facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

O Jornal da Adufrj mantém uma seção para homenagear professores que foram grandes referências na universidade. Nesta edição, fazemos uma homenagem à vida e obra do professor Fernando Pamplona, ex-docente e ex-diretor da Escola de Belas Artes da UFRJ

Arthur Bomfim
Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

“Pamplona era um intelectual que acolhia o conhecimento, a pluralidade dos conteúdos, transgridia o tempo”. As palavras de Ronald Teixeira, ex-aluno de Fernando Pamplona, demonstram a grandeza do mestre. Hoje professor de cenografia da Escola de Belas Artes, Teixeira afirma que Pamplona foi responsável por formar gerações de carnavalescos. O docente foi professor e diretor da EBA, é reconhecido por abrir as portas da WEB menorPAMPLONAacademia para a cultura popular. Ele revolucionou o carnaval ao transformar a avenida, em 1960, com o enredo campeão “Quilombo dos Palmares”, do Salgueiro.

A carnavalesca Rosa Magalhães também deve sua formação a Pamplona. “A cultura popular era muito presente em suas aulas e ele nos trazia temas que nos deixavam impressionados”, conta. “Ele tinha muita experiência profissional e passava isso aos alunos. Nos chamava para fazer trabalhos e, assim, ajudou a inserir muita gente no carnaval”.

Nascido no Rio de Janeiro, em 26 de setembro de 1926, Fernando Pamplona precisou refugiar-se, ainda criança, com o pai, no Acre, após o Golpe de 1930. Lá, teve contato com a riqueza folclórica da região. Para Helenise Guimarães, professora da EBA cujas pesquisas de mestrado e doutorado são inspiradas em Pamplona, a infância no Acre foi fundamental para dar ao docente a experiência que transbordava em aula e no carnaval.

“Ele tinha a cultura dos orixás, do negro, do folclore, e levou isso para a escola de samba. Sua formação tem um interesse pela prática da cultura popular, uma bagagem que ele trouxe do Acre”, observa Helenise. “Pai da revolução estética dos desfiles das escolas de samba, ele olhava para os diferentes segmentos sociais como importantes para o carnaval”, analisa. “A figura do profissional carnavalesco está calcada na imagem dele”, completa a professora.

Pamplona passou a vida dividido entre duas escolas: a de Belas Artes, da UFRJ, e a Unidos do Salgueiro, pela qual era apaixonado. Da EBA, tornou-se docente em 1957, quando recebeu da universidade o título de Notório Saber. Entre os anos de 1986 e 1990, foi diretor da unidade.

“Pamplona deixou um legado pela aproximação com o carnaval na Escola. Foi responsável pela formação de uma geração de carnavalescos, além de trazer muitos professores que tinham ligação com o carnaval para vir dar aulas aqui”, conta Madalena Grimaldi, atual diretora da EBA. “Os cursos de cenografia e indumentária formaram a mão de obra direta de carnavalescos e, até hoje, temos muitos professores que trabalham no carnaval”, disse.

Em outubro de 2016, quando o prédio da reitoria foi atingido pelo incêndio, professores da Escola de Belas Artes voltaram a ocupar o “Pamplonão”, um ateliê de arte criado durante a gestão de Pamplona. O incidente reavivou a moticação pela criação do espaço. “Nesta sala, as aulas de indumentária aconteciam em um único ambiente. Cada professor tinha seu grupo de alunos ao redor de uma mesa e não existiam paredes”, relembra Ronald Teixeira. “Era um sentido de fronteira aberta, porque a gente coexistia e podia usufruir das outras aulas. Entendi o desejo de Pamplona de fazer uma escola sem paredes, representada por aquele grande ateliê”.

Fora do mundo da academia, Pamplona trabalhou como cenógrafo, no carnaval, decorando as ruas da cidade do Rio. Em 1959, foi convidado a participar do júri das escolas de samba. Foi quando se encantou pelo Salgueiro.

Como carnavalesco, assinou 13 enredos. Doze deles de sua escola do coração. Foi campeão com quatro, levando o Salgueiro ao hall das grandes agremiações: “Quilombo dos Palmares”, em 1960; “História do Carnaval Carioca”, em 1965; “Bahia de Todos os Deuses”, em 1969; e “Festa para um Rei Negro”, em 1972.

 

WEB menorPIRADO

O bloco Tá Pirando, Pirado, Pirou abriu o carnaval da Urca. Formado por docentes, alunos e pacientes do Instituto de Psiquatria da UFRJ e do Instituto Philippe Pinel, o projeto de extensão defende a saúde inclusiva e antimanicomial. Participantes fizeram críticas ao “Viva UFRJ”, projeto em parceria com o BNDES para uso de imóveis da universidade. O desfile aconteceu no dia 16.

Artigo da Diretoria

 

Estamos numa conjuntura difícil. Através da proliferação assustadora (mas concatenada) de memes nas redes sociais e de cortes (ou “contingenciamentos”) nos orçamentos das universidades e agências de fomento, o governo e alguns agentes aliados vão minando a existência da universidade pública, gratuita e de qualidade. Temos um ministro da educação que despreza a sua própria categoria, e um presidente que não apenas é ignorante, mas que se esforça brutalmente para sê-lo. Ainda assim, temos algumas razões para sorrir.

