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“Estamos sofrendo um corte de quase R$ 500 mil por hora”, afirma Tatiana Roque, presidente da Adufrj. [caption id="attachment_7800" align="alignleft" width="488"] Foto: Fernando Souza[/caption] Quando você terminar de ler este texto, o orçamento da Ciência e das universidades federais terá perdido R$ 8 mil, em apenas um minuto. O sacrifício da pesquisa e da educação superior públicas nos últimos dois anos pode ser acompanhado, desde o dia 22, em um painel eletrônico apelidado de “tesourômetro”. O contador digital, instalado no campus da Praia Vermelha, já ultrapassou a marca de R$ 11 bilhões. “Estamos sofrendo um corte de quase R$ 500 mil por hora”, afirma Tatiana Roque, presidente da Adufrj. A entidade é uma das idealizadoras da campanha Conhecimento Sem Cortes, ao lado das associações de professores da UFMG e da UnB, além do sindicato dos servidores do Instituto Federal do Rio. A iniciativa ainda conta com a parceria do movimento estudantil, do Sintufrj e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, entre outras representações. O avanço do “tesourômetro” pode ser acompanhado também em www.conhecimentosemcortes.com.br. No site, pode ser assinada uma petição contra os cortes na Ciência. O objetivo é entregar o documento ao governo, em audiência pública na capital, até setembro. Leia sobre o debate de lançamento da campanha em https://goo.gl/73WCJc

 

Diversidade ampliada Reserva de vagas para estudantes com deficiência já vale para o segundo semestre letivo As universidades e institutos federais recebem no segundo semestre letivo deste ano as primeiras turmas com vagas reservadas para pessoas com deficiência. A novidade é resultado de uma mudança na lei que estipula cotas para autodeclarados pretos, pardos e indígenas. “É um ganho para a democracia na universidade. Quando estiverem aqui, vamos aprender juntos”, comemora Mônica Pereira dos Santos, da Faculdade de Educação. A professora preside a Plenária do Fórum Permanente UFRJ Acessível e Inclusiva. A instância foi criada pela reitoria, em setembro de 2016, para organizar as políticas institucionais na área. O Decreto 9.034, de 20 de abril de 2017, estabeleceu que a proporção da reserva observe os índices de pessoas com deficiência do último censo do IBGE, em cada estado. O índice é aplicado no número de vagas (50% do total) destinadas a estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas. Uma portaria normativa do MEC, em maio deste ano, determinou os critérios para preenchimento das vagas. Enquanto isso, a universidade corre contra o tempo para se adaptar. “De acordo com a ONU, o maior contingente na população é o das pessoas de baixa visão, seguidas por surdos. E, depois, as com dificuldade de mobilidade. É com isso que estamos trabalhando”, explica Mônica. A aposta da administração é a formação. “Há muita ignorância, no sentido de desconhecimento”, justifica Mônica. “A principal queixa entre as pessoas com deficiência que já estão na UFRJ é o professor que maltrata ou o técnico que ignora”. Ela informa que reuniões de sensibilização com as unidades estão em curso. E um grande seminário será realizado na primeira semana de agosto, quando chegarem as primeiras turmas. A professora observa que a mudança “vai dar trabalho mesmo” e vai exigir aperfeiçoamentos, por exemplo, nas Comissões de Orientação e Acompanhamento Acadêmico (COAAs). Segundo Mônica, “embora algumas universidades tenham feito mais investimentos”, como a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e a Universidade Federal do Ceará (UFC), não há modelos prontos. Para a presidente do Fórum, há seis grandes objetivos em foco. O primeiro é garantir a implantação da reserva de vagas para todos os níveis de educação: “graduação, pós-graduação, Colégio de Aplicação e Escola de Educação Infantil”. Além