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WhatsApp Image 2021 05 07 at 20.34.09“Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro”. A definição do filósofo Leonardo Boff sobre cuidado foi escolhida pelo GT Parentalidade e Equidade de Gênero da UFRJ para ilustrar o novo Guia de Boas Práticas de Apoio à Parentalidade. O documento foi elaborado pelo grupo em abril e é reflexo de um aspecto circunstancial importante, como explica a presidente da AdUFRJ, Eleonora Ziller. “É o reconhecimento da situação de sobrecarga na pandemia, principalmente para as mulheres”, diz a professora.
A AdUFRJ acompanha de perto as ações do grupo, que surgiu a partir da iniciativa de pais, mães e cuidadores do campus Macaé. “Apoiamos e participamos das primeiras negociações com a reitoria. Divulgamos o guia para os sindicalizados e estamos à disposição do GT para qualquer demanda”, conta Eleonora.
No mês em que se celebra o Dia das Mães, o cenário é de desesperança para aquelas que estão há mais de um ano assumindo o cuidado integral dentro de casa. De acordo com a pesquisa “Saúde mental de mulheres com filhos crianças e adolescentes durante a pandemia de covid-19”, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 83,82% das mães sentiram maior sobrecarga em cuidar dos filhos durante a pandemia, 25,18% apresentaram sintomas depressivos, 26,76% tiveram sintomas de ansiedade, 22,63% mostram sintomas de estresse e 39,05%, sintomas de estresse pós-traumáticos.
WhatsApp Image 2021 05 07 at 20.12.18Para a técnica-administrativa e mãe de dois filhos pequenos, Nathalia Machado, as boas práticas sugeridas no guia podem auxiliar no melhor desenvolvimento das atividades diárias. “Necessitamos dessa flexibilidade para conseguirmos atender às demandas do trabalho, junto das demandas da casa e dos filhos, idosos ou pessoas que necessitem diariamente do nosso cuidado”, defende. “Esperamos, com o guia, conseguir despertar a sensibilidade e a empatia das chefias imediatas quanto à cobrança de prazos e tarefas. E contar com o apoio da equipe, quando houver necessidade, para que, no momento da nossa avaliação de desempenho, sejam consideradas as nossas particularidades e toda a sobrecarga que estamos vivenciando neste momento”, afirma Nathalia.
Gizele Martins, fundadora do GT e docente do campus Macaé, acredita que as ações propostas pelo guia não visam a diminuir o trabalho, e sim regularizá-lo em condições mais equânimes. “A ideia é sensibilizar o corpo social para que entenda que não é frescura ou privilégio, e sim uma necessidade de ter condições diferenciadas de avaliação, de trabalho e de horário para que a gente possa seguir produzindo”, explica. A professora ressalta, também, a importância de reconhecer as condições de trabalho desiguais dentro da universidade: “Isso possibilita um diálogo e ações efetivas para que as pessoas trabalhem com mais dignidade, com menos risco de adoecimento físico ou mental. Queremos pessoas mais felizes e saudáveis”.
O Guia de Boas Práticas relaciona os principais pontos da resolução proposta pelo GT de Parentalidade ao Conselho de Ensino de Graduação (CEG), que ainda não foi aprovada, e sugere à comunidade acadêmica orientações para uma melhor condição laboral dos pais, mães e cuidadores. “Por muito tempo, foi muito difícil desenvolver trabalhos relacionados à maternidade e parentalidade dentro da universidade”, lembrou a estudante de graduação Mithaly Corrêa, coordenadora do Núcleo Materna, que pesquisa questões de gênero e maternidade, e propulsora do coletivo de mães da UFRJ. “O guia vem para auxiliar o corpo social em como amenizar as disparidades de gênero dentro da universidade. É composto por sugestões, porque ainda não conseguimos aprovar a resolução especial relacionada aos pais e cuidadores”, conta.
Pesquisadora do tema e integrante do movimento Parent in Science, Gabriela Reznik enxerga muitos desafios no espaço acadêmico para mães e cuidadores. “Os dados do nosso movimento mostram que há uma queda na produtividade das mulheres em cerca de quatro anos após o nascimento dos filhos. Outro impacto diz respeito ao tempo de carreira. Apesar de as mulheres serem maioria nos programas de mestrado e doutorado, essa maioria vai diminuindo conforme elas ascendem na carreira acadêmica.”, reflete.
Na pós-graduação, a sobrecarga com o trabalho de cuidado interfere, segundo Gabriela, na escassez de tempo para as atividades de ensino e de pesquisa, na dificuldade de mobilidade acadêmica, assim como na produtividade científica. “O guia é fruto do trabalho que temos feito no GT para pautar essas questões institucionalmente e permitir que tenhamos melhores condições de estudo, pesquisa e trabalho neste contexto da pandemia”, conclui a pós-graduanda.

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