“As pessoas terão que agir com parcimônia. Nas ruas, nas escolas, nas lojas, nas indústrias”. Foi a resposta do professor e chefe do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, Amilcar Tanuri, para o questionamento proposto no Seminário “O que será o amanhã?”. O evento, promovido pelo Colégio Brasileiro de Altos Estudos e apoiado pelo Fórum de Ciência e Cultura, ocorreu no dia 25.
O virologista considera fundamental que, no futuro, sejam preservados cuidados como usar máscaras, manter distâncias mínimas para outras pessoas, evitar aglomerações e lavar as mãos com frequência. O relaxamento dessas medidas poderá ser fatal. “O medo nosso é uma segunda onda que pode causar mais estrago que a primeira”.
Tanuri atribui duas características principais à pandemia. A primeira é a velocidade de propagação do novo coronavírus. “Jamais esperaríamos que, em seis meses, pudesse afetar todo o globo terrestre”. A segunda é o que chama de infodemia, ou seja, uma epidemia de informação que pode ser prejudicial à Ciência. “Foram lançados muitos estudos sobre o comportamento do vírus, mas de forma mal feita, o que pode confundir o campo de estudo”.
O professor também destacou na palestra as iniciativas da UFRJ no enfrentamento da pandemia. Em parceria com a Faculdade de Medicina, o Laboratório de Virologia Molecular (LVM) — vinculado ao Instituto de Biologia — criou o Centro de Triagem da Covid-19, que funciona no Bloco N do Centro de Ciências da Saúde e é coordenado pela professora Terezinha Castiñeiras. Um espaço amplo e ventilado, onde as amostras são colhidas e enviadas para o laboratório, que realiza o diagnóstico molecular. O LVM produz cerca de 300 testes por dia, com apoio da Faperj.
Tanuri acredita que a produção de Ciência no país precisa de continuidade e usou como exemplo a trajetória do médico Oswaldo Cruz (1872-1917), pioneiro no estudo das moléstias tropicais. “Costumo dizer que somos a quinta geração de Oswaldo Cruz. Ele formou Carlos Chagas (1878-1934); depois, veio o Carlos Chagas Filho (1910-2000); depois, o Darcy Fontoura (1930-2014) e a gente”, explicou. “Isso é uma demonstração de que a Ciência deve ter continuidade. Essa é a palavra-chave. Não podemos parar a corrente”, completou.
A reitora Denise Pires de Carvalho fez a abertura do evento e ressaltou a carreira de excelência do virologista. “As sementes que partiram do Instituto Oswaldo Cruz em direção à Universidade Federal do Rio de Janeiro frutificaram. E hoje Amilcar lidera as pesquisas da Covid-19”.
(Liz Mota Almeida, estagiária sob a responsabilidade de Ana Beatriz Magno)
Nós, professores e professoras de universidades públicas de todo o país, reunidos em torno do Observatório do Conhecimento, rede formada por entidades representativas de docentes destas universidades, respeitosamente, nos dirigimos às Vossas Excelências diante dos graves ataques a instituições promovidos pelo Ministro da Educação, Sr. Abraham Weintraub.
Parece-nos inconcebível que o Brasil tenha um Ministro que destrói a Educação.
Fazem jus as palavras do Exmo. Ministro do STF, Dr. Luiz Roberto Barroso:
“A educação, mais que tudo, não pode ser capturada pela mediocridade, pela grosseria”.
É triste e lamentável, mas é esse o modus operandi do atual Ministro da Educação.
Esperávamos todos que a conduta de quem é o maior responsável pela principal pasta da nação, a qual deve primar pelo futuro de seus filhos, não fosse ocupada por alguém que empregue um palavreado chulo e desrespeitoso, que defenda ideias obscurantistas e que marque sua gestão por práticas e medidas contraprodutivas à educação pública do país.
WO ápice de suas grosserias foi em reunião de Ministros de Estados denominar os DD. Ministros desta Suprema Corte como “vagabundos” e defender que fossem presos. Mas não foi apenas esse episódio. Já afirmou que as universidades são lugar de plantação de maconha, laboratórios de metanfetamina, lugar de balbúrdia, entre outros.
Apelamos, respeitosamente, que tal conduta, que julgamos criminosa, seja analisada e punida com o rigor da lei. Se o Sr. Ministro da Educação é um mau exemplo, a Justiça deve dar o bom exemplo, promovendo o que é adequado e necessário na conduta cívica de qualquer cidadão, em especial de autoridade que deve seguir rigorosamente regras de decoro, devido ao alto cargo que ocupa.
