Os conflitos aconteceram exatamente na semana de provas da UFRJ. Diante do apelo daqueles que não conseguiram chegar ao campus para realizar as avaliações, a reitoria da universidade liberou comunicados informais – em geral no início de cada manhã – com recomendações às unidades para que os professores não aplicassem provas e abonassem eventuais faltas. O problema é que essas notas só foram divulgadas quando muitos alunos e professores já estavam em sala de aula. Outra dificuldade foi a falta de clareza sobre como proceder preventivamente nos dias que seguiram com conflitos.
Diante de tantas incertezas, a diretoria da AdUFRJ entregou uma carta ao reitor cobrando posição assertiva e protocolos em dias de operação policial. No texto, a diretoria aponta a preocupação dos professores que, nos últimos dias, não contaram com orientações claras sobre como proceder durante as operações policiais (veja abaixo).
O documento foi entregue no dia 19 pela vice-presidenta da AdUFRJ, professora Nedir do Espirito Santo, ao reitor Roberto Medronho. Ele se comprometeu a instalar um grupo de trabalho para tratar do tema. As representações estudantis, AdUFRJ e Sintufrj terão assento. “Quero acionar este GT já na próxima semana, com a participação de especialistas em segurança pública de nossa universidade”, garantiu Medronho.
Nedir considerou positiva a resposta da reitoria. “Vai ao encontro de nossas preocupações”, avaliou. “O reitor foi bastante receptivo às reivindicações dos professores”, afirmou a dirigente. “Ao longo do Consuni, outras falas reforçaram a importância do que destacamos no nosso documento”, observou a professora. “Os professores não podem tomar decisões sem o respaldo da administração central”.
SEM DIREITOS
“Foram seis dias muito tensos, de muito medo e crises de ansiedade”, revela Raniery Soares, estudante do oitavo período de Letras. “Há um prejuízo acadêmico inegável”, conta o estudante, morador do Parque Maré. “É bastante cansativo lidar com todo esse contexto social e ainda ter que se desgastar para explicar o óbvio”, lamenta. “Já troquei oito vezes os vidros das janelas aqui de casa, por conta de balas perdidas. Todo mundo tem direito à vida, ao menos deveria ter”.
Além dos estudantes que não puderam chegar à universidade, os serviços na Maré também fecharam as portas. Escolas e postos não funcionaram. “Meus afilhados e seus amiguinhos não tiveram o dia do cabelo maluco, nem a festa de dia das crianças. Nossas crianças não puderam celebrar sua própria infância. Isso é muito cruel”.
O movimento estudantil reivindicou abono de faltas, adiamento das avaliações e garantia de segunda chamada para todos os estudantes. Na página oficial, o DCE informou que, em conversa prévia com a administração central, a reitoria se comprometeu a atender às reivindicações estudantis. A nota oficial da reitoria foi emitida na tarde de 18 de outubro.
Professores do departamento de Ciência da Literatura da Faculdade de Letras também se manifestaram solicitando uma orientação clara sobre os procedimentos em dias de operações policiais.
TEMA NO CONSUNI
A ocupação da Maré dominou a primeira etapa da reunião do Consuni. O professor Afrânio Barbosa, decano do Centro de Letras e Artes, leu documento emitido pelo seu conselho de Centro. “Trago relato sobre preocupação com a falta de um protocolo de ação unificado sobre o ensino remoto no contexto de operação policial. Para o aluno, não adianta um professor decidir pelo remoto e o colega vizinho de horário decidir pelo presencial”, pontuou. “Há dúvidas, ainda, se será garantida às unidades a mudança do calendário, caso queiram suspender as atividades até a normalização da situação”, disse.
