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WhatsApp Image 2020 09 26 at 12.03.17Foto: CoppeUm projeto de 20 anos, e que pode colocar o Brasil em uma posição de destaque mundial em soluções para a mobilidade urbana, foi paralisado este mês por falta de investimentos. O MagLev-Cobra, trem de levitação magnética desenvolvido pelo Laboratório de Aplicações de Supercondutores da Coppe, não vai mais funcionar no campus do Fundão da UFRJ. A linha, que liga os blocos CT 1 e CT 2, foi inaugurada em 2015, e era parte do trabalho de desenvolvimento da tecnologia que pode mudar o transporte público.
Segundo o coordenador do projeto, professor Richard Stephan, o que deixa de funcionar é o veículo que opera na linha. “Aquele veículo foi feito de maneira artesanal. O próximo passo, se quisermos andar para frente, é sair desse veículo artesanal para um industrial”, contou o professor. Essa é a próxima etapa do projeto, a criação de um modelo que possa ser reproduzido em escala industrial. O valor necessário para essa etapa, segundo o professor, é de R$ 10 milhões.
“Estamos há cinco anos tentando dar esse passo e não conseguimos”, desabafou Richard. “Já pedimos ao BNDES e foi negado, à FINEP e foi negado, fizemos investidas com empresas e nenhuma foi avante”. Desde 2015, os pesquisadores vêm tentando captar os recursos necessários para iniciar a nova fase da pesquisa. A próxima etapa do planejamento é a sua conclusão. “Se conseguirmos os R$ 10 milhões que estamos pleiteando, colocaremos naquela mesma linha de teste um veículo industrial padrão, autônomo, um equipamento pronto para ser vendido”. A UFRJ oferece para empresas interessadas em investir na pesquisa, como contrapartida, uma parte da propriedade intelectual do MagLev-Cobra, com a garantia de que a universidade receba royalties sobre os lucros obtidos com a venda do produto.
Pronto, o MagLev-Cobra pode revolucionar o transporte urbano no Brasil. O modal não é um transporte de massa como o metrô, mas é mais barato. Na comparação com o VLT que opera no Rio de Janeiro, o Cobra tem os mesmos custos de implantação, de R$ 40 milhões por quilômetro, mas com vantagens que otimizam o transporte de passageiros, como as linhas segregadas, que permitem que o veículo se mova em uma velocidade média de 50 km/h, contra uma velocidade média de 15 km/h do VLT. O MagLev também é mais silencioso e consome menos energia. “Estamos trabalhando em uma alternativa que tem os mesmos custos de implantação, mas é melhor e tem uma tecnologia nova, nacional e realmente disruptiva”, disse Richard.
Atualmente apenas três países usam trens de levitação magnética: Coreia do Sul, China e Japão. O projeto desenvolvido pela UFRJ é inovador em relação à tecnologia que já é utilizada nestes países. “Nossa técnica de levitação é mais interessante. A diferença básica é que a nossa é estável, e a usada nesses outros MagLevs depende de sistemas de controle, de realimentação”, detalha o coordenador do projeto. “A tecnologia que desenvolvemos está sendo perseguida na Alemanha e na China, mas nós estamos na frente”.
A linha do MagLev-Cobra funcionava regularmente no Fundão desde 2016, e já transportou mais de 20 mil passageiros. A operação do veículo era uma atividade de extensão do curso de Engenharia Elétrica, e parou durante o período da pandemia. “Com a parada chegamos à reflexão que não fazia sentido o esforço de manter aquele veículo que volta e meia dá problemas porque não tem um padrão industrial”, explicou Stephan. “É um passo que deveríamos ter dado há mais tempo, mas faltou coragem”.
#SalvemOMagLev
A notícia do fim do transporte por trilhos levou um grupo de alunos da Engenharia Elétrica a criar nas redes sociais a campanha #SalvemOMagLev. A iniciativa começou depois que um post de um aluno do segundo período viralizou no Twitter, onde ele explicava a importância do projeto. A partir daí a ideia foi encampada pelo grupo de alunos que organiza a Semana da Engenharia Elétrica da UFRJ. “Resolvemos publicar a respeito do MagLev porque é uma situação muito séria que estamos enfrentando”, contou Guilherme Vaccariello, coordenador-geral do evento. “Não há uma divulgação muito boa da iniciativa. Vimos nas redes sociais informações falsas e descabidas sobre a tecnologia, para desqualificar o projeto”, explicou o estudante.
Além da divulgação, o grupo também está começando a entrar em contato com empresas que podem se interessar em investir na pesquisa. “É um produto que já está nas últimas fases, e tem um potencial muito grande”, defendeu Guilherme. “É frustrante ver um projeto que pode ajudar o Brasil a se tornar uma liderança em mobilidade urbana, parar por falta de recursos”, defendeu o estudante. Para o grupo, o MagLev-Cobra é importante para a universidade, e deve ser defendido. “É muito importante usarmos nossa visibilidade para ajudar o projeto”, disse.

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