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Definir no Consuni as regras da consulta eleitoral para a reitoria e realizar o processo sob gestão do colegiado pode abrir as portas da UFRJ para uma intervenção do governo federal. O alerta é do ex-reitor da Universidade de Brasília e professor titular de Direito, José Geraldo de Sousa Junior.
“O atual contexto exige cuidado e espírito de proteção institucional”, recomenda. “Na UnB, quem organiza todo o processo de escuta da comunidade são as entidades representativas de docentes, técnicos e estudantes. Aqui, a consulta é paritária”.
Na UFRJ, historicamente, a consulta também é paritária, mas é gerida e organizada pelo Consuni. Há a previsão de que os conselheiros debatam em 14 de fevereiro as regras da sucessão, com consulta marcada para abril.
O processo sucessório ocorre em três etapas. Na primeira, estudantes, técnicos e professores participam com um peso ponderado de 1/3 para cada segmento. Na segunda fase, o colégio eleitoral, com 70% de docentes, 15% de alunos e 15% de servidores, vota para formar uma lista tríplice e enviar ao MEC. Por último, o presidente da República nomeia um dos integrantes da lista.
Pela lei, a prerrogativa da escolha é do presidente. Nos últimos 20 anos, o governo nomeou os primeiros colocados, respeitando a autonomia universitária. Na gestão Bolsonaro, a tradição pode estar ameaçada. A lei 9.192 de 1995 determina que a escolha do reitor seja realizada em colégio eleitoral, composto por, pelo menos, 70% de professores. A legislação também diz que “em caso de consulta prévia à comunidade, nos termos estabelecidos pelo colegiado máximo da instituição, prevalecerá o peso de setenta por cento do pessoal docente”.
Significa que “é preciso separar claramente a consulta do colégio eleitoral. Ela não pode ter qualquer espécie de comunicação com o processo formal sob pena de contaminá-lo e de comprometê-lo integralmente”, pondera o ex-reitor da UnB e ex-presidente da Comissão de Autonomia da Andifes.
“A lei não trata – nem pode tratar – de consultas externas, realizadas de forma independente, por entidades que não pertencem, nem formalmente, nem informalmente, à estrutura acadêmica.
Funciona como se fosse uma pesquisa eleitoral, realizada por instituto externo à universidade, cujo resultado será apenas informado ao Colégio Eleitoral”, explica José Geraldo, ex-diretor do Departamento de Política do Ensino Superior do MEC entre 2003 e 2004.
Além da lei de 1995, o MEC editou no final do ano passado uma Nota Técnica sobre o tema. Nela, está grifado que, tanto em processos formais, quanto informais, o percentual mínimo de 70% para os docentes deve ser obedecido. “A Nota não pode interferir no âmbito não institucional. A referência ao informal só tem pertinência se houver caráter vinculativo entre consulta e procedimento regulado pela instituição”, resume o ex-reitor.
“Não há novidade na Nota. Ela é um alerta. A universidade pode até desrespeitá-la, mas entrará numa disputa política em que a medição de forças pode ser desvantajosa. Se respeitando a lei, os caminhos serão difíceis, imagina atuando só no campo da disputa”, aconselha.
A presidente da Adufrj, professora Maria Lúcia Werneck, concorda com a análise do ex-reitor. “A Adufrj está preocupada com o que pode acontecer. Levaremos essas ponderações ao reitor em audiência já solicitada”, conta. “Fazer a consulta por meio das entidades de cada segmento é uma alternativa interessante”, completa.
Reitor da Universidade Federal do Paraná e professor de Direito, Ricardo Marcelo Fonseca demonstrou preocupação com a Nota Técnica, porém está aflito também com as últimas notícias de Brasília, de que Bolsonaro irá nomear o segundo colocado na lista tríplice da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (leia na página 2). “Podemos fazer um cavalo de batalha pela paridade, pela democracia, mas valerá pouco se o MEC inaugurar essa prática”.
Para a professora Wrana Panizzi, ex-reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul por dois mandatos (1996-2004), a Nota Técnica representa um retrocesso: “Deveria haver uma discussão ampla do MEC com as universidades”, disse. Ex-presidente da Andifes (2003-2004), Wrana também criticou o processo de intervenção federal na UFTM: “ Uma das expressões do respeito do Estado com a universidade é nomear o primeiro da lista tríplice”, observou. “Esse é um tema importante para a autonomia, para a liberdade de pensamento e para a democracia interna da universidade”, concluiu.
A Adufrj ganhou a ação judicial contra a suspensão dos adicionais ocupacionais de insalubridade, periculosidade e radiação ionizante. A decisão tem efeito imediato. A reitoria e a União, rés no processo, têm até 5 de fevereiro para defesa. Seis mil servidores da UFRJ foram atingidos pelo corte. Entre eles, 1,3 mil docentes.
