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O texto da professora Alessandra Nicodemos inaugura espaço no Jornal da AdUFRJ para artigos de docentes sobre temas relacionados à quarentena. A diretoria abriu mais esse canal, a partir das reuniões do Conselho de Representantes. Os interessados devem escrever para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Seguimos em quase um mês de distanciamento social e ainda estamos perplexos com uma nova forma de sociabilidade em que fomos inseridos de forma abrupta, necessária e imprevisível. Hoje estamos isolados, quase exclusivamente conectados por uma parafernália digital que vai cumprindo o papel de constituir eco de nossas inquietações, dificuldades, dúvidas e soluções.
E nesse debate e embate é atribuída à Educação à Distância, ou ao seu simulacro, a solução para muitas das questões que precisamos equacionar, sejam aquelas vinculadas à necessidade de entretenimento e informação, sejam as pertinentes aos processos de formação universitária e escolar formais.
A suspensão das aulas e quais os limites e possibilidades de ação nesse cenário de isolamento colocam-se, hoje, como um problema a ser disputado. A intenção desse texto é apresentar as especificidades vivenciadas pela escola e pela Universidade nesse debate pois, mesmo com finalidades e funções sociais tão distintas, as duas instituições e seus trabalhadores têm sido, constantemente, interrogadas sobre a construção de estratégias de EAD em tempos de isolamento social. Slogans como Escola vai até o aluno, Não podemos ficar de braços cruzados ou a Extensão não pode parar, vão povoando esse imaginário em disputas de narrativas que constituem, também, projetos políticos no presente e no devir, acerca de qual Escola e Universidade queremos e por qual lutamos.
Em relação à escola, devemos considerar que essa tem sido lugar de sociabilidade, de moralização, de formação, de construção tecnicista ou emancipatória de conhecimento e cultura e de sua divulgação. Mas a escola é, também, lugar de guarda, de convivência obrigatória e, em algumas etapas, universal para milhões de brasileiros e brasileiras. Enquanto filhos e filhas estão preservados, as famílias podem se ocupar de outros fazeres: a sobrevivência vinda do trabalho, o lazer, o estudo, o ócio e uma infinidade de ocupações que a instituição escolar moderna possibilita com sua capilaridade quase absoluta nas bases da sociedade atual.
E isso é tão significativo que esse papel de guarda tem se ampliado, seja por famílias mais abastadas e de classe média, seja em ações das políticas públicas, que têm procurado ampliar o tempo de guarda escolarizada para nossos pequenos e jovens: cursos de inglês, de música, escola de turno único ou de tempo integral, numa crença, a despeito de toda desqualificação que, nos últimos tempos, têm vivenciado professores e escolas, de que essa instituição ainda é fundamental e necessária.
E me parece ser esse o papel da escola que tem provocado mais debates e embates: a ausência da escola como guarda tem levado gestores e famílias a reclamar dos professores ações que minimizem tal situação. Ou seja, o debate não tem sido sobre as perdas de conhecimento sistematizado e didatizado que os nossos educandos estão vivenciando ou sobre o tempo escolar a ser reposto nos estreitos calendários burocráticos, caso esse isolamento perdure por mais um ou dois meses. Tenho convicção que o debate provocado pelos gestores públicos com suas soluções on-line está longe de solucionar esses problemas.
Mais especificamente, as estratégias veiculadas pelos diferentes responsáveis pela gestão da educação no Brasil e no Rio de Janeiro, em particular, parecem querer, de forma populista e carente de uma reflexão séria e consistente, resolver o problema da função da escola como guarda. Aos professores são solicitadas vídeo-aulas, lives dinâmicas, PPT ágeis, listas de exercícios e acesso aleatório a material didático das redes oficiais, dentre outras, numa miscelânea de estratégias que, erroneamente, denominam de EaD e que servirão, em última instância, somente como entretenimento on-line, como forma de ocupar e guardar os educandos em isolamento em suas residências.
