facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WEB menor p.7Foto: Elisa Monteiro/Arquivo AdUFRJEm meio à pandemia do coronavírus, o Ministério da Educação editou uma portaria que autoriza as universidades federais a oferecerem ensino a distância para os alunos. Publicada no último dia 18, a portaria permite a substituição das aulas presenciais por 30 dias. O período pode ser prorrogado. 
    A reitoria da UFRJ publicou uma nota no domingo, 22, afirmando que “a utilização de plataformas virtuais é permitida naquelas turmas que já faziam uso dessa tecnologia anteriormente e nos casos em que já esteja pactuada entre os estudantes e seus respectivos professores”. 
     A administração central reiterou que as atividades em ambiente digital não devem substituir as aulas presenciais, e que o calendário acadêmico será reajustado tão logo a situação se normalize. Na noite de segunda-feira, 23, a reitoria suspendeu as aulas por tempo indeterminado e não mais por 15 dias, como havia feito no início da pandemia.
A nota da UFRJ elenca as dificuldades para a adoção da metodologia, como a necessidade de que todos os professores tenham recursos materiais, a inclusão de alunos com deficiência e até a operacionalização do EaD. O fato é que a portaria do MEC abriu um debate na comunidade acadêmica da universidade. A diretoria da AdUFRJ preparou uma nota sobre o tema (box ao lado), ressaltando que o Ensino a Distância não deve ser institucionalizado durante a quarentena. Argumenta que os cursos foram planejados presencialmente e que as enormes diferenças entre as unidades da universidade inviabilizam uma mudança no atual cenário de incerteza. A nota destaca, no entanto, a importância de os professores preservarem os vínculos com os alunos.  
Para o professor e diretor da AdUFRJ Jackson Menezes, a portaria é cruel, porque empurra a responsabilidade pela suspensão das aulas para as universidades. “O governo se comporta como se estivesse oferecendo uma solução, e caso as universidades não aceitem, há chance de serem tratadas como arcaicas”, defendeu. “É como se o MEC lavasse as mãos, e deixasse para as universidades essa responsabilidade, o que gera uma insegurança jurídica e acadêmica para os reitores”.
Outro problema apontado por Jackson é o curto prazo para a adaptação de um modelo que se propõe como temporário. “É praticamente impossível que a UFRJ tenha, em 15 dias, um sistema que todos os professores possam utilizar. Vamos gastar energia para fazer uma coisa que é temporária, quando já tivemos experiências anteriores de readequação do calendário?”, questionou.

ADAPTAÇÃO NÃO É SIMPLES
A adaptação de uma disciplina para o EaD não é um processo simples, explica o professor Leandro de Paula. Coordenador do curso de Licenciatura em Física a distância da UFRJ desde 2003, ele lembrou que um curso nesse modelo não é apenas um professor falando através de monitores, mas toda uma nova maneira pedagógica de pensar, e que exige planejamento. “O ensino a distância tem essa maneira diferente de organizar. É preciso repensar as aulas, o material didático e o contato entre os alunos e o professor”, explicou.
O professor Olavo Amaral, do Instituto de Bioquímica Médica, está conseguindo manter o contato com os alunos. Ele entrou em acordo com sua turma de Estatística e Reprodutibilidade em Ciências da Vida e começou a dar aulas online durante a quarentena. “Tem aparecido mais gente nas aulas online do que nas aulas presenciais, inclusive alguns alunos que não estão matriculados”, contou. “A interação com a turma está muito boa.”
Ele reconhece que há problemas específicos no modelo online. “Às vezes, tenho alunos com problemas na conexão ou outro tipo de dificuldade para acessar a aula. Por outro lado, alguns alunos tiveram que voltar para as suas cidades de origem com a suspensão das aulas, e estão conseguindo fazer a disciplina assim mesmo”, relatou o professor, que assinou um serviço de web conferências e paga US$ 15 por mês do próprio bolso para manter o curso a distância.
Diferente da empreitada do professor do IBqM, a Faculdade de Letras tem o programa Letras 2.0, projeto que oferece recursos e condições para professores da universidade usarem recursos digitais em turmas de graduação, pós-graduação e cursos de extensão. Criado em 2009, o programa é vinculado ao Núcleo de Pesquisa em Linguagem, Educação e Tecnologia – LingNet, e já atendeu mais de 6,5 mil usuários, com algo entre 25 e 30 professores utilizando a plataforma por semestre. “O Letras 2.0 não é só um serviço, mas uma fonte de pesquisa sobre como as novas tecnologias podem ser melhor aproveitadas para objetivos pedagógicos”, explicou a professora Kátia Tavares, coordenadora do Núcleo. “Nós avaliamos o uso desses recursos na prática, quais funcionam, o que os alunos pensam e o desenvolvimento dos alunos e dos docentes, e apresentamos os resultados”.
O Letras 2.0 não substitui as aulas presenciais. Mesmo assim, a procura pela iniciativa aumentou este período. “Não tivemos professores novos, mas alguns professores que já haviam usado o programa em outras ocasiões nos procuraram manifestando interesse”, contou a coordenadora.

 
ENSINO A DISTÂNCIA NÃO FAZ MILAGRE
 
Diretoria da AdUFRJ 

n Em meio à comoção social causada pela COVID-19, o Ministério da Educação anunciou, em portaria publicada na quarta-feira (18/03), que as universidades poderiam “em caráter excepcional, substituir as disciplinas presenciais, em andamento, por aulas que utilizem meios e tecnologias de informação e comunicação, nos limites da legislação em vigor”.
Nessa grave crise de caráter inédito no Brasil, não queremos alienar as universidades das necessidades de seus alunos e da população em geral. Nesse sentido, acreditamos que há, sim, recursos presentes na “tecnologia da informação e comunicação” aos quais podemos e devemos recorrer para manter nossos discentes ativos em suas quarentenas produtivas, e para que técnicos e docentes possam realizar quaisquer atividades que forem possíveis a distância.
No entanto, é necessário dizer com toda a ênfase que é simplesmente impossível que uma instituição baseada no ensino presencial se converta em uma de educação a  distância (EaD), mesmo que temporariamente. A EaD possui uma dinâmica, infraestrutura e desafios próprios, que não se resolvem apenas com boa vontade e um celular na mão. Algumas disciplinas requerem anos de planejamento e comprometimento humano e financeiro, e tentar vencer isso em 15 dias (prazo dado para as instituições se manifestarem sobre a possibilidade) comprometerá drasticamente a qualidade da maioria das disciplinas.
Em suma: instamos nossos e nossas docentes a buscarem toda a forma de manter o contato com seus alunos, se valendo das mais variadas tecnologias disponíveis. Mas que isso sirva apenas de complemento e jamais como substituição dos nossos cursos regulares. Estes terão que esperar o fim da epidemia para continuarem.

Topo