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painel2Conectados por redes, mas desconectados da vida. A fórmula pode colocar em risco o futuro da humanidade. “Nós sabemos que o mundo de hoje é altamente interconectado. E, ao mesmo tempo, que as pessoas estão desconectadas de seus ecossistemas de apoio”, alerta Sarah Cornell, pesquisadora das Mudanças Climáticas da Universidade de Estocolmo. Cornell está entre os nomes da série internacional de conferências Amanhãs Desejáveis, evento virtual promovido pelo Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, que ocorre até o dia 7 de junho. A programação completa pode ser conferida em https://eventos.ufrj.br/evento/amanhas-desejaveis/.
Sarah Cornell participou do painel “A urgência da mudança social: construção de um futuro sustentável e equitativo na segunda-feira (3). Ela afirma que as ações coletivas humanas estão alterando bruscamente as condições físicas, químicas e biológicas do planeta: “Há um desequilíbrio inédito com o progressivo declínio da natureza selvagem, a intensificação da demanda por um ambiente onde se possa viver e uma mudança climática sem precedentes. Eu não queria ser pessimista, mas a tendência de pico para o clima, para o final deste século, tem paralelo com três milhões de anos atrás”, destacou Sarah. Nesse sentido, o único caminho possível seria a colaboração: “Se abrirmos novos diálogos com diferentes atores podemos ajudar a criar a capacidade de experimentar e inovar para a mudança”.
A visão é compartilhada pelo sociólogo norte-americano Miguel Centeno, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. O segundo convidado do painel avalia que o futuro desejável “é aquele em que o valor agregado é maior que a soma das partes”. O pesquisador considera que o século é marcado por problemas complexos “globais, não mais nacionais” e cita a pandemia da covid-19 como exemplo. Em outra analogia, faz um paralelo com o mercado de segurança: “Nos Estados Unidos, queremos seguro para tudo. Mas se a casa do vizinho pegar fogo, a minha corre risco da mesma maneira”.
Para Centeno, o atual modelo econômico só funciona em capacidade máxima, pressionando constantemente para a redução de custos, sacrificando a mão de obra. “A eficiência é como um elástico, você pode esticar para prender mais coisas, mas há um ponto no qual ele se rompe. O problema do sistema é que ele ignora essa fragilidade”, critica.
A construção do Burj Khalifa — o prédio mais alto do mundo, com 828 metros de altura, localizado em Dubai, nos Emirados Árabes — é mencionada pelo pesquisador como mau exemplo de sustentabilidade. “Imaginem o que não é a fragilidade daquela torre de aço, com o aumento de temperatura. Imaginem a quantidade de energia necessária só para operar aquele sistema de refrigeração”.
Já o historiador francês Mathieu Baudin aponta para a apatia como um dos principais obstáculos para a criação de alternativas inovadoras. “Os ‘colapsólogos’ nos falam de uma maneira muito apelativa. E eles paralisam uma parte da nossa energia que precisaríamos para fazer coisas diferentes”, opina o pesquisador do Institut des Futurs Souhaitables, em Paris. O intelectual aposta na “resistência criativa” para superar práticas cotidianas que levem a um futuro menos “mortífero”. “A arte e a poesia estão aí para isso”, acrescenta.
Baudin fala em “uma ideia de futuro colonizada” pela noção de “falta de tempo” para prospecção. Segundo ele, o fator decisivo é o resgate da vontade por mudanças. “O antônimo de desejo é o desinteresse. E nós estamos em uma sociedade desinteressada, porque não há mais solução. Então, precisamos falar de desejo para ultrapassar o desinteresse”, afirma.

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