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Depoimentos mostram que sucesso do modelo depende de políticas de assistência estudantil, com oferta de bolsas e apoio acadêmico Caçula de quatro irmãos, Thiago Lopes, de 28 anos, levará para casa este ano o primeiro diploma universitário da família, de engenheiro mecânico. Ele entrou na UFRJ em 2013 pelo Sisu, na última vaga do sistema de cotas, depois de vestibulares malsucedidos. Na UFRJ, ele recebe auxílio de R$ 610, além da bolsa de monitoria. “Sem isso, eu não me formaria”, diz Thiago, que foi um dos melhores alunos da turma. Na semana passada, o boletim da Adufrj mostrou pesquisa do superintendente de Registro e Acesso da UFRJ, Roberto Vieira. Segundo o estudo, a evasão aumentou 20% desde a entrada da UFRJ no Sisu. A evasão primária (quando o aluno é aprovado na primeira chamada, mas não se matricula) chegou a 85% no segundo semestre do ano passado. A falta de condições financeiras e o medo da violência respondem por cerca de 40% dos motivos da desistência. CURSOS TENTAM REDUZIR EVASÃO Com isso, uma das grandes vantagens do Sisu – a democratização do ensino, permitindo que o aluno de baixa renda dispute vaga em universidades de elite – esbarra na dificuldade de segurar o estudante. A UFRJ oferece bolsas a 6.351 alunos, um aumento de 50% desde 2012. Há outras ações de assistência, como transporte, restaurante universitário, moradia e suporte acadêmico. No alojamento vivem 232 alunos, mas, segundo a própria reitoria, seriam necessárias de 550 a 600 vagas. Hannah Luz, 25, filha de um catador de material reciclável em Mangaratiba, diz que sem o Sisu não entraria no curso de Gestão Pública. Conseguiu vaga no alojamento, mas o incêndio de 2017 obrigou a universidade a realocar os alunos. Hoje recebe R$ 1.050 para moradia e vive na casa de amigos, ajudando nas despesas. “Fiz vestibular, mas nunca passei. Só entrei pelo Sisu, como cotista. O apoio da universidade é fundamental para o aluno”, afirma. Alguns cursos criaram projetos para reduzir a evasão. Professora do Instituto de Ciências Biomédicas, Tatiana Sampaio lembra que, no curso de Ciências Biológicas (modalidade médica), voltado para pesquisa, os professores perceberam nos alunos interesse por uma formação mais profissionalizante, com acesso rápido ao mercado de trabalho. A solução encontrada foi oferecer uma ênfase em análises clínicas, capacitando o aluno para trabalhar em laboratório. “Como surgiram cursos novos, muitos alunos entram sem saber direito o que é cada um. A universidade tem que estar atenta a isso, além de melhorar políticas de assistência, inclusive os alojamentos”, afirma ela.

Em tempos de cortes na pesquisa, escola leva para a Sapucaí legado do Museu Nacional. Comunidade acadêmica estará na Avenida Abram alas, a Ciência vai desfilar. O Museu Nacional, que completa 200 anos em 2018, será homenageado na Marquês de Sapucaí pela Imperatriz Leopoldinense. “O Museu Nacional é a casa da ciência. Botânica, Antropologia, Mineralogia — hoje Geologia —, Zoologia e Astronomia nasceram aqui. Todas as instituições científicas brasileiras estão representadas nesse carnaval”, afirma Regina Maria Dantas, historiadora e uma das colaboradoras da universidade com a verde e branco de Ramos. Para a historiadora, num momento de cortes de pesquisas e bolsas, o enredo sobre a Ciência no Brasil pode ampliar a visibilidade internacional da pesquisa brasileira, já que o espetáculo é visto no mundo inteiro. A ala da Comissão Científica da Imperatriz, que abre o desfile, foi majoritariamente composta pela UFRJ, e foi preciso abrir mais uma. Pesquisadores da Fiocruz e do Instituto Pasteur, da França, também participarão. O responsável pelo departamento cultural da Imperatriz, André Bonatte, destaca o diálogo com a UFRJ e o respaldo do Museu no processo: “Conviver com o olhar apaixonado de quem trabalha lá é algo que não pode ser negligenciado. Não existe Carnaval sem paixão”. Quinze sambas entraram na disputa, e o resultado final agradou: “O samba diz que o Museu ganha vida à noite, percorre a pesquisa, os laboratórios e as exposições atuais. O desfile fecha com as pipas de meninos da Quinta da Boa Vista e contempla o papel social do local”, conta Renato Ramos, vice-diretor do Museu. O enredo relembra atrações do Museu, como aves, cristais e sarcófagos e jardins. Na opinião de Ramos, a grande homenageada é a memória popular. “O Museu faz parte das lembranças das crianças do século XIX, XX e XXI”, justifica.  Além do legado simbólico, Ramos fala em projetos futuros, como um espaço para a exposição das fantasias. A homenagem injetou energia nas comemorações do bicentenário do Museu. “É emocionante ver a tradução lúdica e popular não apenas do Museu, mas do Palácio e da Quinta”, observa a diretora Cláudia Rodrigues-Carvalho, para quem o Museu é um lugar associado à infância do carioca. “Nossa expectativa é estarmos ainda mais próximos à população, principalmente, do entorno que não teve acesso à Ciência e à universidade”.

