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WhatsApp Image 2022 08 08 at 19.22.26Professora Maria Paula - Foto: Silvana Sá/Arquivo AdUFRJA historiadora e professora titular da UFRJ, Maria Paula Nascimento Araújo, se dedica a pesquisar o que se passou no Brasil nos tempos da ditadura militar. Mas, quando se trata de 1977, a docente não é apenas uma pesquisadora. Ela integra a História. Em 1977, Maria Paula fazia movimento estudantil e era presidente do Centro Acadêmico da PUC, um dos endereços de maior combatividade e resistência ao regime na época.
Na entrevista abaixo, ela analisa a Carta de 1977 e a compara com a missiva de hoje, que já conquistou mais de 800 mil assinaturas contra os desmandos autoritários do presidente da República.

JORNAL DA ADUFRJ - Qual o contexto político em que nasce a Carta de 1977?
Maria Paula
- Do lado da ditadura, há uma crise severa. O Pacote de Abril fecha ainda mais o país e coloca em xeque a promessa de Geisel de fazer uma distensão lenta e gradual, uma redemocratização por cima, pelas elites, pelo poder. Do lado da resistência ao regime, há um duplo movimento. Primeiro, um reconhecimento de que a luta armada fracassara e que produzira muitas mortes. E. segundo, era preciso abrir um diálogo com setores democráticos, não necessariamente de esquerda, para retomar a normalidade democrática no país.

O fato de a Carta ter sido lida por um professor de Direito, defensor do Estado de Direito, sinalizava o nascimento de uma frente?
A carta não é inaugural. Ela resulta também de um processo histórico que começa perto de 1973, com a profunda crise da luta armada. Aos poucos, quase todos os setores de crítica ao regime sentem a necessidade de conversar. Vai se formando uma frente. Essa articulação incluía diálogo entre grupos de esquerda, partidos de oposição como o MDB, e setores da sociedade civil como OAB, ABI e UNE. Os estudantes, aliás, tiveram um papel decisivo nesse processo. Tanto em São Paulo, onde nasceu a Carta de 1977, quanto no Rio. Aqui, nessa época na PUC, conseguimos fazer assembleias com cinco mil pessoas.

E qual a diferença para o momento de hoje, quando novamente os defensores da democracia assinam uma nova Carta?
Os militares dos anos 1970 tinham um projeto nacional. Era autoritário, mas era um projeto de construção de país. E do outro lado, pela esquerda, também tinhamos uma perspectiva de destruição da ditadura, mas de construção de um novo país, com a ampliação das liberdades democráticas. Hoje é diferente, O governo não tem um projeto. Seu projeto é a destruição. E nós estamos lutando contra a destruição da democracia. É isso que nos une, a restruturação do tecido democrático, porque, sem esse tecido, sequer nossas diferenças podem existir.

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