disso, são metas prioritárias: tornar 100% acessíveis publicações e acervos da universidade, propor reformas de adaptação às instalações, criar um sistema de acompanhamento e atualização de demandas das pessoas com deficiência na UFRJ. Também serão incentivadas pesquisas e inovação em acessibilidade e inclusão. Estrutura distante do desejável No entanto, as limitações de infraestrutura são uma realidade. “Estamos muito distantes do desejável”, explica Regina Cohen (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo). Também integrante da comissão executiva do Fórum, a pesquisadora fez parte da equipe que diagnosticou em 2008 a situação de acessibilidade dos campi da UFRJ. “Assim como a própria cidade do Rio de Janeiro, o que temos na universidade são soluções pontuais”, avalia a arquiteta. “São ilhas de acessibilidade: algumas unidades fazem mais. Outras não fazem nada”. Segundo ela, que é cadeirante, o Escritório Técnico da Universidade busca soluções simples e de baixo custo. A prioridade zero são as vias de acesso às instalações da universidade “O transporte, as rotas, os pontos de ônibus e entradas são fundamentais”, explica. “E as instalações sanitárias, por óbvio”. O MEC já avisou que não vai ajudar. Questionada se haveria algum recurso extraordinário para apoiar a reserva de vagas nas universidades, a assessoria do ministério respondeu: “A novidade em relação à publicação da Lei foi a inclusão das pessoas com deficiência na lei de 2012, o que não acarreta aumento de custo para as instituições”. Mais espaço para diferença A dificuldade de deslocamento na cidade foi exatamente o que trouxe a estudante Rafaela Lucy Silva, que tem baixa visão, à UFRJ. Apesar da matrícula na UERJ, pioneira em políticas afirmativas, a jovem prestou novamente o Enem, já que o campus na Praia Vermelha “tem mais opção de transporte de onde moro”. Rafaela escolheu o Serviço Social inspirada pelas profissionais que conheceu no Instituto Benjamin Constant, onde chegou a estudar. E, por ora, pensa em se dedicar às pessoas com deficiência. Embora também se interesse pelo sistema prisional e saúde mental. Com um ano e meio de vida acadêmica, ela conta que, para fazer as aulas, “as pessoas com deficiência têm que se adaptar”. Ela completa: “Existe boa vontade de funcionários, mas tudo nesse mundo é formatado para as pessoas, entre aspas, normais”, sublinha. Rafaela conta que faz parte da rotina de estudo necessariamente o escaneamento, a digitalização e a conversão em áudio de cada bibliografia. “Só que, às vezes, os professores passam o texto muito em cima da hora, né?”. Os murais também são lembrados como excludentes: “Palestras, estágios, essas coisas são sempre colocadas ali. E a gente depende de alguém ler”. “O ideal era tudo ser digital e enviado por e-mail”, adverte.

Policia Militar força a utilização do campus como base de tiro contra tráfico O pacato campus do Observatório do Valongo da UFRJ, na Ladeira Pedro Antônio, sofre com a crescente violência no centro da cidade. Em 23 de março, o local foi usado pela Polícia Militar como base de tiros durante uma operação contra traficantes do vizinho Morro do Livramento. Como resultado, o prédio principal foi alvejado no fogo cruzado. “Ninguém foi ferido, felizmente”, conta o diretor da unidade, professor Helio Jaques Rocha-Pinto. “Mas foi pura sorte. Uma das marcas de bala na parede está na altura de um tórax”. E ainda teve mais: na mesma tarde da troca de tiros, criminosos foram ao campus ameaçar a comunidade acadêmica. “Falaram que, se deixassem a polícia entrar outra vez, iriam matar todo mundo”, relata Claudia Fortes, técnica-administrativa. Marca de bala na parede no observatório A proposta da unidade é recompor uma mureta nos fundos, protegendo o campus e inviabilizando o uso do local pelos atiradores da PM. O orçamento da obra é de R$ 15 mil. “É