E FERNANDA DA ESCÓSSIA Servidor da UFRJ há quase 35 anos, o administrador Roberto Vieira, 58, não escondeu a alegria quando a banca de professores recomendou a publicação de sua dissertação. Ele fez o mestrado profissional em Avaliação na Faculdade Cesgranrio: “Achei que seria mais light um mestrado profissional e que conseguiria conciliar com meu trabalho na universidade. Ledo engano. Não foi nada light”. Responsável pela superintendência executiva de Registro e Acesso da PR-1, Vieira recebeu o apoio do pró-reitor de Graduação, professor Eduardo Serra, e dos 189 docentes que responderam seu questionário. “Foi uma maratona. Ainda ouvi 6.437 estudantes através de formulários”. Por que o aluno não fica na UFRJ? Os alunos apontam dificuldade para se manter no Rio: problemas financeiros, alojamento. Evasão, retenção e recuo da conclusão são consequência de um problema no modelo de ingresso. O que espera desta pesquisa? Falo como pesquisador, não como servidor. A decisão tem que ser do Conselho Universitário. A UFRJ precisa de um estudo em relação a esses impactos. A decisão vem lá na frente, depois que a gente estuda, discute. A universidade deve repensar seu acesso e envolver outras instituições, porque cada uma tem especificidades.

Nos tempos do velho vestibular...

A UFRJ tem, neste semestre, 4.907 vagas em 114 cursos de graduação pelo Sisu. A primeira chamada foi divulgada em 29 de janeiro. De quase 5 mil vagas disponíveis, 2.469 são para cotistas. A UFRJ oferece cotas sociais desde 2011 para estudantes oriundos de colégios públicos. E, desde 2013, cotas raciais. A pesquisa de Roberto Vieira não diferencia os dados de cotistas e não cotistas ao examinar a evasão e o rendimento acadêmico, mas faz uma retrospectiva das formas de acesso à universidade. A UFRJ não aderiu de imediato ao Sisu, sistema criado pelo governo federal em 2010. Nas seleções de 2010 e 2011, a universidade optou por sistemas mistos que utilizavam tanto as notas do Enem quanto o desempenho em vestibular próprio. Após intensos debates, o Consuni resolveu, em setembro de 2011, usar exclusivamente a nota do Enem para selecionar os alunos de graduação. A entrada na UFRJ já teve vários formatos. Da década de 70 até 1987, a universidade participava de um consórcio com quase todas as faculdades do Rio de Janeiro. Em seguida, a parceria limitou-se a algumas instituições públicas do Rio. Na década de 90, a UFRJ separou-se do grupo e criou seu próprio vestibular, com provas discursivas e elevada concorrência. “Era um sonho difícil passar na UFRJ”, lembra Ana Paula Rodrigues, ex-aluna da UFRJ, formada em Psicologia em 2008. “Mas não há dúvida de que a universidade era muito menos democrática e muito mais elitista. Só tinha branco da zona sul na minha turma”, completa.

As chapas “Andes Autônomo e de Luta” e “Renova Andes” vão disputar a diretoria do Sindicato em 2018. A apresentação das candidaturas ocorreu durante o 37º Congresso dos professores universitários, em Salvador (BA). A eleição será em 9 e 10 de maio. Antônio Gonçalves Filho, da Universidade Federal do Maranhão, é o candidato a presidente pela “Andes Autônomo e de Luta”, da situação. A professora Celi Taffarel, da Universidade Federal da Bahia, é a candidata a presidente da “Renova Andes”, de oposição à atual diretoria. Decisões Maior da história do Andes, o 37º Congresso reuniu 581 participantes para uma intensa jornada de debates e deliberações. Uma delas define que o Sindicato vai articular uma greve geral para barrar as reformas do governo. A diretoria da Adufrj e seus apoiadores no congresso votaram contra a proposta, pois entendem que a melhor forma de proteger a universidade é mostrar para a sociedade a importância do conhecimento produzido na instituição, priorizando o funcionamento da atividade acadêmica. A pauta unificada dos servidores públicos federais será discutida em reunião ampliada do Fórum das Entidades Nacionais dos SPF no fim de semana (3 e 4), em Brasília (DF). O Andes também vai defender o diálogo e organização de atividades com outros movimentos pela recuperação e ampliação do orçamento do complexo público de Ciência e Tecnologia. Mas considera o Marco Legal de C&T um retrocesso, diferentemente da diretoria da Adufrj.

