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Para os adultos, a folia da ciência já é tradicional e acontece todo ano em volta da mesa de bares, com pesquisadores das mais diversas áreas debatendo temas nada boêmios. É o Pint of Science, encontro mundial de divulgação científica em espaços não ortodoxos. Por conta da pandemia, o evento aconteceu de modo on line pela segunda vez em 67 cidades brasileiras e 30 países. Além das conversas com os adultos, a turma resolveu ampliar a clientela e criou, no ano passado, uma versão kids – o Pint of Milk. O evento deste ano foi dividido entre os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Pará. A equipe do Rio organizou o “Pint of… Perguntas!” na tarde da última segunda-feira, 17, com ativa participação de crianças com idades entre três e 12 anos, todas muito curiosas sobre os mistérios da ciência.
O cardápio temático foi o mais variado possível e reuniu cientistas para responder perguntas intrigantes dos pequenos aprendizes. Teve o professor e escritor Daniel Munduruku, do povo indígena Munduruku do Pará, a virologista Yuli Maia, doutoranda em Biologia Celular e Molecular da Fiocruz, e o astrofísico João Torres, professor do Instituto de Física da UFRJ. A apresentação e mediação foi da contadora de histórias Carol Passarinha, personagem interpretada por Carolina Gigliotti, mestre em Física pela UFRJ.
O evento foi transmitido pelo canal do Youtube Cenabio Extensão, do Centro Nacional de Biologia Estrutural e Bioimagem da UFRJ. Você pode conferir o evento na íntegra aqui: https://youtu.be/qzH9slxQlcI. A seguir, algumas das perguntas que espelham a esperança de que essas crianças criarão um mundo melhor.
Sara, 8 anos - Os remédios que os indígenas usam são os mesmos dos hospitais?
Daniel Munduruku - Na verdade, o que acontece é um pouquinho diferente e, às vezes, ao contrário. Muitos dos medicamentos das cidades são extraídos dos conhecimentos que vêm da floresta. A cidade, por conta do progresso, foi desenvolvendo formas mais rápidas de criar esses medicamentos todos, porque a população é maior e é necessário ter grande quantidade de remédios. Já nas aldeias, a nossa farmácia é a floresta. E lá nós temos os nossos médicos, que chamamos de pajés. Os pajés são grandes conhecedores da medicina indígena. Eles são os responsáveis pela cura das nossas doenças. Os remédios estão na floresta e o pajé é um grande sabedor das propriedades de cada planta. Grande parte das coisas que curam nosso corpo está na natureza em formato de plantas, de ervas, de raízes. Tudo isso é feito dentro de uma tecnologia que é própria nossa. Quando os cientistas da cidade começam a pesquisar esses remédios, eles descobrem as suas propriedades e sintetizam, transformando em comprimido, xarope, cremes de mãos, de rosto. Muitos deles são feitos com base nos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas. Hoje em dia, muitos remédios que os indígenas usam vêm das farmácias, porque às vezes a doença tem mais urgência e precisa de um tratamento mais rápido.
Maria Carolina, 7 anos - Vão existir máquinas do tempo no futuro?
João Torres – Essa pergunta envolve o tempo. Hoje, nós sabemos que o tempo não é tão simples quanto as pessoas pensam. O tempo é um pouco mais complicado. Vamos supor que você tenha uma irmã gêmea. Ela é astronauta, pega uma nave espacial e sai pelo espaço. Fica cinco anos fora e quando volta, ela vê que você está diferente dela. Quem fica na Terra vai envelhecer mais e quem andou pelo espaço vai envelhecer menos. Viajar para o passado é meio complicado. Vamos imaginar que a sua irmã gêmea vá para o tempo dos dinossauros. Ela sai da máquina e a sua irmã morre lá no passado. Olha o problema: ela morreu antes de nascer. Então, isso não pode. Por isso, os cientistas exigem que exista uma coisa chamada causalidade. Quer dizer que tudo o que acontece mais na frente, no tempo, foi causado lá atrás. Se eu solto um copo, ele cai no chão e quebra, ele quebrou porque eu o soltei. Ele não pode quebrar antes de eu soltá-lo. Isso é a causalidade. Mas isso são teorias muito interessantes porque a gente quer saber se a Física permite essas coisas. Então, do ponto de vista da aplicação, de construir uma máquina, eu diria que isso não vai acontecer.
