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Para o professor do IFCS, governo não explica por que é necessário investir "em equipamentos que vêm sendo comprados, em inútil quantidade, sem que o enfrentamento da violência tenha alcançado resultados elogiáveis" Alguém me recordou recentemente uma irônica teoria do prof. Mario Henrique Simonsen. Essa teoria afirma que, no Brasil, pratica-se uma epistemologia da indução invertida (ou coisa que o valha). Segundo essa teoria, repete-se infinitamente, com as mesmas condições, uma experiência que sempre dá errado, na expectativa de que algum dia, quem sabe?, se evidencie que dará certo. Evidentemente o professor ironizava uma certa tendência de nossas elites a repetir escolhas que comprovadamente não funcionam, numa espécie de pragmatismo às avessas. Na área de segurança pública, contra todos os diagnósticos especialistas, a teoria da indução negativa vem sendo repetida ad nauseam. Os jornalões desta semana noticiaram que o general Braga Netto, comandante da intervenção federal no Rio de Janeiro, informou que, sete meses após o seu início, estão sendo comprados 3.605 veículos, mais de 30 mil armas, um milhão de projéteis, 24 mil coletes à prova de balas, 7 mil equipamentos de proteção individual e 268 mil peças de uniformes para as polícias. Criticou, com razão, os emperramentos da lei das licitações (a célebre lei 8.666 – a besta do apocalipse!, outro exercício da teoria da indução negativa) que, segundo ele, explica o atraso no processo de aquisição dessa arsenal de guerra. Mas o general não explica por que é necessário investir cada vez mais em equipamentos que vêm sendo comprados, em inútil quantidade, há mais de meio século, sem que o enfrentamento da violência tenha alcançado resultados elogiáveis. Curiosamente, a se crer nos dados, a única coisa que deu razoavelmente certo na política de segurança pública no Rio de Janeiro neste meio século, foi a criação das chamadas UPPs. Com todas as críticas e problemas reconhecidos pelos especialistas, não foi o aumento do arsenal, mas a presença policial regular em algumas comunidades, junto com a política de metas de redução de homicídios, os responsáveis pela significativa redução dos homicídios e das mortes de civis e de policiais em suposto confronto entre 2009 e 2013. O fim programado das UPPs deveu-se à crise fiscal do Estado, mas, nas favelas, também aos erros repetidos de policiais dessas áreas, entre os quais a tortura e morte de Amarildo, o nome do trabalhador que se transformou em símbolo do início do fim das UPPs. A intervenção federal na área de segurança pública, uma inovação que preservou o governador eleito mas não o seu secretário de segurança chegou, como se sabe, sem projeto anterior, sem planejamento, sem nada. Um “abacaxi” para os militares que, cumprindo ordens emanadas de cima, atracaram na baía de Guanabara sem saber muito bem por onde começar. Havia expectativas positivas nas classes médias e expectativas, digamos, preocupadas, nos setores populares, entre cidadãos que ainda não se habituaram com as investidas militarizadas que duram também meio século em seus bairros, sem maiores resultados. O assassinato de Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes assinalaram, desde o início, que a intervenção federal seria mais do mesmo. A compra de todo esse arsenal, sem que se tenha alterado qualquer indicador de qualidade de gestão, sem qualquer alteração nas repetidas e inúteis operações policiais, que deixam mortos entre crianças e trabalhadores e um rastro de ódio entre os populares, o continuado aumento de homicídios, morte de civis e policiais, crimes violentos contra o patrimônio público e privado, expansão da atuação de milícias (agora inclusive contra pescadores na baía de Guanabara e na baía de Angra dos Reis) e a endêmica corrupção policial – tudo isso só vem comprovar a persistente crença na teoria da indução invertida, para glória de seu insigne formulador, o finado professor Simonsen. Que o eleitor pense nisso, antes de continuar a aplicar a mesma teoria nas urnas. Michel Misse Professor titular do Departamento de Sociologia do IFCS-UFRJ e coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ

