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Team working at the clean bench

Silvana Sá
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A UFRJ quer mapear quem da comunidade acadêmica já teve coronavírus e, para isso, vai montar um posto de coleta de amostras para testagem. O teste rastreará mesmo quem teve contato com o vírus, mas permaneceu assintomático. A expectativa é de que o posto seja instalado entre dezembro e janeiro e deve funcionar no Grêmio da Coppe.

O modelo de teste foi desenvolvido em parceria entre a Coppe e Instituto de Biofísica, e nasceu de pesquisa coordenada pelos professores Leda Castilho, do Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares, e André Vale, do Laboratório de Biologia de Linfócitos. Contou, ainda, com a participação de docentes da Biologia e da Medicina.

“Alguns insumos ainda estão sendo adquiridos, para que então a gente possa colocar o posto em atividade”, conta a professora Leda. Num primeiro momento, o teste será voltado para o corpo social que segue em trabalho presencial durante a pandemia. “Depois de atender a este público mais específico, conforme demanda da reitoria, a testagem deve ser ampliada para outros setores”, conta a pesquisadora.

O teste é sorológico, ou seja, feito a partir de amostras de sangue. Para participar, a pessoa não pode estar com os sintomas, já que o exame não é do tipo que detecta a infecção ativa, mas sim os anticorpos que o organismo passa a produzir cerca de 15 dias após o contato com o vírus. “A amostra será coletada por meio de um furo no dedo e as gotas de sangue serão absorvidas em uma tira com papel filtro”, explica Leda. “Essa metodologia simplifica e barateia o teste do tipo ELISA (do inglês Enzyme Linked Immunosorbent Assay), que tradicionalmente é feito com amostra de sangue tirado da veia”, informa a cientista.

A ideia é que além do resultado – positivo ou negativo para anticorpos – a investigação também sirva como fonte de dados para outras pesquisas sobre o novo coronavírus, já que os participantes responderão um questionário com perguntas relacionadas à covid-19 e questões sócioeconômicas. “Essa testagem poderá subsidiar estudos nas mais diversas áreas, da Saúde Coletiva à Economia”, garante a cientista. As amostras serão processadas no Instituto de Biofísica, em uma iniciativa liderada pelo professor Leonardo Travassos.

Reitora da UFRJ, a professora Denise Pires de Carvalho destaca que a testagem será “um excelente estudo epidemiológico de exposição da comunidade acadêmica”. Apesar de o teste ser capaz de determinar se um indivíduo foi ou não exposto ao vírus, os dados científicos disponíveis até o momento não permitem afirmar se uma pessoa que tem anticorpos para o novo coronavírus está imune e nem por quanto tempo. “Também não pode dizer se os indivíduos ainda podem transmitir o vírus. E, por isso, não garante retorno ao (ensino) presencial, infelizmente”, lamenta a reitora.

Proteína S
Onze meses depois do primeiro caso confirmado no mundo, ainda há muito para se entender sobre o novo coronavírus. Os cientistas correm contra o tempo em busca de vacinas, testes mais baratos e eficazes, além de medicamentos que possam combater a pandemia. A UFRJ atua em todas essas frentes, com resultados promissores. Muitas destas pesquisas existem graças à produção em laboratório da Proteína S do coronavírus, que é a base do desenvolvimento do teste da universidade.

A Proteína S é produzida desde fevereiro no laboratório coordenado pela professora Leda. Agora, a equipe trabalha na implementação do processo em escala. O “S” vem do termo em inglês spike, ou espícula, em português. “Essa proteína está presente na superfície do vírus, nas ‘pontinhas’”, resume a professora. “Nossa ideia foi modificar células geneticamente para que passassem a produzir a proteína S, que é um alvo preferencial para a resposta imunológica do organismo”, explica.

Em julho, a equipe anunciou a criação de um teste capaz de medir anticorpos, cujo valor é muito inferior aos testes encontrados no mercado. Produzido na universidade, o teste pode custar, em média, 70 vezes menos que os mais comuns disponíveis no mercado. “Nosso teste é extremamente confiável e barato. Se realizado na universidade, gasta-se menos de R$ 2 por teste, com insumos. Se for feito em outro tipo de instituição, incidem também outros custos, mas mesmo assim o custo total fica entre R$ 5 e R$ 6 por amostra”, afirma a pesquisadora.

O professor André Vale expica como foi a sua participação no trabalho. “Meu laboratório estuda a resposta do sistema imune e utiliza a metodologia ELISA para diversas finalidades”, conta o pesquisador. “Num primeiro momento, padronizamos o método, inclusive comparando a proteína com diferentes graus de pureza. Alcançado esse resultado, passamos à etapa de validação do teste, com mais de mil amostras”, resume Vale.

“Dar respostas de excelência num tempo tão curto foi o maior desafio”, afirma o pesquisador. “Em junho nós já estávamos com o teste totalmente validado, e em julho submetemos o artigo para publicação”, revela. “O rigor científico foi amplamente perseguido, mas há enorme demora na publicação. Acredito que para a indústria e para determinados grupos não seja interessante que a universidade pública produza um teste tão bom e tão barato”.

O docente também critica a falta de apoio à ciência. “Não queremos comercializar. A única coisa que a gente quer é que a população tenha acesso ao teste. Se a gente tivesse mais apoio, as várias esferas de governo poderiam economizar bilhões gastos em testes caríssimos e ruins. A gente lamenta isso, mas segue trabalhando”.

 

NOVIDADES NO TRATAMENTO E PREVENÇÃO

A professora Leda Castilho foi a convidada do Café com Ciência e Arte, quadro do programa semanal da PQ Leda 0 1140AdUFRJ na Rádio UFRJ. O episódio, apresentado pelo professor Felipe Rosa, do Instituto de Física, foi ao ar nesta sexta-feira, às 10h. E pode ser conferido no site radio.ufrj.br. A seguir, alguns trechos.

Felipe Rosa – Vocês estão pensando em prover testes para o Rio de Janeiro, para o Brasil ou exterior?
Leda Castilho – O que viabiliza o teste é a produção da Proteína S, que estamos desenvolvendo na UFRJ. Realmente a gente já tem enviado essa proteína para inúmeras universidades, empresas e institutos Brasil afora. A ideia é dar a ferramenta para que se possa implementar os testes em qualquer lugar do mundo. Além do teste, os cavalos do Instituto Vital Brasil passaram a ser vacinados com a nossa Proteína S e os resultados foram surpreendentes. Eles desenvolveram anticorpos numa concentração muito alta, capazes de neutralizar o coronavírus em células infectadas em laboratório. A gente espera que até o final deste ano tenha mais resultados nessa área.

Esse trabalho é mais na linha de tratamento pós-infecção ou de vacina?

O trabalho com os cavalos é para tratamento e pretendemos oferecer o soro a pessoas bem no início da infecção. Mas a Proteína S pode ser utilizada também como vacina. Estamos testando em camundongos. Esperamos que em alguns meses os ensaios já tenham sido feitos em outras espécies. Também é preciso fazer estudos de toxicologia, normalmente em ratos e em coelhos. Depois de tudo isso, poderemos partir para ensaios em humanos. É o sonho da vacina tendo origem na UFRJ.

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