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Metroviários e professores sofrem na mão dos governos

Na queda de braço entre a Companhia do Metropolitano (Metrô) de São Paulo e os trabalhadores (que já não estão mais em greve), o último round foi da categoria. A Superintendência Regional do Trabalho em São Paulo autuou na sexta-feira (13) a empresa estatal pela demissão de 42 metroviários na segunda-feira anterior, dia 9. Embora o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o Metrô tenham declarado que as demissões não teriam relação com o movimento grevista, e sim com depredação e vandalismo, as justificativas para o desligamento por justa causa dos trabalhadores envolvidos com a organização da luta não convenceram a Superintendência. O valor da autuação é de cerca de R$ 8 mil, mas cabe recurso ainda. 

Não é a primeira vez que a empresa usa do expediente. Em 2007, 61 metroviários chegaram a ser dispensados durante uma paralisação. Apesar da assembleia do dia 11 ter decidido suspender a greve, a categoria se mobiliza em uma campanha para readmissão imediata dos 42 dispensados. A ação violenta da Tropa de Choque a serviço da Companhia na madrugada do dia 9, na estação Ana Rosa, deu o tom da indisposição do governo — que administra a empresa — para negociação. Segundo o sindicato da categoria, treze metroviários que estavam na estação foram levados para a 36ª Delegacia de Polícia no episódio.

Em meio ao impasse das negociações e a contestação da legalidade da greve por não atender a população em serviço básico, os metroviários chegaram a propor trabalhar sem receber caso as catracas fossem liberadas sem cobrança aos usuários. A negativa da empresa foi acompanhada de práticas ilegais de coação, com telegramas enviados a condutores de trens para comparecerem ao trabalho e o funcionamento irregular de estações e trens com pessoal não especializado e apoio policial, sem autorização judicial.

Estado demite 146 da Educação básica em greve

A Educação básica fluminense também enfrenta, inclusive judicialmente, as investidas do estado e do município contra a greve da categoria. A Secretaria Estadual de Educação anunciou o início de processo administrativo para demitir 146 professores em greve sob o argumento de que teriam mais de mais de dez dias de faltas consecutivas, e, portanto, suposto abandono de emprego.

“Em uma ação totalmente autoritária, o prefeito Eduardo Paes e a SME consideraram inaptos 51 profissionais da educação em estágio probatório por exercerem seu direito de greve em 2013 e 2014 na luta pela educação pública de qualidade. Sabemos que essa é uma atitude arbitrária e desesperada que visa nossa desmobilização”, denuncia o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe-RJ) em sua página eletrônica .

A paralisação, que teve início em 12 de maio, foi considerada ilegal, dias depois da deflagração do movimento, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux e pela presidenta do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, desembargadora Leila Mariano. Simultaneamente às demissões, a Secretaria Estadual de Educação anuncia que pretende publicar em Diário Oficial a nomeação de 1.409 novos professores.

Contra as perseguições políticas e a repressão dos governos do estado e município, os profissionais de educação se somaram a outras categorias do funcionalismo em luta em ato unificado na segunda-feira, 16, pela manhã na Candelária. A próxima assembleia das redes municipal e estadual será nesta terça-feira, 17.

 

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Professor, da Faculdade de Medicina, recebe a honraria máxima da universidade em cerimônia emocionante

Evento reinaugurou Quinhentão, recém- reformado

Silvana Sá. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

A cerimônia de emerência do professor Nelson Souza e Silva teve como cenário o auditório do Quinhentão, no Centro de Ciências da Saúde. O evento, aliás, reinaugurou o espaço, agora completamente reformado. O professor Edwaldo Cafezeiro, emérito da Faculdade de Letras, declarou à reportagem do Jornal da Adufrj que o título concedido ao professor Nelson significa uma merecida homenagem: “Foi feita uma grande justiça a um dos professores da UFRJ cuja grandeza realmente corresponde à base da educação desse país”, declarou.

