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WhatsApp Image 2022 08 08 at 19.22.26 1Professor Goffredo Telles Junior - Foto: FOLHAPRESS/FOLHAPRESS“Nos recusamos, de uma vez por todas, a aceitar a falsificação de conceitos. Para nós a ditadura se chama ditadura, e a democracia se chama democracia. Os governantes que dão o nome de democracia à ditadura nunca nos enganaram e não nos enganarão. Nós saberemos que eles estarão atirando, sobre os ombros do povo, um manto de irrisão”.
O parágrafo acima é de uma atualidade acachapante, mas data de 1977 e integra a Carta aos Brasileiros. Trata-se de um documento histórico que marcou o processo de redemocratização e ajudou a fragilizar a ditadura militar, àquela altura comandada pelo general Ernesto Geisel.
Lida em 8 de agosto de 1977 no pátio da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, a carta nasceu da indignação de juristas com os rumos da ditadura que, quatro meses antes, baixava o chamado Pacote de Abril, fechava o Congresso e restringia ainda mais as parcas liberdades civis.
Destemido, de paletó, camisa branca e abotoaduras, o orador chamou a tortura de tortura e defendeu a democracia. Era o professor Goffredo da Silva Telles Junior. Tinha 62 anos e, com a voz pausada e solene, num pequeno palco improvisado, saiu das Arcadas uspianas e entrou para História.
A Carta de 4.096 palavras provocou a ira dos militares. Documentos revelam que a repressão chegou a monitorar o docente depois do discurso. Ele não era um revolucionário. Muito pelo contrário. Chegou a apoiar o golpe de 64, mas aos poucos foi se decepcionando com a sanha dos militares em continuar no poder.
Quando veio o Pacote de Abril, restringindo a liberdade de expressão e criando os senadores biônicos, Goffredo e os colegas aproveitaram a efeméride do aniversário de 150 anos dos cursos jurídicos no Brasil para criticar o regime e acordar o país para a importância da retomada das liberdades democráticas.
Goffredo era muito respeitado. Idolatrado pelos estudantes — mesmo por aqueles que reprovava —, desfrutava da amizade de Villa-Lobos, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Lasar Segall e Tarsila do Amaral. Dava aulas de Filosofia do Direito e Teoria Geral do Estado.
“O Direito não nasce das cabeças dos deputados, das cabeças dos senadores. O Direito é como o amor, nasce do coração dos homens”, dizia aos alunos que, muitas vezes, aplaudiam o mestre no final das aulas, no famoso Largo de São Francisco, no Centro de São Paulo.

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