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WEB menor p.8Foto: Fernando Souza/Arquivo AdUFRJDiante da necessária quarentena para minimizar os possíveis efeitos de uma epidemia de coronavírus no Brasil, a AdUFRJ lançou as “Pílulas antimonotonia”. Trata-se de uma nova forma digital de comunicação entre professores da UFRJ e a sociedade.
São vídeos curtos, publicados nas redes sociais da AdUFRJ, sobre variados temas, em que os especialistas da universidade vão nos ajudar a superar o afastamento social oferecendo debate sobre temas atuais, com conteúdo qualificado à luz de suas áreas de especialização. Uma forma de colaborar com o debate sério e responsável. Ao mesmo tempo em que leva a ciência, a cultura e os conhecimentos produzidos pela universidade para a população. 
O primeiro programa foi ao ar no dia 18 de março, durante a Greve Nacional da Educação. A convidada é a professora Ligia Bahia. Integrante do grupo de trabalho de combate ao coronavírus na UFRJ, a docente faz um breve balanço sobre as políticas implementadas pelas autoridades sanitárias diante do avanço da Covid-19.
Especialista em saúde coletiva e ex-diretora da AdUFRJ, a professora defende que haja uma fila única no sistema de saúde, para entrada e intenação de pacientes com suspeita de coronavírus. A tentativa é que deixe de existir uma distinção  entre os que podem e os que não podem pagar planos de saúde. “É preciso que, pelo menos durante essa calamidade, haja solidariedade para que a gente não saia dela com um rastro que afirme a brutal iniquidade brasileira”, avalia a médica.
Abaixo, a íntegra de sua entrevista, que pode ser conferida também na TV Adufrj, no Youtube.

 ‘É preciso que haja solidariedade’

Estamos diante de uma epidemia que não é “nutella”, que pode flagelar especialmente a população mais pobre deste país, a população que vive e trabalha em condições extremamente precárias. Já temos casos fatais em decorrência da epidemia do novo coronavírus. 

As universidades brasileiras têm tido um papel muito importante no sentido de alertar a população sobre riscos e prevenção, mas, mais do que isso, têm tido papel de destaque na grande mobilização nacional para a produção de testes, para debates sobre diagnósticos, formas de tratamento. Estamos diante de uma luta pela vida, de uma luta pela ciência, de uma luta para que a humanidade sobreviva a este enorme desafio em melhores condições. Para que ela sobreviva como um todo. 

É possível que no Brasil venha a ocorrer uma distinção muito grande entre as pessoas que têm mais acesso a serviços de saúde. Por isso, nesse momento, a nossa batalha – e é uma batalha da qual nós não arredaremos pé – é pela existência de uma fila única para internação, tanto dos pacientes que não têm plano de saúde, quanto dos pacientes que habitualmente usam plano de saúde. É preciso que, pelo menos durante essa calamidade, haja solidariedade para que a gente não saia dela com um rastro que afirme a brutal iniquidade brasileira.

É preciso tomar medidas, tais como o aumento do Bolsa Família, a distribuição de alimentos, a proteção da população de rua e da população carcerária. Há medidas específicas para esses segmentos populacionais. 

Nós exigimos que o governo brasileiro, que as autoridades públicas, se apresentem neste momento. Temos um conjunto de medidas que ainda são genéricas. Não há, ainda, um plano explícito para o que vai ocorrer. É preciso então que nós, as universidades – como a UFRJ, que tem uma comissão de coronavírus – , nos apresentemos. Que estejamos juntos com a população brasileira nesta batalha. 

É uma batalha de vida e morte, mas é uma batalha da qual nós poderemos sair melhores se nós nos apresentarmos de modo solidário contra essa indiferença moral. Além da epidemia, que é um grave problema objetivo, nós temos um problema enorme de indiferença moral por parte de algumas autoridades brasileiras, especialmente do presidente da República, que insiste em afirmar que a epidemia é uma “histeria”. Esta postura tem provocado um desserviço.

Estamos também diante de autoridades religiosas que vêm dizendo que este é “um problema de satanás”, que é uma coisa da ordem do não biológico. Portanto, mais do que nunca, as universidades, nós pesquisadores, cientistas, profissionais de saúde temos que afirmar evidências científicas. Temos que ser capazes de ofertar para a população todo o conhecimento acumulado, nacional e internacional, sobre o tema.

Penso que temos realizado isso. E a partir deste dia 18 seremos capazes de duplicar este esforço que foi realizado até agora.

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