Cafezeiro, representando o segmento docente, compôs a Comissão de Honra que conduziu o professor Nelson à mesa da solenidade. Ao lado dele, estavam: a técnica-administrativa Neuza Luzia Pinto; o estudante João Roquete da Rocha; a paciente Olga Borges, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho; e o médico Luiz Roberto Londres, ex-aluno da UFRJ da turma da Medicina de 1965, colega de turma do mais novo emérito da universidade.

Pedido de emerência partiu dos alunos

Sérgio Augusto Novis, emérito da Faculdade de Medicina da UFRJ, fez o discurso de apresentação do professor Nelson. Novis destacou que o pedido de emerência do homenageado partiu do segmento discente: “Com mais de 500 assinaturas, os estudantes enviaram requerimento à Faculdade de Medicina. Os longos e árduos tempos do exercício do magistério não foram em vão. Não há sentimento maior para um mestre que ver o reconhecimento de seus alunos”, disse. Novis também fez referência ao Complexo Hospitalar da universidade, que teve em Nelson um de seus idealizadores. E enfatizou a luta contra a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, com o protagonismo de Souza e Silva.

Dona Olga Borges, paciente do HUCFF, disse encontrar no professor Nelson mais que um médico: “Ele é um grande amigo. Diversas vezes que passei mal, liguei pra ele, que veio me atender. Certo dia, ele estava na Barra (da Tijuca) e voltou para o hospital para me atender. Todos os pacientes atendidos no ambulatório por ele o veem como exemplo de pessoa e de profissional”.

Os elogios não pararam por aí. Luiz Roberto Londres, que foi colega de turma de Nelson, disse que aquela turma de 1965 tinha um “profundo sentimento social” e que esta característica sempre fez parte do professor Nelson: “Ele sempre teve um pensamento social e coletivo. Sempre foi intenso em tudo o que se propôs a fazer. O que permeou toda a sua carreira foi não ter aberto mão de sua missão de ensino”, disse, emocionado.

O estudante João Roquete da Rocha, do sexto ano de Medicina, contou que faz parte da equipe do ambulatório de Nelson desde o terceiro ano: “É impossível não admirar quem faz tanto com tanta dedicação”. João disse que o docente é seu maior exemplo de profissional e de pessoa e que o título de “discípulo de Nelson Souza e Silva é vitalício”, da mesma forma que o de professor emérito.

Para a técnica-administrativa Neuza Luzia Pinto, “educação, democracia, verdade, sabedoria, compromisso com o público” por si só já seriam características para definir o professor Nelson. Contudo, para além de tudo isso, ele é uma “daquelas pessoas que pensam todos os dias muito além do hoje”. Ela, em nome dos servidores do Instituto do Coração Edson Saad da UFRJ, do qual Nelson foi diretor, entregou-lhe uma placa de homenagem, assim como os mestrandos e doutorandos do instituto.

 

As palavras do homenageado

Nelson Souza e Silva destacou a necessidade de se lutar pela autonomia universitária e para que a Constituição seja cumprida integralmente, especialmente no que diz respeito aos direitos básicos dos cidadãos: “Acredito que o povo brasileiro não tem conhecimento pleno da Constituição; por isso, ainda não conseguimos colocá-la em prática”. Ele falou também de leis que atentam contra a Constituição, como a que cria a Ebserh, a que cria o Funpresp e a Lei das Carreiras do Magistério Superior, que “desestimula a vinda de novos professores para a UFRJ”.

O reitor Carlos Levi, como ele mesmo disse, “esfacelou” o protocolo ao dar um presente pessoal ao professor Nelson: uma bandeira do Brasil em representação do brasileiro forte e corajoso, que defende “com afinco e paixão suas ideias”. E garantiu que, enquanto reitor, tem o dever de garantir a defesa do contraditório, porque “só assim o conhecimento avança e a universidade cresce”.

Também participaram da cerimônia de emerência: a decana do CCS, Maria Fernanda Quintela; o diretor da Faculdade de Medicina, Roberto Medronho; o ex-reitor da UFRJ e ex-diretor do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, Alexandre Cardoso; o atual diretor do Instituto do Coração, Antônio Paes de Carvalho; e a diretora da Divisão Médica do HU, representando o diretor Eduardo Côrtes, Rosali Corrêa.