Marina, 3 anos – Quando as crianças vão ter uma vacina para o corona?
Yuli Maia – Lembra que eu falei mais cedo que a vacina é dividida em várias etapas de testes? Então, durante aquelas fases, os cientistas testam a vacina no grupo alvo, que é o grupo que vai receber aquele imunizante. A covid-19 é uma doença que tem enormes riscos para os idosos e para adultos com comorbidades. As crianças e os adolescentes são afetados, claro, mas em proporção bem menor. Então, por conta disso, inicialmente os testes clínicos não focaram na faixa etária de vocês. Eles buscaram idosos e pessoas que tinham alguma comorbidade. Mas, isso já mudou. Todas as vacinas existentes para a covid-19 estão entrando em protocolos para avaliar se a vacina é segura para vocês. Vocês ainda não podem tomar porque não se sabe se ela é segura. A vacina da Pfizer já foi aprovada nos Estados Unidos para ser aplicada em adolescentes de 12 a 15 anos, mas eles ainda estão testando em crianças de 5 a 12 anos. Aqui no Brasil ainda não há aprovação para menores de 18 anos, mas tudo indica que seja só uma questão de tempo mesmo. Com o andar da vacinação no Brasil, espera-se que vocês sejam vacinados no ano que vem. Até lá, a gente continua com distanciamento social, com uso de máscara, lavando as mãos com água e sabão e usando álcool em gel.
“Com tiranos não combinam/ Brasileiros, brasileiros corações”. Os versos do Hino 2 de julho, que marca a independência baiana, deu o tom ao ato “Educação contra a Barbárie”, organizado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) na terça-feira (18). Dividida em seis blocos temáticos, a manifestação virtual foi assistida ao vivo por mais de cinco mil pessoas e, até o fechamento desta edição, obteve 62 mil acessos no canal da TV UFBA no Youtube. O orçamento da universidade foi trazido a público, mostrando as dificuldades para continuar o ano letivo de 2021, e a impossibilidade de produzir Ciência nessas condições.
“Tivemos o orçamento reduzido, cortado. Recuamos para 2010, quando tínhamos 15 mil estudantes a menos. A situação é aterradora, muito grave, e agora com um agravante ainda mais delicado. Vivemos essa situação em plena pandemia, são centenas de milhares de mortos”, afirmou o reitor da universidade, João Carlos Salles. A autonomia universitária, a assistência estudantil e a situação das universidades públicas brasileiras também foram temas do debate.
Para a professora Eleonora Ziller, presidente da AdUFRJ, o ato teve uma característica muito forte por ter sido conduzido pela instituição universitária, com o apoio de entidades como a APUB, o Andes e a Proifes. “O que estamos vivendo hoje com o atual governo é o ataque à universidade como instituição. Eles desmoralizam e ridicularizam a universidade pública, tentam colocar a população contra a Ciência”, opinou. A produção do ato também foi elogiada pela professora. “As danças e músicas, a arte no tapume. Estamos num momento de luto, de dor, mas também de enfrentamento a esse governo que nega a Ciência. Dentro desse cenário, a UFBA entra com um elemento fundamental de cultura e arte, que também faz parte da vida universitária”, comentou.
Artista plástico e professor da Escola de Belas Artes da UFBA, Roddolfo Carvalho protagonizou a única ação não virtual proposta pela reitoria. Na segunda-feira (17), ele e o colega de profissão, Cristiano Piton, fizeram uma intervenção artística sobre o tapume que cerca a reitoria da UFBA após o convite da diretora da Escola de Belas Artes, Nanci Novais. “Uma das coisas que discutimos foi a segurança dos artistas, porque foi uma atividade na rua. Como já tomei a vacina, me ofereci para fazer, e chamamos o professor Cristiano para construir o projeto”, contou Roddolfo.
