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Professor Felipe Rosa no ato da UERJ - Fotos: Fernando SouzaAlvo de dois graves ataques no último mês, a Uerj mostrou a sua força em um ato, na última quinta-feira (10), no campus do Maracanã. Apoiado por entidades do setor da educação, entre elas a AdUFRJ, o evento mobilizou a comunidade e pendurou uma enorme faixa na frente do prédio principal da universidade com os dizeres “Vacina no braço, comida no prato! Contra a destruição do serviço público! Fora, Bolsonaro e Mourão”.
De acordo com Frederico Irias, vice-presidente da Asduerj, Associação de Docentes da Uerj, o ato foi uma resposta a um ataque do deputado estadual bolsonarista Anderson Moares (PSL). No dia 19, o parlamentar arrancou uma faixa com os mesmo dizeres da faixa recolocada no ato de quinta-feira.
Menos de uma semana depois, o deputado protocolou o projeto de lei, inconstitucional, que propunha acabar com a Uerj e remanejar seus alunos para universidades privadas.
“A Uerj é uma das universidades mais populares do Brasil. Foi pioneira na aprovação das cotas e quase 40% do nosso corpo discente vem das favelas”, explicou. Frederico mencionou ainda outros dois deputados estaduais bolsonaristas que atacaram a universidade, Rodrigo Amorim e Alexandre Knoploch (ambos do PSL). “Há uma mudança sensível por parte da sociedade, que está compreendendo que esses caras são violentos, e que esses atos precisam ser freados”, analisou.
O professor Felipe Rosa, vice-presidente da AdUFRJ, esteve na Uerj, defendeu a universidade pública e criticou o projeto de destruição do governo Bolsonaro. “Estamos vivendo um ataque sem precedentes ao ensino superior em todas as esferas”, denunciou. Felipe também ressaltou a importância de ocupar as ruas no enfrentamento ao governo. “Temos que ir para as ruas no dia 19 de junho, como fomos no dia 29, para defender a educação e a vida”.
Todos os professores que trabalham expostos a agentes nocivos à saúde sem receber os adicionais a que têm direito estão convidados a preencher um formulário eletrônico criado pela AdUFRJ. A expectativa é que, de posse das informações, o sindicato consiga avançar nas negociações com a reitoria para a concessão dos benefícios de insalubridade, periculosidade e de radiação.
O formulário, disponível em bit.ly/direitoaoadicional, pode ser preenchido até o dia 25.
O docente deve informar o nome, unidade, matrícula SIAPE, número do processo administrativo em que solicita o adicional (se houver) e se ainda trabalha submetido a algum agente prejudicial à saúde.
“Nas últimas reuniões, a reitoria pediu um detalhamento que não havia no nosso questionário eletrônico inicial, do fim do ano passado”, esclarece Pedro Lagerblad, diretor da AdUFRJ e professor do Instituto de Bioquímica Médica.
Os casos informados podem ter diferentes desdobramentos, individuais ou coletivos. “No melhor cenário, podemos resolver tudo administrativamente. Ou podemos ter que resolver tudo judicialmente. Ou algo intermediário, de alguns resolvidos administrativamente e outros, via Justiça”, afirma Pedro.
Para informar o número do processo, o sindicato recomenda que todos os docentes prejudicados mantenham um pedido formal no sistema da reitoria. Pode ser um recurso, quando há discordância quanto ao resultado do parecer da equipe da pró-reitoria de Pessoal, ou uma solicitação nova. Pedro acredita que, diante das dificuldades burocráticas dos últimos anos, muitos professores podem ter desistido dos processos.
Em paralelo ao formulário, a AdUFRJ encaminhou um novo ofício à reitoria. “Estamos reforçando os nossos argumentos com anexos de decisões judiciais favoráveis em casos semelhantes. E estamos incluindo uma lista de professores com dados que já conseguimos reunir”, afirma a assessora jurídica Ana Luísa Palmisciano.
CENA DE ABERTURA DE ‘1900’. Pintura : “O Quarto Estado” - Giuseppe Pellizza da Volpedo (1868-1901)“Não há outro inferno para o homem além da estupidez ou da maldade dos seus semelhantes”. A constatação do Marquês de Sade, na França do século XVIII, reflete o pensamento antifascista presente nas obras cinematográficas italianas do fim do último século, analisadas no CineAdUFRJ da quinta-feira, 27, com o tema “Entendendo o fascismo”. A iniciativa é uma parceria entre a AdUFRJ e o Grupo de Educação Multimídia (GEM), da Faculdade de Letras.