Coletivo de mulheres da UFRJ lista casos que envolvem estudantes e professores da instituição

“Violência não é brincadeira”, alerta aluna

Silvana Sá. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

A partir da ampla divulgação e repúdio a uma imagem com apologia ao estupro (uma provocação de muito mau gosto entre estudantes de Direito), noticiada na edição nº 846 do Jornal da Adufrj, vários casos de sexismo tornaram-se públicos na UFRJ. “Essa imagem foi compartilhada na internet e muitas piadas foram feitas. Alguns meninos diziam que era brincadeira, mas violência não é brincadeira”, afirma Josi Oliveira, integrante do Coletivo de Mulheres da universidade.

Estudante da Faculdade de Educação, ela diz que, apesar dos esforços dos movimentos, os casos de machismo não têm sido solucionados. Para ela, o problema está na ausência de posicionamento da UFRJ: “Sentimos muita falta da instituição. Fazemos a denúncia, mas a reitoria não assume para si a necessidade de combater essas práticas na universidade”, criticou.

No fim de maio, o Coletivo divulgou nota em que acusa nominalmente o professor Pedro Ivo Salvador, do Departamento de Matemática Aplicada da UFRJ. Ele é autor do artigo “Restringir a demanda é importante”, veiculado em seu blog pessoal. Em um dos trechos, após dizer que restringir a demanda aumenta o valor de um produto, o docente afirma: “Sendo assim, uma mulher que restringe a demanda, se relaciona com muitos poucos sortudos, em termos econômicos possui um preço elevado. Contudo, há uma tendência feminista de dizer que mulheres devem aproximar seus comportamentos e padrões morais ao dos homens. Ou seja, não restringir sua demanda. (...) Logo, ao reduzir a restrição da demanda, ela estará reduzindo seu preço...”.

Outro professor também citado na nota do Coletivo é Bernardo Santoro, substituto dos cursos de Direito da Uerj e da UFRJ. Ele divulgou em seu perfil do Facebook um texto em que agradecia ao feminismo por ter proporcionado sexo sem compromisso para os homens. “Depois do feminismo, da revolução sexual e da pílula, nunca foi tão fácil ter uma mulher sem nenhum compromisso. Basta uma cantada ‘mais ou menos’ para pegar a garota e insistir um pouquinho para conseguir arrastar pro motel logo na primeira noite”, dizia um trecho. Santoro pediu exoneração do cargo de professor substituto da Uerj, mas voltou atrás na decisão.

Professores se defendem

Procurado pela reportagem, o professor Pedro Salvador disse, por e-mail, que não tomou conhecimento da nota divulgada pelo Coletivo de Mulheres da UFRJ, mas que recebeu “comentários e mensagens agressivas” pela publicação do artigo. Afirmou, ainda, que em seu texto não compara mulheres a bens e responsabilizou também as mulheres pela propagação da violência: alega que são elas que criam os “pequenos machistas”.

Já o professor Bernardo Santoro, que comentou em alguns veículos de comunicação que seu texto se tratava de uma brincadeira, disse à reportagem do Jornal da Adufrj que retirou o post do ar por razões pessoais. Perguntado se ele também considera piadas homofóbicas e racistas como brincadeiras, o docente defendeu a liberdade de opinião: “Certamente ficaria ofendido se fizessem piada com minha origem indígena, mas não faria uma ‘caça às bruxas’ contra tal pessoa. Tolerância com o diferente é a base da democracia”.