Para o cientista político, caso o PT deseje buscar um eleitorado de centro que garanta a vitória no segundo turno, Fernando Haddad terá de sinalizar que possui autonomia decisória Ainda não temos como avaliar se o Partido dos Trabalhadores acertou na tática de anunciar “tardiamente” o nome de Fernando Haddad como candidato à Presidência da República. Toda estratégia depende de seu resultado. Uma estratégia só é vitoriosa se, ao final, for bem sucedida. O Partido dos Trabalhadores agiu como um partido hegemônico procurando manter a predominância no campo eleitoral e ideológico que ele acha que é seu. Neste sentido, ele bloqueou a possibilidade de outras candidaturas concorrentes nesse campo. É claro que, do ponto de vista dessas candidaturas, fundamentalmente a de Ciro Gomes, a estratégia foi “sufocante”, podemos falar assim. O PT fez diversos acordos nos estados com o intuito de manter uma candidatura hegemônica à presidência. Alguns apontam que se o PT não tivesse feito este movimento internamente – de lançar uma candidatura própria – e apoiasse um candidato que já tivesse se colocado, como o Ciro Gomes, que é de um campo bem próximo ao seu, o partido sofreria uma desagregação interna. Uma espécie de autofagia. Este é um cenário possível. Então, ele bloqueou qualquer possibilidade de aliança com um “cabeça de chapa” externo. O segundo ponto a ser analisado em relação à candidatura de Fernando Haddad é a capacidade de transferência de votos. Dilma Rousseff não herdou o percentual de votos que Lula teve em nenhuma das duas eleições, em nenhuma região do país, inclusive no Nordeste, que é considerada, ainda hoje, uma área onde o nome do Lula aparece com muita força. Então, é bastante provável que Haddad não chegue nem no patamar de Dilma no primeiro turno. A ideia de manter Lula candidato, mesmo preso, apenas reforça certo “messianismo” que já existia. O “Lulismo” já era um fenômeno nacional desde a saída de Lula da Presidência da República. A dramaticidade da prisão, portanto, não o cria. Não há, aí, uma novidade. O que é uma novidade, num certo sentido, é que os adversários da candidatura do PT não levaram em conta a força do Lulismo em suas estratégias de campanha. Este fenômeno segue resistindo, a despeito de todos os resultados negativos do governo Dilma. É possível imaginar, também, que o PT não lançou antes outro nome porque sentia que qualquer pessoa seria bombardeada por inquéritos policiais, como foi o exemplo do Jaques Wagner. Então, pode ter sido um mecanismo de defesa do partido: lançar o Lula, que já está preso, para ganhar tempo até a escolha do seu candidato definitivo. Manter Lula candidato sinalizava que ocorreria uma substituição. Se pensarmos na imagem, em alguns momentos, o Haddad faz questão de aparecer com máscaras do Lula. A ideia é de sinalizar a “passagem de bastão”. Ele tinha que ser “ungido” na convenção do partido como vice do Lula para que essa transmissão ocorresse. Entretanto, é importante assinalar um aspecto. Caso, Haddad e o PT desejem buscar um eleitorado de centro que lhes garanta uma vitória no segundo turno, Haddad terá que sinalizar que possui autonomia decisória. Que é capaz de tomar decisões sem consultar Lula, e, mais, revelar que possui opinião própria sobre assuntos relevantes. Em particular, que pensa e decide distintamente da presidente do partido. Este movimento de autonomia tem que ocorrer de maneira clara, mas sem romper com o Lulismo. Até porque não há chances de vitória fora dele. Há grandes possibilidades de que tal movimento lhe traga votos de setores que não desejam Bolsonaro e que pretendem votar nulo num segundo turno, mas que aceitariam votar num candidato do PT, que, no entanto, possua pensamento próprio. Sem dúvida que é um movimento complexo e delicado, mas que talvez ofereça a Haddad votos importantes. Tanto Haddad como Bolsonaro precisam fazer política. Bolsonaro precisa convencer que não é o candidato do ódio, precisa apagar vídeos, declarações etc que tragam esta imagem. Uma ação que o stalinismo e as ditaduras em geral sabem fazer, reescrever o passado. Resta saber se os eleitores vão aceitar. Haddad precisa fazer um movimento que lhe garanta a força do lulismo e, que ao mesmo tempo, sinalize sua capacidade decisória. Ivo Coser Cientista Político e coordenador do Núcleo de Teoria Política da UFRJ