O grupo estudantil “A UFRJ é nossa”, de oposição ao DCE, entregou carta aos conselheiros e pressionou a reitoria para a criação de um protocolo de segurança. “Sabemos que esta não é uma situação isolada. Quase diariamente acontecem operações na Maré ou em outras comunidades”, apontou a estudante Sofia Salinos, representante estudantil no Consuni. O grupo reivindicou a instalação de um GT para elaborar um protocolo de segurança. O manifesto foi assinado por 570 estudantes da graduação e da pós-graduação.
Ao Magnífico Reitor
Professor Roberto de
Andrade Medronho
Ao cumprimentarmos respeitosamente Vossa Magnificência, gostaríamos de informar que inúmeros docentes de nossa instituição procuraram nossa representação sindical nos últimos dias com relatos de prejuízos nas suas atividades de ensino, tendo em vista informes liberados de última hora recomendando a não realização de avaliações em dias previamente programados.
Compreendemos toda complexidade dos episódios de violência no Complexo da Maré e em outras comunidades do Rio de Janeiro e sinalizamos nossa preocupação com a vida de alunos, professores e servidores que vivem nessas regiões ou atravessam áreas de conflito no deslocamento para o campus da Cidade Universitária. Igualmente assinalamos nosso compromisso com o processo de ensino-aprendizagem na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Entretanto, consideramos injusto e juridicamente complexo transferir a decisão sobre a execução ou não de atividades didáticas para as mãos dos docentes, através de mensagens que apenas recomendam que atividades devem ser mantidas, ao invés de deliberar, explicitamente, o que deve ser feito. Se a reitoria, baseada nas informações de que dispõe, decide que é inseguro que tenhamos atividades acadêmicas, que tome a decisão de suspendê-las, prorrogando o término do período letivo para não prejudicar o semestre. Se decide que as condições são suficientes para o aumento da segurança, mas não para paralisar as atividades, que também se pronuncie. O que não podemos admitir é que mensagens ambíguas resultem em insegurança jurídica e em um estresse adicional aos nossos docentes e estudantes.
Assim, a AdUFRJ solicita que a reitoria da UFRJ se posicione explicitamente e com antecedência mínima sobre estes acontecimentos e proveja aos docentes instruções administrativas assertivas e necessárias para minimizar o prejuízo aos docentes e alunos de nossa instituição.
Atenciosamente,
Professora Nedir do
Espirito Santo
Vice-Presidente
Biênio 2023-2025
A primeira assembleia da AdUFRJ sob condução da nova diretoria vai debater uma proposta de paralisação das atividades nos dias 7 e 8 de novembro. A reunião está marcada para 1º de novembro, às 10h, em formato híbrido: virtual, pelo Zoom; e presencial, na Sala D-220 do Centro de Tecnologia.
A paralisação foi convocada pelas entidades nacionais da Educação: Andes, Sinasefe e Fasubra. O objetivo é pressionar o governo na negociação das demandas com os servidores.
A recomposição das perdas salariais dos últimos anos, a equiparação de benefícios entre servidores dos diferentes Poderes e o “revogaço” de medidas que prejudicam o funcionalismo são algumas das principais reivindicações.
No dia 7, está marcada uma plenária unificada das categorias do Serviço Público Federal que compõem o Fórum de Entidades Nacionais de Servidores Públicos Federais. O Fonasefe tenta agendar a próxima reunião da Mesa Nacional de Negociação Permanente com o governo para o dia seguinte.
Por se tratar de um tema de interesse de todos os docentes, os não sindicalizados também poderão participar da assembleia do dia 1º e votar.
Para isso, basta preencher o formulário exclusivo em https://bit.ly/naosind, até 15h do dia 31 de outubro.
Já os docentes filiados receberão a cédula de votação no e-mail cadastrado.
A assembleia também vai escolher a delegação do sindicato para o Congresso do Andes, em Fortaleza, entre os dias 26 de fevereiro e 1º de março de 2024. A deliberação com antecedência permitirá à secretaria da AdUFRJ organizar melhor a viagem, conseguindo passagens mais baratas.