um valor pequeno para a UFRJ, mas, para nós, pesa”, justificou o professor Hélio. Segundo ele, o orçamento anual do Valongo gira em torno de R$ 60 mil. Uma reunião com a reitoria foi agendada para 14 de junho. Consultada por e-mail, a Prefeitura Universitária não respondeu sobre o problema com a Polícia Militar. Piorou depois da Copa A primeira vez que a Polícia forçou entrada no campus foi há cerca de um ano, em março de 2016. “Procuravam bandidos”, lembra Hélio. No episódio, houve disparos na rua ao lado do portão, e dois jovens foram baleados; um deles morreu. Desde então, o portão deixou de ficar aberto ao público. Para o professor Wagner Marcolino, o problema do aumento da violência, com traficantes armados de forma ostensiva nas ruas e operações pesadas da PM nas favelas vizinhas e arredores do Valongo, “começou assim que terminou a Copa do Mundo (em 2014)”. “Desde que eu comecei a trabalhar aqui, em 2011, não me lembro de momento igual”, falou em relação à violência. Restrição de horários e circulação A insegurança afetou a rotina dos pós-graduandos que costumavam estender as atividades até meia-noite. Como muitos, Lwidhy Santana procurou adotar medidas de precaução. “Agora estou chegando mais tarde e saindo mais cedo”, relata. Outro pesquisador, o colombiano Luis Angel disse que, em função de tiroteios próximos, já deixou “de sair da sala várias vezes” e foi obrigado a esperar “melhorar” para poder ir embora. “A gente sempre ouve tiros. E sempre muito perto”. Mas o graduando João Gabriel, do turno da manhã, avalia que no Valongo “não tem hora pra tiro, não”. Sua colega Ellen Costa conta que, na semana anterior, a turma  “sentou no chão embaixo da janela”, para se proteger de tiroteio na Sacadura Cabral, rua dos fundos do campus. Segundo outro discente, Matheus Besnini, os estudantes procuram “andar em grupo”. E um grupo virtual de carona foi formado: “Colocamos todo mundo na lista: alunos, professores e funcionários”, conta Camila Freitas. Visitações têm baixa Outra preocupação são as visitações. Desde 2015, o Observatório oferece visitas guiadas durante o dia. E, nas quartas-feiras, observação noturna aberta ao público, incluindo grupos escolares. Daniel Mello, responsável pelas visitações observa uma queda na procura, nos últimos três meses. “Algo me diz que tem a ver com problema de insegurança”, avalia. “A pessoa vê o portão fechado e passa direto”. Ele conta que boa parte das cerca de 50 pessoas por mês visita o Valongo por acaso. “Muitos estão fazendo turismo no Morro da Conceição e entram”, conta. O funcionário também recomena que saiam em grupos do local.

Na próxima quinta-feira, dia 22 de junho, a partir das 18h, cientistas, estudantes, professores, pesquisadores e técnicos têm um encontro marcado na Casa da Ciência para o lançamento da iniciativa de mobilização social Conhecimento Sem Cortes. O objetivo da campanha é denunciar o desmonte das universidades e instituições de pesquisa que vem sendo promovido com as drásticas reduções no orçamento das áreas de ciência, tecnologia e humanidades. “Vamos realizar várias atividades de engajamento e discussão dentro e fora dos muros das universidades para mostrar como os cortes de investimentos afetam de forma negativa os mais diversos setores da sociedade”, diz Tatiana Roque, presidente da Adufrj. A campanha vai dialogar e buscar apoio da população para pressionar o governo federal a garantir condições plenas de funcionamento das instituições de ensino e pesquisa. “Queremos valorizar os frutos dos investimentos em pesquisa, nas suas diversas áreas, e destacar como são essenciais no dia a dia das pessoas, mesmo que muita gente não se dê conta”, completa Tatiana. Os cortes da ordem de 40% anunciados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia afetam diretamente o volume e a qualidade das pesquisas brasileiras. O