Professores, técnicos, alunos e ex-alunos reuniram-se, na última sexta-feira (21), no auditório da Escola de Serviço Social, na Praia Vermelha, para a abertura da exposição “Faculdade de Educação: 50 anos presente”. A pesquisa da professora Ana Maria Monteiro inspirou a mostra. Ela afirmou que um dos desafios da produção foi expressar o compromisso político da Faculdade de Educação com a educação pública e a democratização do ensino superior. A exposição encontra-se no “Espaço Memória Arte e Sociedade Jessie Jane”, no corredor da decania do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH). Para a diretora Carmen Teresa Gabriel, a comemoração resgata o sentido político da universidade pública e reforça a importância do trabalho coletivo. “Isso é fruto do trabalho de muitas cabeças e mãos”, afirmou. O decano do CFCH e também professor da FE, Marcelo Macedo Corrêa e Castro, destacou o papel da unidade. “Fico muito feliz de estar aqui comemorando 50 anos do protagonismo da Faculdade de Educação na formação de pessoas e professores”, declarou. Os ataques sofridos pela universidade após o incêndio do Museu Nacional foram destacados pelo professor Eduardo Serra, pró-reitor de graduação: “O momento que vivemos é de resistência e luta”, reforçou. “Contamos com essa unidade pra continuar o fortalecimento da educação, formando cidadãos críticos capazes de transformar a sociedade e a si mesmos”, completou.

Instituição realizou atividades ao ar livre, na Quinta da Boa Vista. Exposições fizeram parte da campanha #MuseuVive e integraram a 12ª Primavera dos Museus Depois do incêndio que destruiu cerca de 90% do seu acervo no início do mês, o Museu Nacional realizou uma exposição, nos dias 22 e 23 de setembro, com o objetivo de mostrar à população parte das coleções que sobreviveram à tragédia. “O Museu Vive! Não é apenas uma hashtag. Estamos trabalhando todos os dias, intensamente. Queremos aproximar mais a população de todo o conhecimento acumulado nesta instituição”, comentou Matheus Ferreira, do Laboratório de Antropologia Biológica. O evento fez parte da 12ª Primavera dos Museus, uma temporada cultural que mobiliza centenas de instituições do país na estação das flores. Este ano, o tema era "Celebrando a Educação em Museus". O parque da Quinta da Boa Vista estava lotado. Famílias aproveitaram o final de semana ensolarado e conheceram mais sobre as pesquisas realizadas no Museu Nacional. “As crianças se divertem. Elas não tiveram oportunidade de conhecer o museu lá dentro”, contou Ingrid Santos, mãe da Nathaly, de 3 anos. “Estou com minha filha e sobrinhos numa festinha que acontece no gramado. Mas sabíamos que estava acontecendo esse evento aqui. É importante saber o que é feito no Museu Nacional”. Luzia esteve presente. Pelo menos a recriação do crânio de 12 mil anos feita por uma impressora 3D a partir de imagens de tomografias computadorizadas. O público pôde manusear a peça e entender como foi encontrado no Brasil o fóssil humano mais antigo da América. Uma parte da coleção didática da Sessão de Assistência ao Ensino (SAE) encantava a criançada. Aves e mamíferos empalhados faziam brilhar olhos de crianças e adultos. “Vejo esse movimento como um resgate, de certa maneira, da memória do Museu e do que temos para mostrar. O que importa é a interação e reação das pessoas diante do conhecimento novo”, comemorou Caio Felipe Mendes, da SAE. Professor do programa de pós-graduação em Zoologia, Paulo Buckup explicou o objetivo do evento. “A atividade de hoje é uma pequena mostra do que realizamos todo ano no aniversário do Museu Nacional”. Ele mostrou um exemplar de peixe-boi, que integra a coleção do Museu Nacional desde o início do século XX. “Este é um dos primeiros exemplares do Museu. Ele esteve na exposição permanente e estava salvaguardado no prédio anexo, que permanece intacto. Depois de 20 anos fora de exibição, trouxemos ao público uma das peças que fará parte da coleção do museu, assim que for reconstruído”. A exposição das peças ao ar livre, para Buckup, tem um caráter pedagógico. “Mesmo depois de uma destruição tão grande como foi o incêndio, ainda temos energia para seguir fazendo ciência. Para aprender e ensinar. Para realizar exposições públicas significativas”, comemorou. A diretora da Adufrj, professora Tatiana Sampaio, ficou encantada com o evento: “Foi incrível. Foi um domingo de conhecimento”, disse.