Os filmes escolhidos para o debate foram “1900”, de Bertolucci, “Um dia muito especial”, de Ettore Escola, e “Saló”, de Pasolini. Os três tratam da questão do fascismo na Itália num momento próximo aos anos áureos de Mussolini. “Se abre nesse miolo um espaço que se começa a repercutir o fascismo através de uma releitura de época”, afirmou Ricardo Cota, jornalista, crítico e escritor convidado pelo CineAdUFRJ para refletir tecnicamente as obras. “É uma década extremamente rica (os 70), e nasce um cinema que já foi chamado de político e hoje algumas pessoas qualificam como de urgência”, relembrou Cota.
“Essa dimensão de cinema, democracia e liberdade não enquanto substantivo, mas o cinema enquanto condição de liberdade foi muito importante na história dos anos 70/80”, lembrou o professor e historiador da UFRJ, Francisco Carlos Teixeira, um dos maiores estudiosos brasileiros das Forças Armadas, e convidado pelo CineAdUFRJ para analisar as relações entre o fascismo e a cena política brasileira contemporânea.
“O filme “1900”, do cineasta Bernardo Bertolucci, é uma epopeia com uma visão macropolítica, abrangente, e os outros dois filmes refletem a micropolítica que acontecem nas franjas da história”, explicou Cota. “Já “Um dia muito especial” se passa num momento em que vai haver uma marcha fascista e os dois personagens, Antonieto e Gabriele, vão se encontrar no condomínio que vivem, com as suas limitações diante das imposições do fascismo não só na politica, mas na sexualidade também”, contou.
Antonieta é a mama italiana, a loba que sustenta. Já no filme de Saló, há um aspecto muito curioso, segundo Cota. “É um filme que na apresentação dos créditos recomenda a leitura de alguns livros. O filme provoca esse diálogo com a literatura. Se passa com as mulheres narrando histórias num ambiente altamente sofisticado, de elite, com acompanhamento musical”, refletiu.
‘UM DIA MUITO ESPECIAL’: o fascismo no cotidiano O cinema produzido na Itália dos anos 70 universalizou a experiência histórica italiana, e permite a compreensão de outras manifestações neofascistas. Para o jornalista, os cineclubes tiveram uma função de combate na ditadura militar brasileira muito grande. “Havia muitos sindicatos com cineclubes, escolas, levando esses filmes que não estavam no circuito comercial. Essa junção desses três filmes é muito especial”, avaliou.
Para Francisco Teixeira, que participou do movimento cineclubista durante a Ditadura, o cinema foi muito importante na história da resistência e da democratização do Brasil. “A gente não podia se reunir, as reuniões estavam proibidas para mais de 100 pessoas. Esse movimento de cineclubes foi uma forma de reunir pessoas”, explicou. Ele interpreta o fascismo a partir de um conceito criado por Umberto Eco, chamado “Uhr Fascismo”. “Uhr significa aquilo que vem da coisa mais antiga, que vem de dentro e de cada pessoa. Mostra que o fascismo é uma coisa que está entranhada nas coisas e num tipo de pessoa, e que não é histórico”, analisou. “É interessante um historiador falando que o fascismo não é histórico. Ele está no tempo presente. Eu diria que ele não está nos anos 20, 30, 70, ele está neste tempo que é presente, e que é reproduzido o tempo todo”, refletiu.
Para o historiador, o fascismo está no medo das pessoas em encarar o outro como diverso, como possível, alternativo. Como diferente dele. “Ele está nessa possibilidade em que você mata o humano, que destrói a diversidade, acaba com a floresta. Isso é o que Umberto Eco nos diz e que está presente nesses filmes. O fascismo é uma fala do tempo presente”, concluiu.
A presidente da AdUFRJ, Eleonora Ziller, também acompanhou o debate e lembrou que participou dos cineclubes, quando ainda era adolescente. “Entre 78 e 80 eu não tinha 18 anos, então a chance de eu assistir a esses filmes eram os cineclubes, porque eram lugares de menos controle”, lembrou carinhosamente. “Esses são filmes que marcaram profundamente uma geração, em termos de consciência democrática, percepção crítica sobre a história do fascismo e do movimento operário”, opinou. Eleonora nutre uma verdadeira paixão pelo cinema italiano dessa época. “Considero o mais rico do mundo. É muita diversidade e potência estética”, contou.
“Precisamos fortalecer os nossos sindicatos, pois nos dias de hoje são os nossos escudos protetores”, afirmou a presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller, durante um debate virtual organizado pelo sindicato dos docentes federais de São Carlos, Araras e Sorocaba (Adufscar), no último dia 10.
Eleonora destacou que a tarefa é urgente, não só para defender os direitos dos professores, mas as próprias universidades. “As reitorias estão fragilizadas. A Andifes (associação de reitores) hoje conta com um número grande de reitores que foram colocados lá com a missão de desestabilizar as universidades”, observou, em referência à intervenção do governo no processo eleitoral de muitas instituições.
