Finalmente uma boa notícia. Prédios que estavam fechados há anos conseguiram fornecimento de energia. Devido a uma negociação entre a universidade e a Light, as edificações do Instituto de Física e do Centro Nacional para a Identificação Molecular do Pescado (Cenimp) foram energizados em dezembro. O Instituto de Ciências Biomédicas deve entrar para o grupo até o fim de fevereiro. A redução de quase R$ 33 milhões no déficit operacional deixou a instituição adimplente com a concessionária e possibilitou a energização dos novos prédios. “Construímos um acordo com a Light em que nos comprometemos em parcelar valores devidos, mas exigimos a realização dos serviços de energização dos prédios”, explica o o pró-reitor de Planejamento e Finanças, professor Eduardo Raupp. O Instituto de Física espera há 16 anos para que a pós-graduação e a pesquisa tenham seu próprio espaço. De acordo com a diretora do Instituto, professora Belita Koiller, os prejuízos desse atraso são numerosos, mas o que mais preocupa é o espaço físico. “É o maior limitante para mantermos a excelência das atividades científicas desenvolvidas aqui”. Ela lembra que muitos aparelhos estão ociosos, nos corredores do CT, aguardando o novo edifício. “Ficam empoeirando e se tornam obsoletos. Para nos mudarmos para lá, é preciso que sejam instalados elevadores, climatização e a parte de tecnologia da informação”, afirmou. O custo para terminar o prédio é de cerca de R$ 7 milhões, mas a universidade dispõe de apenas R$ 3 milhões para a obra no orçamento de 2020. Já o Cenimp, financiado pelo Ministério da Pesca e Aquicultura em 2014 e concluído em 2018, espera há mais de quatro anos para a mudança. O Cenimp analisa pescados – como peixes, camarões e ostras – até mesmo depois de terem sido processados, através do sequenciamento de seus DNAs, a fim de evitar possíveis fraudes. “Existem muitos casos em que pescados mais baratos – de venda proibida, por estarem ameaçados de extinção ou em período de defeso – são vendidos como se fossem outros”, explicou o professor Antonio Solé, coordenador do Centro. A instalação da energia ocorreu em 3 de dezembro. A inauguração agora depende de um serviço de limpeza. “A alocação do pessoal depende da Decania do CCS”, afirmou Solé. Além disso, a fiação e a tubulação de três aparelhos de ar-condicionado foi furtada há cerca de três anos e precisa ser restituída. O maior prejuízo, segundo o professor, são os equipamentos que estão há quatro anos parados no almoxarifado da UFRJ. Segundo a Assessoria de Imprensa da reitoria, a estimativa é que até junho sejam iniciadas suas atividades. O Instituto de Ciências Biomédicas, no entanto, ainda não está devidamente energizado. De acordo com o professor José Garcia Abreu, diretor do Instituto, para que seja ligada a energia do prédio, é necessário que todo o Centro de Ciências da Saúde (CCS) seja desligado por algumas horas. Isso dependerá de uma operação da UFRJ, para que um gerador esteja ligado e supra as necessidades dos laboratórios. A decania do Centro aguarda um relatório que deve ser entregue pela concessionária, para a solicitação das medidas necessárias. “O que a Light fez foi aumentar a carga do CCS em uma estação central em frente ao Hospital Universitário, o que melhora a nossa energia”, contou o decano Luiz Eurico Nasciutti.