FORTALEZA SEDIA CONGRESSO DO ANDES PELA TERCEIRA VEZ
A capital do Ceará será sede de um Congresso do Andes pela terceira vez: a primeira ocorreu em 1983 no II Congresso; a segunda, em 1999, no 18º Congresso.
A organização do evento caberá ao Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará (ADUFC-Sindicato). No documento em que solicitou a realização do Congresso em Fortaleza, o sindicato lembrou a intervenção bolsonarista sofrida na Universidade Federal do Ceará.
Em 2019, o agora ex-reitor Cândido Albuquerque obteve 610 votos, ficando em terceiro lugar na consulta pública para reitor da UFC. Já Custódio Luís Silva de Almeida, conseguiu 7.772 votos. Mesmo com a diferença de votos, Bolsonaro decidiu nomear Cândido.
Na disputa deste ano, o professor Custódio concorreu novamente e venceu “de lavada”: 17.476 votos contra 2.213 votos da professora Elisabeth Daher, candidata do interventor. Custódio, nomeado por Lula, assumiu o cargo em agosto.
Antes do começo do evento, logo na entrada do prédio, os professores receberam uma edição do jornal do sindicato com matérias sobre as precárias condições de infraestrutura do Centro de Ciências da Saúde, do IFCS e do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR). A nova diretoria quer promover a continuidade desta série de reportagens e também cuidar dos processos de progressão ou promoção, mostrando as duplicidades e discrepâncias entre as diferentes unidades. “Nossa proposta é continuar recolhendo essas evidências para entregar um relatório com as principais demandas docentes à reitoria”, disse Mayra.
A direção recém-empossada reafirmou os princípios de uma atuação sindical diferente na universidade. “Este é um movimento docente que não quer deixar ninguém para trás. E que aceita o desafio de congregar excelência e inclusão, mérito e democratização, luta e assistência. Com isso, nos diferenciamos dos extremistas de direita e de esquerda”, afirmou Mayra. “Nossa ação política é responsável e dialógica”.
A tarefa não é nada fácil. Mayra, porém, encerrou o discurso de posse com uma mensagem de esperança: “Nós somos poucos, mas somos bons e sabemos trabalhar. Por isso, vai dar certo”.
BALANÇO
Antes de “passar o bastão”, os ex-diretores Ana Lúcia Fernandes e Ricardo Medronho, além de Mayra e da professora Nedir do Espirito Santo — que seguirá na gestão agora como 1ª vice-presidenta —, apresentaram um breve balanço das ações do mandato e agradeceram a dedicação da equipe de funcionários do sindicato. Atrás da mesa, foram projetadas imagens das muitas atividades realizadas pela AdUFRJ nos últimos dois anos. “Nós trabalhamos bastante, viu?”, brincou Nedir.
REITOR PRESENTE
Representantes de parlamentares e do movimento estudantil, diretores de unidades e do campus Duque de Caxias, decanos, pró-reitores e o reitor Roberto Medronho prestigiaram a solenidade de posse da diretoria e do Conselho de Representantes. “Desejo todo sucesso à diretoria e quero dizer que a reitoria está aberta ao diálogo, não só com a AdUFRJ, mas com todas as entidades representativas da UFRJ”, disse.
BRINDES
Na noite seguinte ao Dia do Mestre, os professores ganharam alguns “mimos” à saída do evento. Foram distribuídos cadernos com a arte da campanha “Respeitar a universidade é valorizar o professor” e canecas com a marca do sindicato.
CONSELHO TAMBÉM EMPOSSADO
Durante a solenidade, também houve a posse dos nomes eleitos para o Conselho de Representantes da AdUFRJ. São 69 docentes de 31 unidades. Entre eles, o professor Ricardo Medronho, da Escola de Química (ao centro). Aqui, ele confraterniza com os colegas Nelson Braga, diretor da Física; Walcy Santos e Maria Fernanda Elbert, da Matemática; e Maria Paula, da História, ex-diretora da AdUFRJ.