Falso humor

Pesquisadora do Laboratório de Direitos Humanos (LADIH/UFRJ) e aluna de pós-graduação da Faculdade Nacional de Direito, Heloisa Melino considera que a violência simbólica se constrói com a naturalização da violência: “É muito comum, principalmente, o discurso de ‘isso é só uma piada’. Precisamos combater a violência simbólica do discurso de humor, pois é a forma mais sutil pela qual se propaga a ideia de que as mulheres são menos capazes, menos inteligentes, menos hábeis, menos úteis. É esse discurso que faz com que haja diferenças de salário, que faz com que os homens achem normal passar a mão em uma mulher, assediá-la verbalmente ou ‘encoxá-la’ no metrô. ‘É só piada. É só elogio’. Não, a morte de mulheres não tem graça, estupro não é engraçado”.

Heloisa milita no grupo Universidades Feministas, que engloba Uerj, UFRJ e PUC, além de compor o Coletivo de Mulheres da UFRJ. Sua experiência tem mostrado que os casos mais recorrentes nas universidades são de agressões verbais e perseguição a mulheres. “Procuramos manter um espaço seguro para denúncias sobre estupro, sobre agressões físicas, para que mulheres dividam suas histórias e possamos nos fortalecer umas às outras”.

Buscar apoio é o primeiro passo, na opinião da pesquisadora, para enfrentar os casos de opressão na universidade: “Eu incentivo a procurar primeiro o apoio de pessoas e de coletivos feministas e só depois acionar a instituição de ensino, porque não existe imparcialidade, e o machismo também está nas estruturas das universidades, de forma que alunas ou alunos sozinhos podem ser silenciados”.

A entrevista, completa, com a pesquisadora, você pode ler aqui.

 

Violência simbólica é reflexo da sociedade

De acordo com a decana eleita do CFCH, professora Lilia Pougy, os episódios recorrentes de machismo e outras formas de opressão estão cada vez mais vivos na sociedade como um todo. “O machismo faz parte de uma estrutura patriarcal, que ainda domina nossa sociedade. Esse conceito pode parecer ultrapassado, mas tem grande vitalidade. Por isso, é ‘natural’ que essas práticas se reproduzam na universidade. A sociedade tem renovado as formas de dominação, dentre elas a violência simbólica que reduz o outro, seja pelo machismo, pelo racismo, pela homofobia.”.

A recorrente contraposição entre machismo e feminismo, como conceitos antagônicos, para a professora, além de gerar grande confusão, ignora a relação de busca por direitos e organização social: “É uma grande excrescência! Não há antagonismo. Enquanto o machismo está associado ao patriarcado, o feminismo engloba diferentes pensamentos, filosofias, práticas que se unem na busca pela ampliação de direitos”, disse Lilia (da Escola de Serviço Social), que tem a “violência de gênero em tempos de Lei Maria da Penha” como uma de suas linhas de pesquisa. 

Ela criticou a postura de ridicularização do movimento feminista: “Chamar feministas por estereótipos, como aquelas que queimam sutiã ou dizer que são histéricas, fecha o diálogo. As polarizações são inférteis, não levam a nada. Somos todos seres humanos tentando caminhar na direção dos avanços sociais e da conquista de direitos”.

Reagir é fundamental

Lilia Pougy afirma que reagir à violência de gênero se faz cada vez mais importante, mas que ela não ocorre somente com a denúncia: “É fundamental fazer barulho, expor o agressor, mas infelizmente pode haver também uma reação de introspecção e adoecimento da vítima, o que é muito comum”. Ela foi veemente na crítica a posturas que desconstroem avanços sociais: “É lamentável que na universidade, que é espaço de criação e liberdade de pensamento, aconteça esse tipo de situação. É preciso levar em conta princípios, dentre eles o respeito ao coletivo, e isso não se constrói com situações de opressão”.

A universidade, para a decana, precisa se posicionar: “Isso deve ser levado aos colegiados superiores. É preciso coletivizar essas questões e não particularizá-las. Há uma questão social que precisa ser tratada no escopo da política acadêmica. Outro caminho é a denúncia para a Ouvidoria da UFRJ, que aciona os dirigentes e pode dar encaminhamento a esses tipos de ações. A gente precisa intervir institucionalmente, mas esse não é o papel apenas dos dirigentes. É papel de todos os servidores públicos”.

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