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“Há uma crise internacional com relação à universidade como condutora de conhecimento e que não afeta apenas as áreas de Ciências Humanas”, alertou o sociólogo André Botelho, um dos convidados do debate “A consolidação da universidade como espaço de legitimação de conhecimento no mundo”, na quinta-feira (19), no campus da Praia Vermelha. Botelho e mais dois pesquisadores, o físico José Abdalla Helayël-Neto e o antropólogo Rodrigo Rosistolato, apresentaram visões de suas áreas e seus impactos na produção acadêmica no primeiro encontro promovido pela Cátedra Aloísio Teixeira — Universidade do Futuro, do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE). O debate foi mediado por Maria Fernanda Elbert, professora do Instituto de Matemática da UFRJ e coordenadora da cátedra, e contou com a participação do vice-reitor Carlos Frederico Leão Rocha.
Segundo Botelho, a consolidação da produção do conhecimento vem sendo cada vez mais disputada. Existe um conflito com a reputação da Ciência, iniciado tanto a partir dos ataques atuais às áreas de Ciência e Tecnologia, quanto por processos internos, como a baixa mobilidade social do meio acadêmico. “Um desafio da universidade é pensar essa consolidação como algo que precisa ser cada vez mais disputado com outras estruturas de conhecimento ou de valores”, opinou. Para o sociólogo, essa disputa não é necessariamente ruim: “A gente tem tentado problematizar essa ideia e buscar formas menos hierárquicas para uma construção mais coletiva, envolvendo setores da sociedade civil organizada que também são produtores de conhecimento”.
Nessa mesma linha, o vice-reitor Carlos Frederico Leão Rocha fez uma autocrítica sobre como a academia veio destituindo populações de seu conhecimentos, como indígenas e africanos. “A universidade passou por isso. Não dá para dizer que em 100 anos de história não participamos disso. Somos culpados”, reconheceu. Em busca de uma UFRJ mais diversa, citou a criação e aprovação no Consuni, dia 6, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas, como órgão suplementar do Fórum de Ciência e Cultura.
O físico José Abdalla confessou que sente “falta de humanidades” nos cursos de Ciências Exatas. Defensor de um ensino mais completo, autônomo e que converse com outras áreas, como a Filosofia, Abdalla acredita que o ensino das Exatas não deve ser guiado somente por fórmulas. É necessário entender também o contexto científico e, principalmente, formular perguntas e propostas sobre o que se aprende em sala de aula. “A universidade não tem que servir, tem que significar”, defendeu o professor. “A gente deveria pensar muito mais no que virá. Não importa para o que está servindo, qual é a utilidade imediata. O que importa é a visão de futuro”.
O pesquisador Rodrigo Rosistolato seguiu a mesma linha. “A própria socialização científica é uma contradição fundamental. Ao mesmo tempo em que ela te coloca no mundo, ela reduz o teu mundo àquele em que você foi colocado”, sustentou. A contradição, para Rosistolato, antecede a universidade. Ela acompanha o aluno desde o ensino fundamental e médio, de maneira mais rígida (disciplinar), e se choca com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), uma prova transdisciplinar.

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