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WhatsApp Image 2022 09 26 at 14.29.42 2Júlia Fernandes

Um estudo realizado pelo Laboratório de Estudos de Internet e Mídias Sociais da Escola de Comunicação (NetLab) comprovou que o YouTube privilegia conteúdos pró-Bolsonaro nas recomendações aos usuários. Na pesquisa, em 18 acessos à plataforma com perfis sem nenhuma interação na rede, os canais do grupo Jovem Pan foram identificados 14 vezes. O vídeo mais sugerido nos testes foi a entrevista do presidente ao Programa Pânico, que apareceu em diferentes posições, mas sempre na primeira página da plataforma.
“Muitos usuários declararam que a Jovem Pan aparecia frequentemente como recomendação, mesmo não consumindo o conteúdo de lá e até dando dislike nos vídeos. A gente partiu da premissa que existia isso para fazer a pesquisa”, afirma a professora Marie Santini, diretora do NetLab. Para a realização do estudo, foram feitas 18 visitas-teste ao YouTube, de 23 a 30 de agosto. Ao todo, a página foi acessada de uma a três vezes ao dia, em horários diferentes. Na análise, que considerou apenas vídeos de conteúdo informativo, o canal da Jovem Pan apareceu 10 vezes como primeira recomendação. “A audiência da Jovem Pan fora do YouTube é muito pequena, praticamente irrelevante. Já no YouTube, ela está na frente de todas as outras fontes de informação do Brasil. Isso nos faz perguntar qual seria o verdadeiro critério de recomendação”, afirma Santini.
Para verificar se as recomendações “casavam” com assuntos que estavam em alta no momento dos acessos, o estudo utilizou o Google Trends — ferramenta que disponibiliza os temas e palavras-chave mais pesquisados pelos usuários. Mas os resultados não coincidiram. “Isso precisa ser esclarecido, porque não é o canal de informação mais consumido do Brasil. Se o critério é baseado em relevância social, não está batendo com outros dados”, acrescenta.
Para não serem influenciados pela personalização dos conteúdos, os acessos foram simulados por um usuário novo. As visitas ao YouTube ocorreram por uma aba anônima do browser, utilizando um VPN (Virtual Private Network) que estava configurado para ser um usuário brasileiro aleatório, anônimo, localizado em diferentes partes do Brasil. Bruno Mattos, jornalista assistente na pesquisa e responsável pelas buscas no YouTube, explica: “O VPN é essa ferramenta que garante uma navegação neutra pela internet, sem que o algoritmo seja influenciado pelo que você consumiu em termos de dados e conteúdo”.
Apesar da isenção de histórico, os canais do grupo Jovem Pan ainda eram os mais recomendados. Eles apareceram 25 vezes ao longo do experimento, às vezes com mais de um vídeo na página inicial. Em um dos acessos, a única fonte de canal informativo recomendada era a entrevista de Bolsonaro no Programa Pânico, também feita pela Jovem Pan.

PUBLICIDADE VELADA
“A recomendação é tão importante porque ela funciona como uma espécie de publicidade. Estudos mostram que 70% da navegação dos usuários no YouTube são baseados na recomendação. O fato de não ser declarado, de não ser explícito qual é o critério, funciona como publicidade velada, o que é perigosíssimo”, avalia Santini.
O Youtube, hoje, é a plataforma de vídeo mais utilizada pelos brasileiros, com 130 milhões de usuários. Segundo o relatório do NetLab, “a recomendação de conteúdo tem forte impacto nas escolhas dos usuários, especialmente por fazer acreditar que os vídeos recomendados são baseados em critérios de relevância, e não guiados por acordos comerciais ou outros interesses”. Esse impacto, que vai além do consumo momentâneo de conteúdo, reflete na forma de pensar de cada um, o que pode afetar, inclusive, decisões políticas.
“Os meios de comunicação e a quantidade de vezes com que as pessoas são expostas a determinado conteúdo podem fazê-las modificar o voto”, explica a professora. “Para defender a nossa democracia, esses critérios precisam ser explícitos, de forma que o algoritmo da plataforma não gere nenhum desequilíbrio entre os candidatos e não afete as eleições”, acrescenta. O estudo, que fala a respeito das recomendações tendenciosas no YouTube, é o primeiro feito no Brasil.

AÇÃO NO TSE
Com base no estudo do NetLab, a Coligação Brasil da Esperança, formada por partidos que apoiam a candidatura Lula, acionou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No pedido, os advogados alegam que “a plataforma YouTube não trata de forma isonômica o conteúdo distribuído ao usuário a título de ‘conteúdo informativo’, dada a sua concentração em uma mesma rede de produção de conteúdo sobre a qual, de forma ainda mais grave, recai graves indícios de imparcialidade política”.
A ação destaca, ainda, que a predileção na recomendação de vídeos do grupo Jovem Pan viola o protocolo assinado entre a Justiça Eleitoral Brasileira e a Google Brasil, por não cumprir com “a parte de conceder acesso aos usuários a um contexto amplo de informações de fontes confiáveis”. Até o momento da publicação desta matéria, a Jovem Pan não se manifestou sobre a pesquisa do NetLab.

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