Na iminência das perdas salariais impostas pela reforma da previdência, a AdUFRJ conseguiu sustentar os famosos “26%”. Esta é uma compensação relativa a perdas do Plano Verão, que docentes mais antigos (aqueles que entraram até 2008) tem direito. Tal benefício estava ameaçado graças a uma decisão recente do STF relativa a competência da justiça do trabalho para julgar o mérito da questão, mas a decisão judicial da da 10ª Vara Federal garante nossos 26%, ao menos por ora.

Outra grande preocupação de nossos docentes surgiu na portaria 2.227 de 31 de dezembro de 2019, que, com seu texto extremamente confuso, dava a entender que as universidades só poderiam enviar dois docentes a congressos acadêmicos por vez. Tal medida é tão evidentemente absurda que gerou reação imediata das universidades, sindicatos e entidades científicas. O MEC recuou e publicou nova portaria sem essa restrição. É apenas uma pequena vitória, mas que não pode ficar no esquecimento.

Em suma: 2019 bateu a porta na nossa cara, mas 2020 se apresentou com mais educação. Temos que nos organizar para fazer uma belíssima volta as aulas (apesar dos pesares do ENEM), organizar um grande dia das mulheres e fazer com que o ato marcado para 18 de março seja tão central quanto foi o 15M no ano passado. Temos força pra isso, é só não perdermos o ânimo nem a esperança.

 

esperanca

Recebemos no momento em que fechávamos esta edição do Jornal, a notícia do falecimento da professora emérita Miriam Lemle, aos 82 anos. Docente da Faculdade de Letras desde 1982, iniciou sua vida acadêmica em 1962, ainda no Museu Nacional, junto ao professor Mattoso Câmara Jr. Depois de concluir seu mestrado em Linguística na Universidade de Pensilvânia (EUA), integrou o grupo pioneiro que organizou o primeiro curso de pós-graduação em Linguística no Brasil. Gerativista renomada, formou várias gerações de pesquisadores, além de trazer para o país outros tantos já consagrados internacionalmente, entre eles, o próprio Noam Chomsky.


Presidente da ABRALIN (Associação Brasileira de Linguística) na década de 1980, dedicou toda sua vida à universidade, onde estudou desde os primeiros anos no Colégio de Aplicação. Graduou-se na
antiga FNFi, no curso de Letras Neolatinas. Assim como seu marido, o professor Alfred Lemle, da Faculdade de Medicina, falecido em 2017, participou do movimento docente e permaneceu sindicalizada
por toda sua vida. Com ela se vai uma parte importante de nossa história, nos deixa saudades e muitos frutos de tantas sementes plantadas.WEB menorMIRIAM

WEB menorANDES

 

Silvana Sá
Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

O maior congresso da história do Andes foi o primeiro para muitos professores. Dos 34 docentes que fizeram parte da delegação da AdUFRJ, doze estrearam no encontro. É o caso da professora Tatiana Ribeiro, da Letras, e do professor Filipe Boechat, da Psicologia.

“Gostei de participar. É sempre bom encontrar um espaço de discussão, de encontro dos professores”, avalia a professora Tatiana. Ela conta que o formato do evento não foi uma novidade. “É muito parecido WEB menorPRIMEIRAcom o movimento estudantil. Os assuntos, embora com uma profundidade diferente, até pelo momento político, também são recorrentes”, diz a professora, que foi do movimento estudantil no final da década de 90.

Sobre a dinâmica do congresso, ela avalia que assuntos que demandam maior discussão “acabam ficando pouco atendidos”. “Há quadros (políticos) históricos. Pessoas que participam há anos dos congressos. E quem vem pela primeira vez fica um pouco distanciado. A gente precisa arrebanhar, ter mais participação dos docentes. Se você não acolhe, não abre a discussão, acaba ficando sempre com os mesmos quadros”, avalia.

Os desafios, para a professora, são muitos. E é preciso “se reinventar”. “Vivemos um quadro de muitos ataques e corremos o risco de ficarmos engessados. É claro que existe uma tradição de atuação que nos dá identidade, mas é preciso pensar em formas de fazer essa luta, ir além da palavra de ordem”.

Filipe Boechat, professor da UFRJ desde 2018, e candidato da oposição nas eleições da AdUFRJ do ano passado, afirma que o congresso atendeu às suas expectativas. “Esperava um espaço democrático WEB menorPRIMEIROe vivo, em que grandes questões que perturbam a nossa categoria fossem amplamente debatidas. E foi isso que vi acontecer”.

Para ele, o sindicato tem forte capacidade de organizar os docentes, o que seria uma motivação para os ataques de quem “despreza o exercício da democracia”. “As discussões nos grupos mistos; as defesas nas plenárias; as conversas, nos intervalos, com colegas de outros estados, tudo isso me mostrou a importância de estarmos organizados e unidos”, conta.

Ele acredita que o congresso o ajudou a ter uma melhor leitura dos desafios do movimento docente. “Contribuiu para uma compreensão maior da realidade. E para que tenhamos uma intervenção mais eficaz nessa conjuntura tão difícil”.

Topo