ASCOM NUCLEAREstudantes e professoras do Programa de Engenharia Nuclear (PEN) da Coppe contam desde maio com o primeiro espaço da UFRJ voltado ao cuidado de crianças pequenas. É o Núcleo de Apoio Parental (NAP). A sigla não é por acaso. Nap é a tradução de “soneca” ou “cochilo”, em inglês. O local funciona na sala G-200, no Centro de Tecnologia, e se tornou realidade graças à delicadeza e ao importante apoio da professora Inayá Lima, coordenadora do PEN.
“Depois da pandemia tivemos um boom de alunas grávidas na pós-graduação e elas me pediram que houvesse um espaço para que elas pudessem amamentar, enquanto realizam suas atividades na universidade”, explica a docente. “Eu me sensibilizei e então montamos o espaço. Tudo que temos são doações minhas, das estudantes, de professores”, conta. “Aqui temos água, temos geladeira onde é possível armazenar leite e outros alimentos para as crianças, trocador, pomadas, berço, poltrona para amamentação”, diz a professora, enquanto apresenta, orgulhosa, o espaço à reportagem.
É a primeira iniciativa da Coppe voltada ao cuidado parental. “Temos cinco mães na pós-graduação utilizando o espaço. As próprias alunas limpam, ajudam na manutenção”, explica a docente. A preocupação com a saúde física e mental das crianças também pesou para a escolha do local. “Nesta sala, as janelas podem ser abertas para maior ventilação, caso haja muitas crianças num determinado horário, e porque é voltada para a área verde”, diz. “É importante que elas tenham essa vista do jardim”.
A professora aposta na ampliação do espaço e, futuramente, na interação com outros cursos, inclusive da graduação. “Fico emocionada com essa realização. É um legado que vai ficar para outras gestões e poderá ser ampliado para a graduação também”, avalia. “Quem sabe para outros cursos da universidade?”, sugere a docente.
Uma das alunas que solicitou apoio da professora Inayá e ajudou a montar a empreitada foi a doutoranda Thaís Hauradour. Ela saiu de Manaus para o Rio de Janeiro no início de 2020 junto com o companheiro, também doutorando do PEN, quando foram aprovados para o mestrado. Eles não possuem rede de apoio na cidade. Os dois se revezam no cuidado da filha em casa e na universidade. Para Thaís, o espaço fez total diferença no seu dia a dia.
“Quando cheguei aqui na UFRJ, fiquei um pouco assustada, pois a universidade não tem estrutura para receber mães. Não há trocador nos banheiros, por exemplo”, relata a jovem pesquisadora. “Quando fiquei grávida, essa falta de apoio ficou mais aguda. Várias vezes a gente trocou a minha filha bebê em pé, no corredor, num banquinho improvisado”, lembra. A filha, agora com um ano e meio, pode aproveitar o espaço. Ela já mamou muitas vezes, comeu, brincou bastante e tirou bons cochilos, conta a mãe.
Thaís celebra ter feito parte dessa iniciativa. “Foi muito gratificante correr atrás para que esse espaço se tornasse realidade. É um legado; e num programa onde a maioria ainda é formada por homens”, aponta. “É um pequeno espaço, mas é um grande feito na direção do acolhimento”, destaca. “Nós estamos no CT, onde vemos mais homens do que mulheres. Por que isso acontece? Às vezes, é porque falta alguma coisa. Então, este espaço nos mostra que não somos invisíveis”, desabafa. “Queremos que seja expandido para que a universidade receba de braços abertos aquelas mães que não têm rede de apoio”.
Quem também festejou a inauguração do Núcleo de Apoio Parental foi Nathali Ricardo Barbosa de Lima, pós-doutoranda do PEN. Seu bebê de um ano e cinco meses é frequentador do espaço. “Eu achei uma iniciativa ótima, mas queria, na verdade, que ela tivesse acontecido antes”, conta. “Infelizmente, eu só amamentei meu filho até os seus nove meses. Se esse espaço existisse antes, eu provavelmente estaria amamentando até hoje”, lamenta a pesquisadora. “A ausência desse local impactou diretamente na amamentação dele. É uma repercussão para a saúde global do meu filho, inclusive”, observa. “Além disso, se o espaço fosse uma realidade há mais tempo, eu teria conseguido voltar antes para a minha pesquisa”.
Ela usa o NAP nos momentos em que não consegue deixar o bebê com a avó. “Moro em Teresópolis e ainda tenho essa opção de deixar com minha mãe às vezes, mas muita gente não tem qualquer rede de suporte”, observa. “O espaço, então, se faz muito necessário. Se a UFRJ investisse mais nisso, não só para estudantes, mas também para professores, seria muito bom para todos. Hoje sei que posso levar meu filho comigo para algumas atividades que antes não teria muitas vezes nem como participar”, conta. “A comunidade acadêmica precisa se conscientizar sobre o que as mães precisam para seguir suas carreiras. É importante que as pessoas saibam o quanto ainda é necessário avançar nessa área do apoio parental”, conclui.