Na ação, a Adufrj pede a recomposição dos valores e que os adicionais sejam mantidos até que a universidade termine a migração dos dados dos servidores para o novo sistema do Siape. A UFRJ teve nove meses para fazer a migração determinada pelo Ministério do Planejamento. “Os adicionais precisam constar na prévia do contracheque, em fevereiro”, afirmou o advogado Bruno Freitas, da assessoria jurídica da Adufrj.
A PR-4 e a reitoria foram procuradas para esclarecimentos, mas não responderam aos questionamentos até o fechamento deste boletim. O silêncio da administração central levou o Sintufrj a organizar um protesto na reitoria, no próximo dia 31, às 10h.
A liminar foi concedida pela juíza Maria Izabel Sant’anna, da 30ª Vara Federal. Na decisão, a magistrada afirma que “não se pode imputar ao servidor a responsabilidade pelo fato de a administração não estar aparelhada e, assim, impossibilitada de cumprir a determinação dentro do prazo estipulado”. Ela já havia dado ganho de causa ao Sintufrj pelo mesmo motivo, no último dia 11.
Apesar do caráter liminar, os professores e técnicos ficaram sem o benefício em janeiro. O valor pode chegar a 20% do vencimento básico e faz diferença, sobretudo num mês com tantos gastos. “Além das despesas com impostos e material escolar, tem algo ainda mais grave: continuamos submetidos a elementos nocivos à saúde”, reclamou o professor Marcelo Trovó. Ele atua no Laboratório Integrado de Sistemática Vegetal, do Instituto de Biologia. E lida, diariamente, com substâncias como formol, etanol, naftalina, além de materiais perfurocortantes.
O docente se queixa, ainda, da falta de esclarecimentos da reitoria. “A PR-4 não deu informações suficientes, não avisou com antecedência que não conseguiria cumprir esse prazo. E segue não dando respostas”, afirmou.
SITUAÇÃO NO BRASIL
Algumas universidades cumpriram a determinação do governo, como as de Pernambuco, Paraíba, Santa Maria e Rio Grande do Sul. A maioria, no entanto, não atendeu ao prazo de migração, encerrado em 31 de dezembro. Uma delas é a UFF, que criou uma comissão para elaborar novos laudos. Segundo a reitoria, na medida em que os servidores forem recadastrados, voltarão a receber os adicionais, inclusive com valores retroativos.
Já a Federal de Pelotas concluiu o procedimento de todos os professores e técnicos do seu hospital-escola, mas ainda restam 750 pessoas na universidade. A reitoria pretende pagar os adicionais de janeiro em folha suplementar, que deve estar disponível antes de 25 de fevereiro.
A Federal de Ouro Preto trabalha com um cronograma dividido em duas partes. Deve, até julho, finalizar o cadastro dos dados daqueles que dependem de avaliação qualitativa. E contratará uma empresa especializada para fazer a perícia de quem precisa de avaliação quantitativa para receber os adicionais. A licitação já está em andamento.
A Fasubra (federação nacional dos técnicos) entrou com mandado de segurança para garantir os pagamentos até que todas as universidades federais terminem a migração dos dados, mas ainda aguarda a decisão da Justiça.
RELEMBRE
Em abril de 2018, o governo federal informou que a UFRJ deveria migrar os dados dos servidores que recebem adicionais ocupacionais para um novo sistema. A data limite era 31 de dezembro. A universidade não cumpriu o prazo, o que gerou a suspensão dos benefícios.

As universidades públicas foram citadas apenas uma vez no discurso de posse do ministro da Educação, o teólogo Ricardo Vélez Rodríguez. Mas não é só isso que preocupa a comunidade acadêmica. O dirigente cercou-se de nomes inexperientes na gestão pública para comandar uma das pastas mais importantes e complexas do país. Apenas o secretário de Educação Superior, Mauro Rabelo, e o presidente da Capes, Anderson Correia possuem, em seus currículos, atividades administrativas de porte. Mauro já foi dirigente no MEC e Anderson ocupou a reitoria do ITA. Entre os novos diretores da pasta, um general sem qualquer formação em Saúde assumiu a presidência da EBSERH.
Tem dois anos de experiência em gestão de educação. É formado em Engenharia Naval pela USP. Possui mestrado em Engenharia de Infraestrutura Aeronáutica e doutorado em Engenharia Mecânica, ambos pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Desde 2016, era vice-diretor-superintendente do Centro Paula Souza – autarquia com 223 escolas técnicas e 72 faculdades de tecnologia no estado de São Paulo.