Não podemos considerar que essas ações emergenciais, realizadas sem planejamento e sem intencionalidade pedagógica prévia, podem substituir a escolarização. Ao designar tais estratégias como escolarização estamos, equivocadamente, considerando que o que construímos na escola com nossos educandos pode ser substituído por ideias e ações de pronta hora, esparsas e aleatórias.
O processo de didatização dos conteúdos em práticas escolares é muito complexo e se sedimenta e se modifica a partir de uma infinidade de procedimentos complementares: as tradições curriculares, as práticas docentes, os saberes da experiência e das disciplinas de referência, enfim um processo amplo, onde nos debruçamos cotidianamente em acertos e erros, em alegrias e frustrações. Trata-se de um procedimento singular, estruturado por trabalhadores docentes licenciados e qualificados para essa árdua, inquietante e bela tarefa, construído em um espaço próprio e seguindo regras específicas.
Por hora podemos considerar que essas soluções não vão resolver a questão central que temos à frente: a reorganização dos calendários escolares. Parece-me, no entanto, que esse não deve ser o debate principal, pois estamos mergulhados no tempo do imprevisível, o que exige que as decisões sejam tomadas posteriormente. Nesse sentido, não podemos deixar de alertar aos pais e responsáveis que as experiências de entretenimento on-line, travestidas de conteúdo escolar, que estão sendo oferecidas a seus filhos, pertencem a outra natureza e a outra ordem, diversas da experiência de estar em escolas e ser escolarizado - o que, espero, possa ser restabelecido o mais breve possível.
Em relação à Universidade existem algumas especificidades, pois essa não atua como lugar de guarda, já que atende jovens e adultos. Por outro lado, a grande maioria das instituições públicas universitárias já suspenderam o calendário acadêmico por tempo indeterminado e, no caso da UFRJ, sem nenhuma indicação de substituição de aulas presencias por EAD, seja no ensino, seja na extensão. Consideramos sensata essa decisão, pois situamo-nos no tempo do imponderável e as consequências da crise epidêmica que atravessamos não podem ser mensuráveis. O momento é de prevenção, isolamento social, discernimento e paciência.
Mas mesmo com esse consenso estamos, a todo o momento, sendo provocados a construir estratégias de atendimento e divulgação à distância de nossas experiências de ensino e de extensão na Universidade.
E nesse debate é importante destacar que não estamos questionando a possiblidade da Universidade cumprir o seu papel social de divulgação do conhecimento, de produção de estratégias remotas que possibilitem esclarecimentos e apoio efetivo virtual, para os seus educandos e para a sociedade em geral. No entanto, é necessário deixar claro que esse fazer não constitui Extensão ou Ensino. Não podemos considerar, por exemplo, que um vídeo gravado por um professor sobre algum assunto relevante ou de divulgação de sua ação seja uma atividade de extensão. Quando elaboramos esses materiais e os nomeamos, aleatoriamente, como extensão, estamos desqualificando e descaracterizando a Extensão, um dos tripés mais fundamentais da Universidade pública brasileira.
Destarte, indicamos que a oferta de Ensino e Extensão à distância requer responsabilidade e intencionalidade pedagógica e política. Requer, ainda, que tais experiências sejam previamente aprovadas pelos órgãos colegiados e deliberativos da Universidade e, no caso da Extensão, estabelecidas parcerias com sujeitos e instituições para a sua realização, com claros instrumentos de avaliação dos impactos dessas ações. Desta maneira é que realizamos Extensão de excelência nessa Universidade, com planejamento, responsabilidade e compromisso social. E, no caso do Ensino, que sejam elaborados objetivos, métodos, técnicas e recursos, como já fazemos nessa modalidade de ensino ofertada na UFRJ. Portanto, qualquer solução elaborada no contexto da pandemia leva-nos a um terreno sensível e arriscado, que nos fragiliza como Instituição de Ensino de excelência. E devemos resistir a essa narrativa e às ação dela decorrentes.
