um fracasso, não somente porque o projeto era ruim, mas por que ele é um desastre na tentativa de construir algo politicamente”.
 A “cereja do bolo” para a caracterização do ministro é a falta de decoro no exercício do cargo, até para tratar de temas alheios ao MEC. “Nem de Educação ele entende, quanto mais do resto. Tivemos o episódio lamentável do ataque à China”, diz. “Ele não consegue resistir ao ímpeto de ficar tuitando o tempo todo. O perfil dele é uma coletânea de ofensas e brincadeiras de mau gosto”, lamenta.

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WEB P6 1128Foto: MARCO FERNANDES (COORDCOM/UFRJ)Falta o mínimo de bom senso ao ministro Abraham Weintraub. Em meio à pandemia do coronavírus, o titular do MEC insiste em manter a aplicação das provas impressas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para os dias 1 e 8 de novembro, como se nada de anormal estivesse ocorrendo no mundo.                              
A inexplicável teimosia contraria a avaliação de reitores, professores, movimentos estudantis e especialistas da área. O mais recente movimento favorável ao adiamento do Enem partiu da Associação de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), que publicou nota no dia 14. O texto defende um exame “com concorrência democrática”. Antes disso, dia 11, a Secretaria de Controle Externo da Educação do Tribunal de Contas da União emitiu parecer técnico contra a manutenção das datas atuais. Segundo o documento, a atitude viola a igualdade de condições entre candidatos e a garantia de acesso à universidade.
“Não podemos ter um calendário que aprofunde as desigualdades”, opinou o presidente da associação de reitores (Andifes), João Salles, durante uma coletiva de imprensa realizada na mesma data, antes da manifestação do TCU.
O dirigente da UFBA afirmou que “no momento em que houver condições para o retorno à normalidade nas universidades, os calendários serão reformulados”. E que nada impede fazer ações e eventos de 2020 em 2021. “Precisamos considerar que ano letivo não coincide com ano civil”, enfatizou.
As instituições do Rio de Janeiro assumiram protagonismo sobre a suspensão do Enem. Na sexta-feira (9), a UFRJ e demais universidades do estado (federais e estaduais), institutos, Cefet e Colégio Pedro II publicaram nota conjunta criticando
“qualquer tentativa de difundir uma sensação de normalidade falseada, como a manutenção do cronograma do Enem 2020”, diante da pandemia.
A reitora Denise Pires reforçou a mensagem no início desta semana. “Somos favoráveis ao adiamento do Enem”, disse em vídeo divulgado nas redes sociais. “A enorme maioria dos estudantes não teve os conteúdos do ensino médio. Esses alunos serão prejudicados sem o adiamento”, justificou.
Em um debate virtual com o reitor do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), Rafael Almada, também no dia 11, a reitora da UFRJ acrescentou que considera muito importante que outros estados se posicionem  em favor da saúde e da segurança dos candidatos. “É dramática nossa situação no Rio de Janeiro, mas também em todo o Brasil”, destacou, fazendo referência ao elevado número de casos e de mortes pela Covid-19.
Para piorar as perspectivas dos estudantes e demonstrar a inépcia do MEC em articular o exame nacional, há ainda a coincidência de datas.  O Enem digital, que será realizado em um modelo piloto pela primeira vez neste ano para 100 mil candidatos, coincide com as provas de dois dos principais vestibulares do estado de São Paulo: a primeira fase da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), no dia 22 de novembro, e a primeira fase da Fuvest, que seleciona para a USP (Universidade de São Paulo), no dia 29 de novembro.