Surpreso: o reitor Balthazar soube da punição pela imprensaMais um ataque à autonomia universitária, desta vez em Santa Catarina, na UFSC. A Corregedoria-Geral da União puniu o reitor da universidade, o professor Ubaldo Cesar Balthazar, com uma suspensão de 10 dias, convertida em multa. Além dele, a a vice-reitora, Alacoque Lorenzini Erdmann, e Irineu Manoel de Souza, integrante do Conselho Universitário foram punidos com uma advertência. A decisão da CGU foi publicada em portaria do dia 22 de janeiro. “Nós soubemos da punição pela imprensa, e recebemos a notícia com perplexidade”, contou o reitor. “Já estamos buscando a devida reparação, no âmbito judicial. Todo o processo foi transparente e levou em conta o respeito às normas, a observância da legislação e o cumprimento de decisões soberanas e legítimas de nosso Conselho Universitário”. Processo Administrativo Disciplinar foi aberto pela CGU depois da nomeação de Ronaldo David Viana Barbosa para o cargo de Corregedor pro-tempore da UFSC, em janeiro de 2019. Em maio, ele foi eleito pelo Conselho Universitário para ocupar o cargo em definito. Para a CGU, é prerrogativa sua aprovar previamente os corregedores das universidades. E Barbosa não poderia ocupar o cargo porque era investigado por um PAD. O PAD aberto pela CGU pedia punição para todos os membros do Conselho que votaram pela manutenção do Corregedor no cargo. Os conselheiros entraram com um pedido de liminar para suspender o processo. O reitor é cauteloso em sua análise do caso, mas lembra que “2019 foi um ano de muitas ameaças que impedem nossa ação como gestores públicos, eleitos, responsáveis e comprometidos com a educação pública”. Para o presidente da ApUFSC, Carlos Alberto Marques, a decisão da CGU é um ataque à autonomia universitária. Marques avalia que os ataques à autonomia na UFSC começam na prisão do reitor Luiz Carlos Cancellier em setembro de 2017, durante uma operação da Polícia Federal. Ele foi acusado, sem provas, de obstruir uma investigação de fraude na UFSC. A prisão acentuou um processo de depressão que levou Cancellier ao suicídio. Meses depois, o inquérito da PF foi encerrado por falta de provas. O arbítrio e seu desfecho trágico geraram como reação uma corrente de apoios na sociedade civil à UFSC e à família do reitor. “O comportamento da CGU soa como uma represália”, explicou Marques. “Uma retaliação pelo apoio que recebemos naquele triste episódio, quando recebemos o apoio de diversos setores da sociedade, como o parlamento, órgãos de imprensa, membros do judiciário e de todas as universidades públicas”. Convocado para uma reunião extraordinária após a divulgação da decisão da CGU, o Conselho Universitário da UFSC apoiou publicamente o atual reitor e os demais punidos.
Carolina Gil - Foto: Silvana SáA professora Carolina Gil Marcelino teve um fim de ano de grandes alegrias. Aos 35 anos, a pós-doutoranda da Coppe tomou posse como docente do Instituto de Matemática, no Departamento de Ciência da Computação. E, na mesma semana em que foi convocada para o cargo, seu projeto de pesquisa ganhou o prêmio europeu Marie Curie Fellow, voltado para cientistas promissores de todas as partes do mundo. “Eu não esperava que meu projeto fosse laureado, porque, em geral, os trabalhos têm uma aplicação mais imediata. E o meu é mais teórico”, argumenta Carolina, única mulher representante das Américas na edição 2019. O projeto aclamado pela comunidade científica internacional envolve inteligência artificial. A cientista investiga se é possível prover energia elétrica sustentável e eficiente para pequenas comunidades isoladas com sistemas de microgeração inteligentes. O chamado microgrid é um sistema elétrico construído para produzir energia, como resume a pesquisadora. “No projeto proposto, considerei fonte eólica, solar, conjunto de baterias. Mas é preciso responder a algumas perguntas: por exemplo, se em dada região é viável instalar esse ‘grid’. Para isso, deve-se estudar a sazonalidade do passado, vento, radiação solar, clima, solo”, explica. O conjunto de informações alimentará um algoritmo que o projeto propõe criar. “Ele vai receber esses dados que serão tratados e vai acoplar a algum método de tomada de decisão para refinar soluções”, diz. A docente elenca algumas das possibilidades: “É possível, ao mesmo tempo, minimizar o custo da geração, a emissão de poluentes, maximizar as fontes de energia renováveis, descobrir qual o tamanho ótimo da bateria do meu sistema? Isso tudo a gente quer responder por meio desse novo algoritmo. Por isso, o projeto tem viés mais teórico”, sustenta.