Permanece, por fim, uma pergunta: porque alguns setores escolares e universitários insistem na elaboração de conteúdos ou de divulgação on-line? As questões deveriam ser: que tipo de experiência queremos fortalecer em um momento tão crítico para a humanidade e o país? Será que esse apelo por produção de conteúdo virtual não poderá, mais à frente, produzir mercadoria a ser comprada ou negociada?
Vivemos em um situação muito delicada e preocupante e não tenho dúvidas que os ares da mercantilização da educação paira nas entrelinhas dessas ações fragilizando, no tempo presente e para o futuro, o sentido público da educação escolar e universitária. O momento pede que estejamos atentos e fortes!
Alessandra Nicodemos
Professora da Faculdade de Educação
“A crise é atípica, pois afeta demanda, circulação e produção. É uma situação distinta das crises que lidamos anteriormente. E tende a ser mais grave”, explicou Dweck, logo no início do Conselho da Adufrj. “Mas é importante reforçar que não há dicotomia entre economia e saúde. Não respeitar as medidas sanitárias pode ser muito pior para a recuperação do país”, acrescentou a docente em relação ao isolamento social.
Esther Dweck, Marta Castilho e outros docentes do IE avaliam que não há hoje, no Brasil, um plano de ação articulado para dar respostas às consequências do coronavírus. “São medidas pontuais e desproporcionais”, resumiu Dweck. Para a economista, o fator mais grave é a lentidão para assistir aos mais necessitados: “O auxílio às famílias deveria ter sido o primeiro movimento. Mas há uma demora em implantar a renda básica. Ainda na semana passada estava se discutindo sobre o aplicativo”, criticou.
A professora Marta Castilho reforçou a reflexão, chamando atenção para a dimensão global da crise. “Todos os países estão enfrentando problemas nos fluxos financeiros. E o Brasil não deve se beneficiar das exportações”, frisou a docente. Marta destacou a relevância de uma política econômica mais coordenada. “Mas do que nunca, seria necessário que o Brasil voltasse ter uma política externa inteligente para dar conta das mudanças geopolíticas em curso”.
Qual o fôlego da economia brasileira para segurar o rojão da pandemia? Quem vai pagar a conta? E como ficam os servidores federais? Foram alguns dos questionamentos levantados. Ambas as docentes do IE argumentaram que o país dispõe de lastro para sustentar o isolamento social, aumentar os gastos públicos e que não deve temer o endividamento.
“O discurso de que se o país ‘gastasse demais’ quebraria ou detonaria um processo inflacionário não se sustenta. Estamos muito longe da plena capacidade produtiva”, observou Dweck. “A curtíssimo prazo, a alternativa é a mesma que todos [os países] estão fazendo, emitir títulos de dívida”, acrescentou.
Já sobre a ameaça de corte salarial, a economista descartou a possibilidade para o funcionalismo federal. “Talvez se materialize para os estados e municípios, em função da falta de dinheiro, mas para a União, não”, disse.
DEMANDAS INTERNAS
Os conselheiros da Adufrj também trataram de assuntos da UFRJ. Uma decisão da diretoria, referendada na reunião do dia 13, foi a construção de um Fórum conjunto com técnicos, estudantes e terceirizados para dar respostas às demandas de solidariedade criadas pela Covid-19. Macaé solicitou apoio especial para abastecimento de material de higiene e de prevenção no campus.
O ENEM foi outro foco. Depois de encampar a posição do Colégio de Aplicação pela mudança no calendário do Enem, a Adufrj pretende incluir a discussão na pauta do Conselho Universitário. “Teria um peso bastante significativo para a sociedade termos um posicionamento do Colégio de Aplicação, da UFRJ do sindicato”, avaluo a professora Maria Matos (CAp).
Por cobrança do sindicato, a Comissão Permanente de Pessoal Docente (CPPD) esclareceu que está mantendo reuniões semanais e garantindo o andamento - inclusive físico - dos processos nas instâncias da universidade. Alguns docentes solicitaram intervenção da Adufrj no assunto, preocupados com atrasos nos estágios probatórios e progressões.