ESPECIALISTAS E MOVIMENTOS DEFENDEM O ADIAMENTO
Para o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, o impacto negativo da pandemia sobre o aprendizado escolar é um fato, apesar das iniciativas para minimizar danos. Vencedor do Prêmio Darcy Ribeiro 2015, o professor da Faculdade de Educação da USP cita estresse, esgotamento e baixo rendimento, mesmo entre os que têm acesso a opções de ensino a distância.
Sobre o Enem, Cara argumenta que a manutenção do calendário “é cruel e prejudica, demasiadamente, os estudantes de escolas públicas”. O docente sustenta que “não há saúde mental para fazer a inscrição e responder às provas. Tampouco condições de aprendizado, com um ano letivo já prejudicado”.
WEB P6A 1128As entidades estudantis encamparam o adiamento das provas. A União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) entraram com um mandado de segurança no Superior Tribunal de Justiça (STJ), no dia 11. “Sem as atividades de salas de aula das escolas, faltam as condições básicas de estudo. Sobretudo, para o jovem mais desfavorecido. A maioria não tem computador e internet suficiente em casa para acompanhar as aulas a distância”, resume Iago Montalvão, presidente da UNE. De acordo com o universitário, os estudantes cobram do MEC a constituição de um Comitê especial, com representações docente e discente para elaboração de um calendário alternativo.
A experiência da rede básica do Rio de Janeiro confirma as análises pessimistas. O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação tirou posição de apoio à campanha #AdiaEnem dos estudantes. “O que estamos vendo, a partir da proposta do ensino a distância para a rede estadual, é que menos de 30% dos estudantes acessaram alguma vez a plataforma. Turmas inteiras de 40 alunos não tiveram qualquer acesso.
Em regiões como o Complexo da Maré, o Google Classroom e afins são completamente irreais”, relata a diretora do sindicato, Maria Eduarda Queiroga.
A professora fala ainda sobre a perda de docentes. “A alternativa tem sido a distribuição de apostilas nas escolas. E, infelizmente, o maior número de mortes por coronavírus ocorre exatamente entre diretora e diretores escolares, que estão fazendo esse trabalho. O site do sindicato parece um obituário”, lamentou.

ESTUDANTE COMPARTILHA
DIFICULDADES E MEDOS
Aluna do terceiro ano do Colégio de Aplicação (CAp), Giulia Viegas tenta manter o foco no objetivo de conquistar uma vaga na universidade. E nem sempre é bem sucedida. “É complicado. A gente vai falando com os amigos, mas é tudo muito surreal e confuso. Conheço gente que fechou conta no Instagram, porque não se adaptou a aulas (de cursinhos) pela internet e não quer ficar vendo publicação de quem conseguiu”, explica.
A capiana conta que o segundo mês de isolamento está rendendo mais que o primeiro. Porém, emperrou nas limitações de estrutura. “Esse mês, eu comecei a estudar mais em casa. Mas tive que dar uma segurada por causa da internet”, relata. “Aqui em casa, não tem wifi. Eu roteio do celular para o laptop. E o meu plano é dividido com meus avós. Tive que reduzir para não deixar o pessoal sem”.
Para a jovem, o adiamento do Enem seria o mais justo. Ela diz que mesmo antes da pandemia, apenas uma parte dos alunos realizava atividades em casa com auxílio de equipamentos eletrônicos. “Sempre tinha gente que pedia para os professores trazerem as folhas de exercícios impressas. Agora vai ficar muito pior para essa galera”, exemplifica.
O CAp da UFRJ suspendeu as aulas, assim como as demais unidades da universidade. Mas construiu uma plataforma online com diversas atividades não curriculares para manter o vínculo com a comunidade escolar. A campanha pelo adiamento do Enem está nela, desde o anúncio de manutenção do cronograma pelo Ministério da Educação.
“O Enem, por si, já gera muita pressão sobre os alunos. São adolescentes, estão passando por muitas mudanças. E tem que tomar muitas decisões importantes para o próprio futuro”, analisa a diretora do CAp, professora Maria de Fátima Galvão. “E, ainda por cima, estão enfrentando uma pandemia. Alguns com parentes doentes ou falecidos. Com esse calendário, não há a menor condição”.

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