A ideia principal da intervenção foi a da afetividade. “Vivemos tempos tenebrosos, difíceis, em que temos a banalização da morte. Esquecemos, dessa maneira, que são pessoas, cada um é o amor de alguém. Praticamente 450 mil pessoas se foram, precisamos restaurar o amor na sociedade”, explicou. “Tínhamos a oportunidade de homenagear as pessoas que estão lutando contra a covid-19. Tem um ponto de ônibus em frente à reitoria, e nada melhor do que passar uma mensagem de positividade para essas pessoas que estão na correria para conseguir o ganha-pão”, afirmou o artista. A frase escolhida foi: A UFBA homenageia quem luta pela vida contra a covid.
O ato do dia 18 priorizou os ambientes digitais na sua execução. Numa pandemia que já levou tanta gente, aglomerações vão totalmente de encontro com o que a Ciência e a razão recomendam. Para Ivana Bentes, pró-reitora de Extensão e pesquisadora da cultura digital, os ambientes virtuais se tornaram vitais para o grupo que respeita as recomendações sanitárias. “Esse ativismo virtual dá a possibilidade de uma troca mais qualificada, já que não temos mais os espaços de sala de aula e troca. Temos que aprender a usar isso, pois, na relação da democracia com as redes, não podemos reduzir as experiências a nossas ações. É a virtualização da vida tanto para o melhor quanto para o pior”, opinou. Ivana acredita não haver oposição nem exclusão entre as redes e as ruas. “Esses ambientes híbridos vieram para ficar, até pela possibilidade da participação de pessoas do Brasil ou do mundo inteiro numa iniciativa”, disse. “As redes constroem novas ruas, novas formas de impactar o território e a cidade, a política, o ativismo. É claro que não substitui a rua. A gente evolui com essas experiências, até para saber se há mais interação ou menos”, completou.
Medir o engajamento é uma das maneiras de entender a participação virtual. “As pessoas que participaram do chat, as trocas que foram feitas após, a repercussão nas mídias, e os views são maneiras de medir o quanto aquele conteúdo não morreu na hora que foi feito”, explicou a pró-reitora. “A gente precisa qualificar a interação virtual, ela pode se desdobrar e não acabar ali. Não pode ser desqualificado como ativismo de sofá, porque temos níveis de envolvimento com aquela participação virtual, assim como temos na sala de aula”, afirmou.
Foto: Marco Brandt / HUCFFO ministro da Saúde, o cardiologista Marcelo Queiroga, esteve no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho no dia 15. Durante o encontro com a reitora, professora Denise Pires de Carvalho, e com o diretor do hospital, professor Marcos Freire, Queiroga se comprometeu a manter os repasses para garantir o pagamento de 330 profissionais que atuam no combate à covid. Todos foram contratados por meio de um convênio entre a UFRJ, a Fiocruz e a Prefeitura do Rio. A Rio Saúde, empresa da prefeitura que administra os contratos, chegou a divulgar que encerraria a parceria por falta de repasses do governo federal, estimados em R$ 1,5 milhão por mês.
A visita buscou sensibilizar os gestores de saúde – além do ministro, estava presente o secretário estadual de Saúde, Alexandre Chieppe – sobre o impacto da atuação da UFRJ e do HU no atendimento à população do estado do Rio de Janeiro, principalmente durante a pandemia. Com 320 leitos ativos, o Clementino abriu 46 leitos de enfermaria e 40 de CTI exclusivos para o tratamento da covid-19. “O encontro foi para mostrar as novas instalações do nosso hospital, que está sendo reformado. Hoje, há mais de 300 leitos ativos e queremos chegar a 400 leitos”, contou a reitora Denise. “O ministro se comprometeu a nos ajudar a alcançar esta meta”, afirmou.