impacto é ainda maior quando a redução de investimentos em outras pastas ligadas à ciência, como, por exemplo, os cortes na Capes, vinculada ao MEC, é incluída nessa conta. CIÊNCIA AMEAÇADA Durante o evento de lançamento da campanha Conhecimento Sem Cortes, representantes de diferentes instituições farão apresentações sobre os impactos já sentidos na rotina das estruturas de produção de conhecimento. Participarão da mesa: Tatiana Roque, presidente da Seção Sindical dos Docentes da UFRJ (Adufrj-SSind); Helena Nader, presidente da SBPC; Roberto Leher, reitor da UFRJ; Nísia Trindade, presidente da Fiocruz e Jerson Lima Silva, diretor científico da Faperj. Além do Rio de Janeiro, já estão previstas mobilizações da campanha Conhecimento Sem Cortes em Minas Gerais e Brasília e a expectativa é que outros estados sejam envolvidos. Uma das ferramentas de participação é uma petição digital e impressa direcionada ao governo federal, cujo texto exige o pleno funcionamento das universidades, entre outras demandas; a peti- ção será entregue às autoridades, em audiência pública, no mês de setembro, em Brasília. Ajude a reunir milhares de assinaturas, colhendo adesões e divulgando a petição. As folhas assinadas devem ser entregues na sala da Adufrj no prédio do CT, no Fundão. A campanha é realizada pela Adufrj, o Sindicato dos Institutos Federais do Rio de Janeiro (Sintifrj), a Associação dos Professores da UFMG (Apubh) e a Associação dos Docentes da UnB (ADUnB) em parceria com várias organizações que representam pesquisadores, técnicos e estudantes.  

Professor da FGV-SP aponta diretrizes econômicas para Brasil sair da crise Professor da FGV-SP aponta diretrizes econômicas para Brasil sair da crise O economista Luiz Carlos Bresser-Pereira defende a aplicação de um novo desenvolvimentismo para tirar o país da crise. “Tudo o que mais creio na vida é que o liberalismo econômico é incompatível com o desenvolvimento brasileiro”. Foi o que afirmou em seminário realizado na Coppe, dia 6. As diretrizes do modelo foram condensadas no chamado “manifesto do Projeto Brasil Nação”: reforma tributária que torne os impostos progressivos, taxa básica de juros baixa e retomada do investimento público para estimular a economia, entre outros fatores. O documento foi lançado em abril e já conta com mais de 10 mil assinaturas. Vários intelectuais e políticos apoiam o texto. [caption id="attachment_7664" align="alignleft" width="399"] O professor Bresser-Pereira, ao lado do diretor da Coppe, Edson Watanabe -Foto:Divulgação/Coppe[/caption]   Segundo Bresser-Pereira, que é professor emérito da Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo, há 27 anos o Brasil segue a cartilha liberal, que só beneficia o setor financeiro. “Precisamos voltar a ser uma Nação. Estamos numa transição. Não sabemos para onde vamos. Mas certamente estamos muito mal”, disse. Ele criticou o argumento do governo de que basta fazer as reformas para o Brasil entrar nos trilhos. “Entre 1999 e 2010, o país estava com suas contas fiscais absolutamente em ordem, superávits primários perfeitamente de acordo com as demandas do FMI. E, no entanto, onde está o crescimento extraordinário? Faltaram políticas cambial e de juros adequadas”. Sobre a reforma trabalhista, foi ainda mais enfático. Disse que o Brasil já se desenvolveu extraordinariamente com essa mesma legislação (até 1980): “Sempre é possível fazer ajustes, mas não vejo nenhuma prioridade para isso”. Bresser-Pereira afirmou que é importante todos se engajarem na mudança de economia. Deu como exemplo o setor de Ciência e Tecnologia — ele foi ministro da pasta, em 1999: “Se deixarem a política econômica para os economistas liberais, é isso que vai dar. O Brasil não se desenvolve; a tecnologia não avança. Esse é o nosso desafio”, completou.

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