Mais do que a verve, o condenável nas ideias e práticas do Ministro da Educação é sua índole autoritária, a intolerância ao diverso e ao plural. Almeja talvez um regime ditatorial. Por isso, lembramos novamente as oportunas palavras do Exmo. Sr. Ministro Barroso:
“Só quem não soube a sombra, não reconhece a luz que é viver em um Estado constitucional de direito, com todas as suas circunstâncias. Nós já percorremos e derrotamos os ciclos do atraso. Hoje, vivemos sob o reinado da Constituição, cujo intérprete final é o Supremo Tribunal Federal. Como qualquer instituição em uma democracia, o Supremo está sujeito à crítica pública e deve estar aberto ao sentimento da sociedade. Cabe lembrar, porém, que o ataque destrutivo às instituições, a pretexto de salvá-las, depurá-las ou expurgá-las, já nos trouxe duas longas ditaduras na República”.
Excelentíssimos Senhores Ministros do STF, a Constituição Cidadã de 1988 estabeleceu os limites do convívio social, baseado em direitos e deveres. Pedimos apenas que se aplique o que nela se inscreve.
Respeitosamente,
Observatório do Conhecimento
Em 27 de maio de 2020.
Agostinho Mendes da Cunha
A universidade chora a perda de mais um integrante de seu corpo social. Desta vez, do técnico-administrativo Agostinho Mendes da Cunha, do Instituto de Física. O servidor completaria, em 2021, 40 anos de trabalho na unidade. Ele tinha intensa participação no Laboratório Didático do Instituto de Física. Entre outras atividades, atuava nos projetos de extensão “Tem criança no circuito” e “Tem menina no circuito”. Colegas renderam emocionadas homenagens nas redes sociais. O técnico faleceu no Dia do Físico, 19 de maio.
Mateus Alves dos Santos
"Meu irmão era muito inteligente e defendia a universidade com unhas e dentes”. O relato emocionado é de Sabrina Alves, irmã de Mateus Alves dos Santos. Estudante do Programa de Estudos Medievais do Instituto de História, entrou em contato com professores, no último dia 11, dizendo que não participaria das reuniões do projeto, porque havia contraído a Covid-19. O jovem afirmou que estava medicado e apresentava sintomas leves. Em poucos dias, seu estado de saúde se agravou. Mateus foi levado pela doença no dia 15, aos 25 anos. O Consuni aprovou moção de pesar pela precoce perda.
VIOLÊNCIA POLICIAL
João Pedro, 14 anos
Em meio à pandemia, nem todos têm o direito de permanecer seguros em suas casas. Moradores de favelas que enfrentam o confinamento precisam lidar com outro risco: de se tornarem alvos em operações policiais. Aos 14 anos, João Pedro Motta teve a vida e os sonhos interrompidos. Morador de São Gonçalo, o adolescente, negro, estava em casa com primos, quando a residência foi metralhada pela polícia, no dia 18. O corpo foi levado de helicóptero da cena do crime, sem consentimento da família e só encontrado no IML de São Gonçalo um dia depois.
O projeto do governo Bolsonaro para as universidades públicas, o Future-se, voltou a assombrar as entidades estudantis e docentes com a menção de um envio do projeto de lei que instituiria o Programa Universidades e Institutos Empreendedores e Inovadores ao Congresso Nacional. A informação foi publicada sorrateiramente, como penúltimo item, no Diário Oficial da União da quarta-feira (27). Mas o PL não chegou à Câmara.
Segundo a deputada federal Margarida Salomão (PT-MG), a informação é fake news. “Houve esse despacho de que algo seria enviado, mas não há nada entregue à Mesa da Câmara”, relata. Para a coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa das Universidades Federais, o governo busca “um legado” para minimizar o desgaste da pasta. Porém, não tem projeto real para o ensino superior.
“O Future-se não existe para o Parlamento, como não existe para as universidades. Essa proposta já foi rechaçada pelas universidades brasileiras. Não tem sentido ser dirigida ao Congresso”, completou a parlamentar.
A notícia da movimentação do Ministério da Educação, contudo, gerou mal-estar entre os setores da universidade. A União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) usaram as redes sociais para criticar o envio em meio à interrupção das aulas presenciais e em um contexto de calamidade pública.
