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Foto: Alessandro CostaJúlia FernandesO sábado (8) da Quinta da Boa Vista amanheceu com bolo, adesivo, alegria e muito diálogo com a população. O Comitê de Luta da UFRJ aproveitou o clima descontraído do parque para fazer campanha pela vitória de Lula no segundo turno. “As pessoas vêm aqui para relaxar, com as crianças, com os filhos. Elas vão passando e a gente vai conversando”, relatou a professora Nedir do Espirito Santo, diretora da AdUFRJ.
O aposentado José Rodrigues, que estava passeando pelo local, logo se aproximou da banquinha organizada pelo comitê. “Eu quero um Brasil de saúde, de educação. Um Brasil livre”. Rodrigues falou sobre sua expectativa para o fim do mês, com vitória do candidato petista: “Eu quero que, no dia 30, anunciem que foi eleito o presidente do povo”. Vendedor de algodão-doce, Ronaldo de Jesus concordou. “Tem que voltar ao que era antes, ao normal. A gente vai voltar a comer bem”, afirmou.
Igor VieiraUm ato contra os cortes nas áreas de Educação e Ciência alterou a rotina do horário de almoço do Centro de Ciências da Saúde, na segunda-feira (10). As entidades representativas da UFRJ — AdUFRJ, APG, DCE, Sintufrj e ATTUFRJ — ocuparam as escadarias do CCS para denunciar a crise orçamentária das universidades. Uma situação que não se modificou com o recuo do governo, na semana anterior, ao devolver R$ 328,5 milhões confiscados das instituições. Para modificar este cenário nos próximos anos, a professora Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ, alertou a comunidade sobre a importância de virar votos nesta reta final da eleição. “Converse com essas pessoas que vão votar em Bolsonaro que o que está em jogo é o Estado Brasileiro”. Decano do CCS e há 47 anos na UFRJ, o professor Luiz Eurico Nasciutti disse nunca ter visto a universidade pública sofrer tantos ataques. “Precisamos reagir”.
Como a UFRJ vai orientar o desenvolvimento de todos os seus espaços até 2030? O Conselho Universitário começou a responder a esta pergunta em reunião realizada no dia 13, quando foi apresentada a proposta do próximo Plano Diretor da instituição.
São 248 páginas com diretrizes gerais sobre os mais variados temas — mobilidade, patrimônio, cultura, segurança, entre outros — e planos separados para todos os campi e unidades externas. Mas há diferenças importantes em relação ao documento anterior, o Plano Diretor 2010-2020, elaborado em um contexto de expressivos aportes de recursos e pessoal para a expansão das universidades.
“O Plano de 2020 era um plano de expansão da universidade com pouca preocupação com as questões orçamentárias e com as questões de manutenção da infraestrutura da UFRJ. O Plano Diretor de 2030 tem como foco a manutenção das infraestruturas e campi que sejam ambientalmente corretos”, informou o vice-reitor e presidente da comissão do Plano Diretor, professor Carlos Frederico Leão Rocha.
O dirigente disse que o trabalho de organização das diretrizes atuais já dura desde o final de 2019 e contou com ampla participação do corpo social, com representantes de todos os campi. “Houve uma integração da universidade nesse Plano Diretor”, afirmou. “É um plano que vem de baixo para cima. E não de cima para baixo, como foi o de 2020, do qual eu posso ser considerado um dos culpados também”, completou.
A intenção da reitoria seria aprovar o novo Plano em reunião prevista para o dia 27. Mas vários conselheiros solicitaram mais tempo para discutir a proposta, inclusive passando pelos Conselhos de Centro. “A gente deveria, em vez de deliberar na próxima sessão, fazer uma reflexão mais detida sobre o plano”, observou o decano do CFCH, professor Vantuil Pereira.
A administração central concordou. “Vamos continuar conversando sobre isso. Não temos pressa, mas acho que temos de votar o Plano Diretor ainda este ano”, disse o vice-reitor.
EM DEFESA DA EDUCAÇÃO
O Consuni do dia 13 aprovou, por unanimidade, uma moção da AdUFRJ, APG e DCE contra a instabilidade orçamentária imposta às universidades pelo governo federal. Na semana passada, foram bloqueados R$ 328,5 milhões das instituições. Depois da repercussão negativa da notícia, o MEC recuou. “Na UFRJ, este bloqueio significou cerca de R$ 18 milhões e colocou o orçamento discricionário da Universidade como o menor dos últimos dez anos; e caso tivesse sido mantido, ocasionaria a inadimplência da Universidade nos contratos dos fornecedores”, diz um trecho do documento. A íntegra pode ser lida no site da AdUFRJ.
Ainda na moção, o conselho apoia a convocação das entidades nacionais da Educação de mobilização contra os cortes orçamentários, no próximo dia 18 (veja mais detalhes na página 2). Uma das integrantes da bancada estudantil, Júlia Vilhena pediu a participação de toda a comunidade da UFRJ. “A pauta da educação, com certeza, é uma das mais sensíveis para a sociedade brasileira e uma das que mais pode nos unir pelo ‘Fora, Bolsonaro’. É imprescindível que o dia 18 seja um dia de mobilização da nossa universidade como um todo”, disse.