Desde a adesão ao Sisu, UFRJ perdeu em média 241 alunos por semestre, 2.891 em seis anos. Situação leva a paradoxo: depois da disputa acirradíssima para entrar, vários cursos têm vagas ociosas E FERNANDA DA ESCÓSSIA O que faz o estudante que vê seu nome na primeira lista de aprovados numa das melhores universidades do Brasil? Matricula-se imediatamente, claro. Quem respondeu assim errou: no segundo semestre de 2017, 85% dos alunos chamados pela UFRJ na primeira edição do Sisu não se matricularam. O resultado é praticamente a inversão do que aconteceu em 2009/2, último ano de vestibular exclusivo da UFRJ, quando apenas 15,7% dos aprovados na primeira listagem não se matricularam. Em sua pesquisa, Roberto Vieira chamou esse fenômeno de evasão primária, uma faceta do gigantesco problema em que o abandono do ensino superior se transformou. No curso de Medicina do campus da UFRJ em Macaé, a evasão primária chegou a 100% em 2017 – nenhum dos aprovados na primeira chamada se matriculou. As taxas passam de 90% em cursos como Engenharia Civil (98,33%) e Fisioterapia (97,73%). Vieira também analisou o que chamou de evasão secundária, quando o aluno chamado na primeira edição se matricula, mas depois é aprovado para outro curso e abandona o primeiro. Desde a adesão ao Sisu, afirma Vieira, a UFRJ perdeu dessa forma, em média, 241 alunos por semestre, 2.891 em seis anos. Com isso, a universidade é palco de um paradoxo: depois da disputa acirradíssima para entrar (estudos mostram que a nota de corte cresceu com o Sisu), vários cursos têm vagas ociosas. Em 2018, a UFRJ oferece mais de 2 mil vagas para ex-alunos já graduados ou estudantes de outras instituições de ensino superior. Em Macaé, onde a desistência é alta em vários cursos, tem sido comum usar chamadas de reclassificação para preencher vagas. Na Medicina, das 30 vagas disponíveis em 2017/2, 14 terão de ser preenchidas fora do sistema Sisu, com transferências, por exemplo. O coordenador do curso de Medicina de Macaé, professor Joelson Tavares Rodrigues, disse que realizar várias chamadas é frequente, para evitar vagas ociosas. Segundo ele, a “dança das cadeiras” não é exclusividade local e acontece em cursos que não são a primeira opção dos alunos. Como Medicina é um curso que exige muita preparação, os alunos fazem o possível para ficar perto de casa. O coordenador lembra que, ao permitir que o candidato faça prova em qualquer lugar do Brasil, o Sisu criou uma concorrência acirrada para o aluno da região. “Nossa pontuação de ingresso é alta, próxima da capital”, analisa. Ao mesmo tempo, apenas um estudante de Macaé foi aprovado na última seleção. (Colaborou Elisa Monteiro)

Sisu favorece inclusão

A pesquisa de Roberto Vieira não desqualifica o Sisu. Muito pelo contrário. A pesquisa recomenda avaliações e ajustes no sistema para reduzir as perdas e manter o estudante na UFRJ. As respostas de 189 professores trazem indicações sobre frequência e participação nas aulas, dedicação dos alunos e conhecimento prévio. “Na perspectiva de professor em sala de aula, o Sisu só trouxe coisa boa. A gente percebe essa dança das cadeiras. A violência assusta quem vem de longe. Agora, em termos de desempenho geral e de diversidade social, senti uma melhora”, afirma Fernando Duda, professor da Engenharia Mecânica e diretor da Adufrj. “O desempenho acadêmico dos meus alunos melhorou”. “O Sisu tem um paradoxo. Desperta o sonho dos melhores estudantes do Brasil de estudarem na melhor universidade do país, mas não oferece formas de manter o estudante na universidade. Isso é uma ineficência do sistema. E temos que pensar com seriedade o assunto”, completa o professor Ericksson Almendra, ex-diretor da Escola Politécnica. Para aproximadamente metade dos docentes que responderam ao questionário da pesquisa de Vieira, não houve alteração na dedicação dos alunos e no desempenho nas avaliações.  

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