“Inacreditável. No meio da maior crise sanitária que o mundo viveu, com mais de 20 mil mortes no Brasil, as universidades com aulas suspensas e uma série de dificuldades, o MEC resolve encaminhar o projeto do Future-se para a Câmara. Que inversão de prioridades absurda”, escreveu o presidente da UNE, Iago Montalvão.
Por telefone, o presidente da UNE acrescentou que um eventual envio do projeto deve “manter as diretrizes” anteriormente apresentadas pelo governo. Montalvão avaliou também que “dificilmente avançará no Congresso no momento atual”, em referência à votação de 75 votos contra 1 pelo adiamento da prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), no Senado Federal, no último dia 19.
No Conselho Universitário remoto da quinta-feira (28), a presidente da Adufrj, Eleonora Ziller também advertiu a comunidade sobre investidas do governo contra as universidades, aproveitando-se do isolamento social. “Enquanto estamos ocupados, tentando salvar vidas em meio a uma violenta pandemia, numa estratégia brilhante, eles fazem passar a boiada. Vivemos um trágico paradoxo, só o isolamento nos salva do coronavírus e só a nossa decidida e forte união nos livrará desse governo da morte”, alertou a docente.
Eleonora Ziller defendeu a unidade para blindar a universidade: “Estamos resolvendo essa equação, estamos construindo novas formas de sociabilidade, de resistência, de participação. Aqueles que fizeram piadas de mau gosto com a nossa determinação em buscar novas formas de luta virão também se somar a esse movimento”.
O Future-se foi apresentado pelo governo, em 2019, como uma proposta para aumentar a autonomia financeira das universidades e dos institutos federais, que poderiam ter mais liberdade para receber, por exemplo, doações ou outros recursos por meio do fomento ao empreendedorismo. Mas a proposta foi analisada com cautela por muitas entidades ligadas à educação.
A Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), por exemplo, manifestou à época preocupações em relação à garantia de financiamento público das universidades. E, também sobre as metas de expansão, com qualidade, das matrículas da educação superior. Sobre o retorno à pauta Future-se, a entidade informou que aguardará a formalização da nova versão para se pronunciar.
“O artigo científico é o Tinder da Ciência. Não é exatamente mentira, mas somos espertos o suficiente para não casar com alguém só pelo seu perfil aparente”. A brincadeira do professor Olavo Amaral, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, foi um dos destaques do último “Tamo Junto”, um bate-papo virtual organizado todas as sextas-feiras pela AdUFRJ. No dia 15, a confiabilidade científica em tempos de pandemia foi o principal tema do encontro.
Para Olavo, falta controle de qualidade e veracidade das pesquisas. “Temos uma divulgação muito rápida de conteúdo aparentemente científico pelas redes sociais. Mas, ao mesmo tempo, não temos uma ciência institucionalizada sobre o que é verdade ou não”, disse. Pensando nisso, o professor criou a Iniciativa Brasileira de Reprodutibilidade (IBR), que tem como objetivo repetir experimentos realizados por outros pesquisadores brasileiros através de uma rede de laboratórios. E, ao final dos processos, mensurar o que pode ser útil à Ciência.
“Muita coisa que é artigo científico não é verdade. Mas, por ser publicado, as pessoas acreditam como verdadeiro”, observou. Olavo cogita a superação do artigo científico como forma de comunicar Ciência. Em função da crise de reprodutibilidade no país, acredita que são necessárias outras formas de publicação científica e de apresentação de críticas, já que a própria Ciência é que sai perdendo com a divulgação de pesquisas sem validade prática. “Da fraude até um erro, há um conjunto infinito de possibilidades”.
Professora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Ligia Bahia chamou atenção para o problema do atual modelo de pós-graduação, que cobra muitas publicações dos pesquisadores. “Agora temos um número maior de mestrandos e doutorandos que precisam publicar. O jovem também tem que ser um grande publicador, para conseguir passar no concurso da UFRJ”, afirmou. “Qual a nossa responsabilidade sobre isso?”, questionou.
TAMO JUNTO
Apesar do isolamento social, os professores da UFRJ ainda podem sentir o gostinho da troca de ideias que caracteriza a universidade. Toda sexta-feira, no fim da tarde, a AdUFRJ promove o virtual “TamoJunto”, com um tema definido previamente.