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WhatsApp Image 2022 05 20 at 20.07.41Silvana Sá e Estela Magalhães

O prédio que abriga a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e a Escola de Belas Artes é o que se pode chamar de Fênix da UFRJ. Aos poucos, as cinzas de dois incêndios que atingiram o edifício num intervalo de cinco anos, dão lugar a andares revitalizados. O Jornal da AdUFRJ visitou as instalações – ainda fechadas para o público – e encontrou cenas de esperança, mas também cenários de desolação. “Depois de décadas de abandono, a palavra do momento é esperança”, avalia a diretora da EBA, professora Madalena Grimaldi. No momento, são tocadas obras do 8º ao 5º andares, a impermeabilização das lajes, a instalação de um novo sistema de drenagem e a reforma elétrica e hidráulica. Recentemente, ficou pronto o reforço dos pilares de sustentação do edifício e a troca de todos os vidros quebrados no primeiro e segundo pavimentos, além do reparo das salas de aula do Bloco A. “Ainda há muito que fazer”, reconhece o vice-reitor, professor Carlos Frederico Leão Rocha. O subsolo e o imenso salão repleto de lixo – com uma linda e esquecida escultura de Minerva – são alguns exemplos. “Para deixar tudo pronto seriam necessários R$ 50 milhões. Já investimos R$ 12 milhões”, informa o dirigente. Projetada em 1957 exclusivamente para a FAU, a estrutura passou por muitas adaptações – boa parte sem planejamento – para abrigar as outras unidades que também ocuparam o prédio a partir de 1975.

Documentos e acervo da FAU em restauro

WhatsApp Image 2022 05 20 at 20.22.03 4Foto: Estela MagalhãesO espaço que servia à Biblioteca Central cedeu lugar a documentos danificados no incêndio que atingiu a Procuradoria e o Núcleo de Pesquisa e Documentação (NPD) da FAU, em 2021. No local trabalham as equipes dedicadas a recuperar alguns milhares de arquivos. O trabalho é coordenado pela professora Benvinda de Jesus, especialista em conservação e restauração da EBA. “Estava numa banca de concurso, no quarto andar, quando o fogo começou”, ela lembra. “Transferi a banca para a Faculdade de Letras e voltei para salvar as plantas arquitetônicas”, conta. O salão que pegou fogo foi visitado pela primeira vez por uma equipe de reportagem e está quase inteiramente restaurado. No local funcionará apenas o NPD. A Procuradoria será deslocada em definitivo para o Parque Tecnológico.
Foi a docente que também restaurou a única imagem salva da Capela São Pedro de Alcântara, incendiada em 2011. A representação de Nossa Senhora da Conceição já tinha sido deslocada para a restauração e por isso se salvou das chamas.

Fachada despenca e deixa ferros à mostra

WhatsApp Image 2022 05 20 at 20.22.03 3Foto: Silvana SáUm perigo espreita professores, técnicos e estudantes que frequentam o edifício batizado com o nome de seu criador: o arquiteto Jorge Machado Moreira. A fachada, virada para os jardins projetados por Burle Marx, está em péssimas condições de conservação. São muitos os trechos cujas ferragens estão à mostra. A reportagem observou pedaços do revestimento caídos nos canteiros. Alguns seguramente com mais de 3kg.
“Eu me sinto insegura. Parece que a qualquer momento um pedaço do teto pode cair na minha cabeça”, reclama a estudante Amanda de Oliveira, da FAU. “É muito estranho ver um prédio de arquitetura caindo aos pedaços”.
O problema é denunciado pelo pelo professor Wendell Varela, da FAU, desde 2010. Naquele ano, ele produziu o primeiro relatório sobre as más condições de conservação e estrutura do edifício. Em 2011, ele foi um dos autores de outro relatório mais detalhado. Em 2015, um terceiro documento, de mais de 500 páginas, colocava lupa sobre os riscos estruturais do edifício.
“Hoje, depois das obras de elétrica e dos pilares, eu considero a fachada como o maior risco que temos no momento”, revela o professor.
O drama vivido por quem utiliza o prédio, tombado em 2016 pelo Instituto do Patrimônio da Humanidade, da Prefeitura do Rio, tem relação direta com o subfinanciamento da universidades. Mas, para o vice-reitor da UFRJ, professor Carlos Frederico Leão Rocha, não é só isso. De acordo com ele, o problema é fruto da junção deste e de outros “ingredientes”. “Um pouco de má gestão, um pouco de desleixo e (falta de) priorização”, ele diz. “Quando houve o fogo no 8º andar, o MEC destinou R$ 15 milhões, em duas parcelas, para a reforma dos andares afetados”, conta. “Como não havia projeto naquele primeiro momento, o recurso foi deslocado para custeio”, revela o vice-reitor, que na época era diretor da AdUFRJ. “Houve uma destinação diferente do fim. E numa época em que o orçamento da universidade ainda era cerca de 50% maior do que o atual”.
“A gente está espremido no prédio porque não podemos usar outras salas”, critica o estudante Thales Almeida, do Centro Acadêmico de Arquitetura. Carlos Frederico lamenta não ter devolvido as salas há mais tempo. “A pandemia atrasou nossos projetos de seis meses a um ano”. A previsão de entrega das salas de aula é agosto deste ano.

