A UFRJ tem feito a diferença no combate à pandemia também no Norte Fluminense. O Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (Nupem) é destaque na produção de diagnóstico molecular para o coronavírus via PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) em Macaé e arredores. O teste de PCR é considerado o mais preciso, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.
Uma equipe de voluntários, que integra a universidade à rede de saúde local, produziu mais de 500 laudos em cerca de um mês de trabalho. E pretende dobrar o ritmo na próxima semana, de 20 para 40 testes por dia.
“No final de março, perguntamos no que podíamos contribuir e a prefeitura disse que os resultados do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) estavam levando vinte dias”, explica o professor Rodrigo Nunes, diretor do Nupem. “Hoje estamos entregando os resultados em 48 horas”.
O know-how foi trazido do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia, do Centro de Ciências da Saúde, pela coordenadora do projeto e professora de Macaé, Natalia Martins Feitosa, e pelo técnico de laboratório Bruno Rodrigues. “Fomos ao Fundão em dupla para termos um melhor aproveitamento das orientações e para trocar conhecimento”, relata a pesquisadora. Segundo ela, os primeiros diagnósticos foram produzidos com insumos doados pelo CCS.
A docente e o técnico foram os responsáveis pela adaptação do laboratório acadêmico Mário Alberto Neto em um laboratório de campanha. E toda a estrutura foi checada antes do uso. “Estivemos em Macaé para uma avaliação. E estava tudo em conformidade, não apenas para dar início aos 20 diagnósticos diários, mas para ampliar a produção como vão fazer agora”, conta o coordenador do Laboratório de Virologia Molecular, no Fundão, professor Rodrigo Brindeiro.
Atualmente, quinze pessoas se revezam em jornadas diárias. Oito delas, docentes da universidade. O trabalho é realizado em três etapas: a extração do RNA e PCR (no laboratório) e a produção dos laudos.
Até o momento, não há registro de contaminação entre os integrantes da equipe, o que reforça a segurança da operação.
O diagnóstico é uma das principais ferramentas dos gestores para conter a pandemia. A testagem permite um isolamento direcionado e mais eficiente. Macaé está entre os municípios fluminenses que adotaram medidas sanitárias duras para conter a doença. O controle sobre o comércio e as barreiras na entrada e saída da cidade são alguns exemplos.
Pelo Twitter, o prefeito Aluizio dos Santos — que é médico — homenageou a universidade. “Em meio às dificuldades, preciso agradecer ao NUPEM/ UFRJ pela realização dos testes Covid. Por respeito, por reconhecimento humano e científico, por gratidão. Valeu”, publicou no início de maio.
Para o diretor da AdUFRJ e integrante da equipe do Nupem, professor Jackson Menezes, a realização de parcerias em Macaé “é histórica”. “Houve um diálogo muito importante com a prefeitura, os principais hospitais da cidade (públicos, privados e filantrópicos) e setores econômicos, como as empresas offshore da cidade. Certamente, muitas vidas foram poupadas com esses 500 diagnósticos”, avalia.
Já o diretor do Nupem destaca a agilidade na iniciativa. “Outras universidades do estado do Rio de Janeiro, com os mesmos recursos humanos e de equipamentos que nós, ainda estão em negociação com as secretarias de saúde”, afirma o docente.
Doações e transparência
O Ministério Público Federal é outro ator envolvido na ação da UFRJ de Macaé. De acordo com o procurador Fábio Sanches, desde que a pandemia chegou ao Brasil, há uma especial atenção às ações de combate ao vírus. “Incluindo desde investigações sobre fraudes licitatórias até ações de melhoria para a saúde nos estados e municípios”, acrescenta.
Para o procurador, a UFRJ “está muito bem nas ações e na transparência”. E, em sua avaliação, “é um momento importante para reafirmar o valor da ciência e universidades na trajetória do país”. “Não teremos um país desenvolvido, se não valorizarmos o ensino e a universidade”, avalia.
O trabalho de diagnóstico molecular da Covid-19 no município de Macaé e região agora também dispõe de uma conta própria na Fundação Coppetec para receber doações. Até quarta-feira à tarde, o fundo já somava R$ 127.258,53, arrecadados a partir de 34 doadores. O recurso é crucial para ser alcançada a meta de mil diagnósticos por mês. Qualquer pessoa física ou jurídica pode doar. Mais informações podem ser obtidas na página eletrônica da Coppetec (https://bit.ly/2XePlVR).
Como doar?
Através de depósito bancário a favor de:
Fundação COPPETEC
CNPJ 72.060.999/0001-75
Banco do Brasil
Agência 2234-9
Conta 55.633-5
Atenção: Após o depósito, remeta para o email: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.uma cópia do documento bancário do depósito. Por este e-mail, será remetido um recibo para fins fiscais e contábeis. O doador pode ficar anônimo, mas, para isso, deve avisar na mensagem.
