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WhatsApp Image 2021 07 02 at 22.31.45Divulgação/MTSTA vacina já começou a chegar nos braços dos brasileiros, mas os pratos de milhões de pessoas ainda estão vazios. Estudo do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da USP mostra que o Brasil terá este ano 61,1 milhões de pessoas vivendo na pobreza e 19,3 milhões na extrema pobreza. Em 2019, eram 51,9 milhões e 13,9 milhões, respectivamente. Na prática, esse brutal aumento significa fome e falta de moradia.
Na semana passada, 150 famílias ligadas ao Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) ocuparam um prédio do governo do Estado do Rio. A ocupação foi duramente reprimida pela Polícia Militar e, depois de uma negociação entre representantes do MLB e a Secretaria Estadual de Obras, o prédio foi desocupado sob a promessa das autoridades de encontrar um teto para cada uma das famílias. São mulheres, homens e crianças que traduzem o sintoma de um país que testemunha a pobreza aumentar, especialmente depois da pandemia.
Segundo Paula Guedes, coordenadora do MLB no Rio, a ocupação estava programada desde março do ano passado, mas a pandemia adiou os planos. No final de junho, no entanto, a situação econômica dramática da população tornou a ocupação necessária, mesmo diante dos riscos. “Fazer uma ocupação durante a pandemia é arriscado, mas as condições em que a maior parte dessas famílias vive é muito pior. Viver em uma ocupação seria mais seguro”, explicou Paula. Ela garantiu que durante todo o período da ocupação foram tomadas medidas de segurança, com o uso de máscara e a distribuição de itens de higiene.WhatsApp Image 2021 07 02 at 22.33.32Divulgação/MLB
Nos últimos meses, Paula tem visto de perto o aumento da pobreza. “Muitas pessoas perderam o emprego. Trabalhadores informais estão sem trabalho. E todos assistindo ao custo de vida aumentar”, contou. “O ‘Minha casa, Minha Vida’ foi extinto, e o programa que o substituiu exclui famílias que ganham de zero a três salários-mínimos, justamente as mais pobres”, explicou. Para a militante, a ocupação também é uma maneira de pressionar o poder público. “A solução ideal para o problema da moradia é através de programas públicos que garantam não só o teto, mas o acesso ao trabalho, aos estudos, ao lazer. A forma de conseguir isso é através de programas públicos”, defendeu.

REFLEXÃO
“A pobreza e extrema pobreza seguem afetadas pelo elevado desemprego. A pandemia apenas agrava esse quadro, com a redução principalmente do emprego informal, que absorve proporcionalmente mais os mais pobres”, explicou a professora Celia Lessa Kerstenetzky, do Instituto de Economia da UFRJ. Para ela, o crescimento do Produto Interno Bruto no último trimestre — que pôs o PIB brasileiro no patamar de antes da pandemia — não atingiu os mais pobres por ter sido alavancado pelo setor agroexportador, que emprega pouco. E o cenário pode piorar, mesmo se o Brasil entrar em um ciclo de crescimento econômico. “Podemos estar em um cenário de crescimento com aumento de desigualdade, e até aumento da pobreza, se o crescimento não gerar empregos, especialmente empregos de qualidade”, avaliou a professora.
“O que estamos observando é uma recuperação econômica mentirosa. Esse resultado é desconectado de qualquer melhoria em termo de emprego e redução de renda das pessoas. Significa puramente um aumento do lucro dos exportadores”, classificou o economista Daniel Negreiros Conceição, professor do IPPUR-UFRJ.
Para ele, o cenário pode ser mais grave do que o imaginado, uma vez que a queda do PIB no ano passado só não foi pior graças ao auxílio emergencial. E uma política de corte de gastos, como a do ministro da Economia, Paulo Guedes, pode colocar o Brasil em um ciclo de recessão.
Para Daniel, o desemprego será fator importante na crise que se avizinha. o professor diz que há um divórcio entre o desemprego oficial — são 14,8 milhões de desempregados, segundo o IBGE — e essa massa de trabalhadores precarizados ou em desalento (os que não procuram mais por trabalho). “Quando essas pessoas forem para o mercado, seja porque o auxílio emergencial foi extinto ou por desespero, vamos ter uma explosão assustadora”, previu.
O compromisso do governo com a austeridade é, segundo Daniel, um entrave à retomada da economia. “A única forma de evitar isso é se o governo conseguir estancar a pandemia dando um estímulo para que se encerre esse ciclo depressivo iniciado com a ela”, propôs o professor. A pandemia pôs em recessão uma economia que já vinha “capenga”, e o Brasil entrou em um ciclo recessivo. “Para sair disso é preciso dar um estímulo. E um governo que está comprometido com ajuste fiscal a todo custo vai na contramão do que deve ser feito”, defendeu.

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