Além dos ataques à autonomia, a presidente da AdUFRJ acrescentou que as universidades ainda precisam enfrentar drásticos cortes orçamentários e a ameaça de uma reforma administrativa que pode destruir os serviços públicos.
Para fazer frente a tantos desafios, Eleonora entende ser prioritária uma aproximação entre a direção do sindicato nacional dos docentes, o Andes — ao qual a AdUFRJ é filiada — e os anseios da maioria dos professores. “Precisamos acolher todos os professores; não só aquela parcela da vanguarda que milita no movimento sindical”.
Ao contrário de outras categorias que encolheram com as transformações do mundo do trabalho, como os bancários, e ficaram com menos sindicalizados, houve um aumento significativo do número de docentes. “Mas essa entrada de novos professores não foi acompanhada de uma transformação dos sindicatos. Temos essa responsabilidade”, disse.
O presidente do sindicato dos professores federais da Bahia (APUB) — que é filiado ao Proifes-Federação —, Emanuel Lins, reforçou as preocupações com todos os ataques do governo Bolsonaro e também defendeu a unidade na resistência. “Queria saudar a professora Eleonora. Embora estejamos em entidades nacionais distintas, temos conseguido fazer ações juntos. Isso é importante. Identificar as nossas diferenças, mas valorizar os nossos consensos, especialmente neste período”, disse.
Emanuel acredita que o modelo em que o Proifes se organiza, com sindicatos pela base filiados a uma federação (Proifes), facilita o diálogo com os professores. “O fato de ser um sindicato de base tem uma inclinação maior a estar mais próximo das pautas próprias do movimento docente”, afirmou. “O movimento docente precisa estar, claro, inserido nas lutas gerais. E a Federação, como entidade nacional, garante que este debate seja padronizado”, completa.
Ouvir todos os professores também é uma preocupação do presidente da APUB. “Não dá para a gente falar só para um grupo seleto de militantes. Seria burrice não ouvir tanta gente qualificada”, observou.
OBSERVATÓRIO DO CONHECIMENTO
Eleonora destacou que a AdUFRJ mantém diálogo com associações e sindicatos docentes — entre elas, a APUB —não filiados ao Andes, via Observatório do Conhecimento. “Temos uma experiência em comum, o Observatório do Conhecimento, que trabalha na proteção daquilo que é mais caro para a vida universitária, que é a produção do conhecimento, a liberdade do pensamento”, disse. “Precisamos de uma grande frente em defesa da vida. Todos são bem-vindos”.
A inovação e o empreendedorismo ganharam mais reconhecimento institucional com a regulamentação das atividades pelo Conselho Universitário na sessão do dia 27. A resolução abrange tanto a inovação de produtos (bens e serviços), processos, organizacional e marketing quanto a inovação social e economia solidária. E não se restringe às áreas de saúde, ciência e tecnologia, incluindo também as humanidades e ciências sociais aplicadas.
“Esse documento não inaugura nenhum debate de inovação na UFRJ. Essa universidade vem fazendo inovação há muito tempo. Ela se organizou naturalmente em estruturas como o Parque Tecnológico, a Incubadora de empresas, Incubadora Tecnológica de cooperativas populares, Agências de inovação e mais recentemente na criação de diversos agentes promotores de inovação”, destacou a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, Denise Freire. “Nas humanidades, as inovações vêm contribuindo para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU”, acrescentou a pró-reitora.
As diretrizes apresentadas pela PR2, depois de um ano de trabalho, receberam parecer favorável unânime da Comissão de Legislação e Normas e foram aprovadas por 43 votos favoráveis e apenas duas abstenções. “A proposta reconhece a UFRJ como uma instituição do Estado, toma como referência a ideia de desenvolvimento inclusivo e sustentável e se encontra alinhada com a discussão de política industrial tecnológica que temos no país. É totalmente pertinente”, avaliou o professor Adriano Proença. Para o docente da Escola Politécnica, uma concepção de inovação tecnológica “não estritamente de hardware e software, mas também de modelos organizacionais e de negócios” está entre as principais lacunas do Brasil atual.
A diretora do campus UFRJ Duque de Caxias, Juliany Rodrigues, compartilhou a mesma opinião: “Os nossos alunos pedem inovação e empreendedorismo desde o primeiro dia em que pisam nas universidades, porque eles não querem mais ser empregados da Petrobras ou da Shell. Eles querem ter suas próprias empresas. Eles querem ter a possibilidade de desenvolver suas próprias ideias”, afirmou durante o Consuni.
O texto aprovado pelos conselheiros indica ainda uma estrutura de produção de inovação descentralizada, a partir dos Centros e das unidades. “Com essa resolução, nós abrimos um novo caminho para a UFRJ. Ela organiza o que já tínhamos e prepara a universidade para voar voos mais robustos”, celebrou o professor Francisco Esteves.