ATUALIZAÇÃO: em função da chuva, o ato marcado para esta sexta-feira, no CCS, foi adiado. Em breve, mais informações sobre a nova data
Amanhã, na escadaria do CCS, as entidades representativas da UFRJ — AdUFRJ, APG, DCE, Sintufrj e ATTUFRJ —, que se reúnem no Fórum de Mobilização e Ação Solidária (FORMAS), realizam um ato contra o último confisco do governo Bolsonaro na verba das universidades. Somente na UFRJ, a "tesourada" foi de R$ 18 milhões.
Por Denise Pires de Carvalho
Reitora da UFRJ
O ano de 2022 marca o bicentenário da independência do Brasil e uma escolha política das mais importantes desde a redemocratização do país. No próximo domingo, dia 2 de outubro, devemos escolher qual o projeto de nação que defendemos para nos tornarmos um país finalmente desenvolvido e menos desigual. Essa é a real polarização em jogo: os que lutam pela verdadeira independência e pelo desenvolvimento do Brasil e aqueles que o querem manter como um país periférico e subserviente aos interesses das potências econômicas internacionais. Essa última escolha tem como resultado a manutenção da desigualdade social, a insegurança pública, dentre outras mazelas brasileiras.
Não há exemplo de país no mundo que tenha se desenvolvido em termos socioeconômicos sem investimento em educação, ciência e tecnologia. Nenhum país que pretende se desenvolver pode prescindir de educação básica de qualidade e da educação superior associada à produção de conhecimento, que se reflete em maior capacidade de inovação.
Enquanto os países mais ricos e desenvolvidos aumentaram o investimento em pesquisa e desenvolvimento durante a pandemia, o Brasil vem assistindo ao desmonte das suas universidades e centros de pesquisa, que estão asfixiados com os sucessivos cortes nos orçamentos dos ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Esses ministérios são estratégicos e deveriam ser liderados por profissionais altamente qualificados e que defendam o modelo de Brasil soberano. Caso contrário, continuaremos patinando no subdesenvolvimento. Neste século, os países que não investem em inteligência artificial, novas formas de energia, inovação social e disruptiva, atenção à saúde ou na descoberta de novos fertilizantes estará escolhendo um futuro incerto como nação.
É urgente aumentarmos o acesso e a permanência no ensino superior, o número de mestres e doutores e a formação qualificada de professores para melhorar a educação básica. Devem ser essas as nossas urgências e não se pode avançar neste sentido sem investimento adequado por parte do Estado, conforme previsto na Constituição de 1988.
Nosso povo não merece continuar a ser explorado. Nossos biomas e nossas riquezas não devem ser utilizados para concentração de renda e nossas instituições de saúde, ensino e pesquisa devem parar de ser desqualificadas. Vamos escolher aquele que sempre esteve do lado da ciência, da educação de qualidade, contra o obscurantismo, a favor do desenvolvimento da nação brasileira, pois o fortalecimento do Sistema Único de Saúde e das instituições de Estado é um projeto que deve ser retomado no país o mais rápido possível, para garantir mais dignidade ao nosso povo.
Apesar de sermos independentes sob o ponto de vista legal e termos uma Constituição cidadã vigente, não somos uma nação verdadeiramente independente sob vários aspectos, o que foi confirmado durante o enfrentamento da pandemia pela Covid-19. Nesses últimos anos, assistimos perplexos à demonstração inequívoca da nossa total dependência de outros países do mundo para obtermos insumos farmacêuticos diversos, equipamentos hospitalares, fertilizantes, entre outros bens de consumo que poderiam ser produzidos no próprio país. Inclusive, a nossa atual Constituição tem sido perigosamente modificada ao longo do tempo.
Nos primeiros 100 anos após a proclamação da independência, a pobreza não foi combatida, sequer havia ensino superior consolidado e a educação básica era incipiente no país. Ou seja, naquela época continuamos perpetuando o modelo de país colonizado e com enorme parte de sua população alijada de educação e renda digna.
