O ápice da crise aconteceu na semana passada. Na sexta-feira (20), o Batalhão de Choque da PM cumpriu determinação judicial de retirar os estudantes que ocupavam, havia 55 dias, o Pavilhão João Lyra Filho, o principal do campus da Uerj no Maracanã. Os policiais usaram bombas de efeito moral e spray de pimenta contra os estudantes. Dois deles, um jornalista e o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), que prestava apoio ao grupo, foram presos e liberados horas depois.
SOLIDARIEDADE
A mesa do evento foi conduzida pelo presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro (USP), pela conselheira Lígia Bahia (IESC-UFRJ) e pelo secretário regional da entidade, Thiago Signorini Gonçalves (OV-UFRJ). Logo na abertura, Janine deixou claro que todos estavam ali para apoiar a gestão da Uerj. “A SBPC considera que a Uerj é decisiva, essencial para a área de Ciência e Tecnologia, e não só do estado do Rio de Janeiro, mas do Brasil. Foi a primeira instituição brasileira a instituir cotas de ingresso na graduação de forma democrática. Viemos aqui para dar apoio à reitora. Esse tipo de luta fratricida enfraquece a democracia”, pontuou Janine.
A reitora da Uerj — foi eleita para o período 2024-2027 — iniciou sua fala agradecendo a solidariedade da comunidade científica e não escondeu os desafios de sua gestão. “Estamos vivendo momentos bem difíceis. Não imaginávamos que a crise tomaria essa proporção. Não temos autonomia financeira, dependemos integralmente do governo do estado para funcionar”, disse a dirigente.
Ao falar da desocupação da universidade na semana passada (veja mais detalhes na entrevista da página 6), a professora disse que a alternativa foi a que restou diante da falta de diálogo com os estudantes. “Nesses 50 dias, fizemos de tudo para não pedir a reintegração. Houve quebra de patrimônio, uso de dados, invasão de computadores, uma escalada da violência. Não sabíamos mais quem estava participando da ocupação. Não eram só estudantes. Foram oito rodadas de negociação. Na última, ficou nítido que alguns ocupantes não deixavam espaço para estudantes com uma visão diferenciada, com tendência de aceitar nossa proposta de transição. Chegou a um ponto sem limite, não havia mais segurança no prédio, as portas de emergência trancadas, professores e alunos impedidos de ter aulas. Nosso Fórum de Diretores decidiu que não havia alternativa a não ser pedir a reintegração de posse. Até hoje vivemos o reflexo de tudo isso”.
Gulnar estava acompanhada de seu vice-reitor, Bruno Deusdará, e de vários pró-reitores, diretores, superintendentes e professores da Uerj. Representando a reitoria da UFRJ, o superintendente-geral da PR-2, professor Felipe Rosa, disse que o evento ia além da solidariedade. “Esse encontro gira em torno da preservação da universidade pública e da democracia. Há medidas que ninguém quer tomar, como o que aconteceu na Uerj. Mas quando uma parte é intransigente, às vezes não tem jeito. Ficamos felizes porque a Uerj está voltando a ter aulas, com suas políticas inclusivas”, disse Rosa.
O professor Luiz Bevilacqua viu no encontro uma oportunidade de maior aproximação entre as instituições que atuam no Rio de Janeiro. “Vamos trabalhar juntos? Não só nos momentos de crise, mas nos momentos de paz. Trocar estudantes, trocar professores, nos comunicar mais. É um apelo que faço. Vamos nos dar as mãos também nos momentos de paz”, disse.
Já o ex-reitor Carlos Frederico Leão Rocha fez uma defesa enfática da autonomia universitária e advertiu que ela deve ser preservada, independentemente do campo político. “Não podemos tratar reitores eleitos da forma como a Gulnar foi tratada. Eles têm que ser respeitados tanto pela direita, quanto pela esquerda. Gulnar foi eleita para tomar as decisões que tomou. A universidde voltou, e temos que te agradecer por isso”.
Ao terminar o encontro, a professora Ligia Bahia fez um alerta. “Fizemos um processo de inclusão nas universidades públicas e estamos com dificuldades de manter essa inclusão. Não podemos ser derrotados. O que foi uma vitória não pode se transformar numa derrota Esse processo democrático tem que seguir. A inclusão na universidade pública não pode se transformar em um problema. Ela é a solução para o país. A gente vai lutar muito para que essa juventude consiga concluir o ensino superior no Brasil. Isso é a defesa da democracia”.
QUEM ESTAVA LÁ
UFRJ
•Ex-reitor Nelson Maculan
•Ex-reitor Carlos Frederico
•Christine Ruta, diretora do Fórum
•Felipe Rosa,
superintendente da PR-2
•Eleonora Ziller, diretora
da Universidade da Cidadania
•Luiz Bevilacqua,
professor emérito
•Luiz Davidovich,
professor emérito
•Ricardo Madronho,
professor emérito
•Pedro Lagerblad,
professor do IBQM
•Thereza Paiva,
secretária municipal de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.
Fiocruz
• Claudia Travassos
•José Noronha
Unirio
•José da Costa Filho, reitor
UFF
•Mônica Savedra, pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação
CBPF
•Marcio Albuquerque, diretor
•Além do deputado federal Reimont (PT-RJ) e do ex-deputado estadual Waldeck Carneiro.