Com o compromisso do ministro em relação aos contratados e à abertura de novos leitos, a preocupação se volta para os extraquadros e terceirizados do hospital. Estes dois grupos de profissionais são pagos com recursos do orçamento da UFRJ, bastante encolhido pelos seguidos cortes e contingenciamentos da União. “Só temos cobertura orçamentária assegurada até setembro“, ressaltou o pró-reitor de Finanças, Eduardo Raupp.
ADEUS A ROBERTO MACHADO
O Brasil perdeu, dia 19, o professor Roberto Machado, aos 79 anos. Um dos maiores especialistas do Brasil em Deleuze, Nietzsche e Foucault, Machado se destacou em obras que propuseram o encontro dos pensamentos desses três filósofos. Titular do Departamento de Filosofia do IFCS, o docente fez estágios orientados por Michel Foucault, no Collège de France. No pós-doutorado, atuou sob a supervisão de Gilles Deleuze, na Universidade de Paris 7. A AdUFRJ, assim como toda a comunidade da UFRJ, se entristece com sua partida.
LUTA ANTIMANICOMIAL
A professora Gizele Martins participou de uma roda de conversa virtual promovida pelo Programa de Saúde Mental de Macaé, na terça-feira (18), para celebrar o Dia Nacional de Luta Antimanicomial. A data foi criada há 34 anos, quando ocorreu a Primeira Conferência de Saúde Mental do Brasil. A apresentação da professora Gizele, que é do curso de Enfermagem, se transformou numa carta aberta ao município de Macaé. “Resistência em tempos de distanciamento é reinventar nossas ideias e manter nossos ideais. É mudar a forma, de presencial para virtual, mas o conteúdo é o mesmo: é a luta antimanicomial”, diz trecho.
EM DEFESA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO
A comunidade científica saiu em defesa do professor Conrado Hübner Mendes, da Faculdade de Direito da USP. O docente, que também é colunista da Folha de São Paulo, está sendo intimidado pelo procurador-geral da República, Augusto Aras. Em um tuíte, Conrado chamou Aras de “poste geral da República” por sua atuação na pandemia. O procurador encaminhou à comissão de ética da USP uma representação alegando injúria, calúnia e difamação. A AdUFRJ publicou, no dia 17, nota de repúdio à perseguição sofrida pelo professor.
"SOMOS A AFIRMAÇÃO DA VIDA"
O vereador Reimont (PT/RJ) promoveu uma live em defesa da UFRJ na última quinta-feira (20). As professoras Eleonora Ziller e Ligia Bahia (presidente e ex-vice-presidente da AdUFRJ) participaram do encontro. O Sintufrj foi representado pela servidora Joana de Angelis e os estudantes, por Lucas Azevedo, da ECO. “Nós somos a afirmação da vida, da liberdade de pensamento, da arte, da cultura, de tudo o que nega este governo. Por isso somos tão atacados”, afirmou Eleonora.
CINEADUFRJ DISCUTE FASCISMO
O cinema italiano dos anos 1970 fez um balanço do significado do fascismo na Itália da primeira metade do século XX. Diante dos retrocessos sociais e políticos atuais, o CineAdUFRJ — uma parceira do sindicato com o Grupo de Educação Multimídia da Faculdade de Letras — discute o tema no próximo dia 27, às 18h30. Serão debatedores: Ricardo Costa, jornalista, crítico e escritor; e Francisco Carlos, professor e historiador. Para participar pelo Zoom, acesse: https://bit.ly/2Ephkwp.
No programa AdUFRJ no Rádio desta sexta-feira (21), os professores Eleonora Ziller e Josué Medeiros, diretores do sindicato, avaliam o ato convocado pelo movimento estudantil da UFRJ no dia 14. Os diretores também repercutem os efeitos da asfixia orçamentária, que pode comprometer o funcionamento do Hospital Universitário, e criticam mais uma tentativa de amordaçar a liberdade de pensamento e expressão. Na última semana, o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, enviou uma representação contra o professor Conrado Hübner Mendes à Comissão de Ética da USP, acusando o professor de calúnia e difamação. O programa vai ao ar às 10h, com reprise às 15h.