ASSÉDIO
No início da sessão, representantes do DCE Mário Prata afirmaram que alunas, técnicas e professoras estão denunciando muitos casos de assédio moral e sexual na UFRJ. As estudantes cobraram respostas da reitoria. “O Estado não tem políticas, aparelhos públicos suficientes que combatam a violência de gênero. E na UFRJ não é diferente”, disse Rafaela Luz.
Superintendente da pró-reitoria de Pessoal (PR-4), Karla Simas respondeu que há três seções disponíveis para acolher essas denúncias, além da ouvidoria: a Divisão Administrativa das Comissões, que trata dos processos disciplinares; a Seção de Atenção às Relações de Trabalho e a Seção de Atenção Psicossocial. “Mas toda a pró-reitoria de Pessoal está orientada a receber essas denúncias. E direcionamos para quem pode tratar dos casos com mais competência”, afirmou. “É preciso registrar. Tem que chegar até a gente”.
A reitora Denise Pires de Carvalho acrescentou ter organizado um grupo de trabalho para elaborar uma resolução sobre direitos humanos e Combate às violências, com a participação da bancada discente. “Esta resolução está em análise e virá ao Conselho Universitário em breve”, informou.
Um vídeo de apenas 20 segundos encheu de orgulho a comunidade da UFRJ esta semana. Enquanto a comitiva de Lula percorria o Complexo do Alemão na quarta-feira (12), o produtor artístico Geyson Barão captou o momento em que duas moradoras sacudiram camisas com a sigla da universidade em suas janelas. Em uma delas, a palavra “Engenharia” pode ser lida com clareza (veja nas imagens abaixo). Na véspera, Lula havia feito campanha em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, ao lado do prefeito Waguinho.
O episódio do Alemão repercutiu no Conselho Universitário do dia 14. “Sem dúvida nenhuma, essa é a comprovação da importância das políticas públicas que levaram à democratização do acesso (às universidades)”, afirmou a reitora Denise Pires de Carvalho. “Acordei hoje muito emocionada. Vamos seguir apoiando sempre a democratização do acesso e a democracia no nosso país”, completou.


Igor VieiraNo primeiro turno, 20 dos 49 candidatos que assinaram o Pacto pelo Conhecimento foram eleitos. São representantes de sete estados, que conquistaram uma cadeira no Senado, 11 na Câmara dos Deputados e oito nas assembleias legislativas. O Pacto é um compromisso proposto a candidatos de diferentes espectros ideológicos — mas que defendem a Ciência — pelo Observatório do Conhecimento, rede de associações e sindicatos de docentes que tem como princípio a defesa do investimento em Ciência e Educação.
No Rio de Janeiro, foram eleitos quatro signatários: Chico Alencar como deputado federal pelo PSOL, e Dani Balbi (PCdoB), Marina do MST (PT) e Renata Souza (PSOL) como deputadas estaduais.
A vice-presidente da AdUFRJ e coordenadora do Observatório do Conhecimento, Mayra Goulart, avaliou que o total de eleitos ficou “aquém do esperado, mas com conquistas importantes” e que a adesão ao Pacto ainda pode ser feita: “Vamos nos comunicar com políticos simpáticos ao tema para aderir à causa”. Quanto aos signatários eleitos, Mayra disse que o trabalho não acaba com a eleição: “Vamos continuar o relacionamento com os deputados por toda a legislatura, e teremos uma agenda do Observatório em Brasília na primeira semana de novembro. Os parlamentares devem atuar articuladamente, junto com movimentos sociais, como o MST, e organizações da sociedade civil a favor da educação”.
A senadora Teresa Leitão (PT-PE) e a deputada estadual Renata Souza (PSOL-RJ) avaliaram os desafios a enfrentar ainda este ano e o que deve ser feito pela educação a partir de 2023, em um possível e desejado governo Lula. “Bolsonaro vai ter ainda dois meses de gestão. Se não tivermos movimentos bem fortes, não sei como ele vai entregar as universidades, o orçamento está muito reduzido. Há muita insegurança institucional, não sabemos o que ele vai fazer se perder, o horizonte é muito incerto”, analisou a senadora pernambucana.
Teresa Leitão também lembrou que o Plano Nacional de Educação (PNE) precisa ser resgatado: “Vamos tentar desengavetar o PNE, que é uma lei assinada no governo Dilma, com debates em praticamente todos os municípios, da creche ao ensino superior. Logo, com uma legitimidade imensa”. A lei tem vigência de 2014 a 2024, mas ainda há muitas metas em aberto, que não foram cumpridas no governo Bolsonaro.
A deputada Renata Souza defendeu que o Parlamento debata a adoção de instrumentos emergenciais para garantir as verbas da Educação e da Ciência para 2023. “O que vemos é uma tentativa de inviabilizar o conhecimento enquanto forma de garantir não só o sustento daqueles que produzem conhecimento, mas também de inviabilizar um Brasil que seja autossuficiente em Ciência e Tecnologia”, disse a parlamentar reeleita.