Nesta quinta-feira, dia 16, chega ao Hospital Universitário Clementino Fraga Filho um carregamento com três mil itens de informática e tecnologia da informação. O objetivo é auxiliar na infraestrura de rede e comunicação do HU. A doação foi feita pela seção sindical e soma R$ 80 mil.
“A AdUFRJ tem recursos. Num momento como este, é nossa obrigação ajudar. É um contexto de crise de saúde, financeira e humanitária. Não poderíamos agir de outra maneira”, diz o vice-presidente Felipe Rosa.
Outra iniciativa tomada pela associação é o aluguel de um caminhão-tanque que armazenará 36 mil litros de álcool. O produto é matéria-prima para fabricação de álcool 70º nas formas gel, líquida e glicerinada pelos laboratórios da universidade. O produto se destina principalmente aos hospitais e à residência estudantil.
“Inicialmente, ele chegaria no final de abril, mas agora que temos os recursos doados pela AdUFRJ, estamos tentando antecipar a vinda do caminhão”, conta a professora Cássia Turci, decana do CCMN e coordenadora da iniciativa de fabricação do item. Se fosse hoje, o volume atenderia às necessidades da universidade por 50 dias. A demanda crescente pelo produto, porém, pode fazer com que a matéria-prima dure menos tempo.
Além dessas iniciativas, a AdUFRJ já doou cestas básicas para funcionários terceirizados da universidade, para o Colégio de Aplicação e também fundos para iniciativas de organizações e lideranças comunitárias na Maré e Rocinha. “É nossa responsabilidade social. Estamos abertos a auxiliar outras unidades que precisem de apoio diante deste enorme desafio”, conclui o professor Felipe Rosa.
“Estamos vivendo um momento muito particular, de abandono do poder público federal. Temos que agir com firmeza, pois o tecido social pode se esgarçar e termos uma situação muito difícil para enfrentar nos próximos meses”, avaliou a professora Eleonora Ziller, presidente da Adufrj. Ela acrescentou: “Muita gente dentro e fora da universidade quer ajudar, mas não sabe o que é confiável ou não. Fazer uma rede das entidades aumenta bastante a chance de arrecadação”.
A compra e a distribuição de cestas básicas e kits de higiene com máscaras e álcool para terceirizados e estudantes hipossuficientes foram as primeiras ações conjuntas. O DCE Mário Prata prepara um levantamento dos alunos que mais precisam da ajuda, sistematizado a partir de um formulário online. A plataforma também vai permitir a inscrição de pessoas que possam contribuir.
Angariar donativos não é o único objetivo do Fórum. “A ideia é que possamos dar corpo e visibilidade a qualquer ação de solidariedade desenvolvida na universidade”, diz Joana Maria de Angelis (Sintufrj). “Se há uma iniciativa para melhorar a higienização dos ônibus da UFRJ, por exemplo, devemos buscar uma forma de tornar isso viável. É importante que o Fórum se amplie”, exemplifica. O Forum também dará forma às reivindicações comuns e campanhas unitárias, como a revogação da EC95, pelo adiamento do ENEM, em defesa da ciência e da política de isolamento social, das universidades públicas, em defesa dos direitos de todos os trabalhadores assalariados - públicos ou privados, da promoção e expansão da renda básica. Será mais uma frente de ação concreta de enfrentamento do descalabro que tem sido a ação do governo federal.
O lançamento do Fórum será realizado com uma transmissão ao vivo, e está previsto para breve. O encontro vai discutir o futuro do país pós-pandemia.
A comunidade universitária encontrará uma prévia do FORMAS-UFRJ nas redes sociais. A estreia do primeiro Jornal do Fórum também está prevista para a próxima semana. Contribuem para a publicação a Adufrj, o Sintufrj, a Attufrj, o DCE-Mário Prata e a APG-UFRJ.