O incêndio do Museu Nacional ocorrido no início do mês foi debelado, mas deixou sequelas para além da destruição física de um prédio e acervos preciosos. Trouxe de volta a velha polêmica sobre a ineficiência do setor público. Setores sempre contrários às universidades públicas se animaram. A vetusta e falaciosa argumentação sobre gastos excessivos e má gestão emergiu da fumaça. Universidades de países com distintas tradições acadêmicas são avaliadas por um conjunto de indicadores, incluindo a produção de pesquisas (número de artigos) e sua qualidade (impacto de citações e número de artigos altamente citados), produção educacional (proporção de docentes em tempo integral e alunos graduados) e despesas. O PRINCIPAL DIFERENCIAL para que uma universidade seja bem avaliada é sua dimensão institucional. Ou seja, o número de professores e alunos determina a produção de pesquisa e a alocação de recursos para educação e pesquisa refletem-se no bom desempenho da pesquisa. Desde sua fundação, a UFRJ está bem situada nos rankings internacionais, o aumento do número de alunos e professores foi simultâneo ao de sua produção científica. Para o Brasil, um país que ainda permanece às voltas com necessidades de garantia do acesso ao ensino superior e geração de alternativas para mudanças em seus padrões de produção e consumo de bens e serviços, universidades públicas dotadas de corpo docente qualificado são estratégicas. OS MELHORES PROFISSIONAIS de diferentes áreas de atuação foram e são formados por universidades públicas. A ciência e tecnologia incorporadas em diversas cadeias produtivas são dinamizadas por professores e alunos de graduação e pós-graduação. Estudos sobre a sociedade, economia, cultura e história têm sido nucleados por pesquisadores das grandes universidades brasileiras. É por isso que a população sempre que consultada indica sua concordância com a expansão dos gastos públicos com educação, inclusive universitária. Sabe-se que, sem universidade pública, o futuro do Brasil é o retorno ao passado de um país pobre, injusto, agrário-exportador, com mínimas de chances de futuro. A IDEIA DE RESTRINGIR o direito à educação não conta com apoio social, é antidemocrática. A UFRJ tem muitos e intrincados problemas. Suas unidades acadêmicas, hospitais, bibliotecas, centros culturais e o Museu Nacional foram vinculados à universidade ao longo do tempo. A gestão desse conjunto rico e heterogêneo de acervos e conhecimentos é em si desafiante. Desde 2015, os recursos de custeio e investimentos foram cortados. Definir a prioridade entre tantas prioridades, alocar acertadamente os recursos de custeio e investimentos é responsabilidade da UFRJ. Provimento de concursos, definição de salários e produção de informações sobre gastos com servidores públicos federais são atribuições que extrapolam as fronteiras da universidade. Mudanças, para ampliar o direito à educação exigem redefinição de responsabilidades e sempre mais transparência. Salários dos professores e a execução orçamentária são informações oficiais e disponíveis. NÚMEROS PODEM SER consultados, serão interpretados com menos ou mais acurácia se os pressupostos sobre a relevância ou inutilidade das universidades públicas forem desvelados. Outros números evidenciam a disposição de ampliar o patrimônio científico público. O incêndio também revelou o imenso apreço nacional e internacional pela universidade pública. O debate sobre a ampliação da universidade pública não é apenas uma escolha técnica. Os que querem expandir grupos educacionais privados julgam que o Brasil não precisa formar “doutores”. Podem pagar o estudo de seus filhos fora e insistem em retroceder na compreensão sobre a inextrincável associação entre educação e democracia.

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