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WhatsApp Image 2020 11 27 at 10.34.21Os brasileiros enfrentam nova disparada da covid-19, com o expressivo aumento de até 57% na média de novos casos em relação a duas semanas atrás. É o maior índice desde setembro. A média móvel de mortes aumentou 51% no mesmo período. Também explodiu a procura por leitos de UTI. No Rio de Janeiro, a ocupação beira os 100%.

O recrudescimento da doença coincide com o relaxamento das medidas de isolamento social. “Todo mundo voltou para a rua. Principalmente os jovens”, lamenta a professora Ligia Bahia, uma das maiores autoridades brasileiras em saúde coletiva. Em entrevista à AdUFRJ (leia a integra na página ao lado), ela pondera sobre a existência de uma segunda onda de contaminação no país. “Aqui no Brasil tememos caracterizar como uma segunda onda porque na realidade nós sempre mantivemos níveis elevados de taxa de transmissão, embora o pico tenha sido em maio”, explicou.
O crescimento dos casos amplificou, dentro da universidade, a discussão sobre a volta às aulas presenciais nas escolas de ensino fundamental. Nas últimas quatro semanas, professores da UFRJ escreveram três notas sobre o assunto. A primeira, publicada em 30 de outubro, foi elaborada pelo GT Coronavírus da UFRJ, e defendia a volta das aulas presenciais nas escolas da rede pública do Rio. O documento apontava uma lista de 17 medidas para combater a disseminação do vírus nas escolas, entre elas a higienização das mãos, uso de máscara, adequação do espaço escolar para que haja distanciamento e ventilação e o monitoramento de casos e da situação epidemiológica. O texto se apoiava em estudos que mostram que o índice de contágio de criança para criança é baixo, e ponderava sobre o impacto do fechamento das escolas na saúde física, mental e socioafetiva da criança no contexto familiar.
A posição do GT da UFRJ gerou reações negativas na universidade. No dia 10 de novembro, um grupo de professores da Faculdade de Educação publicou uma carta aberta, em tom sarcástico, endereçada à nota técnica. Na carta, o grupo questiona o conhecimento da “Nota Técnica” para tratar de educação, e chega a oferecer “fazer uma lista bibliográfica bacana, para você ir se apropriando do que é a escola pública brasileira”. A mensagem afirma que a nota não conhece a realidade da educação brasileira, e que os protocolos de segurança são inexequíveis na estrutura das escolas públicas do país.
Após intensas discussões, uma nova nota foi publicada no dia 17, com a assinatura do GT Coronavírus, da direção da Faculdade de Educação, do Colégio de Aplicação e pela coordenação do Complexo de Formação de Professores. Essa segunda nota aprofunda o debate sobre o papel da escola e os riscos inerentes à pandemia e ressalta que a decisão de abrir ou não um colégio não pode “prescindir do diálogo com os professores, demais profissionais das unidades escolares e pais ou responsáveis dos estudantes”, e que é responsabilidade do Estado garantir a segurança sanitária para a reabertura.
“Estamos diante de um momento de aprender a viver com o vírus, mas jamais será possível seguir nesse sentido sem investimento público sério em redes de suporte, nem desconsiderando que riscos são minimizados ou amplificados segundo marcadores sociais”, diz a nota. “Este é um momento que só poderá ser superado pelo esforço contínuo de se proceder ao diálogo sensato e cientificamente embasado entre os profissionais da Educação e da Saúde e seus interlocutores nas diversas esferas do poder público”. Por fim, a nota reitera que as etapas do planejamento de reabertura das escolas “exigem, obrigatoriamente, um investimento emergencial na educação pública por parte dos governos”.
Em entrevista ao Jornal da AdUFRJ, o professor Roberto Medronho, coordenador do GT Coronavírus, afirmou que a primeira nota técnica não propôs a volta imediata das atividades, mas pretendia “pressionar para que houvesse planejamento para um retorno seguro o mais breve possível”. Como a discussão vai continuar pode depender do quadro da pandemia, do aumento do número de casos e até da chegada das vacinas. Mas é saudável que o debate esteja acontecendo dentro da universidade.

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