PESQUISA E TEXTO: Kelvin Melo e Liz Mota Almeida
FOTOS: Alessandro Costa
“Balbúrdia é não investir na Educação”. O cartaz de um anônimo estudante no meio da avenida Presidente Vargas resumiu a indignação que levou milhões de pessoas às ruas de todo o país em 15 de maio de 2019. A maior manifestação enfrentada pelo governo Bolsonaro foi uma resposta aos cortes no setor e às malcriadas declarações do pior ministro da história, Abraham Weintraub. O titular do MEC usava o termo para atacar de forma injusta a produção de conhecimento desenvolvida nas universidades.
Nas redes sociais, a adesão também foi gigantesca: a hashtag #TsunamiDaEducação chegou ao primeiro lugar do ranking mundial do Twitter, por algumas horas. A Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas registrou 799,5 mil postagens com este marcador entre o meio-dia da véspera (14) e 16h do dia seguinte. No mesmo período, a hashtag #15m apareceu em 243,5 mil postagens; e #todospelaeducação, em 232,7 mil postagens. Nos meios virtuais, o protesto ganhou ainda mais fôlego após Bolsonaro chamar os manifestantes de “idiotas úteis”.
No Rio de Janeiro, nem a chuva que caiu na cidade espantou a animada participação de educadores, estudantes e trabalhadores de outros setores. A UFRJ concentrou suas atividades na Praça XV, no início da tarde. Organizado pela AdUFRJ, o evento reuniu 15 mil pessoas das mais diversas áreas do saber. Houve ações culturais, divulgação de pesquisas científicas e aulas públicas. UniRio, Rural, Cefet e PUC também realizaram exposições no local. “Estamos aqui porque precisamos que a sociedade nos conheça e nos ajude a defender a educação”, observou, na ocasião, o professor Felipe Rosa, diretor da AdUFRJ.
O 15M foi encerrado com uma passeata unificada com outros setores de trabalhadores e estudantes. Não dava para enxergar onde terminava a multidão, que cantou, ergueu cartazes, fez coreografias com os braços e acionou os flashes dos celulares. Tudo isso para mostrar ao governo que não ficará sem reação qualquer ataque à Educação.
Na edição nº 1.127 do Jornal da ADUFRJ, de 06 de maio de 2020, em matéria na página 4, a reportagem, ao comentar sobre os pneumologistas, omite a existência do Instituto de Doenças do Tórax (IDT), unidade que compõe a estrutura acadêmica e assistencial do Complexo Hospitalar da UFRJ. Ademais, ao informar que 47,8% dos pneumologistas estão “fora do hospital”, induz ao pensamento de que os profissionais de saúde do IDT não estão atuando no combate à COVID 19, em conjunto com o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF).
Por isso, esclarecemos que o Instituto de Doenças do Tórax (IDT), fundado em 24 de outubro de 1957, sob a designação de Instituto de Tisiologia e Pneumologia (ITP), integra a estrutura da UFRJ como uma Unidade Suplementar, denominação das unidades hospitalares da UFRJ. O Instituto sempre foi referência no diagnóstico e tratamento das doenças pulmonares, e promove atividades de pesquisa, de graduação, pós graduação e extensão nas áreas de Pneumologia, Tisiologia e Cirurgia Torácica, tendo sido responsável pela formação de várias gerações de pneumologistas e cirurgiões torácicos desde quando situado no Complexo Hospitalar São Sebastião, no bairro do Caju.
Em 2000, o IDT foi transferido para área do prédio do HUCFF ocupando espaço diferenciado sob sua responsabilidade. Com verbas governamentais projetou, construiu e gerencia o ambulatório de Tisiologia Newton Bethlem, localizado em prédio externo ao HUCFF.
Nos espaços que gerencia no interior do HUCFF, o IDT se comporta como uma Unidade Funcional com atividade integrada Docente, Assistencial e Administrativa, compartilhando as unidades fechadas, como o Centro Cirúrgico, as Unidades de Terapia Intensiva e Emergência, o setor de Radiodiagnóstico e o Laboratório de Análises Clínicas.
Nos andares e setores ocupados pelo IDT, temos serviços de excelência voltados para o atendimento às demandas do Sistema Único de Saúde (SUS) de forma integrada ao HUCFF, a saber: Laboratório de Micobactérias, Laboratório de Avaliação Funcional, setor de Endoscopia Respiratória, Ambulatórios de Pneumologia Geral e Especializados para as áreas de Oncopneumologia, Hipertensão Pulmonar, Fibrose Pulmonar, Asma Grave, Bronquite Crônica e Enfisema Pulmonar, Setor de Tele Medicina, cuja importância agora assume características exponenciais, e Unidades de Pesquisa Clínica.
No Ambulatório de Tisiologia Newton Bethlem, são atendidos portadores de Tuberculose e outras Micobacterioses Não Tuberculosas. Somos referência para pacientes portadores de Tuberculose que foram infectados por bacilos resistentes aos fármacos usuais, e também para aqueles com doenças associadas e com intolerância aos medicamentos habituais. Todo o cuidado é conduzido com visão multidisciplinar, em um ambiente ricamente produtivo em pesquisas de ponta e atendimento.
No que tange à Pós Graduação, preenchemos todas as vagas para a residência em Pneumologia, e nossos pesquisadores contribuem com seus projetos e publicações com o programa de Pós Graduação da Faculdade de Medicina / setor Clinica Médica - programa nível 7 da CAPES.