Instalações improvisadas

Um dos pontos mais críticos do prédio, as instalações elétricas inadequadas foram as causas das chamas que destruíram partes do edifício por duas vezes. Até hoje, quase seis anos depois do primeiro incêndio, a rede elétrica e o cabeamento de internet ainda são provisórios em algumas áreas, até que todas as obras terminem.
“Toda a rede precisa passar por uma atualização. É preciso fazer uma reorganização dos circuitos e colocá-los nas normas atuais”, informa o professor Wendell Varela, da FAU. Coordenador de Planejamento e Manutenção do Centro de Letras e Artes, ele trabalha em conjunto com o Escritório Técnico da Universidade na elaboração de projetos e acompanhamento das obras. “Houve modernização da subestação do 9º andar e a troca das tomadas verticais do Bloco A (de salas de aula)”, conta o professor. Parte dos quadros de energia do 6º e 7º andares também está pronta e há obra contratada para modificar os quadros elétricos das salas do 3º ao 5º andares. “Isso vai trazer uma segurança muito maior para nós”, afirma o docente.

Obras são as primeiras em 30 anos

WhatsApp Image 2022 05 20 at 20.22.03 2Foto: Estela MagalhãesA professora Cristina Tranjan, decana do CLA, revela a agonia de ver o prédio se deteriorar ao longo dos anos. “Aqui circulam cerca de seis mil alunos de graduação e pós. Não podemos expô-los a riscos”. O orçamento é um limitador, segundo a professora. “Queremos consertar os pisos de pedras portuguesas e também as fachadas,mas a decania não tem dinheiro para isso. O que nos resta, nesse momento, é sinalizar as áreas para que ninguém se machuque”.
Os estudantes procuram acompanhar todos os passos e foram fundamentais no movimento “Ocupa JMM”, que reivindicou melhorias para o prédio em dezembro passado. “A reitoria está ciente dos nossos problemas, tem tentado ajudar. As coisas estão se movimentando”, reconhece a estudante Dayanne Dias, de Artes Plásticas e integrante do Centro Acadêmico da EBA.
É justamente a Belas Artes a unidade que mais sofre com a falta de salas. Com 13 cursos de graduação, o funcionamento depende do apoio de outras unidades. “Temos aulas no NCE, na Letras, no CT, na Politécnica”, conta a diretora, professora Madalena Grimaldi. “Nossas salas estão prontas, mas a elétrica ainda é uma barreira”, lamenta.
Ela reconhece, no entanto, os avanços.“O prédio ficou quase abandonado. Ainda falta muito, mas a gente vê melhorias sendo realizadas hoje que não se viam há décadas”, finaliza.

Patrimônio abandonado

WhatsApp Image 2022 05 20 at 20.22.03 1Foto: Silvana SáUm imenso salão com piso de madeira nobre e sistema de refrigeração central, no segundo andar, ao lado de onde funcionava a biblioteca, dá a dimensão do que significam décadas de abandono. Por anos, o piso, os revestimentos, o telhado e tudo o que havia dentro do espaço ficou ao sabor do clima, sendo estragado pela chuva e pelo sol. Somente no ano passado ficou pronta a nova cobertura do local, hoje um depósito de lixo. A Minerva que ilustra a capa desta edição está esquecida neste espaço.
“Tudo isso aqui ainda será retirado”, garante o professor Wendell Valadares, da FAU. “A nossa prioridade é acabar primeiro com tudo aquilo que possa significar um risco de vida, por isso a fachada é agora a prioridade zero”, declara. O espaço ainda não tem data para ser reformado.

 

 

Museu D. João VI fechado há 6 anos ao público

WhatsApp Image 2022 05 20 at 20.22.03Foto: Estela MagalhãesDesde o incêndio de 2016, o Museu D. João VI, que funciona no 7º andar do prédio, está fechado ao público. O acervo conta com obras raras, móveis históricos, pinturas, esculturas, medalhas, indumentárias de diferentes épocas da nossa história. Funciona, ainda, como arquivo para as produções dos cursos da EBA e como guardião de peças para pesquisa. “Conseguimos atender à parte de ensino e pesquisa da universidade”, conta a professora Benvinda de Jesus, conservadora do Museu. Uma sala de restauro foi montada para recuperar as obras que sofreram danos com a fumaça de 2016 e a poeira acumulada em anos. O trabalho começou na pandemia. “Ganhamos um edital e uma emenda parlamentar. Este é o primeiro grande projeto de intervenção da EBA e do Museu”, comemora. A reabertura ao público deve acontecer até o início do ano que vem.

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