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WhatsApp Image 2025 10 31 at 18.11.52 1Ele foi muito além do dever de ofício. Alexandre Brasil, professor titular da UFRJ, identificou, denunciou e deu voz de prisão a um dos líderes da quadrilha que falsificava documentos e roubava pensões de professores e técnicos aposentados da UFRJ. A rede criminosa foi desbaratada na manhã da última quinta-feira (30) pela Polícia Federal, mas o começo da história é bem anterior. Data de 2022, ano em que Alexandre Brasil ocupava o cargo de pró-reitor de Pessoal da universidade.
Na época, a equipe técnica da PR-4 desconfiou de uma série de processos que solicitavam a revisão de pensões pagas para herdeiros de docentes e técnicos da UFRJ falecidos.
“As solicitações tinham textos muito parecidos. Fomos checar e as documentações de vários processos eram idênticas. Endereços, extratos bancários, conta de luz, tudo com nomes diferentes, mas dados iguais. Cruzamos todos os dados e percebemos a conexão entre eles. Havia um esquema ali”, recorda o docente, licenciado do Nutes-UFRJ, e hoje na assessoria técnica da secretaria-executiva do MEC, em Brasília. “Fiquei muito feliz quando li agora as notícias de que a quadrilha havia sido desbaratada. Foi uma sensação de dever cumprido”.
Antes do alívio, no entanto, o caso teve lances policiais inusitados. Assim que identificou a prática da quadrilha, Alexandre comunicou o caso aos chefes –reitora Denise Pires de Carvalho e vice-reitor Carlos Frederico Leão Rocha– e à Procuradoria da universidade. A orientação foi que levasse o assunto à Polícia Federal. “Alexandre foi corajoso e rigoroso. Essa quadrilha não teria sido desmontada sem o trabalho dele naquela época”, elogia Fred, hoje diretor do Instituto de Economia. “Me lembro do caso. Foi muito sério”, completa Denise.
Na mesma semana, Brasil seguiu as instruções e foi até a sede da Polícia Federal, no Centro do Rio. “Lá me disseram que a solução mais eficiente seria uma ação em flagrante”, conta. “Saí de lá pensando em como preparar esse flagrante. Chamei minha equipe na PR-4 e montamos uma estratégia”.
O flagrante ocorreu dentro da PR-4, e pasme, Alexandre Brasil, um sociólogo, deu voz de prisão ao suspeito. “Preparamos uma emboscada. Comunicamos ao autor do processo, um advogado que dizia representar um docente falecido, e pedia o reconhecimento de uma suposta união estável para assim receber a pensão. Disse que precisávamos de uma reunião para conversar sobre a documentação”, recorda.

VOZ DE PRISÃO
O suposto advogado topou. Alexandre comunicou à PF que estava com tudo pronto para obter o flagrante e pediu que a Federal acompanhasse o encontro. A PF o parabenizou, mas disse que não poderia acompanhar e que ele próprio deveria dar voz de prisão ao suspeito. “Imagina, eu nunca tinha feito isso, mas fiz”, lembra. “Os policiais militares ainda tentaram me desencorajar, disseram que o cara poderia não me respeitar. Resolvi arriscar. Os agentes da PM e a Diseg não entraram. Ficaram na porta”.
O suposto advogado chegou à UFRJ de moto. Era um homem jovem, pardo, com carteira da OAB, e surpreendente tranquilo, segundo Alexandre Brasil. “Eu falei das inconsistências dos documentos. Ele nem se alterou. Achei muito estranho”, conta.
Foi então que o professor, ali no salão da PR-4, deu a voz de prisão. “O senhor está preso e vai me acompanhar até a Polícia Federal”.
Brasil e o suspeito foram até a sede da Polícia Federal. O inquérito foi instaurado e as investigações começaram até que, na última quinta-feira, a PF divulgou os primeiros resultados.
O esquema identificado pelo professor e pela equipe da PR-4 movimentou mais de R$ 22 milhões de pensionistas de docentes e técnicos da UFRJ falecidos. “Eu não fazia ideia de que era tão grande, mas já naquela época ficou claro que era algo bem planejado. Fizemos isso porque era nosso dever. Somos servidores públicos. É nossa obrigação.”

REITOR ELOGIA BRASIL E SERVIDORES DA UFRJ

 “Alexandre Brasil agiu corretamente. Foi exemplar. As investigações isentaram qualquer participação de servidores da UFRJ no crime. Não tivemos acesso ao inquérito. Mas, pelas informações que chegaram até mim, não houve indiciamento de nenhum servidor até agora, o que me deixou muito feliz. A UFRJ, tão logo soube de um caso, abriu auditoria, descobriu novos casos e encaminhou para a Polícia Federal. Ou seja, a UFRJ é vítima desses criminosos.
Não fomos procurados, mas estamos totalmente abertos para ajudar a Polícia Federal a debelar esta e qualquer outra fraude. A orientação é essa: sempre checar o contracheque. Hoje, temos o SouGov. Não tem mais a distribuição do contracheque físico. E, se desconfiar de algo, imediatamente procurar a pró-reitoria de Pessoal que nós investigaremos. Se houver algum indício de fraude, comunicaremos à Polícia Federal”.

AÇÃO DA UFRJ CONTRIBUIU PARA DESMONTE DE QUADRILHA

Na última quinta-feira, 30 de outubro, a Polícia Federal deflagrou a Operação Capgras para combater a prática de falsificação de documentos, estelionato contra ente público federal, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A quadrilha cometia fraudes para desviar pensões e benefícios de técnicos e professores falecidos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
As investigações apontaram que os envolvidos movimentaram cerca de R$ 22 milhões entre janeiro de 2022 e dezembro de 2024.
Outras fraudes foram identificadas no curso das investigações, como golpes bancários e fraudes em benefícios previdenciários. Também foram revelados indícios de que parte dos recursos obtidos pode ter sido direcionada a pessoas ligadas à cúpula de uma das maiores facções criminosas atuantes no estado do Rio de Janeiro.
As apurações revelaram um complexo esquema de vultosas movimentações financeiras, com utilização de laranjas e empresas de fachada para ocultar a origem e o destino dos valores arrecadados ilegalmente. Os membros do grupo se valiam de documentação fraudulenta para se passarem por familiares de ex-professores, ludibriando a instituição.

Fonte: Comunicação da Polícia Federal

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