Portanto, o IDT congrega os médicos pneumologistas e cirurgiões de tórax, que atuam na assistência de natureza diagnóstica, preventiva, curativa ou paliativa e de reabilitação dos usuários do SUS, acometidos por doenças do tórax, de forma integrada às linhas de cuidado do HUCFF, de tal sorte que toda a atenção a esta área de atuação esta sob nossa responsabilidade.
Em 2020, o IDT, por meio da ação dos seus profissionais, tem atuado diariamente na assistência aos portadores de doenças respiratórias, e em parceria plena com o HUCFF, tem participado diretamente no combate à COVID 19. Infelizmente, por estarem na linha de frente, vários profissionais do IDT tiveram afastamentos decorrentes ao adoecimento por COVID 19. E como ainda não recebemos nenhum profissional de saúde, por meio de contratação de empresa durante a pandemia, não nos foi possível ampliar a atuação no combate à COVID 19.
Por fim, o IDT reafirma seu compromisso com a saúde pública de nosso país, e em particular, nesta pandemia.
PROFESSORA FERNANDA CARVALHO DE QUEIROZ MELLO (Diretora Executiva)
PROFESSOR ALEXANDRE PINTO CARDOSO (Diretor Adjunto de Saúde)
SR. ROBERTO GAMBINE(Diretor Adjunto Administrativo)
João Soares de Lima
O luto da UFRJ não cessa. No dia 9 de maio, a Covid-19 levou o professor João Soares de Lima. Professor de Latim, da Faculdade de Letras, ele deixou gerações de alunos, ex-alunos e colegas órfãos. Poucos dias antes de falecer, o mestre divulgou um poema de Paulo Mendes de Campos nas redes. “Não consigo entender / O tempo / A morte / Teu olhar / O tempo é muito comprido / A morte não tem sentido / Teu olhar me põe perdido / (…) / Muito medo tenho / Do tempo / Da morte / De teu olhar / O tempo levanta o muro. / A morte será o escuro? / Em teu olhar me procuro.”
Sérgio Sant’anna
No dia seguinte, 10 de maio, mais uma triste perda para a universidade e o país. Morreu vitimado pelo novo coronavírus o professor Sérgio Sant’anna, grande nome da cultura brasileira. O docente, que atuou na Escola de Comunicação entre 1977 e 1990, ganhou destaque na cena literária com contos, poesias e romances. Ao longo de cinco décadas, ganhou três prêmios Jabuti entre outros de grande prestígio. Seu último livro de contos foi lançado em 2017. “Anjo Noturno” foi aclamado pela crítica e premiado pela Associação Paulista de Críticos de Artes.
Carolina Barros Patrocínio
Estudante do Colégio Pedro II e moradora de Piabetá, o sonho de Carolina era se tornar médica. Com muitas renúncias e obstáculos, Carol, como era conhecida, conseguiu se formar pela UFRJ em 2019. Pediatra querida por colegas, ex-professores e pacientes, ela atuava na maternidade do Hospital Municipal Vereador Hugo Braga, em Magé. A morte precoce, aos 25 anos, aconteceu no dia do Enfermeiro, 12 de maio. Nas redes sociais, homenagens emocionadas à jovem profissional que perdeu a vida na linha de frente da Covid-19.
TEXTO: Liz Mota Almeida
Para Maria Paula, “é consensual, na historiografia marxista, que o fascismo em parte cresce porque ninguém o enfrenta”. No Brasil atual, a docente acredita que a eleição de Bolsonaro só foi possível porque a esquerda não se uniu com candidatos capazes de derrotá-lo. “É bem trágico porque, como na década de 20, nem os comunistas nem a social-democracia se preocupavam. Não viam perigo no fascismo e sabemos o que aconteceu”, explicou.
Outro aspecto abordado pela professora foi o período posterior a regimes autoritários. Chamou atenção para o fato de que as Forças Armadas do Brasil nunca pediram perdão pela ditadura militar, o que dificulta o estabelecimento de uma memória coletiva negativa sobre aquele regime. Bem diferente do que ocorreu na Alemanha pós-nazismo. “Berlim parece que é uma cidade que pede desculpa. Cada esquina tem memoriais, houve um investimento em transformar a memória do nazismo e holocausto como algo ruim, e a gente aqui não conseguiu”, afirmou. “A maior luta atualmente ainda é o reconhecimento de que a ditadura foi um erro”.
A presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller, fez a mediação do debate: “Querendo ou não, a ditadura tinha um projeto de nação, como também tinham o nazismo e fascismo”, disse. “Nesse ponto, é mais fácil fazer um paralelo. Hoje não tem nenhum projeto sustentando; é um arremedo do que a proposta nazista falava”.
TAMO JUNTO
Apesar do isolamento social, os professores da UFRJ ainda podem sentir o gostinho da troca de ideias que caracteriza a universidade. Toda sexta-feira, no fim da tarde, a AdUFRJ promove o encontro virtual “TamoJunto” com um tema definido previamente.