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WhatsApp Image 2022 04 08 at 17.01.28 1DIVULGAÇÃO COPPEO professor Edson Watanabe, do Programa de Engenharia Elétrica da Coppe, nasceu e viveu sua infância em um sítio no interior do estado do Rio de Janeiro. Miguel Pereira acolheu seus pais, que chegaram do Japão ainda crianças, viveram em vários locais Brasil afora e escolheram o município fluminense para constituírem a família. Segundo de seis irmãos, o docente conta que teve sua curiosidade científica inspirada pelo pai. “Ele estudou formalmente só até a primeira série, mas era um autodidata”, relembra. “Muita gente achava que meu pai tinha cursado uma universidade, porque ele estudava sobre genética e vários outros assuntos. Sua curiosidade o levou a deixar de ser um plantador de tomates para ser um desenvolvedor de sementes geneticamente modificadas, com plantas resistentes a várias doenças mais comuns do tomateiro”, conta o professor. “Tornou-se um dos mais importantes fornecedores de sementes de tomate e, depois, de pimentão do país”, recorda Watanabe, emocionado. Essas memórias em breve farão parte de um livro. Mas, por enquanto, é o filho orgulhoso de suas origens quem escreve seu nome na história. Watanabe é o primeiro pesquisador de fora do Japão a receber o prêmio One Step on Electro Technology - Looking back, we can see the future, concedido pelo Instituto de Engenheiros Eletricistas daquele país. Watanabe ingressou na UFRJ como estudante em 1971 e, exatamente dez anos depois, assumiu como docente na Coppe. De lá para cá, presenciou muitas transformações. “Mudou muito o espírito do que é a universidade. Antes, era um lugar de passagem. Hoje, é um ambiente onde aparecem as novas ideias. Acho que esse é um bom resumo sobre o que é universidade”. Confira a entrevista.

Jornal da Adufrj: Como foi para o senhor receber este prêmio?
Edson Watanabe: Foi curioso. A cerimônia ocorreu na madrugada do dia 22 de março. Lá era de tarde, mas aqui eram 4h50. Precisei me programar no meio da noite para a cerimônia, que foi híbrida. Normalmente, prêmios são dados para pessoas, só que esse prêmio pode ser dado para coisas, para fatos e para pessoas ou locais. E ele foi dado basicamente para uma teoria que a gente trabalhou na década de 1980, classificada como “coisa” e “fato”. Como eu colaborei com o colega, professor Hirofumi Akagi, ele e eu recebemos o prêmio.

Essa teoria versa sobre o quê?
Basicamente, a gente começou a trabalhar nessa teoria em 1988. Chama-se Teoria de Potência Reativa Instantânea. Até 1983, existia apenas a teoria de potência que chamamos de convencional, válida para valores médios e circuito monofásico. Em 1983, o professor Akagi publicou um trabalho propondo uma nova teoria de potência instantânea, válida para qualquer instante de tempo e circuito trifásico. Foi chamada de Teoria de Potências Instantâneas ou Teoria pq. Dentro dessa teoria, ele descobriu um novo entendimento para a potência reativa instantânea em circuitos trifásicos, normalmente uma potência que precisa ser compensada para evitar perdas. Com essa teoria, ele descobriu que se a compensação fosse feita com circuitos de eletrônica de potência (conversores), não seriam necessários elementos armazenadores de energia, como era feito até então. Foi uma grande descoberta. Em 1988, ele nos visitou e começamos uma cooperação. Um mestrando meu na época, Maurício Aredes, resolveu usar a teoria em um problema nosso. Não funcionou plenamente. Vimos que a teoria estava incompleta e ela valia apenas para circuitos trifásicos com três condutores (fios) e o nosso sistema é, normalmente, trifásico com quatro condutores (três fases e um neutro). Foi então que Maurício e eu complementamos a teoria. Da cooperação, nasceu o livro Instantaneous Power Theory and Applications to Power Conditioning, lançado em 2007. Com essa teoria, é possível projetar filtros ativos para eliminação de distorções na rede, eliminando interferências, pode-se compensar a potência reativa sem elementos armazenadores de energia, aumentando a eficiência, e ela ajuda a entender e controlar os conversores das fontes renováveis, como solar e eólica, ou mesmo carregadores de baterias de veículo elétrico. Esses conversores são fundamentais para um mundo mais sustentável.

O prêmio também reconheceu as instituições envolvidas na pesquisa?
Há o reconhecimento para as três universidades envolvidas: onde eu e o professor Akagi fizemos doutorado (Instituto de Tecnologia de Tóquio), no primeiro emprego do professor Akagi e onde o visitei (Universidade Tecnológica de Nagaoka) e a UFRJ, onde foram feitas contribuições para a teoria. Eles entendem que essas coisas não saem de uma pessoa só, reconhecem o conjunto. Não é uma conquista pessoal, é coletiva. O “nós” é muito mais forte do que o “eu”.
Fomos nós que recebemos, mas todos colaboraram.

O senhor já ocupou diferentes cargos importantes na universidade e hoje é um dos professores que atuam no Conselho de Representantes da AdUFRJ. Qual a importância desse espaço de organização política?
Eu nunca fui muito político. Mas sempre acho que temos que trabalhar pela universidade, para ajudar a universidade a progredir, para ter um lugar bom para os estudantes virem aprender. Há uma necessidade de voltarmos ao presencial, de estarmos na universidade, porque o espírito de você cursar uma universidade é estudar, debater, encontrar com as pessoas. Há uma série de coisas que você vive e absorve porque está no ambiente. Com a pandemia, estamos com alunos que não sabem o que é a universidade. Mas ainda dá tempo de mostrar como novas ideias aparecem.

Mas essa defesa não é uma atuação política também?
É uma atuação mais sutil, a política universitária me interessa.

Falando em política, perdemos recentemente um dos ícones políticos da UFRJ, o professor Luiz Pinguelli Rosa. Como é lidar com essa perda?
Nós vamos ter que aprender a conviver ou a viver sem a cabeça do Pinguelli. Ele era uma pessoa que estava sempre armada de argumentos para defender a universidade, a Coppe, a dedicação exclusiva. Dessa ideia do professor DE, um dos pioneiros foi o professor Coimbra quando criou a Coppe, mas quem espalhou isso pelo Brasil foi o Pinguelli, quando presidente da AdUFRJ. Ele viajou pelo Brasil e defendeu esse argumento e hoje todas as universidades federais têm professores em dedicação exclusiva. É isso que está fazendo diferença para a pesquisa e para essas instituições. Foi uma das grandes contribuições dele. Ele também sempre manteve sua cabeça de professor, sempre deu aula e dedicava tempo aos alunos. Uma vez, ele foi a uma reunião no TCU (Tribunal de Contas da União), em Brasília. Um dado horário, depois de falar o que era necessário, pediu licença ao ministro do TCU e veio embora. O ministro disse que ele deveria ouvir e ele retrucou: “Tenho que dar aula”. Ele sempre deu prioridade ao aluno. Não só ensinava, ele criava um bom pesquisador, um bom engenheiro, como pais criam filhos.

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