Durante os 100 anos subsequentes, houve avanços, porém a sociedade brasileira fez algumas escolhas políticas equivocadas e não privilegiou a educação e a ciência. Este fato, associado ao fenômeno da globalização das últimas décadas, promoveu a progressiva desindustrialização da nação, o aumento da pobreza e a dependência cada vez maior da importação de bens de consumo de alta tecnologia, que têm maior valor agregado. Com enorme mercado consumidor, por que dependemos da importação de insumos básicos para a produção de vacinas e medicamentos, por que não refinamos nosso próprio petróleo, dentre outras ações que diminuiriam o custo de vida da população, além de gerar mais empregos e renda? Se ao contrário, tivéssemos perseguido o modelo de nação independente, o que depende de financiamento suficiente por parte do Estado, já poderíamos ser exportadores de alta tecnologia.
Há alguma capacidade técnico-científica que foi instalada, com muita dificuldade, no Brasil nas últimas seis décadas, o que propiciou a transformação tecnológica nacional. Cito alguns exemplos importantes desse processo e que estão profundamente enraizados na UFRJ: tecnologia de exploração de petróleo em águas profundas, um projeto bem-sucedido de um dos primeiros trens de levitação do mundo e carros com motor movido a etanol e, mais recentemente, a hidrogênio. São descobertas científicas e tecnológicas que geraram riquezas, mas poderiam ter sido muito melhor aproveitadas pela nação.
Ressalto que a ciência brasileira é muito recente, pois foi estruturada há menos de um século, além de ser subfinanciada devido à escolha equivocada de alguns governantes. Sabemos que o país está polarizado e identificamos dois grupos bem diferentes.
Por um lado, há os que tentam mantê-lo a todo custo como colônia de exploração. Devemos refletir sobre os interesses velados daqueles que almejam manter o nosso país subdesenvolvido. Desta vez, a exploração da nação, de suas terras, riquezas e do seu povo, vem sendo realizada por esses mesmos grupos internos que se beneficiam financeiramente no curto prazo e não têm projeto coletivo de nação que se projete soberana no futuro.
Do outro lado, existem aqueles que sonham com o verdadeiro desenvolvimento do país. É com esse lado, soberano, altivo, emancipatório, cidadão, que sonho que a UFRJ contribua. Sem medo e com esperança.
Bom voto !
Mayra Goulart, professora da Ciência Política e vice-presidente da AdUFRJ, concorda. “A corrupção esteve no centro do debate e a novidade é Lula acentuar a defesa do seu governo como uma gestão que combateu a corrupção”, destaca. A docente também diferencia as posturas de Ciro Gomes e Simone Tebet. “Enquanto Ciro se organiza à direita, às franjas do bolsonarismo, para ser o porta-voz da oposição ao governo Lula, a Tebet quer construir um outro lugar, talvez até dentro do governo Lula, e que não se captura pelo bolsonarismo. Alguém que se apresenta para além da polarização e reforça uma agenda programática, de mulheres que têm preocupações sociais”, diz.
Analistas ouvidos pelo Jornal da AdUFRJ criticam também o modelo do debate. “A função era convencer as pessoas que ainda não tinham definido seu voto. Oferecer uma perspectiva mais assertiva sobre os candidatos”, diz a professora Suzy dos Santos, diretora da Escola de Comunicação da UFRJ e coordenadora do PEIC – grupo de pesquisa em Políticas e Economia Política da Informação e Comunicação. “Nada disso aconteceu. Houve pouco espaço para o debate de propostas. As imagens que temos (pós-debate) são dos ‘nanicos’ e de um padre que não é um padre, uma candidatura histriônica”, completa.
Para o professor Pedro Lima, do Departamento de Ciência Política do IFCS, a candidata Simone Tebet foi a grande vitoriosa. “Lula deveria ter sido mais altivo. Não tinha que ir pra lama e bater boca com Bolsonaro e com o falso padre, dois golpistas desqualificados”, acredita.
Emérito da Escola de Comunicação, o professor Marcio Tavares D’Amaral não acredita num grande vencedor do debate, mas concorda que Tebet e Soraya Thronicke se destacaram. “As mulheres foram muito bem também porque elas não têm nada a perder”, analisa. “Simone, inclusive, tem até alguma coisa a ganhar. Ela pode passar Ciro Gomes e ficar em terceiro lugar, colocando o MDB com a maior votação em sua história”, avalia. “E Soraya é uma criadora de memes”.