EDUCAÇÃO PÚBLICA A pesquisadora é um exemplo de como a educação pública pode transformar a vida de alguém. Natural de Minas Gerais, Carolina estudou numa escola pública estadual de Belo Horizonte. Cursou a graduação no Instituto Federal do Espírito Santo. Fez o mestrado e o doutorado no CEFET-MG. Ingressou no pós-doutorado do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da Coppe, em 2018, e ficou sob orientação do professor Carlos Eduardo Pedreira. Em outubro do ano passado, tornou-se Bolsista Nota 10 da Faperj. “A educação pública pode mudar a vida de alguém. Mudou a minha! A oportunidade de estudar em instituições de ensino superior federal me fez enxergar um mundo diferente. Trouxe novas possibilidades”. Carolina é a primeira de três irmãos. “Venho de uma família de poucas posses. O que meu pai e minha mãe nos proporcionaram de legado foi o estudo”, diz. Sua inspiração foi um “tio emprestado”, Almir Martins, professor de nas ciências biológicas da UFMG. “Quando eu era criança, as pessoas perguntavam o que eu queria ser quando crescer. Eu olhava e dizia que queria ser igual a ele: professor e cientista”, relembra. Agora com a docência, ela se vê diante de um novo desafio. Talvez, o maior enfrentado até agora. “Ensinar e orientar não são tarefas triviais. Não é fácil. Como não foi fácil para meus orientadores me trazerem até aqui. Tenho muito carinho e admiração por eles, Paulo Almeida e Elizabeth Wanner, do CEFET-MG”, cita. “Você tem que ter independência enquanto aluno de doutorado. A pesquisa é uma tarefa muito solitária. Estamos diante de perguntas que não têm respostas. Ter alguém que nos diz ‘olha, caminha por ali’ faz toda a diferença”. Como toda boa cientista, a nova professora do Instituto de Matemática se move por perguntas. “Como eu, Carolina, vou conseguir conduzir pessoas tão bem como fui conduzida?”, questiona-se.
Autores: Noca da Portela e Roberto Medronho Intérprete: Diogão Pereira Enredo elaborado por Luiz Carioca, Joana de Angelis, Miriam Starosky e Tatiana Roque
Olha a Minerva de novo aí Eu vou cair de corpo e alma na folia
São 100 anos de existência E resistência Com arte, ciência e consciência
Quero esquecer os desenganos Que passei nesses anos De golpe na democracia
Vamos dar um basta na tristeza Virar a mesa com alegria e autonomia
Direito, medicina, engenharia Formaram a primeira academia Hoje democratizou, é multicor Demorou pro trabalhador virar doutor
Eu quero sonhar Criar um futuro melhor Vou fazer balbúrdia Pra sair dessa pior
Foto: Arquivo AdUFRJA UFRJ colocou em consulta pública, em 18 de dezembro, uma proposta de política de inovação. O objetivo é institucionalizar algo que a universidade faz de forma dispersa até hoje. “É como se você não tivesse uma regra geral, não existisse um padrão, de como funciona o jogo”, explica a superintendente de pesquisa da UFRJ, Ariane Roder. Professores, técnicos e alunos podem se manifestar até o dia 31 de janeiro, em link disponível no site da Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa (PR-2). Segundo a pró-reitora da área, professora Denise Freire, “a instituição não tem uma política de inovação que deveria ter há, pelo menos, três anos. Diversas outras universidades já têm e é muito importante regulamentar”. A proposta da UFRJ busca adequar a legislação interna ao Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, instituído em 2016. O texto sob consulta foi montado por um comitê de 18 pessoas de vários centros da instituição, com o objetivo de captar diferentes olhares sobre a inovação. O modelo seguido foi o de estabelecer os artigos de forma mais enxuta, que futuramente poderão ser detalhados. “Cada artigo dá margem para construir uma resolução específica. O compartilhamento de laboratórios, por exemplo, como vamos fazer? Será que é necessário?”, esclarece Roder. Outro padrão a ser seguido seria o da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde toda a política de inovação já está completamente descrita. De acordo com a PR-2, a alternativa poderia atrasar ainda mais a aprovação da política da UFRJ. “Poderíamos ter críticas a pequenas partes do texto”, afirma a superintendente. Após avaliação das sugestões recebidas, o material será enviado para discussão no Conselho Universitário. A expectativa é que isso ocorra ainda no primeiro semestre.
INTEGRAÇÃO A integração é um dos destaques da nova política. A criação de um Conselho de Coordenação do Ecossistema de Inovação da UFRJ (CCI) é um dos projetos para 2020. O colegiado integraria as pró-reitorias de graduação, pós-graduação e pesquis e extensão, a Agência UFRJ de Inovação, o Parque Tecnológico, incubadoras e coordenadores de cada centro. Coordenadora da Agência de Inovação, a professora Flávia Lima destaca que a nova política amplia as possibilidades de ação da universidade: “Nós tínhamos até então uma política de Propriedade Intelectual, que dava o suporte para a atuação da Agência, mas era restritiva e com o foco em patentear os resultados dos projetos de pesquisa”. Para o diretor do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, professor Bruno Lourenço, somente com a integração do Ecossistema de Inovação a UFRJ poderá atingir plenamente seu potencial inovador. “A UFRJ já está entre as universidades mais inovadoras do Brasil. Entretanto, ainda há espaço para melhora e uma política institucional de inovação será fundamental para avançarmos nesta área”.