LUIZ ANTONIO TOZI
Secretário-executivo
Tem dois anos de experiência em gestão de educação. É formado em Engenharia Naval pela USP. Possui mestrado em Engenharia de Infraestrutura Aeronáutica e doutorado em Engenharia Mecânica, ambos pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Desde 2016, era vice-diretor-superintendente do Centro Paula Souza – autarquia com 223 escolas técnicas e 72 faculdades de tecnologia no estado de São Paulo.
MAURO LUIZ RABELO
Secretário da Educação Superior
O único a ter experiência no MEC. Foi diretor de Desenvolvimento da Rede de Instituições Federais de Ensino Superior, em 2018. Foi parecerista e coordenador adjunto na análise de livros de Matemática do Programa Nacional do Livro Didático. Fez um pós-doutorado na Universidade de Stanford. É professor Associado do Departamento de Matemática da UnB, onde foi chefe de departamento. Também foi pró-reitor de Graduação.
MARCO ANTONIO BARROSO
Secretário de Regulação e Supervisão e Educação Superior
Um dos ex-alunos do ministro Rodríguez. É formado em Filosofia e possui especialização, mestrado e doutorado em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Desde 2011, é docente da Universidade Estadual de Minas Gerais. Uma das suas pesquisas atuais é “Qual o impacto da Teoria da Evolução na crença dos estudantes do 2º e 8º períodos de Ciências Biológicas da UEMG/Ubá”.
RIBEIRO CORREIA
Presidente da Capes
Reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica desde 2016, onde cursou mestrado, Ribeiro se graduou na Unicamp. É pesquisador CNPq 1B e doutor em Engenharia de Transportes pela University of Calgary (Canadá). Integra o Conselho de Administração da Organização Brasileira para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Controle do Espaço Aéreo.
MURILO RESENDE FERREIRA
Coordenador do Enem
O economista, de apenas 36 anos, foi indicado por movimentos ligados ao combate à chamada “doutrinação ideológica” nas escolas. Tem como guru o escritor Olavo de Carvalho e fez parte do Movimento Brasil Livre. Foi professor visitante da Universidade Federal de Goiás e da Escola Superior Associada de Goiânia, por um curto período de tempo. Assumirá a Diretoria de Avaliação da Educação Básica.
OSWALDO DE JESUS FERREIRA
Presidente da EBSERH
A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, que gerencia hospitais universitários, será comandada por um general do Exército sem formação na área da saúde. O militar chegou a ser cotado para ser Ministro dos Transportes. É dele a frase “No meu tempo não tinha MP e Ibama para encher o saco”, referindo-se à construção da estrada Cuiabá-Santarém (BR-163) durante a ditadura militar.
Professores universitários de todas as regiões do país vão se reunir em Belém (PA), de 28 de janeiro a 2 de fevereiro, para o Congresso do Andes. O encontro sindical define as prioridades e o calendário de atividades do movimento docente para 2019.
Em uma conjuntura adversa para a educação, o professor e diretor da Adufrj, Felipe Rosa, espera que temas relacionados à defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade sejam bastante discutidos no evento.“Impedir a possibilidade de cobrança de mensalidades é uma questão mais urgente”, explica Felipe.
Repetindo uma fórmula que tem dado certo nos últimos anos, a Adufrj estará representada por uma ampla e variada delegação de 24 professores, entre apoiadores e opositores da atual diretoria.
A Adufrj tem direito a 13 delegados, ou seja, representantes com direito a voz e voto, além de 11 observadores – apenas com direito a se manifestar –, durante o congresso. A lista completa da delegação pode ser conferida abaixo.
O Congresso também vai marcar o início da celebração pelos 40 anos da Adufrj, em abril deste ano. A diretoria vai levar camisetas comemorativas e materiais utilizados nas últimas campanhas da seção sindical. Outras seções sindicais também festejam quatro décadas em 2019 e terão um espaço de exposição.
Para Felipe Rosa, a iniciativa aumenta a visibilidade do movimento docente e da atuação das próprias seções sindicais. “Quanto maiores formos, mais chances teremos de lutar contra medidas deletérias contra os professores e contra a universidade”, completa o docente do Instituto de Física.
DELEGAÇÃO
São delegados: Maria Lúcia Werneck Vianna (pela diretoria); Ligia Bahia; Eduardo Raupp; Maria Paula Araújo; Fernando Duda; Tatiana Sampaio; Felipe Rosa; Tatiana Roque; Marinalva Oliveira; Luis Acosta; Luciana Boiteux; Glaucia Lélia; Ana Claudia Tavares. São observadores: Ricardo Medronho; André Uzeda; Helio de Matos Alves; Maria Cristina Miranda; Jorge Ricardo Santos Gonçalves; Elidio Alexandre Marques; Fernanda Vieira; Luciano Coutinho; Sara Granemann; Walcyr Barros; e Janete Luzia Leite.