Já para a professora Thais Aguiar, também da Ciência Política, a postura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa ser destacada. “Lula foi firme. Respondeu muito bem às questôes de corrupção, não foi passivo e dialogou com a camada mais ampla da população”, diz. Ponto de maior força e também calcanhar de aquiles do PT, os mais pobres compõem a parcela da população que mais se abstém proporcionalmente nas eleições. “Essa abstenção é o que mais afeta o PT desde 2006, quando sua base eleitoral passou a ser mais concentrada nessa faixa da população”, avalia o cientista político Jorge Chaloub, do IFCS. “E pode fazer a diferença no domingo”.
Lula foi alvo primordial dos ataques
JORGE
CHALOUB
Professor do Departamento de Ciência Política do IFCS/UFRJ
O tom predominante foi o da direita nesse debate. Quem acabou sendo alvo primordial dos ataques foi Lula, pelo tom dos adversários, à direita, e por ser o líder nas pesquisas. Dada a organização entre Lula e Bolsonaro, como competidores diretos, as outras candidaturas tentavam se colocar como terceira via. Ciro pode perder parte de seu eleitorado com essa postura mais à direita, porque seu eleitorado não muda de orientação tão rapidamente. Lula promete menos e menciona mais os feitos. Bolsonaro promete mais e se justifica mais pelo que não cumpriu. A campanha petista tão ostensiva pelo voto útil é um risco – de desanimar a militância num eventual segundo turno e esgarçar importantes relações políticas – mas também uma aposta de redução de risco e diminuição da violência.
Modelo do debate foi longo e desinteressante
MARCIO
TAVARES
D’AMARAL
Professor da Escola de Comunicação da UFRJ
O modelo do debate é muito ruim: longo e desinteressante. O debate era para conduzir ao voto útil ou mexer com os indecisos, mas não acho que foi efetivo. Alguém atacado, como o Lula foi por todo mundo, mais tem que se defender do que ser propositivo. Destaco o momento em que o padre e o Lula se enfrentaram. Começou um bate-boca. Depois Lula recolocou as coisas em seus devidos lugares. Eu não sei como isso será apreciado. Bolsonaro botou uma casca de banana para o Lula, porque não o chamou para a disputa e deixou esse embate para o padre. Vamos ver se essa postura de Lula vai ser considerada como reação esperada de uma pessoa agredida em sua honra, ou falta de controle. Temos que terminar no primeiro turno. Está difícil até de respirar e a violência pode aumentar.
Faltou discussão de ideias. Formato está esgotado
SUZY DOS
SANTOS
Professora e diretora da Escola de Comunicação da UFRJ
A conclusão mais inicial que me chama atenção é que esse modelo de debate não funciona. É profundamente esgotado na imagem e com pouco debate de ideias. O campo da comunicação política já reverbera, há um tempo, que esse formato é esgotado, observando resultado eleitoral após debates e vendo que não há mudanças nas tendências do eleitor como acontecia há 20 anos. É preciso fazer uma busca para se qualificar os debates. Há que se pensar em como reorganizar esse processo para que existam debates efetivos, que informem, que esclareçam, que evitem essa midiatização do que é o escracho, do que é o estereótipo quase negativo da própria política, desse tipo de candidato-comédia. O sistema midiático precisa saber por que e como fazer o debate político numa lógica democrática.
Presidente e padre desinformam e atacam a democracia
THAIS
AGUIAR
Professora do Departamento de Ciência Política do IFCS/UFRJ
Ciro Gomes, num primeiro momento, se soma aos ataques ao Lula e ao PT, mas depois percebe o jogo que estava sendo engendrado com Felipe D’Avila como escada de Bolsonaro e padre Kelmon sendo um duplo do atual presidente. Então ele se reposicionou para não colaborar com essa dobradinha. Ciro e Tabet se saíram bem entre os indecisos, na pesquisa focal, mas não me parece que houve um grande vencedor. Bolsonaro fugiu da pergunta sobre tentativa de golpe. E claramente fugiu do embate direto com Lula. A desinformação que ele e padre Kelmon promoveram e que não pode ser contradita no debate pesa, porque é um ataque à democracia. Nem todos os eleitores conseguem distinguir o que é verdade e o que é mentira. De modo geral, houve pouca discussão programática.